Bonaparte
Diante da Esfinge. Imagem: Jean-Léon Gérôme, Óleo sobre tela (1868).
Quem já não imaginou como
viviam os antigos egípcios? Como construíram seu império milenar? Acredito de
todos pelo menos uma vez na vida, refletiram sobre esses temas, mas antes de
podermos responder a essas questões temos que compreender que a civilização
egípcia ficou perdida por centenas de anos. E devido a isso primeiro pensando
nisso elaborei uma pequena introdução sobre a redescoberta do Egito faraônico.
Ela inicia-se com duas datas precisas: 1789 e 1824. Antes disso não se sabia
absolutamente nada a respeito desse período.
A primeira das duas datas (1798) corresponde à extraordinária
expedição do general Napoleão Bonaparte no Egito. Com surpreendente
visão de longo alcance, além de um corajoso exército, levou consigo um excelente
grupo de técnico e de homens entendidos no assunto, munidos de livros, duzentas
caixas de instrumentos científicos e duas tipografias completas, visto que em
todo o Egito não existia nada disso. Ao todo cento e sessenta e sete
“cientistas civis”, compreendendo naturalistas, botânicos, cartógrafos,
engenheiros, astrônomos, geólogos, historiadores e, pelo que constam,
desenhistas e arqueólogos. Esse douto esquadrão recebeu o apelido de “Asnos”
[1].
Champollion
e os hieróglifos
Entre os objetos recolhidos
durante a expedição
napoleônica havia uma estela fendida, com aparência totalmente
insignificante, Deu-a casualmente a um oficial do Gênio, um tal Bouchard,
que a passou a um dos “Asnos”.
Na estela três inscrições, a
primeira em hieróglifo; a segunda em demótico; a terceira em grego – que
indicava tratar-se de uma oferta sacerdotal feita por Ptolomeu V Epifane – constituía a chave para decifrar as
duas primeiras.
Constatou-se logo que o documento
era de excepcional interesse e por ordem pessoal de Napoleão a estela foi
imediatamente reproduzida e litografada, sendo que depois de várias cópias
foram enviadas a vários especialistas de línguas mortas.
Gastaram-se quinze anos para
a interpretação de pelo menos a parte em demótico. O mérito disso cabe ao sueco
J. D.Akerblad (1814). Mas os hieróglifos resistiam, inflexíveis. Como
para a história, existiam apenas duas fontes de referência: a primeira eram os
Hieroglyfhica, obra de Orapolo
Nilótico que parece ter vivido no século
IV d. C. Parecia antigo, dizia ser egípcio e portanto não havia motivo de
se contestar quanto à autoria de sua obra que, no entanto, infelizmente se
tornou inaceitável, embora tivesse algumas intuições certas [1].
Surgiu, posteriormente, a
segunda fonte com a obra de P. Athanasius Kircher, este de indiscutível e
vasta cultura; mas a sua Lingua Aegyptiaca restituta, publicada em Roma (1643), era de tal modo estranha
que levou seus alunos a proclamar, e sem hesitação, que num obelisco em Roma
está inciso um hino à Santíssima Trindade.
'Le Sphinx Armachis, Caire' . Imagem: Henri Béchard (1880).
Infelizmente, as dispersões
destes dois ilustres estudiosos desencadearam todos aqueles que as tinham como
boas. Somente a dois não atribuíram nenhum valor, desde o início. O primeiro foi oinglês Thomas Young, o qual seguiu pelo caminho certo, mas que,
não encontrando, afinal, uma confirmação para o seu trabalho apenas por motivo
de um erro banal de transcrição, deu-se por derrotado [1].