segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Carta de Plínio Salgado para Getúlio Vargas

Carta de Plínio Salgado para Getúlio Vargas:
ENGANADOS, MAS FIÉIS A PALAVRA DADA.



A maior de todas as surpresas que tive em 10 de Novembro foi o discurso de V. Exª.
Nessa noite fiquei completamente convencido de fôramos enganados, desde o primeiro
dia. Não houve uma palavra de carinho para o Integralismo ou para os Integralistas.
Entretanto, era um movimento e eram homens que tudo fizeram pela Nação e que
sempre foram leais para com V. Exª. nos momentos os mais difíceis. Por todo o país,
ouvindo o rádio, um milhão e meio de brasileiros considerava o fato amargamente.
Apressai-me, leal à palavra empenhada, em extinguir a feição política da “Ação
Integralista Brasileira”. O único partido nacional, o único que estava em consonância
com o proclamado corporativismo do Estado Novo, era paradoxalmente o ÚNICO que
vinha espontaneamente declarar-se extinto, para só viver como sociedade cultural,
esportiva e beneficente.
Isso antes de qualquer lei, de qualquer decreto...
O Integralismo iria continuar, sob essa forma, conforme lhe prometeram os
responsáveis pela situação, prestando os serviços que só ele até então tinha prestado ao país.
Eu não supunha, porém, que o que se arquitetava contra o Integralismo era tão grande.
Logo os jornais, havendo censura oficial, começaram a atacar-me, a ridicularizar o
movimento integralista. Alguns diretores de jornais informavam-me que recebiam
ordens de autoridades para abrir fogo contra nós.

LOUVORES QUE NÃO HONRAM E CAMPANHA QUE NÃO DIGNIFICA

Em todas as rodas de políticos da cidade só se falava, então, do “tombo” que V. Exª. nos dera; no novo “pirarucu” que V. Exª. pescara; na rasteira que V. Exª. passara no
Integralismo, como se tais proezas atribuídas a um homem que todos brasileiros devem
olhar como honrado, dedicando-lhe todo o respeito, não ferissem mais a V. Exª. do que
ao Integralismo.
Houve mesmo uma palestra assistida por pessoa que os comensais não sabiam integralista, em que um dos diretores de uma Companhia, de que o Ministro da Justiça
fora advogado, afirmava haver sido eu chamado pelo Dr. Campos, o qual me impusera
(isso logo no dia 10 de Novembro) o fechamento imediato do integralismo. Essa
conversa deixou-me bem claro o projeto que se continha no meu chamado na manhã de
10, de improviso convertido em um pedido de noticia no “O Povo”.
A censura de imprensa começou a dar ordens que mais parecem de inimigos de V. Exª.
Proibiu a publicação do meu nome muitas vezes ou em tipo que ultrapassasse o
tamanho indicado; proibiu elogios literários sobre livros de minha autoria; proibiu que se dissesse que fundei o Integralismo, ou que fiz campanha nacionalista; proibiu que se usassem as palavras Integralismo, Integralista, Integral, etc.
Fomos, desde o primeiro dia do golpe, tratados como inimigos.
Já não quero falar a V. Exª. o que se passou nos Estados, antes mesmo do nosso
trancamento oficial. Meus retratos foram destruídos por esbirros, meus companheiros
presos e espancados, sendo numerosíssimos os telegramas que ao Dr. Campos foram
apresentados, relativos às mais inomináveis violências em todos os pontos do país, onde os Governadores irritados com o estado novo ao qual aderiram por interesses pessoais, vingavam-se nos integralistas, apontados como sustentáculos de V. Exª.

