sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ivan, o primeiro czar.

Por seu comportamento bipolar, oscilando entre a fúria e a penitência, ganhou a alcunha O Terrível. Com inteligência e dinamismo, ele modernizou e expandiu a Rússia, transformando-a numa potência.


Em seus últimos dias, o temido senhor da Rússia oscilava entre razão e loucura, devassidão e piedade, e dava ordens entre suas orações. Ivan IV, o Terrível, e sua ama de leite, óleo sobre tela, Karl Gottlieb Wenig, 1886.

Filho de Vassili III, grão-duque de Moscou, e de sua segunda mulher, Helena Glinskaya, Ivan foi o penúltimo representante da dinastia Rurik. Com a morte de Vassili III em 4 de dezembro de 1533, o menino de 3 anos foi proclamado grão-príncipe de Moscou. Sua mãe foi regente da Rússia 1538, quando morreu, fato que reacendeu as disputas entre várias facções da nobreza pelo poder. Conflitos sanguinários entre vários clãs de boiardos (nobres russos) se estenderam até 1547, deixando marcas profundas no jovem Ivan, que sobrevivia como podia entre terror e horror.

Após a morte da regente Helena Glinskaya, em 1538, lutas sangrentas opuseram os boiardos na conquista pelo poder. Ivan, filho do grão-príncipe Vassili III, sobrevivia como podia entre terror e horror. Ele lembrou em uma carta: “Eu estava com 3 anos. Meu irmão Yuri tinha apenas 1 ano de idade. Ficamos órfãos, com a nossa mãe, a piedosa czarina Helena, viúva e infeliz ela também. Parecia que estávamos em meio às chamas. Foi então que vocês, os boiardos desleais, começaram a nos oprimir com seus inúmeros golpes. Quando a piedosa imperatriz Helena deixou o reino terrestre, ficamos, meu finado irmão Yuri e eu, completamente órfãos, sem ninguém para nos ajudar. Eu tinha então 8 anos. Nossos súditos viram os seus desejos se tornarem realidade: receberam um império sem chefe. Eles nos ignoraram, seus soberanos, e se precipitaram para conquistar riquezas e honrarias. Quanto a nós e a nosso finado irmão Yuri, fomos criados como estranhos ou mendigos. Quantas privações sofremos, tanto nas roupas como na alimentação! Não nos davam nenhuma liberdade, nunca fomos tratados como convém tratar as crianças. Vivemos perseguidos e oprimidos, e a perseguição crescia dia a dia, hora a hora”.

Ivan demonstrou uma maturidade excepcional e um perfeito domínio da língua. A beleza do seu estilo e seu talento literário fizeram dele um dos grandes escritores da sua época, e, sem dúvida nenhuma, o mais talentoso de todos os monarcas russos. Sua erudição religiosa era impressionante, sua memória, fenomenal. Escreveu uma grande quantidade de epístolas e textos litúrgicos, além de compor várias peças musicais.

Os anos vividos sob a tutela dos boiardos aguçaram seu ressentimento e sua crueldade: “Quando completamos 15 anos, começamos a governar nosso império por nós mesmos”. Pediu que fosse consagrado como czar de toda a Rússia no dia 16 de janeiro de 1547, na catedral de Moscou. O metropolita Macário entregou-lhe as insígnias do poder: a cruz, a pelerine e a coroa de Monômaco.

O título czar seria oficializado em 1561, por meio de um rescrito do patriarca de Constantinopla. No dia 3 de fevereiro de 1547, Ivan casou-se com Anastasia Romanovna. Graças à sua influência benéfica, ao Conselho de Eleitos presidido por Alexis Adashev, guiado pelo metropolita Macário, o príncipe Andrei Kubsky e o padre Silvestre, Ivan IV reinou com sabedoria e eficiência.


Após assassinar o filho e herdeiro, Ivan Ivanovich, o czar exibiu sinais cada vez mais claros de decadência física e mental. Ivan, o Terrível, e seu filho em 16 de novembro de 1581, óleo sobre tela, 1885, Ilya Efimovich Repin.

