sábado, 10 de agosto de 2013

O Colapso do “socialismo real” e seus desdobramentos.


O colapso do socialismo. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Nesses dias em que grandes mudanças estarão ocorrendo no Projeto Construindo História Hoje, e dentre elas uma reestruturação de layout e afirmação de seus princípios com os estudos históricos, nacionalistas e ampliando nossa visão dos eventos que movimentam a história de nossa civilização Hoje. Lembrando que já são mais de 3 anos de caminhada do Construindo História Hoje desde sua origem. Para darmos inicio a esse novo começo, estarei analisando junto com os leitores o Colapso do socialismo e seus desdobramentos. Boa leitura a todos!
Ah lembrando, não esqueçam de acompanhar o Projeto está semana, pois uma grande novidade está por vir. Aguardo a visita de todos os amigos e simpatizantes.

CHH

Após a morte de Stalin em 1953, os dirigentes da URSS iniciaram o processo de desestalinização do regime. Ou seja a liberação do regime por meio de medidas importantes, como a denúncia dos crimes de guerra cometidos por Stalin, a revisão dos processos da época estalinista, a anistia e libertação de presos políticos e uma busca da coexistência pacífica com os Estados Unidos.

Paralelo a esse processo de reforma iniciado no Partido Comunista, verificou-se que intelectuais, estudantes e operários começaram a questionar o regime e procuraram pressionar no sentido de se ampliarem as reformas. No entanto o Partido não estava disposto a conceder mais do que já fora estabelecido. Desta forma, em alguns países da Europa Oriental, a situação tornou-se crítica, caminhando para uma contestação severa ao regime e provocando violenta repressão por parte da URSS.

Os principais movimentos de contestação ao modelo soviético forma os ocorridos na Polônia e na Hungria, em 1956 e na antiga Tchecoslováquia em 1968, este último conhecido como “A Primavera de Praga”.


Mapa da ex- União Soviética (Clique na Imagem para ampliar). Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Na década de 1980, o nome de Mikhail Gorbachev tornou-se extremamente conhecido em todo o mundo. Era o novo dirigente da URSS, empossado em 1985 e que trazia um discurso diferente daquele dos líderes anteriores. As palavras Perestroika e Glasnost ficaram associadas ao novo líder.

Perestroika: é a reestruturação da economia.

Glasnost: é a designação para abertura política.


Mikhail Gorbachev: Secretário-geral do PCUS e último presidente da ex- URSS.  Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

            Os motivos para estas mudanças econômicas e políticas estavam, sem dúvida, na estagnação econômica observada na URSS. O desenvolvimento, ao longo desse século, de uma estrutura econômica dominada pela burocracia atingia níveis insuportáveis para a sociedade. Uma ala do Partido Comunista, percebendo que a continuidade do regime estava ameaçada pela insatisfação social, elaborou então o projeto de mudanças que Gorbachev procurou implementar.

            No entanto, a resistências as reformas foram muito grandes, pois muitos setores da burocracia não queriam perder seus privilégios. Os setores militares também demonstraram sua insatisfação, uma vez que Gorbachev havia proposto o desarmamento e a diminuição das tropas na Europa.


 Bandeira da ex- União Soviética. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

            Os resultados mais concretos dessa luta entre os reformadores e os conservadores pôde ser visto em agosto de 1991, com a tentativa de golpe para tirar Gorbachev do poder. O fracasso do golpe não impediu que várias repúblicas iniciassem um processo separatista. Várias tiveram sua independência reconhecida. O governo tentou desesperadamente, impedir a fragmentação da URSS.

As reformas ressoam no Leste europeu

            As reformas implantadas por Gorbachev tiveram ressonância no Leste europeu. Ali, provavelmente as mudanças já foram maiores do que na própria URSS. O fato marcante é, sem dúvida, a unificação da Alemanha. A parte oriental, que fazia parte do bloco soviético desde 1945. Na Hungria e na Polônia, as reformas trazem o pluripartidarismo e as empresas estrangeiras começam se instalar. Na Romênia e na antiga Tchecoslováquia elege-se novos governos.