FASCISMO CONTRA INTEGRALISMO

Assim passamos angustiadamente até 19 de Novembro. Tive noticias de que nesse dia
seriam lançadas as “legiões” iguais aquelas kakis, de tentativa fascista de outros tempos.
Mas, não sei por que motivo, talvez devido à copiosa chuva, não fomos pelo fascismo
governamental esmagados e substituídos nesse dia. No dia 20, o General Góis Monteiro
pediu-me para chegar até sua residência. Lá, fez-me veemente apelo para que eu não
fechasse o integralismo, dizendo-me mesmo que tal medida seria desastrosa para o
Brasil.
Dizia-me que o Integralismo já havia cumprido uma grande missão e agora tinha de
cumprir outra. Essa ultima era a de manter uma sagrada mística onde tudo era interesse e hipocrisia. Elogiou as intenções de V. Exª., mas lamentou que os políticos estivessem estragando tudo. Disse que o destino do Brasil muito dependia do Integralismo. Em seguida insistiu para que eu falasse imediatamente ao Ministro da justiça, Dr. Campos, e, indo ao telefone, marcou o encontro. Foi isso exatamente na ocasião em que V. Exª. designava nova entrevista que desejava ter comigo e que seria dessa vez em Petrópolis.

PROMESSA QUE NÃO FOI CUMPRIDA; AFLIGEM-SE OS GENERAIS GOIS
MONTEIRO E NEWTON CAVALCANTI.

O Dr. Francisco de Campos disse-me logo de inicio da conversa, que a colaboração
pessoal minha no Governo de V. Ex.ª dependia, preliminarmente, do fechamento do
Integralismo, pois no Estado Novo, só haveria o partido do Governo. Respondi-lhe que
já havia fechado o partido político, porém que, de acordo com o combinado, ficava
aberta sociedade civil “Ação Integralista Brasileira”, de fins culturais e educacionais.
A esta altura da minha carta, lembro-me, Sr. Presidente, de que na manha do dia 10 de
Novembro, quando fui chamado pelo ministro da Justiça, Dr. Campos, para receber a
encomenda de uma noticia de imprensa, eu lhe perguntei ao despedir-me, já de pé, se na nova Constituição tinha sido incluída alguma disposição dentro da qual ficasse
assegurada a existência da “Ação integralista Brasileira” como sociedade civil, ao que ele me respondeu prontamente que sim.
Agora, eu apelava para a afirmativa do Sr. Ministro, ao que ele retrucava que era uma
exigência de V. Ex.ª o nosso fechamento.
Eu disse, então, ao Ministro Campos, que se o fechamento da Ação integralista
Brasileira também como sociedade civil, e não só como partido, era inevitável, então
que partisse do próprio governo, pois essa deliberação jamais partiria de mim porque a minha dignidade não o permitia. Foi esse o pensamento que ele levou a V. Ex.ª.
Abalado por tão imprevistos acontecimentos, julguei um dever comunicar o fato ao
General Góis Monteiro, que apelara para mim no sentido de que eu não fechasse o
Integralismo, e ao General Newton Cavalcanti que prometera ser o advogado dos
Integralistas. O General Góis Monteiro, relembrando os serviços que o Integralismo
prestara ao Exército e expondo com muita clarividência a sua crítica sobre a situação do país, prometi falar com o Sr. Presidente da república, demonstrando a V. Ex.ª a extrema gravidade que representava para o exército e o País o fechamento do Sigma naquela ocasião. Quanto ao General Newton Cavalcanti tão profundamente chocado ficou com a noticia contrária ao que V. Ex.ª lhe assegurara que, já noite, debaixo de um forte temporal, saiu da Vila Militar para a cidade, a fim de se entender com o Sr. Ministro da Guerra, pedindo-lhe que se dirigisse a V. Ex.ª.