Nervoso, irascível, despótico e astuto, ele surpreendia por sua sagacidade, seu senso apurado de análise e de diplomacia, suas qualidades de estrategista, sua vontade de centralização do poder e suas opiniões políticas. Em 1548, dissolveu o Conselho de Eleitos e constituiu um Conselho Escolhido dirigido pelo pope (sacerdote ortodoxo) Silvestre e Alexis Adashev. “Nenhum príncipe da cristandade é mais temido e amado por seu povo. Dois pensamentos o consumiam: servir a Deus e esmagar os inimigos”, relatou um de seus contemporâneos.

Em 1550, o czar convocou os primeiros Estados Gerais (zemski sobor) de todas as províncias da Rússia. Foi a primeira assembleia na qual ele se dirigiu ao povo: “Eu era como surdo e mudo na minha lamentável infância porque eu não ouvia os lamentos dos pobres e as minhas palavras não suavizavam seus males. Mas posso prometer-lhes que saberei preservá-los da opressão e do saque. A partir deste dia, serei seu juiz e defensor”. Ele promulgou um código de vida doméstica, o Domostroi, elaborou um novo código de leis, instituiu auxílios para os pobres e os inaptos para o trabalho. Criou o corpo dos Streltsy (a guarda de elite dos czares), cujos membros eram recrutados entre os homens livres e de viam servir a vida toda. O concílio dos Cem Capítulos reorganizou a vida religiosa em 1551. A elaboração e a adoção do código administrativo foram realizadas em 1555-1556. O primeiro alfabeto eslavo foi publicado em 1574.

EXPANSÃO TERRITORIAL Porém, mais do que tudo, Ivan queria unificar o país e conquistar novos territórios. O canato (reino turco ou mongol dirigido por um khan) de Kazan intimidava as populações e controlava a rota do rio Volga usada pelos comerciantes. Com um exército de 150 mil homens e 150 canhões enormes, Ivan IV desmantelou o canato em 1552. Em memória dessa vitória, foi construída em Moscou a catedral da Intercessão da Virgem. A conquista do canato de Astracã, em 1556, fez do Volga um rio inteiramente russo.

O Bascortostão e a Chuváchia uniram-se à Rússia em 1557. Decidido a dar ao país uma saída para o mar Báltico, em 1558 Ivan iniciou a Guerra da Livônia, contra os poloneses e os suecos. A guerra contra a Suécia começou em 1567. A cidade de Novgorod foi conquistada em 1570. De acordo com Skrynnikov: “Foi um terror de grande amplitude, em especial para com os habitantes de Novgorod. Durante o seu reinado, Ivan IV teria mandado executar de 3 mil a 4 mil pessoas”. O inimigo não estava muito atrás. Em 1571, o khan da Crimeia, Devlet Giray, marchou sobre Moscou. Os tártaros atacaram a cidade, queimando e exterminando tudo o que viam pela frente. Pouco importava, reconstruía-se! A expansão do território era o grande negócio do temido czar.


No dia em que, segundo os astrólogos, seria o de sua morte, Ivan pediu para se tornar monge e faleceu logo em seguida. Czar Ivan IV, o Terrível, pede a Komily para ser admitido entre os monges, óleo sobre tela, Kludiy Vasilevich Lebedev, século XIX.

Depois de ter cruzado os montes Urais e combater os tártaros nas margens do rio Tobol, o cossaco Yermak conquistou a Sibéria em 1581, acrescentando aquela terra gelada à Coroa da Rússia. Um tratado de paz com a Polônia, em 1582, e outro com a Suécia selaram as diferenças. Louco de dor após a morte da czarina Anastasia em 1560, Ivan saciou sua sede de vingança na mais extrema violência. Prometeu cortar a cabeça dos oponentes. Incentivado pelos seus favoritos, Basmanov, Chybotovi, Saltykov e Viazemski, na sua desconfi ança doentia, seu abuso de poder, sua luxúria e sua crueldade, ele abandonou a capital no dia 3 de dezembro de 1564 e se retirou para Alexandrovskaia Sloboda, na província de Vladimir. Anunciou sua decisão de abdicar no dia 3 de janeiro de 1565. Dirigiu para o povo um apelo contra os boiardos.

