sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Exorcista Emmanuel Milingo (Ex-Arcebispo Católico Romano)


Arcebispo Milingo, 1987.

Arquidiocese de Lusaka.

Título: Arcebispo-emérito de Lusaka

Ordenação e nomeação

Ordenação presbiteral     15 de agosto de 1958

Ordenação episcopal       1 de agosto de 1969

29 de maio de 1969 até 6 de agosto de 1983

Dados pessoais

Nascimento:           Mnukwa, Rodésia do Norte em 13 de Junho de 1930 (84 anos). Dados em http://catholic-hierarchy.org

Bispos

            Emmanuel Milingo (Mnukwa, Zâmbia, 13 de junho de 1930), é um ex-arcebispo católico. É ordenado padre em 1958 e arcebispo de Lusaka em 1969. Em 1973, começa a dedicar-se às sessões de cura. Casou-se em 2001 com a médica coreana Maria Sung. O casamento realizou-se em Nova York, no Hotel Hilton, celebrado pelo reverendo Moon, fundador da Igreja da Unificação. Vários meses depois foi recebido por João Paulo II, o que propiciou seu retorno à congregação católica. Mas, reafirmou depois que Maria continuava sendo sua esposa, e começou a liderar um movimento pelos padres casados. Foi excomungado pelo Vaticano em 26 de setembro de 2006, por ter feito a ordenação como bispos de quatro sacerdotes americanos casados, que além disso eram excomungados e suas ordenações não reconhecidas pelo Vaticano. Em dezembro de 2009 perdeu seu estado clerical, continuando apenas com a obrigação de celibato.

Milingo esgota a paciência do Papa e é excomungado

            Juan Lara Cidade do Vaticano, 26 set (EFE).- O Vaticano anunciou hoje a excomunhão automática do polêmico exorcista, cantor e arcebispo emérito (aposentado) de Lusaca (Zâmbia), Emmanuel Milingo, com quem o Papa mostrou muita compreensão.

            Milingo, de 78 anos, foi excomungado "latae sententiae", ou seja automaticamente, por ter feito a ordenação como bispos de quatro sacerdotes americanos casados, que além disso eram excomungados e suas ordenações não reconhecidas pelo Vaticano.
            Desde que Milingo reapareceu em julho nos Estados Unidos levantando a bandeira do casamento de padres e assegurando que a coreana Maria Sung - com a qual se casou em 2001 e depois se separou - continua sendo sua esposa, o Vaticano segue de perto, "com preocupação", seus passos. Hoje, em comunicado, o Vaticano afirma que acompanhou com "bastante preocupação" os passos dados recentemente por Milingo, de 76 anos, com a criação de "uma nova Associação de Sacerdotes casados, semeando divisão e desconcerto entre os fiéis".

            O Vaticano informou que expoentes de diferentes níveis da Igreja tentaram "em vão" ligar para Milingo para "dissuadi-lo de continuar com suas ações, que causam escândalo, sobretudo nos fiéis que seguiram seu ministério pastoral em favor dos pobres e doentes".

            A Santa Sé acrescentou que com este último "ato público" - ou seja, a ordenação de George Augustus Stallings, de Washington; Peter Paul Brennan, de Nova York; Patrick Trujillo, de Newark (Nova Jersey) e Joseph Gouthro, de Las Vegas - tanto Milingo como os quatro sacerdotes "incorreram em a excomunhão 'latae sententiae', prevista pelo cânone 1.382 do Código de Direito Canônico".

            O artigo 1.382 estabelece que "o Bispo que confere a alguém a consagração episcopal sem mandato pontifício, assim como o que recebe dele a consagração, incorrem em excomunhão 'latae sententiae' reservada à Sede Apostólica".

            Além disso, a Santa Sé afirmou que a Igreja não reconhece estas ordenações e as que possam derivar das mesmas e afirmou que o estado canônico dos quatro bispos é o mesmo no qual se encontravam antes da ordenação. Expressando pesar, o Vaticano assinalou que tinha esperado que a mediação de pessoas próximas a Milingo tivesse dado fruto. "Infelizmente, os últimos eventos afastaram essa esperança", destacou o comunicado.