O MINISTRO CAMPOS OFERECE-ME DINHEIRO

No dia seguinte, estive novamente com o Ministro Francisco Campos, que já havia
estado com V. Ex.ª e que me informou da resolução de V. Ex.ª de baixar um decreto
fechando todos os partidos políticos, inclusive o Integralismo, que não poderia
funcionar, mesmo como sociedade civil sem as características do partido. Reclamei,
então, veemente, contra isso dizendo ao Dr. Campos que tal medida nos deixaria numa
situação dificílima, pois a Ação Integralista Brasileira tinha relações civis e comerciais, com responsabilidades para com terceiros, tinha dividas, inclusive a relativa ao empréstimo do Sigma de milhares de contos, tinha ambulatórios médicos, lactários, escolas, bibliotecas, jornais e revistas. Seria uma calamidade e nós não mereceríamos isso, pois não praticamos nenhum crime para sermos tratados dessa maneira. O Sr.
Ministro da Justiça respondeu-me que esses prejuízos financeiros o Governo poderia
pagar porque tinham sido despesas feitas com obras DE BENEMERÊNCIA. Eu lhe
respondi que a dignidade do Integralismo não permitia que aceitássemos a oferta, pois
daríamos à impressão de haver transacionado o nosso apoio ao governo. Encerrando a
conversa, o Ministro disse que iria estudar o caso.

O PRESIDENTE ENCONTRA-SE COMIGO NO LUGAR DE COSTUME

Foi depois disso que estive com V. Ex.ª, novamente, em casa do Dr. Renato da Rocha
Miranda. Depois de palestrarmos sobre vários assuntos, V. Ex.ª me declarou que iria
baixar um decreto fechando todos os partidos e eu tive de concordar com essa
providencia, porque assim deveria ser pela Constituição do Estado Novo. Falei então, a V. Ex.ª que, a “Ação integralista Brasileira” já não seria atingida pelo decreto, porque deixara de ser partido, desde o dia 11 de novembro, e que ela deveria apenas continuar como sociedade cultural, educacional, esportiva, e beneficente, em que porventura se transformassem os partidos, teriam de mudar de nome.
Dignando-se V. Ex.ª transmitiu-me essas informações, reiterou o convite que
anteriormente me fizera para ocupar o lugar de Ministro da Educação em seu governo.
Eu procurei mostrar a V. Ex.ª como a proibição, de chofre, dos gestos, uniformes e
distintivos integralistas, iria ferir profundamente a massa de mais de um milhão de
brasileiros que me acompanhava. Lembrei a V. Ex.ª que os nossos inimigos eram
justamente aqueles que nos odiaram por verem em nós o sustentáculo do Poder Central
e que, agora, esses homens tendo aderido hipocritamente ao Estado Novo e não se
conformando, no intimo, com a situação, iriam vingar-se nos integralistas,uma vez que
não tinham hombridade para lutar contra o Presidente da Republica. Falei a V. Ex.ª das grandes opressões que os integralistas já estavam padecendo antes mesmo do
fechamento do Sigma e do quanto iriam sofrer de autoridades covardes que
exorbitariam na ocasião do trancamento das sedes municipais.
Pedi a V. Ex.ª, em nome dos serviços que prestáramos na luta contra o bolchevismo, na
sustentação da autoridade do Presidente da República, no combate ao regionalismo
separatista e, em nome dos mártires que já contávamos que a “Ação integralista
Brasileira”, embora fechada como partido pudesse continuar a viver como sociedade
civil, sem que, portanto, fosse preciso o encerramento das sedes nacionais, estaduais e municipais, que ocasionaria tropelias e barbaridades em todo território da republica. A esse apelo, V. Ex.ª, atendendo-me, prometeu que falaria com o Ministro da Justiça, a fim de que combinasse ele comigo as instruções que eu julgasse necessárias, de modo a evitar maiores aborrecimentos aos integralistas.
Diante disso, para demonstrar a V. Ex.ª a minha boa vontade esquecendo todos os
dissabores dos últimos dias, prometi que, logo que saísse o decreto fechando os partidos políticos e desde que, pelo seu texto, os integralistas verificassem que continuavam a sua obra patriótica, eu reuniria as personalidades de mais projeção do integralismo e as consultaria sobre o convite que me era feito para colaborar como Ministro de V. Ex.ª.

O GENERAL NEWTON CAVALCANTI, FIADOR DA PALAVRA ALHEIA, PEDE DEMISSÃO.