O arcebispo Pimen de Novgorod foi buscá-lo. Com a mente atormentada pela paranoia, o czar voltou para o Kremlin como autocrata, no dia 2 de fevereiro de 1565. Decretou: “Todos os soberanos russos são autocratas e ninguém pode criticá-los. O monarca pode exercer sua vontade sobre os escravos que Deus lhe deu”. Seu poder era absoluto e ilimitado. Para se proteger dos boiardos, fundou o Oprichnina (guarda pessoal do czar), em 1565. Os oprichniki, membros dessa guarda, vestidos de negro, usavam uma cabeça de cachorro e uma vassoura penduradas em suas selas, símbolos da sua função: “Devorar e varrer todos os boiardos desleais”. Liderando 6 mil homens, Grigori Maliuta Skuratov espalhou o terror. “Foi então que começaram as decapitações”, disse a crônica. Os oprichniki pilharam, massacraram e exterminaram praticamente toda a população de Novgorod, mais de 15 mil pessoas, durante o pogrom de 1570. O Oprichnina seria dissolvido em 1572.


Depois de cruzar os Urais e combater os tártaros às margens do Tobol, o cossaco Yermak conquistou a Sibéria em 1581, acrescentando aquela terra gelada à coroa da Rússia. A conquista da Sibéria por Yermak, óleo sobre tela, Vassili Ivan Surikov, 1895.

Somente um homem se opôs ao czar, denunciando seus abusos: o metropolita Felipe. O concílio interveio. Filipe consentiu em não questionar o czar. Por um ano, o terror cessou. Mas em 1567, Ivan acusou os boiardos de traição. Cortou em pedacinhos homens, mulheres e crianças. Filipe não conseguia mais trazer Ivan de volta à razão. Negou-lhe a bênção durante um culto, censurou a violência e contestou sua ideia de monarquia. Expulsou da igreja os homens que haviam sequestrado as mais belas mulheres de Moscou para que fossem violentadas pelo czar e seus oficiais, em julho de 1568.

Louco de raiva, Ivan IV convocou um concílio a fim de julgar o metropolita. Filipe foi deposto e condenado à prisão perpétua por bruxaria. Por ordem do czar, Grigori Maliuta, executor do trabalho sujo, estrangulou-o em 1569. Tomado por novo capricho, Ivan renunciou ao trono em 1575 e abdicou em favor do príncipe tártaro Simeão, neto do khan Akhmat e filho de Bekbulat. Instalou-o no Kremlin, deu-lhe todo o poder e se retirou na província. O “czar” Simeão substituiu Ivan durante um ano.

Depois de cruzar os Urais e combater os tártaros às margens do Tobol, o cossaco Yermak conquistou a Sibéria em 1581, acrescentando aquela terra gelada à coroa da Rússia. A conquista da Sibéria por Yermak, óleo sobre tela, Vassili Ivan Surikov, 1895
Ivan casou-se novamente em 1561, com Maria Temrjukovna, filha do khan Temryuk, que faleceu no dia 1º de setembro de 1569. Como o czar não podia ficar sozinho, foi organizada uma festa de apresentação de noivas. Mais de 2 mil jovens competiram. Ivan escolheu Maria Vasilyevna Sobakina, filha de um comerciante de Novgorod. Ela se tornou sua esposa no dia 28 de outubro de 1571 e morreu durante as celebrações do casamento, em 13 de novembro.

O viúvo afundou na devassidão. Não contente com suas inúmeras conquistas femininas, ele se mostrava ao lado do seu favorito, Basmanov. No auge da sua loucura sanguinária, escolheu Ana Alexaievna Koltovskaia. Casou-se com ela em 1572 e, depois, trancou-a em um convento, sob o pretexto de que ela emagrecera e ele não gostava de magras.

Átila, o Huno: um animal político.

Talvez o maior paradoxo da imagem do líder “bárbaro” seja o de que, em verdade, ele era melhor diplomata do que general de guerra.