            Após conhecer a reação do Vaticano, George Augustus Stallings, disse que para Milingo a excomunhão "não vale nem o pedaço de papel na qual foi escrita", e assegurou que o ancião prelado continuará seu trabalho em favor dos sacerdotes casados e que considera as ordenações dos bispos "válidas". Segundo o "porta-voz" de Milingo, ele está disposto a discutir com o Vaticano, desde que este aceite sua proposta e lhe conceda uma prelazia pessoal, tipo a do "Opus Dei". Milingo se tornou notório por seus exorcismos, que atraíam numerosos fiéis a suas cerimônias. Também gravou discos e cantou em numerosos canais de televisão de todo o mundo. Seu nome voltou de novo às primeiras páginas dos jornais em maio de 2001, ao se casar em um hotel de Nova York com a médica coreana Maria Sung.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Fausto: a busca pelo absoluto

Drama filosófico que, ao mostrar a procura como fonte pulsante da vida, transfigura-se em odisséia do homem moderno.


 Eloá Heise

            A tragédia Fausto é, sem dúvida alguma, um dos textos que empresta a Goethe repercussão universal. Nela, pode-se dizer, o poeta expressa a experiência de toda sua existência. O próprio autor afirma em Poesia e verdade, que essa obra representa o “suma sumaruim” de sua vida. Não se pode esquecer que Goethe trabalhou durante 60 anos com esse tema : de 1772 (com seus trabalhos sobre o Urfaust – Fausto zero como ficou conhecido pela tradução encenada no Brasil) até 1832, ou seja, pouco antes de sua morte, ano em que postumamente é publicado o Fausto II. Em seu longo processo de elaboração, esse texto congrega as várias transformações pelas quais passou o poeta em sua longa vida: os vários períodos literários da época – Ilustração, Sturm und Drang, Classicismo, Romantismo -; as diversas atividades do poeta junto ao estado, no meio teatral, seus interesses científicos – botânica, mineralogia, estudo das cores -; seus estudos filosóficos – teologia, teosofia, escritos mágico-místicos -, além dos conhecimentos da mitologia antiga.

            Fausto, além de ser a obra simbólica da vida de Goethe, adquire também significado universal por materializar o mito do homem moderno, o homem que busca dar significado a sua vida, que precisa tocar o eterno e compreender o misterioso. Sob este aspecto, o mito faústico transforma-se em um “mito vivo”, um relato que confere modelo para a conduta humana.

O mito faústico e as marcas intertextuais

            A relação de Fausto como o conceito de mito, entretanto, também deve ser entendida em uma outra acepção, no sentido de fábula, de ficção, uma vez que a obra de Goethe baseia-se na lenda medieval sobre a figura histórica do doutor Fausto.

            Para entender o verdadeiro significado da figura do doutor Fausto, torna-se importante ressaltar que não se trata apenas de um charlatão que se tornou rico e famoso por ter feito um pacto com o diabo, como se propaga comumente. Cabe lembrar que o mito criado em relação a essa figura histórica – Georg (Johann)  Faust, (1480-1540) tem sua origem em uma época de crise, a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, época caracterizada por profundas mudanças, na qual conceitos até então inquestionáveis começam a ser colocados em xeque. Nesses novos tempos de inquietação, ligados a pesquisas no campo das ciências naturais e outras ciências, pode-se entender que aquele que manifesta sua descrença em relação a verdades, tidas como absolutas, é considerado um homem não temente a Deus, um pactuário do demo. Isso explica a recorrência do motivo do pacto com o diabo à época. Nesse contexto, basta lembrar de figuras contemporâneas ao doutor Fausto: Paracelsius, Nostradamus, Bacon ou Galileu que, perante os olhos da Inquisição, também teriam feito uma aliança com o demônio. Esse é o pano de fundo que serve de cenário para o aparecimento do personagem histórico, doutor Fausto, em tempos que espelham esse processo de busca por maioridade.

            Consta que esse douto levou uma vida errante, passando por várias localidades da Alemanha, o que fez que se tornasse conhecido por toda parte. Estudou magia, medicina, astrologia, alquimia, atividades que lhe permitiram trabalhar com horóscopo e fazer profecias. Unindo a capacidade de curar com a de prever o futuro, ficou famoso e conseguiu amealhar uma boa fortuna. Todas essas aptidões, por sua vez, renderam-lhe a fama de ter vendido sua alma ao diabo. Esse destino pessoal, que personifica os anseios da época ao materializar a busca daquele que quer ultrapassar os próprios limites através da especulação, dará origem à primeira versão escrita sobre as histórias de Fausto, publicada logo após a morte do Fausto histórico, em 1587, sob o título de Historia von D. Johann Fausten.