Nos dias que se seguiram, no que me parece, os Generais Góis Monteiro e Newton
Cavalcanti deram alguns passos junto ao Ministro da Guerra, em continuação às
providencias que estavam tomando anteriormente, no sentido de obterem de V. Ex.ª o
não fechamento do Integralismo como sociedade civil. Isto suponho, porque o General
Góis Monteiro teve a bondade de me procurar em minha casa para me fazer a
comunicação de que esgotara todos os argumentos a nosso favor, porém não pudera
evitar o nosso fechamento. Quanto ao General Newton Cavalcanti, tive conhecimento (e
toda a população do Rio de Janeiro) de uma longa carta que ele endereçou ao Sr.
Ministro da Guerra, pedindo demissão do Comando da Vila Militar, por não concordar
com a providencia que nos atingia, em desacordo com a palavra em contrário que se lhe
havia dado. Logo depois, saia o decreto. E eu não fui ouvido pelo Ministro da justiça, conforme ficara combinado com V. Ex.ª.

DESENCADEIA-SE A PERSEGUIÇÃO AOS INTEGRALISTAS.

Não se descreve o que se passou no país, Sr. Presidente. As maiores tropelias e
violências foram praticadas. Centenas de sedes foram depredadas. O meu retrato
arrastado para as ruas e queimado. Numerosas prisões efetuadas. Homens e mulheres
espancados barbaramente. Domicílios particulares invadidos e saqueados. Houve um
caso até (no Paraná) de incêndio na casa de um médico, chefe integralista municipal,
enquanto este se encontrava encarcerado. Os relatórios que possuo são deprimentes para os esbirros estaduais. Era o ódio recalcado dos próprios inimigos de V. Ex.ª
(separatistas e comunistas) desforrando-se naqueles que pregaram a unidade da Pátria, o prestigio do Poder Central e as doutrinas corporativistas agora de certa forma adaptadas pelo Estado Novo. Foi proibida a revista “Anauê”, que se publicava nesta capital,havendo ameaça de fechamento dos nossos jornais. Em diversos Estados foram apreendidos, nas livrarias, livros de autores integralistas. No Estado do Rio chegaram até a confiscar os livros de minha autoria que nada tinham a ver com o Integralismo: romances, ensaios, literatura em geral, com prejuízos financeiros para os meus editores e para mim particularmente. A onda de ódio desencadeou-se violenta por todo o país com ameaças tremendas, vexames de toda espécie e brutalidades indescritíveis.