Da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas à Comunidade dos Estados Independentes

            Conforme observamos a ascensão de Gorbatchev, em 1985, deflagrou um profundo e rápido processo de mudanças na União Soviética, tanto no plano econômico como no plano político (Perestroika e Glasnost). Estas intensas transformações alteraram inclusive, as relações externas da União Soviética verificando-se uma aproximação com os países ocidentais e, principalmente o fim da Guerra Fria.


Boris Yeltsin, primeiro presidente da Rússia pós URSS. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

            Todas essas questões provocaram, em linhas gerais, as seguintes consequências

1) Reações dos setores conservadores internos tais como os burocratas do Partido Comunista que tinham o controle do aparelho de Estado e que formavam a chamada Nomenklatura; a linha dura das Forças Armadas, inconformada com a nova política de aproximação com o Ocidente e temerosa dos anseios nacionalistas das várias repúblicas.

domingo, 4 de agosto de 2013

"Pirâmides" no Brasil? Arquiteto analisa vestígios arqueológicos abandonados pelas autoridades.

Estrutura de pedra com ângulo escalonado. Imagem: Verdureiro Eliel.
Coisas que precisam ser ditas sobre o sitio arqueológico de Natividade da Serra, a chamada "Pirâmide”.
Não sei por que tanto desinteresse em esclarecer o caso das ruínas  de Natividade da Serra. Quatro  pessoas de diferentes especialidades visitaram o local e chegaram a conclusões semelhantes. O achado foi noticiado através do jornalista  Julio Ottoboni em 2004, que percebeu sua importância e raridade.

O geólogo do INPE Paulo Roberto Martini fez  um relatório onde diz claramente que aquilo é obra , com características semelhantes a outras do sudoeste americano. Sudoeste americano é o sul do continente americano, America do Sul. O   oeste são os Andes, que fique bem claro. Parece que poucos notaram a exatidão da afirmação, ainda que por enquanto, hipótese.
Logo depois esteve no local o professor e arqueólogo Luiz Galdino que pesquisou durante 45 anos vastas áreas do Brasil e sítios pré-históricos, concluiu que é um sitio pré-colombiano e o associou a um dos ramais do Peabiru, o caminho que unia os Andes com a costa atlântica ,principalmente com a área de São Vicente, más que também   tinha outros ramais. Galdino desenvolveu o assunto no seu livro "Peabiru , os Incas no Brasil”, editora Estrada Real, 2003.
Pedra angular cortada por intervenção humana Pré-colonial. Imagem: Verdureiro Eliel.
Finalmente estive no local e fiz observações durante cinco dias e concluí que se trata de um sitio pré-colombiano. Sendo arquiteto e havendo trabalhado 40  anos na área de patrimônio cultural e arqueologia, expliquei que os blocos e lajes achados no local  , foram obtidos por método de polimento, sem ferramentas de aço, método tipicamente andino. Disse que a localização do sitio também dava a ideia dessa origem. E descartei uma origem”colonial” para ele. Mostrei a similitude dos padrões das pedras talhadas com locais dos Andes, em função das proporções e tipologia.
Estas conclusões não podem ser verificadas com mais exatidão porque nenhum de nos contou com informações de escavações técnicas . Na verdade quem escavou alguma coisa, e muito, foi o proprietário, mas enterrou quase tudo o que não foi destruído. Tirou fotos e achou objetos , mas não  mostra. E agora nega a existência do sitio.
Caso alguém ainda  não tenha percebido, uma equipe interdisciplinar examinou o local e chegou a conclusões  pontuais. Faltou um arqueólogo, más os que foram chamados a dar opinião não quiseram se envolver. Há varias explicações para isso. De qualquer maneira nesta primeira fase de pesquisa seriam desejáveis,más não essenciais. Uma vez que não temos condições de fazer escavações por falta de apoio legal.
Os vestígios são evidentes para qualquer um que conheça um pouco de arquitetura pré-histórica  sul-americana, e não dependa do ganha pão nem da boa vontade  do IPHAN-SP. Não foi surpresa a falta de manifestação sobre o  caso, inicialmente, por parte do IPHAN-SP, e a posterior afirmativa de que o sitio não é sítio arqueológico “nem histórico nem pré-histórico”. Está claro que o IPHAN-SP não tem condições praticas nem técnicas de examinar o local convenientemente.Trata-se de um órgão burocrático, com muitos compromissos,  inclusive políticos. E já tem a opinião( MAL)  formada de que no Brasil não existe arquitetura pré-colombiana digna de nota. Consequentemente faz como o avestruz , enfiando a cabeça no buraco e achando que as coisas deixaram de existir, por ser ele, em teoria, a autoridade no assunto.  Dependendo da ajuda desse tipo de organismo muita coisa no  Brasil nunca vai ser identificada. Podemos ter certeza de que vários sítios similares ao de Fazenda Palmeiras já foram destruídos sem que a opinião publica toma-se conhecimento.