            Essa história, de autor anônimo e de cunho popular, narra, ao lado de relatos sobre o Fausto, que eram voz corrente, outras discussões de cunho teológico, astrológico, histórico, científico, provindas das mais diferentes fontes contemporâneas. Essa estrutura, sem unidade estética, acaba por refletir esse tempo de transformação, com a justaposição de crenças diabólicas medievais ao lado do novo espírito das ciências. No livro popular, com suas partes especulativas e enciclopédicas, o pacto entre Fausto e o diabo compreende um período de 24 anos. Nesse contexto, a sede insaciável do protagonista por saber é vista, antes de tudo, como um grande pecado, pois uma tal postura afastaria o homem de Deus e o aproximaria da dúvida. Esse homem incorreria no pecado da hybris, a presunção, por pretender equiparar-se a Deus. Essa história, tão ao gosto da época, conquistou enorme repercussão, atingindo 5 edições. Sabe-se que Goethe, ainda quando criança, entrou em contato com a edição de 1725, sob a forma de teatro de marionetes, apresentada em praças de mercado.

As versões de Marlowe e Lessing

Por volta de 1592, o livro popular alemão é traduzido para o inglês, originando-se daí o livro popular inglês sobre o tema Fausto. Esse livro, por sua vez, serve de material para Christopher Marlowe, o mais importante dramaturgo ao lado de Shakespeare, escrever sua peça Tragical history of doctor Faustus, editada em 1604. As encenações do texto de Marlowe, por seu turno, irão repercutir novamente na Alemanha ao serem apresentadas por teatros mambembes, em língua estrangeira, mas de forma pantomímica. Consta que Goethe conheceu as encenações da peça de Marlowe de 1768 e 1770.

            Já a partir do drama de Marlowe, começa a delinear-se uma ambivalência moral em relação a este homem impulsionado por sua sede de saber. Tem origem no dramaturgo inglês a idéia do monólogo inicial, no qual Fausto mostra toda sua infelicidade por não alcançar a plenitude do conhecimento. Enquanto no livro popular alemão há uma clara condenação da presunção do protagonista, a versão inglesa da lenda deixa transparecer uma postura dúbia. Existe a condenação, sim, mas, paralelamente, percebe-se uma admiração pela figura desse douto que, qual um Prometeu, desafia a divindade. Contudo, também na versão inglesa, o ímpeto desmesurado de Fausto conduzirá ao estabelecimento de um pacto com o diabo, selado sob a condição de viver 24 anos de prazer sem limites, decorrendo, como conseqüência, a sua condenação.

            A lenda sobre o Fausto ganha novo fôlego a partir de idéias próprias do período da Ilustração. Entre 1755 e 1775, Lessing, o grande escritor do Iluminismo alemão, desenvolve projetos de escrever uma peça sobre o Fausto. O texto não chega a se efetivar, restando apenas a montagem de fragmentos e idéias gerais  reconstituídas pela memória de amigos, dados creditados à coincidência de informações.

            Se Kant, em sua definição de Iluminismo, mostra que o lema dessa corrente filosófica é: Sapere aude - tenha a coragem de servir-te da tua própria inteligência -, então Fausto, por ousar, por ter a coragem de buscar pelo sentido da vida, não poderia ser alguém condenado à danação dos infernos. Nesse contexto iluminista, Fausto, na sua procura pela verdade através da razão, empreende uma tarefa que dignifica o homem; em outras palavras: aquele que decide fazer uso de sua qualidade intrínseca, a razão, não será condenado, mas transforma-se no preferido de Deus, o destinado à salvação.

            Goethe conhecia os planos de Lessing e as reconstituições de seu drama que podem ser detectadas, em sua essência, nas obras teatrais póstumas (Theatralischer nachlass, de 1786). Vem de Lessing a idéia de salvação que encontramos no Fausto de Goethe.