AS CONSEQÜÊNCIAS FATAIS

Encontro-me hoje, Sr. Presidente, na mais dolorosa das situações a que um homem de
bem, pelo seu patriotismo, pela sua desambição, pela sua lealdade e pela sua dignidade poderia ser levado.
As autoridades exigem de mim duas coisas que se repelem, duas coisas que constituem
o impossível:
Que eu não me considere mais “Chefe Nacional” dos Integralistas;
Que eu lhes de ordens, que seja obedecido e que responda por todos eles;
As autoridades exigem também outro absurdo da massa integralista, pela imposição de
duas exigências contraditórias:
Que se acabe definitivamente com a “mística”, isto é, com o uniforme, os símbolos, a
saudação, os distintivos, o nome “Integralista” e a palavra “Integralismo”, o respeito ás ordens do Chefe, porque o governo não quer que exista mais Chefe para os mesmo Integralistas;
Que essa massa, sem mística, sem características, sem disciplina e sem chefe, tenha um procedimento uniforme e responda coletivamente por atos isolados de qualquer de seus membros.
A tentativa que fiz para organizar uma sociedade (“Associação Brasileira de Cultura”), não logrou êxito no Ministério da Justiça onde os papeis se arrastam há dois meses.
Muitos Integralistas, aliás, não se conformam com outras denominações e não querem
abrir mão das exterioridades do seu culto cívico. Outros revoltados diante da campanha dos jornais esquerdistas (em plena vigência da censura) contra o Integralismo, desgarram-se dos quadros disciplinadores do antigo movimento, ligando-se a políticos liberais por não acreditarem na sinceridade do Governo.
Vários companheiros têm morrido sob maus tratos policiais. Diante de tudo isso, que
devo fazer?
Cerca de cinco mil integralistas passaram, em sucessivas comissões, pela minha
residência, por ocasião do Natal e do Ano Bom. A esses falei e aconselhei. Mas o Rio
tem dezenas de milhares de integralistas e o Brasil centenas de milhares. Que estarão
fazendo? As cartas que recebo revelam um estado de animo estranhamente tenso.
O Comandante Américo Pimentel, da Casa Militar de V. Ex.ª, vindo cumprimentar-me
em nome de V. Ex.ª na passagem daquelas datas festivas, foi algumas vezes testemunha
de meus esforços pacificadores. Indague V. Ex.ª, por exemplo, de pessoas que lhe
merecem crédito, como o Dr. Renato Rocha Miranda, Dr. Amaro Lanari, Dr. Belisário
Pena, o General Vieira da Rosa, o Dr. Rocha Vaes, o Dr. Gustavo Barroso, sobre o
quem tem sido a minha ação, desde o fechamento do Integralismo, a acalmar exaltado, a
descobrir grupo que cometam ou despertam ou se desesperam, reduzindo-os à disciplina
a fim de evitar que façam loucuras.
O Integralismo, arrebentadas as comportas da hierarquia, a través da qual chegava, de
chefe em chefe, a minha palavra é hoje uma ebulição que se pode tornar incontrolável.
Entre as coisas que mais amargam essa massa, cumpre notar a inexistência, nestes dias, da menor palavra do Governo, que tanto deve ao Integralismo e que no Integralismo sempre reconheceu um movimento que tudo sacrificou pela grandeza da Pátria, sem nada haver pedido em troca.
A coletividade integralista só tem recebido asperezas, remoques, ironias, perseguições injustificadas, não só de certa imprensa como mesmo de algumas autoridades superiores do país. E que crime praticou o Integralismo?
Os argumentos que se usam contra nós são os mais absurdos e irrisórios.
Afirma-se que devemos estar satisfeitos porque nossas idéias estão triunfantes e que,
por isso, qualquer atitude de desgosto só pode revelar ambição pessoal. Mas ao mesmo
tempo, autoridades policiais proíbem a palavra “integralismo”, proíbem que os jornais
nossos se refiram à obra realizada por nosso movimento no país, permitem que sejam
feitos contra nós ataques em certa imprensa até a pouco reconhecidamente bolchevista
e, em todos os quadrantes do país, as autoridades, invertendo a realidade, nos chamam
de “extremismo de direita” e ao Estado Novo de “defensor da democracia”!...
Nos meios políticos e em algumas esferas governamentais sempre fomos maltratados
desde o dia 10 de Novembro. E quando se esgotaram todos os recursos para nos
levarem ao desespero, começaram a fantasiar as mais ridículas conspirações, que se nos atribuíam, seguidas de prisões as mais injustas. As tropelias policiais em lares humildes são freqüentes e cruéis, com espancamentos e torturas que se produzem. Numerosas famílias estão privadas de seus chefes. Criou-se uma atmosfera de animosidade e desconfiança e desconfiança, dentro da qual se pretende asfixiar os Integralistas.
Essa é a situação que precisa ser encarada com o maior realismo e o mais alto
patriotismo por todos nós.

CONCLUSÃO

De minha parte, nos superiores interesses do Brasil, estou sempre disposto a procurar
fórmulas salvadoras e dignas. É com esse estado de espírito que me dirijo a V. Exª.
antes de um novo encontro pessoal, por meio desta carta que constitui um documento
que lego à história do Brasil, mostrando a elevação de vistas, o desinteresse pessoal, o conciliador patriotismo e a firme dignidade com que me portei nestes dias que considero os mais tristes de minha vida toda, dedicada ao serviço da minha Pátria.
Falei nestas linhas, francamente, confiadamente, sem nenhuma restrição mental a V.
Exª., como um bom brasileiro deve falar ao Chefe de sua Nação. Penso que esta questão
do Integralismo precisa ser colocada no terreno exclusivo da confiança e lealdade. É o que faço. E V. Exª. agora, sabedor do motivo porque ainda não aceitei o convite de V. Exª. para seu Ministro, poderá concluir em que setor do Governo e de que maneira
poderíamos trabalhar com dignidade pela grandeza do Brasil.