Arqueólogos da USP analisam estruturas enterradas. Imagem: Verdureiro Eliel.
As ruínas da chamada Cidade Labirinto e  as da Serra da Muralha, em Rondônia estão esperando uma identificação oficial  correta. Na primeira há algumas pedras talhadas que poderiam dar uma identificação, ainda que a  maioria das pedras sejam irregulares e sem tratamento algum.
Muitos sítios devem ter sido destruídos  em épocas passadas inclusive antes da existência do IPHAN.O cidadão  apenas medianamente  instruído não tem condições de perceber entre um sitio arquitetônico “colonial” ou um sitio pré-histórico e  normalmente usou e usa suas pedras como material de construção.
Arquiteto Carlos Pérez Gomar
Pirâmides no Brasil? Monólitos de construção piramidal desaparecem após descoberta.
Além de um amontoado de pedras, esse também é o mais novo mistério da arqueologia brasileira e coloca sob discussão a historia atual da ocupação do território brasileiro no período pré-descobrimento. Imagem: Verdureiro Eliel.
Arqueólogo da USP diz que achado pode revelar a presença de culturas antigas e muito avançadas.

Curitiba – O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estuda uma estrutura feita de granitos, que pode vir a ser a primeira pirâmide do Brasil. O geólogo e especialista em sensoriamento remoto, Paulo Roberto Martini, chegou a uma conclusão inicial. Essa composição de rochas foi feita pelo homem. O monumento foi descoberto por acaso, numa fazenda no município paulista de Natividade da Serra, nos limites do Parque Estadual da Serra do Mar. São imensas pedras cortadas e empilhadas na forma de degraus até seu topo. “Ainda é cedo para afirmar algo de concreto, mas estamos diante de uma construção feita por uma civilização primitiva avançada”, destaca o cientista.


Basta ter contato com os milhares de blocos graníticos recortados e distribuídos na encosta de um morro para que surjam inúmeros questionamentos. Que cultura seria está ? Em quanto tempo fizeram essa edificação ? Por que e quando foi construída? Perguntas que dificilmente serão respondidas de pronto, mas que prometem gerar um turbilhão de dúvidas, polêmicas e especulações. Imagem: Verdureiro Eliel.

O local fica próximo a um riacho, que poucos metros à frente deságuam no Rio Paraibuna. Os imensos blocos graníticos, cortados com precisão, continuam parcialmente empilhados. Com o tempo acabaram por perder o traço construtivo original, mais inclinado e no formato de uma grande escada ascendente. Os imensos tijolos podem ser visto na superfície. Uma boa parte se encontra soterrada pela erosão e outra ainda sustenta a estrutura em largas paredes. Vários, porém, se deslocaram com a ação do tempo. As chuvas e o peso das rochas recalcou o terreno, fazendo-os escorregar ou mesmo criar pequenos empilhamentos.