            Goethe contou, pois, com diferentes pré-textos na elaboração de suas variadas versões da tragédia: de 1772-1775, elabora o Fausto zero; em 1790, produz Fausto, um fragmento; em 1808, é publicado o Fausto I e, em 1832, o Fausto II. No rastreamento do percurso do mito faústico e das fontes que serviram de inspiração para a realização de sua obra-prima, pode-se mencionar suas impressões da infância, ao assistir nas praças dos mercados as encenações do livro popular propriamente dito, a versão inglesa, com as apresentações do Fausto de Marlowe. A esses legados de cunho literário deve-se acrescentar um fato de origem real, o processo e a execução da infanticida Margaretha Brand, ocorrido em 1771-72, tragédia que impressionou profundamente Goethe e que será ficcionalizada em sua obra através do destino de Gretchen, a mulher que se apaixona por Fausto e, ao ser abandonada por ele, em um ato de loucura, assassina o próprio filho. Dentro desse rol de marcas intertextuais cabe dar ênfase especial à idéia de salvação, esboçada inicialmente por Lessing e assumida por Goethe, que servirá de inspiração para a virada redentora no destino de seu protagonista.

A estrutura da peça

            Dentre as diversas versões mencionadas, vamos nos ater à composição do Fausto I e do Fausto II, que podem sem interpretadas como uma unidade, com uma construção própria.
            A peça inicia-se com três cenas introdutórias, três prólogos que desenvolvem, respectivamente, uma perspectiva autobiográfica, uma perspectiva poetológica e uma perspectiva metafísica.

            O primeiro prólogo, Dedicatória, não dedica a peça a ninguém, como o título faz supor, mas é uma metarreflexão, em forma de monólogo, no qual o poeta faz uma retrospectiva da história da obra. No Prólogo no teatro, que vem a seguir, há uma discussão sobre a essência e a função da obra teatral; no confronto de opiniões antagônicas, debatem-se temas pouco ortodoxos para uma peça de teatro como: produção, rentabilidade, encenação e recepção do drama. Percebe-se, pois, que esses dois prólogos iniciais não se integram no enredo dramático.

            O Prólogo no céu, no entanto, é parte do desenvolvimento da trama e representa a moldura celestial externa que contém no seu escopo a ação terrena interna. Essa moldura metafísica envolve todo o drama. Inicia-se no começo do Fausto I e encerra seu contorno no fim do Fausto II, sob forma de epílogo. A moldura celeste, formulada segundo conceitos próprios da tradição cristã e assumindo a fórmula de um mistério medieval, apresenta uma imagem do mundo e do homem. Nesse jogo universal a terra é colocada entre o céu e o inferno e o ser humano entre Deus e a diabo.

            Nesse espaço, Fausto, personificando o homem,  transforma-se em objeto de disputa entre o Senhor e Mefistófeles. O Senhor acredita que o homem é intrinsecamente bom; pode errar porque procura, mas, por fim, será conduzido à luz. Já Mefisto o vê como uma criatura mal construída, dividida entre o instinto animal e sua parte racional. A partir dessas posições contrárias, Mefisto pede permissão e aposta que conduzirá Fausto por seus caminhos. Já o Senhor, por acreditar que “o homem erra, enquanto aspira” mas “da trilha certa se acha sempre a par”, aceita a aposta. Paralelamente, o Senhor também sabe que o “humano afã tende a frouxar ligeiro” e, por isso, é necessário que o homem tenha por companheiro o diabo, que atiça e instiga, impedindo que o ser humano caia na suprema condenação, a inércia. Assim, Mefisto desempenha uma dupla função: conduz o homem por caminhos que o levarão à culpa mas, ao mesmo tempo, impede que ele esmoreça e cesse sua atividade, o motor essencial da vida.

            Fausto, portanto, é colocado em jogo como objeto demonstrativo pelo Senhor, e deve provar através de si os valores ou os desvalores da criação. O drama, como um todo, pode ser entendido como a tentativa espiritual de compreensão da totalidade do universo. Discute, de forma poética, o sentido da criação, a função do mal, o destino do homem.

            A ação interna da peça, no âmbito terreno, vai espelhar, na aposta feita entre Fausto e Mefisto, o dilema proposto no âmbito celestial, entre o Senhor e Mefistófeles. Diante do desafio que lhe propõe Fausto, Mefisto assume a tarefa de satisfazer o homem e de conduzi-lo pelas experiências do pequeno mundo (Fausto I) e do grande mundo (Fausto II). Já Fausto, na sua busca sem limites, aposta que o diabo nunca conseguirá seu intento, que ele nunca irá deitar-se em “uma cama de preguiça” e, satisfeito consigo, irá proferir as palavras que  condenariam sua alma: “permaneça (momento), tão belo que és”. Desta maneira, com a ajuda de Mefisto, Fausto percorrerá o mundo na ânsia de vivenciar toda experiência destinada à humanidade.