(a) Plínio Salgado.
Rio de Janeiro, 28 de Janeiro de 1938.

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A SECA DE 1932

Histórico da Seca de 1932



Na seca de 1932, milhares de flagelados pretendiam seguir do sertão para Fortaleza em busca de alimentos e melhores condições de vida. Temendo uma invasão maciça da Capital, o governo concentrou os retirantes num campo improvisado na barragem do Açude Patu, em Senador Pompeu. Centenas de famílias foram mantidas ali sob a promessa de trabalho, mantimentos e água. Mas repentinamente, a construção foi paralisada e os sertanejos abandonados à própria sorte. Logo vieram a fome e as doenças. Sem amparo, muitos morreram. Não existem números oficiais, mas o povo da cidade estima que pelo menos sete mil homens, mulheres e crianças foram enterrados no cemitério da barragem.

Para entendermos uma página negra da história do Brasil, ocorrida no Ceará, primeiramente durante a seca de 1915 e depois repetida em 1932, é necessário voltarmos um pouco no tempo, até 1877, época de outra grande seca que assolou o estado nordestino.



ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE SENADOR POMPEU

Como é sabido por todos(ou ao menos deveria ser) a seca sempre foi um flagelo sazonal no Cariri. A falta de uma política efetiva, nesse sentido, perpetua o sofrimento dos irmãos nordestinos ao longo dos séculos.
Em 1877, ainda no tempo do império, a grande seca que assolou o sertão cearense, fez com que uma grande massa humana se deslocasse em direção das grandes cidades da época, como por exemplo Fortaleza, que obviamente era dominada pelas elites. Pressionados pela fome e pela falta de condições de sobrevivência e não encontrando resposta para as mesmas, esse famélico cortejo invadiu a capital da terra do sol e passou a saqueá-la.
Durante esse período (1877-1879) a solução encontrada pelo governo foi incentivar os flagelados a colonizarem a Amazônia, originando assim o primeiro Ciclo da Borracha.
Em 1915, nova seca fez com que os sertanejos se dirigissem para as grandes cidades, desta feita o Governo do Ceará, optou por criar o primeiro ”campo de concentração, no alagadiço, hoje Otávio Bonfim, ao oeste da cidade de Fortaleza, lá foram “abrigadas” mais de 8 mil almas a quem eram fornecidas alimentação sob a vigília constante de soldados. Mais uma vez foi estimulada a migração para a Amazônia e o campo ( curral humano ) foi desativado em novembro do mesmo ano.

Em 1932, nova seca assola o Ceará e novamente o movimento dos sertanejos se faz em direção às grandes cidades atendidas pela via férrea. Desta feita o governo instala novos campos de concentração, cercados por arames farpados e vigiados por soldados em:
Senador Pompeu, Ipu, Quixeramubim, Cariús, Crato (Buriti, por onde passaram 65.000 pessoas) além do já conhecido campo do Alagadiço( Otávio Bonfim) e o novo campo a noroeste da capital, o Pirambu, mais conhecido como o Campo do Urubú.


Campos projetados para abrigar 2000 pessoas, chegaram a manter 18.000 flagelados. As condições de higiene inexistiam, as pessoas viviam em verdadeiros currais.
Ao chegar tinham suas cabeças raspadas e eram obrigadas a usar um uniforme feito de sacas de açúcar, confeccionado por eles mesmos.
A cabeça raspada impedia a proliferação de piolhos, no entanto, as péssimas condições de higiene, alimentação precária e um surto de cólera, dizimaram milhares de sertanejos presos nesses campos de concentração tupiniquins.