Basta remover um pouco da terra acumulada para se desvendar uma complexa armação. As pedras, geralmente em formato retangular, variam de 1 a 2 metros de comprimento, de 0,40 a 0,70 metro de espessura por 0,80 a 1 metro de largura. Foram assentadas bem unidas e os vãos – quando existiam – foram completados com pedras menores e fixadas por uma mistura de barro, semelhante a argamassa. Duas faces do monumento estão recobertas pela mata. Nestes locais se encontram centenas de pedras, tendo as raízes das árvores tendo movimentado diversas delas.

Numa tentativa de desvendar maiores detalhes do monumento, uma das faces acabou sendo alvo de escavações sem qualquer critério feitas pelos empregados da fazenda, incluindo a remoção de grandes pedras com o uso de tratores de esteira. A lateral da esquerda ainda não foi mexida. Entretanto, outro aspecto intrigante está nos ecos que podem ser provocados. As batidas de um vergalhão de ferro dentro dos buracos que surgiram é possível ouvir a ressonância.

Provavelmente o efeito do som refletido numa câmara existente no interior da pirâmide. Usando a barra de ferro como instrumento improvisado foi capaz também de se ter uma noção da largura da parede. Provavelmente ela ultrapasse a um metro.

Técnica desconhecida

Entretanto, o intrigante é que essa região era habitada pelos índios Tamoios, que desconheciam a tecnologia empregada no corte de blocos de pedra e sequer tinham a tradição de criar monumentos neste estilo. Segundo moradores do lugar, outras construções semelhantes se encontram numa propriedade vizinha. Essas, porém, estão recobertas pela Mata Atlântica e o acesso é dificultado pela densa vegetação.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O resistente cérebro do esquilo-do-ártico.


Esquilo-do-ártico. Imagem: Despertai!

Quando um animal hibernante começa a dormir, a temperatura de seu corpo diminui. Até que ponto ela cai? Observou-se que a temperatura corporal de 12 esquilos-do-ártico chegou a -2,9° C, o que parece ser um novo recorde! O normal seria o cérebro dele congelasse a essa temperatura. Como o esquilo-do-ártico consegue essa proeza?

Analise o seguinte: A cada duas ou três semanas durante sua hibernação, o esquilo-do-ártico treme para se aquecer e voltar à temperatura de 36,4° C. Daí demora de 12 a 15 horas para a temperatura voltar a cair. Pesquisadores dizem que esse período de aquecimento, embora curto, faz a diferença para que o cérebro sobreviva. Além disso, durante a hibernação, parece que a cabeça do esquilo permanece levemente mais quente do que o resto do corpo. Durante as experiências com aqueles 12 esquilos, foi constatado que a temperatura do pescoço deles nunca caiu abaixo de 0,7° C.

Quando a hibernação acaba, o cérebro do esquilo retoma sua atividade normal em cerca de duas horas. Uma pesquisa chega a sugerir que o desempenho do cérebro é melhor depois da hibernação! Essa incrível recuperação deixa os especialistas perplexos. Eles dizem que é como se o solo de uma floresta devastada por um incêndio começasse a ter nova vegetação depois de poucos dias.

Os pesquisadores esperam que isso nos ajude a entender melhor o potencial do cérebro humano. O objetivo deles é aprender mais sobre como prevenir e até reverter os danos celulares causados por doenças cerebrais, como o mal de Alzheimer.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Efeito Lazaro. Parte III. Hospitais de SP testam método para tratar pacientes que tiveram ataque do coração.


Os procedimentos básicos de desfibrilação com a aplicação de uma corrente elétrica em um paciente, através de um desfibrilador, um equipamento eletrônico cuja função é reverter um quadro de fibrilação. Imagem: HC/SP.

Uma técnica que permite o resfriamento do corpo em até 5ºC  é utilizada em hospitais de São Paulo para diminuir o risco de sequelas em vítimas de paradas cardíacas. A cada dez pacientes tratados com o novo método no Hospital Municipal Doutor Moysés Deutsch, no M'Boi Mirim, na zona sul, pelo menos oito recuperaram totalmente a consciência e tiveram alta. Nos casos em que o procedimento não foi utilizado, de 60% a 90% das vítimas morreram. Dos sobreviventes, 80% tiveram sequelas. O sistema é adotado desde 2008 no local.

