Antes disso, porém, participa ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922, envolvendo-se nos debates em torno da nova estética artístico-literária e do nativismo indianista, além de desenvolver seu nacionalismo, que mais tarde iria robustecer-se com o advento do Movimento Verde-Amarelista, fundado em parceria com Menotti del Picchia, Motta Filho e Cassiano Ricardo. Depois de escrever uma série de artigos publicados pelo Correio Paulistano, através dos quais já se percebe fragmentos da embrionária ideologia integralista, Salgado lança o romance O Estrangeiro (1926) e vê coroadas suas atividades literárias com o ingresso na Academia Paulista de Letras três anos depois. Assiste aos acontecimentos de 1930 em solo Europeu, como preceptor de um jovem de família abastada. Contudo, já instituído o governo varguista, retorna ao Brasil e dirige o jornal A Razão, para o qual escreve artigos doutrinários diariamente.
Em decorrência da eclosão da Revolução Constitucionalista em São Paulo, a sede do jornal é incendiada, o que precipita a fundação da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), entidade pré-integralista que serviria como substituta de A Razão na função de agente difusor da apologética de Salgado, bem como instrumento para aglutinar seus seguidores, os mesmos que formariam o núcleo central do grupo que em sete de outubro de 1932 proclama o Manifesto de Outubro. Nascia assim a Ação Integralista Brasileira (AIB).
Salgado logo se afirma como líder supremo (“Chefe Nacional”) do novo movimento, embora a adesão de nomes como Miguel Reale, Gustavo Barroso e Raymundo Padilha tenha forjado esferas de influência consideráveis sobre a militância. Chega a ter chancelada sua candidatura à Presidência da República, empresa que viria a ser revogada pelo decreto estadonovista de extinção dos partidos políticos.
Dúbia se mostra sua relação com a nova ordem, e após uma colaboração inicial que lhe valeu o convite de Vargas para assumir o Ministério da Educação, acaba por repudiar o decreto de fechamento da AIB e é então preso na Fortaleza de Santa Cruz, lá permanecendo até 21 de junho de 1939, sob acusação de ser o mentor do famoso Putsch do ano anterior, geralmente atribuído aos integralistas. Parte para o exílio em Portugal, onde desempenha atividades de conferencista e solidifica, através da publicação de diversas obras religiosas, sua condição de intelectual e líder católico militante. Durante esse período, envia ao Brasil uma série de manifestos e orientações formais aos membros da extinta AIB, explicitando, em um deles, sua aprovação à declaração de guerra do governo brasileiro contra o Eixo nazi-nipo-fascista. Uma vez redemocratizado o sistema político, Salgado retorna à terra natal e é eleito presidente do Partido de Representação Popular (PRP), organização esta que passa a congregar parte significativa dos antigos camisas-verdes. Embora germinada no exílio, operacionaliza-se nessa época sua ressignificação ideológica, que teve no apoio a candidatura presidencial de Eduardo Gomes um marco divisor peremptório, no sentido do abandono do anti-sistemismo característico da AIB.
Em 1955, disputa a presidência da República pelo PRP, obtendo 632. 848 votos, e um ano depois é eleito Deputado Federal pelo Estado do Paraná. Exerce por mais duas vezes a legislatura federal (1960-64 e 1970-74), agora representando São Paulo.
Salgado profere seu discurso de despedida na Câmara dos Deputados e decide abandonar a vida pública, vindo a falecer em dezembro de 1975, aos 80 anos de idade.
Você quer saber mais?
SANTOS, Alonso. Monografia sobre Plínio Salgado. Rio de Janeiro: N.I.E.R.J.
Demais referências bibliográficas citadas pelo autor.
BRITO, Raimundo de Farias. Finalidade do Mundo. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Instituto Nacional do Livro, 1957. 2.ed.
CARNEIRO, J. Fernando. Catolicismo, Revolução e Reação. Rio de Janeiro: AGIR, 1947.
CALIL, Gilberto Grassi. O Integralismo no Pós-guerra: A Formação do PRP (1945-1950). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Martin Claret, 2002.
DARNTON, Robert. História Intelectual e Cultural. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
FIGUEIREDO, Jackson. Literatura Reacionária. Rio de Janeiro: Edição do Centro D. Vital, 1924.
FRANCA, Leonel. A Psicologia da Fé. Rio de Janeiro: AGIR, 1952. 6.ed.
GONZAGA, Sergius. Manual de Literatura Brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994. 11.ed.
MADEIRA, Angélica. Fraturas do Brasil: o pensamento e a poética de Euclides da Cunha. In: AXT, Gunter e SCHÜLLER, Fernando (Orgs.). Intérpretes do Brasil. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2004.
MANTEGA, Guido. Economia Política Brasileira. São Paulo: Polis/Vozes, 1984.
SACCOMANI, Edda. Fascismo. In: BOBBIO, Norberto (Coord.) Dicionário de Política. Brasília: UNB, 1983. 4.ed.
SALGADO, Plínio. Aliança do Sim e do Não. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.6.
_______. A Quarta Humanidade. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.5.
_______. Despertemos a Nação. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.10.
_______. Direitos e Deveres do Homem. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.5.
_______. Discursos. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.10.
_______. Discursos Parlamentares. sel. e intr. Gumercindo Rocha Dórea, Brasília: Ed. Câmara dos Deputados, 1982.
_______. Espírito da Burguesia. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1951.
_______. Madrugada do Espírito. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.7.
_______. Mensagem às Pedras do Deserto. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.14.
_______. Mensagens ao Mundo Lusíada. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.6.
_______. O Cavaleiro de Itararé. São Paulo: UNITAS, 1933.
_______. O Esperado. São Paulo: Panorama, 1948.
_______. O Integralismo na Vida Brasileira. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1958.
_______. O Integralismo Perante a Nação. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.9.
_______. O que é Integralismo. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.9.
_______. O Rei dos Reis. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.6.
_______. O Ritmo da História. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.6.
_______. Páginas de Ontem. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.10.
_______. Palavra Nova dos Tempos Novos. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.7.
_______. Primeiro Cristo! In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.6.
_______. Psicologia da Revolução. In: Obras Completas. São Paulo: Editora das Américas, 1955. v.7.
_______. Reconstrução do Homem. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1958. 2.ed.
_______. Vida de Jesus. São Paulo: Panorama, 1945.
SANTOS, Cleiton Oliveira dos. Alberto Torres: o pensamento integralista em gênese. Goiânia: UFG, Monografia de Especialização. Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal de Goiás, 2004.
SILVA, Hélio. Terrorismo em Campo Verde. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Coleção Documentos da História Brasileira, 1964.
SILVEIRA, Tasso da. Tendências do Pensamento Contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1935.
SOUZA, Francisco Martins de. Raízes teóricas do Corporativismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, Coleção Caminhos Brasileiros, 1999. v.7.
TOBIAS, José Antônio. História das Idéias no Brasil. São Paulo: EPU, 1987.
TORRES, Alberto. O Problema Nacional Brasileiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, Coleção Brasiliana, 1978. v.16.
TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o Fascismo Brasileiro na Década de 30. Porto Alegre: Co-edições UFRGS/DIFEL, 1974.