            A ação terrena, abarca toda a trajetória do protagonista: desde a cena Noite, (Fausto I), com a constatação da crise existencial, até a cena final Grande átrio de palácio (Fausto II), quando Fausto morre. Dentro desse grande contorno, a partir das propostas do pacto e da aposta entre Fausto e Mefisto, o protagonista irá percorrer as diversas estações na sua busca por sentido.

            Cabe mencionar que o pacto, cerne do mito faústico tradicional, tem pouca ênfase na obra de Goethe. O pacto, sugerido por Mefisto, é prontamente aceito por Fausto, pois o protagonista “não teme nem o inferno nem o diabo”. Essencial em Goethe é a aposta, desafio proposto pelo titã Fausto que, por não apresentar um vencedor de antemão, tem um caráter ativo e inconclusivo (diferente do pacto que é um acordo fechado). Coaduna-se, assim, mais com a proposta vital da obra: a ação contínua como mola propulsora da vida.

            No Fausto I podemos detectar três estações: a procura por sentido através da bebida (O porão de Auerbach), do desejo e do amor por Gretchen (cenas Rua até Cárcere) e da sensualidade desenfreada (Noite de Walpúrgis). O Fausto II também comporta mais três estações: o mundo da corte (I ato), a estação da beleza e da arte (II e III atos) e a estação do conquistador e empreendedor (IV e V atos).

Quem ganha a aposta?

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Máfia chinesa: Tríades Chinesas


            O surgimento das Tríades Chinesas ocorreu devido a fatores históricos, especificamente a guerra entre os Hans e os Manchus na China. Os grupos criminosos tiveram origem em 1644 pela etnia Hans e tinham como objetivo expulsar os invasores Manchus, fundadores da dinastia Ming. Em 1760, os Hans criaram a “Sociedade do Céu e da Terra” para combater a dinastia Ming e restaurar seus valores e regras.

            A influência destas sociedades espalhou-se por toda a China e o grande contingente começou a se ramificar em pequenos grupos, entre eles a “Sociedade das Três Harmonias”. Este grupo adotou um triângulo com emblema, geralmente acompanhado por imagens de espadas ou retratos de imagens decorativas de espadas ou retratos de Guan Yu, um dos mais temidos guerreiros da China Antiga.

            Estes segmentos criminosos foram batizados de tríades pelas autoridades inglesas, em referência ao símbolo que utilizavam. Alguns historiadores apontam que estas máfias surgiram como parte de um movimento revolucionário chamado “Seita do Lótus Branco”, que teria totalizado dois milhões de membros em suas fileiras e organizado mais de 80 rebeliões.

            Em 1949, quando o Partido Comunista Chinês tomou o poder na China continental, a lei tornou-se mais rigorosa e o cerco foi fechado em torno das organizações criminais. Com a pressão do governo, a tríades migraram para Hong Kong, que ainda era uma colônia da Inglaterra. Segundo dados do governo chinês, o número de integrantes da máfia chinesa em 1950 era estimado em 300.000 membros apenas em Hong Kong.

            Um ano depois, nove grupos dividiam o poder na cidade: Rung, Tung, Chuen, Wo Hop To, 14K, Luen, Shing, Sun Yee On e Wo Shing Wo. Cada uma dessas organizações contava com base de atividades própria e sistema de hierarquia social. Após os tumultos gerados pela máfia chinesa em 1956, o governo e a polícia de Hong Kong apresentaram um plano ainda mais rigoroso de punição e repressão aos foras-da-lei, diminuindo sua atividade.

            Entre as práticas ilícitas das Tríades Chinesas está a exploração da prostituição. Estes grupos traficam mulheres do Sudeste da Ásia, da América do Sul e do Leste Europeu para a Europa Ocidental. Outras atividades que praticam são a movimentação de drogas ilícitas, contrabando de cigarros, de munições, organização de sequestros, homicídios, roubos, e jogos de azar.

            Assim como em todas as máfias, as tríades conservam seus costumes antigos, punindo os discípulos deixando-os sem comer (pão e água), queimando-os e amputando seus dedos de pés e mãos. Dentro dos grupos, existem funções e hierarquias.

            No nível 1 está o grande chefe, o “Cabeça de Dragão”, os responsáveis pelo ritual de iniciação dos novatos, “Mestres de Incenso” e os responsáveis pela pesquisa da vida do novo integrantes, “Patrulheiros do Vento”.