A parada cardíaca interrompe repentinamente o bombeamento de sangue, que leva oxigênio para o resto do organismo. O alto número de mortes está relacionado à ausência de oxigênio no cérebro e ao gasto excessivo de energia por parte das células. Os neurônios morrem quando ficam sem oxigênio por mais de três minutos, o que pode provocar danos irreversíveis a atividades cerebrais e motoras do paciente.

Esses sintomas podem ser evitados baixando a temperatura do corpo de 37ºC para 32ºC, o que gera diminuição do metabolismo (conjunto de reações químicas) do cérebro em 30%, segundo o coordenador da UTI do Hospital do M'Boi Mirim, administrado pelo Hospital Albert Einstein, Antonio Cláudio Baruzzi. A redução de 5ºC só pode ser feita depois que o paciente recuperar os batimentos cardíacos.

Bolsas de gelo são colocadas sobre pescoço, axilas e virilha. Soro gelado pode ser aplicado no paciente, diz Baruzzi. 

– É um procedimento barato que pode salvar vidas. Antes dele, vítimas de parada cardíaca morriam ou ficavam em estado vegetativo.
O paciente é mantido sedado e resfriado na UTI por 24 horas. Após uma análise médica, é iniciado o processo de aquecimento, que pode contar com cobertores ou mantas térmicas e leva mais 24 horas.
Gerente médico da UTI do Hospital Sírio-Libanês, Guilherme Schettino lembra que nem toda vítima de parada cardíaca pode ser submetida à hipotermia.
– Usamos apenas quando a pessoa apresenta alguma disfunção neurológica, como diminuição de consciência ou coma.

domingo, 21 de julho de 2013

Efeito Lazaro. Parte II. Resfriamento do cérebro pode permitir ressuscitação após 5 horas depois de um ataque cardíaco.


Membrana que permite o encontro entre o oxigênio e o sangue, oxigenando (saturando) as Hemoglobinas . Imagem: Medicina Intensiva. 

Pacientes podem ser ressuscitados horas após morte, diz médico: Resfriamento do cérebro 'é chave' para evitar decomposição do órgão, que pode voltar à vida até cinco horas após um ataque cardíaco.
Um médico defende que uma pessoa pode ser ressuscitada várias horas depois de seu coração parar de bater. Será que isto pode mudar a forma como encaramos a morte?

Carol Brothers não consegue se lembrar da hora em que "morreu", há três meses.

"Eu sei que era uma sexta-feira, na hora do almoço, porque a gente tinha acabado de voltar do supermercado", conta a britânica de 63 anos. "Mas não me lembro de ter saído do carro".

Já seu marido David tem memórias muito mais claras daquele dia. Ele abriu a porta de casa e viu a mulher caída no chão, ofegante e pálida.
Carol acabara de sofrer uma parada cardíaca. Por sorte, um vizinho conhecia os procedimentos básicos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e rapidamente começou a pressionar seu tórax repetidas vezes na tentativa de reanimá-la.

Os paramédicos chegaram logo em seguida e, em algum momento entre 30 e 45 minutos depois do ataque cardíaco, o coração de Carol voltou a bater.

"Apesar de 45 minutos ser um tempo enorme que levaria muitas pessoas a acreditarem que ela estaria morta, hoje sabemos que há pessoas que voltaram a vida três, quatro, cinco horas após morrerem e depois disso tiveram vidas normais", diz o médico Sam Parnia, diretor de pesquisa sobre ressuscitação na Stony Brook University, em Nova York.

Muitas pessoas consideram uma parada cardíaca como sinônimo de morte, diz ele. Mas muitas vezes não é o fim.