 Átila e suas hordas invadem a Itália e as artes, Eugène Delacroix, c.1843, óleo sobre tela, Palais Bourbon.

O rei sabe quem ele mantém ao seu redor. Culto, fala latim e grego. Ele prova ser um debatedor habilidoso e conduz seus homens com mão de ferro e luvas de pelica. Bem longe daquilo a que o termo “bárbaro” remete. Tendo escrito um século após a morte do rei dos hunos, o historiador Jordanes oferece uma imagem ambígua do monarca: “Átila amava a guerra, mas era capaz de controlar sua própria violência”. Sem negar seu gosto pela conquista e pelas pilhagens, ele lembra que Átila era também um animal político que se servia, muitas vezes, de meios sutis.

Governar consiste, em primeiro lugar, em saber se cercar. Para receber os melhores conselhos, Átila reuniu ao seu redor uma corte tão numerosa quanto original. Ela era composta por hunos nobres, como o seu braço-direito Onegésio ou um certo Berik, que possuía um vasto comando territorial, mas também por chefes dos povos germânicos, seus aliados, aos quais Átila atribuía extensas responsabilidades. Entre eles, o ostrogodo Teodomiro, pai daquele que viria a se tornar o rei Teodorico, o Grande, conquistador da Itália.

Átila deixava o comando de seus exércitos nas mãos dos bárbaros, mas incumbia os romanos das tarefas administrativas. Assim, dois de seus secretários sucessivos tinham o mesmo nome, Constâncio – o primeiro era gaulês, o segundo, italiano. Sob sua influência, a corte empregou um pequeno corpo de intérpretes. Quanto à chancelaria real, esta foi confiada a Orestes, um aristocrata da província romana da Panônia. Após a morte de Átila, Orestes retornou ao território romano, recebendo importantes funções militares até assumir o controle do Império, em 475.

MESTRE DAS ARMAS PSICOLÓGICAS Se Átila parecia ter talento para detectar personalidades notáveis, seu círculo heterogêneo não deixava de ser um produto do acaso. Seu bobo da corte, Zercon, era um mouro, anão e poliglota, que pertencera a um general romano até ser “tomado” pelos exércitos hunos. Os prisioneiros de guerra que demonstravam talentos especiais se beneficiavam de um tratamento diferenciado. O prisioneiro romano Rusticius escapou da escravidão por ser capaz de escrever cartas diplomáticas.


 Átila chegou a acampar diante das enormes muralhas de Constantinopla e  planejava outra campanha contra a capital bizantina quando a morte o surpreendeu, no início de 453.

Átila governava sua corte com um misto de doçura e violência. Aqueles que ele queria bajular ganhavam presentes, elogios, tinham lugares preferenciais à mesa e recebiam até mesmo a promessa de ricos casamentos. Eventualmente, alguns de seus auxiliares eram encarregados de partir em delegações a Constantinopla. Eles podiam estar certos de uma grande recepção e de voltarem carregados de presentes. Por outro lado, Átila era implacável com traidores. Assim, mandara crucificar seu primeiro-secretário, suspeito de desviar um lote de cálices preciosos. Incutir o terror era útil ao rei: enquanto Bizâncio tentava subornar sua corte na tentativa de assassiná-lo, o complô acaba sendo denunciado por seu conselheiro Edika tamanho o seu medo da retaliação, caso o plano desse errado.

No que concerne às legações estrangeiras, Átila mostrava-se um interlocutor hábil. Os embaixadores recebiam uma enxurrada de insultos ou de adulações; no decorrer da discussão, o rei os ameaçava da pior das mortes, antes de assegurá-los de que, a seus olhos, eles eram sagrados. Desconcertados, os diplomatas se viam em uma posição frágil para conduzir as negociações. Átila se aproveitava também de qualquer oportunidade para usar suas armas psicológicas. Seus visitantes retornavam cobertos de presentes suntuosos mas, ao longo do caminho de volta, eram obrigados a assistir ao suplício de homens culpados de traição.

