As origens do povo inca são
particularmente obscuras e a lenda leva a melhor sobre a História. E a lenda
tal como a consignou o cronista peruano Garcilaso
Inca de la Veja, autor de Comentários reales, publicados em Lisboa em 1609,
relata que aquele que será o primeiro soberano inca, Manco Capac, os seus irmãos e as suas irmãs brancos, saíram
de Paracec-Tambo, (a caverna
do futuro, no primeiro dia em que o sol tomou lugar no céu). Eis por que se
chamavam Churi-Inti, os
filhos do sol; adoravam e veneravam o Deus-Sol como seu pai. O primeiro inca
teria, pois sido Manco Capac, esse semideus branco que tinha por esposa a sua
própria irmã, Mama Ocllo Huaco.
E a lenda apresenta:
Chegaram ao vale de Cuzco.
Sobre a eminência que tem hoje o nome de Huanacauti, o Inca plantou no solo o seu bastão de ouro; no
mesmo instante, o bastão mergulhou na terra e desapareceu. O Inca disse: “Nosso
pai, Inti (o Sol servo de Viracocha o grande deus branco criador do esplendor
original), ordena-nos que fiquemos neste vale, que aqui nos estabeleçamos e
reinemos...” Partindo de Huanacauti, desceram ao vale, o príncipe para
norte, a princesa para sul. Assim que os homens viram os dois incas cobertos de
magníficas vestes e que pelas suas palavras e pela sua pele clara os
reconheceram neles. O inca ordenou aos homens que cultivassem o campo da
comunidade, para evitar que a fome os expulsasse de novo para a floresta; a
outros, ordenou que construíssem choupanas e casas, e foi assim que povoou a
nossa cidade real. Pelo seu lado, a rainha ensinou as mulheres a fiar e a
tecer.
O
povo , esse é governado com mão de ferro. No reino, não há dinheiro nem
comércio. O trabalho é distribuído e remunerado em gêneros, pelos governadores.
As colheitas, as ceifas, tudo pertence ao Inca, que tudo divide em três partes:
uma para ele, outra para o Deus-Sol, outra para os camponeses. Estes não podem
possuir tecidos finos, nem a mínima parcela de ouro. Não há trégua nem repouso
para o agricultor: mal termina o trabalho nos campos, tem de passar para a
construção ou manutenção das estradas, ou ainda à das fortalezas.
Os etnólogos, esses, sustêm,
na sua maioria, uma tese de que os Incas
de pele clara, como se afirma na lenda não teriam sido os primeiros
habitantes do Peru. Tanto mais que falam uma língua que os indígenas não
compreendem. Talvez fossem sobreviventes do cataclismo que, quase no florescer
da humanidade, aniquilou um continente inteiro. Em todo caso, uma coisa é
certa: existem mais do que simples analogias entre certos vocábulos de raízes quichas,
utilizados pelos incas e palavras de raízes
indo-europeias.