O efeito de Lázaro 

Parnia é autor do livro Lazarus Effect ("O Efeito de Lázaro", em tradução livre, uma alusão à passagem bíblica que relata que Jesus ressuscitou Lázaro quarto dias após sua morte). Ele explica que, depois que o cérebro para de receber oxigênio por meio da circulação sanguínea, não morre imediatamente, mas entra em estado de hibernação, uma forma de se defender do processo de decomposição.

E o "acordar" desse estágio de hibernação pode ser o momento mais crítico de todos, já que o oxigênio pode se tornar tóxico para o cérebro.

O efeito, compara Parnia, é como o de um tsunami após um terremoto, e a melhor resposta é resfriar os pacientes, de 37ºC para 32ºC.

"A razão pela qual a terapia de resfriamento funciona bem é porque desacelera a decomposição do cérebro", diz Parnia.

E foi nesse momento que Carol Brothers teve sorte. Depois que seu coração voltou a bater, ela foi transferida para um helicóptero, onde um médico a resfriou utilizando pacotes de comida congelada que ela havia acabado de comprar.

Depois de dias em coma na UTI, durante os quais exames sugeriam que ela estava com morte cerebral, Carol acordou.

"Ela me disse três palavras", relembra a filha Maxine. "Estou voltando para casa", teria dito Carol, sussurrando.

Deus ou diabo 

Sam Parnia é fascinado por relatos de pacientes que sentiram a morte de perto.

"Pessoas no mundo todo descrevem experiências semelhantes, mas a interpretação do que eles veem depende muito de sua crença", diz ele.

Essas descrições incluem viagens em túneis iluminados, encontros com figuras angelicais, recordações de eventos passados e, em alguns casos, a sensação de se observar a mesa de cirurgia da perspectiva de quem está "fora do corpo".
O médico está atualmente trabalhando com vários hospitais para investigar relatos desse tipo de experiências "fora do corpo". Como parte do estudo, os pesquisadores posicionaram objetos em prateleiras em salas de operação, que só podem ser observados do alto.

Efeito Lazaro. Parte I. Manter o cérebro resfriado após parada cardíaca pode permitir ressuscitação.


Uma solução interessante pode estar num aparelho chamado RhinoChill que dispara um líquido congelado de perfluorocarbono pelo nariz logo depois da parada cardíaca. Dessa maneira o que acontece é que é induzida de maneira controlada uma hipotermia que torna mais lento o metabolismo das células, prevenindo assim a liberação de moléculas tóxicas que podem causar dano permanente. Imagem: Fayerwayer.  

De volta à vida: médico afirma que é possível ressuscitar pacientes!

Especialista explica que a parada cardíaca não significa o fim, e que é possível restabelecer pessoas que passaram várias horas mortas. 

De acordo com Parnia, o segredo do procedimento é manter o cérebro resfriado para desacelerar o processo de decomposição. O especialista explica que, após a morte, apesar de o cérebro parar de receber oxigênio através da circulação, ele não morre imediatamente. Na verdade, o órgão entra em uma espécie de estado de hibernação, como forma de autopreservação.

Parece que foi justamente esse um dos fatores determinantes na “volta à vida” de Carol, paciente que ficou 45 minutos sem batimentos cardíacos — como no caso de Carol. Depois que os paramédicos foram chamados para atendê-la, seu corpo foi resfriado enquanto ela era transportada ao hospital. Outro procedimento envolve ligar os pacientes a uma máquina que mantém o sangue oxigenado e circulando — conhecida como ECMO ou oxigenação por membrana extracorpórea —, o que é padrão em alguns países.