“A seca de 1932 foi uma das maiores da história do Ceará. Fome e doenças como cólera, febre amarela e varíola marcaram aquele povo sofrido pela sede e fome. Senador Pompeu foi uma das cidades que abrigou um dos sete campos de concentração, criados pelo governo da época para deter a vinda de retirantes à Fortaleza.”

Mais uma vez o governo mandou milhares de cearenses para a amazônia , dando origem ao segundo ciclo da borracha.
Estima-se que cerca de 73 000 flagelados foram confinados nesses campos onde as condições eram desumanas, o que resultou em inúmeras mortes.
Ainda durante essa seca, flagelados cearenses foram enviados para o combate nas trincheiras da Revolução de 1932 em São Paulo.
Com o advento da segunda guerra mundial e temendo comparações com os campos de concentração nazistas os tais campos de concentração foram totalmente desativados e em outras ocasiões subsequentes e semelhantes, criaram-se albergues onde a população flagelada recebia melhor tratamento.
Quanto ás mortes também não se pode considerar que os campos de concentração cearenses tinham a intenção de serem campos de extermínio, mas sim o de afastar do olhar das elites das grandes cidades a face da pobreza de seus semelhantes que viviam no sertão.

-Qualquer semelhança com fatos contemporâneos não será mera coincidência.

De qualquer maneira, milhares de pessoas morreram, outro tanto foi enviado para bem longe, de forma que, ao invés de se solucionar o problema das secas, dava-se sumiço aos que dela padeciam.
Toda documentação desses infames campos de concentração tupiniquins tem sido oculta ao longo das décadas, embora haja hoje ação na justiça solicitando a identificação, via dna de todos os mortos sepultados em valas comuns e seu translado para cemitérios regulares.
Pleiteia-se também indenização para os sobreviventes e seus descendentes.
A “Justiça” cearense, manobra de todas as formas possíveis, extinguindo as ações sem julgamento de mérito , tentando com isso fazer permanecer no esquecimento essa página negra da nossa história.
Em Senador Pompeu, esta triste memória permanece viva graças ao misticismo das pessoas que acreditam que as almas sofridas, enterradas no improvisado “cemitério da barragem” atendem a pedidos e fazem milagres.

“O governo obrigava as vítimas da seca a trabalhar na construção da barragem do açude Patu. No entanto, repentinamente, a obra teve seus trabalhos paralisados e, junto com a paralisação, o governo deixou de manter o posto de saúde e o setor de fornecimento de alimentos que funcionava no campo. Com isso, os retirantes foram adoecendo e morrendo.

Atualmente, Senador Pompeu é o único município onde se encontra viva a memória do campo de concentração. O cemitério da Barragem do Patu é considerado um espaço sagrado para visitação. Há romarias, pessoas que rezam e pagam promessas. Os moradores acreditam que as almas dos concentrados são milagrosas, porque sofreram muito”.

VOCÊ QUER SABER MAIS?

http://valdecyalves.blogspot.com/2009/11/caminhada-da-seca-em-2009-em-senador.html


http://pt.wikipedia.org/wiki/Campos_de_concentra%C3%A7%C3%A3o_no_Cear%C3%A1


http://opovo.uol.com.br/opovo/ceara/834054.html


http://institutocasarao.blogspot.com/2010/05/campo-de-concentracao-da-seca-de-1932.html


http://www.direitoshumanos.etc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3713:barragem-do-patu-ce-monumento-homenageara-vitimas-da-seca&catid=15:dhescas&Itemid=158


http://www.google.com.br/webhp?sourceid=navclient-ff#q=Campo+de+Concentra%C3%A7%C3%A3o+da+Barragem+do+Patu,+na+Seca+de+1932&hl=pt-BR&sa=G&biw=720&bih=342&prmd=v&source=univ&tbs=vid:1&tbo=u&ei=nE-qTK-FCYP_8AbN7rnhDA&oi=video_result_group&ct=title&resnum=4&ved=0CCYQqwQwAw&fp=b5795d582281b2b0


http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=591129