Em matéria de política externa, era um oportunista. Suas relações com o Império Romano do Oriente tinham um único objetivo: conseguir o máximo de riqueza. Na maior parte das vezes, ele se contentava em recolher tributos: para isso, multiplicava as missões diplomáticas, ameaçava seus interlocutores, exigia que as disposições dos tratados anteriores fossem respeitadas... E se porventura o pagamento dos impostos fosse interrompido, ele não hesitava em recorrer à guerra. Violenta e breve, esta não terminava com uma conquista, mas com um acordo financeiro mais favorável do que o anterior.

Resta saber se a diplomacia de Átila era realmente eficaz. Ele parece ter subestimado os recursos que o império podia recolher. Na verdade, os tributos pagos não arruinavam Constantinopla, tampouco prejudicavam seu potencial militar. As repetidas exigências dos hunos e suas múltiplas depredações acabaram exasperando, porém, a opinião pública bizantina. Átila terminou contribuindo assim para que adeptos de métodos mais duros chegassem ao poder. Em 450, Marciano subiu ao trono, fazendo da eliminação dos hunos a primeira meta de seu reinado.


O saque de Aquileia (imagem) ocorreu em 452 e foi realizado pelos hunos sob a liderança de Átila.

Átila parecia mais confortável com os romanos ocidentais. Sem escrúpulos, ele acolhia em sua cor te personalidades contrárias às autoridades vigentes. Como Eudoxo, um líder dos camponeses gauleses que se rebelou contra a carga tributária e passou para o lado dos hunos em 448. O rei criou laços também com a princesa romana Honória, irmã do imperador Valentiniano III. Ela se ofereceu ao rei huno em casamento. Seu “esposo” reivindicou então direitos sobre o Império do Ocidente.

Os gauleses eram bárbaros?

Esse povo que não tomava banho, não conhecia as letras e até praticava sacrifícios humanos precisou ser conquistado por Roma para conhecer a civilização, certo? Errado!


Vercingetorix joga suas armas aos pés de César, óleo sobre tela, Lionel Noël Royer, 1899. Imagem: MUSEU CROZATIER, LE PUY-EN-VELAY.

O senso comum prega que os gauleses eram um bando de guerreiros frustrados, saqueadores e brigões até que Júlio César os transformou em um povo civilizado sob a égide de Roma. Embora estivessem divididos em comunidades que alimentavam disputas constantes, os gauleses obedeciam a instituições e costumes semelhantes. Recentes descobertas arqueológicas mostram uma civilização de características próprias.

A sociedade era formada por tribos, unidade basilar que reunia várias famílias. Elas eram lideradas por um rei, que se mantinha cercado de uma aristocracia guerreira no comando de uma plebe composta de artesãos, camponeses e escravos. Muito cedo trocas comerciais se estabeleceram através do Mediterrâneo, notadamente com os gregos.

Os gauleses praticavam a salga dos alimentos para conservá-los, em particular da carne de porco. Eles desenvolveram a agricultura usando uma espécie de ancestral da ceifadeira, uma grande caixa com rodas dentadas puxada por um boi, enquanto os romanos ainda se serviam de foicinhos. Eles inventaram o tonel, recipiente mais cômodo que a ânfora para o transporte e a conservação do vinho. O artesanato era, contudo, o domínio no qual sobressaíam. Embora suas peças de cerâmica sejam famosas, foi na ourivesaria e na produção de instrumentos de ferro que eles se tornaram mestres, como provam as fi velas e outros broches cuja produção demonstra uma real preocupação estética. Isso também é prova de bom conhecimento dos minerais e domínio das difíceis técnicas exigidas na sua extração.

Além disso, os gauleses deram grande importância à aparência e ao asseio. Adotaram as bragas, tipo de ancestrais da calça, e inventaram o sabão à base de cinzas e de sebo – embora fosse usado principalmente para lavar as longas cabeleiras típicas dos gauleses. Os druidas, que exerceram um papel primordial na sociedade gaulesa, praticavam a medicina, e a descoberta de escalpelos e lancetas em suas tumbas levam a crer que tinham noções de cirurgia. Eles se interessavam pelo cálculo, pela geometria e pela astrologia no intuito de determinar os locais de cultos e elaborar calendários.