sábado, 13 de julho de 2013

Presidente Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco


Posse de Castelo Branco. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

1-Introdução
           
Ao iniciarmos o estudo sobre a vida política do primeiro Presidente empoçado pela Revolução de 1964, Marechal Castelo Branco devemos analisar primeiramente os eventos que sucederam a sua posse. Desse modo poderemos ver com mais clareza a situação política nacional em que se encontrava nossa nação e os eventos que levaram há Revolução ou Golpe, dependendo do ponto de vista que são analisadas as questões pertinentes e de interesse nacional. Inicialmente analisaremos um curto governo de Jânio Quadro e após objetivamos esclarecer a política do governo João Belchior Marques Goulart (Jango) que muita indisposição causou nos membros da direita política e militar, devido a sua ligação com políticos socialistas e comunistas. Vale lembrar, que neste período, o mundo vivia o auge da Guerra Fria. Nesse contexto poderemos estudar os motivos que levaram as Forças Armadas a se oporem a posse dele como Presidente devido à renúncia do então Presidente Jânio Quadros. Sua posse só foi aceita pelos militares após a mudança do sistema político de presidencialista para parlamentarista, reduzindo dessa forma os poderes de Jango como presidente. A vitória do movimento civil-militar que derrubou João Goulart em abril de 1964 desferiu um golpe no projeto político da experiência republicana iniciada com o fim do Estado Novo, em 1945. Mas não foi um raio que desceu de um céu azul. Ao contrário, resultou de uma conjunção complexa de condições, de ações e de processos, cuja compreensão permite elucidar o que deixou então surpresos e perplexos não apenas os vencidos, mas também os próprios vencedores.

1.1- O Governo de Jânio Quadro

            Seu símbolo era a vassoura com a qual pretendia limpar o governo da corrupção, prega a defesa dos bons costumes e a moralização administrativa. O Presidente Jânio Quadros governou durante 7 meses e restabeleceu relações comerciais e diplomáticas com os países comunistas. Jânio Quadros como Presidente chegou a condecorar, no dia 19 de agosto de 1961, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul Ernesto Che Guevara. A política internacional que teve seu início no governo de Vargas foi dada continuidade e um aprofundamento no governo JK, foram dados continuidade pelo Presidente Jânio Quadros. Trabalhou em prol de um engrandecimento da política externa independente (PEI), que visava estabelecer relações com todos os povos, sejam socialistas ou da África. Restabeleceu relações diplomáticas e comerciais com a URSS e a China, algo impensável dentro do plano geopolítico e geoestratégico de inserção brasileiro. Dentro de seu governo realizou a nomeação do primeiro embaixador negro da história do Brasil. Era um defensor ferrenho da política de autodeterminação dos povos, condenando as intervenções estrangeiras. O Presidente Jânio Quadros renuncio em 25 de agosto de 1961 sob pressão dos ministros militares, devido a suas ações de proximidade a nações de política esquerdista como União Soviética, Cuba e China por acreditar estar expandindo o mercado externo, gerou desconfiança dos setores políticos mais conservadores. 

1.2- A Campanha da Legalidade

            Com a renúncia de Jânio Quadros abriu-se uma crise, pois os ministros militares vetavam o nome do Vice-Presidente João Goulart que achava em visita a China. Desse modo assumiu provisoriamente Ranieri Mazzili, presidente da Câmara. Grupos militares divulgaram manifestos contra a posse de Jango, alegando que ele teria ligações com o comunismo. Esses eventos levaram a reação imediata, sobretudo no Rio Grande do Sul, onde civis e militares uniram-se em defesa da legalidade: o governador Leonel Brizola ameaçou inclusive distribuir armas a população. Diante da iminência de uma guerra civil, os ministros militares aceitaram uma solução de compromisso: Jango poderia exercer a Presidência, desde que fosse adotado o regime parlamentarista, o que se fez mediante Ato Adicional à Constituição de 1946. No regime parlamentarista instituído, o presidente era o chefe de Estado, com funções protocolares, sem poder de governar de fato. Ele poderia indicar o primeiro-ministro – chefe do governo -, que deveria ser aprovado pelo Legislativo. Já no presidencialista, o presidente é chefe de Estado e chefe do governo, exercendo o poder Executivo de modo independente em relação ao Legislativo.

1.3 Jango chega ao poder

Após os eventos que se sucederam durante a Crise da Legalidade no dia 2 de setembro de 1960, o Congresso votou a emenda parlamentarista, assumindo a presidência João Goulart. Para Primeiro-Ministro, o Presidente João Goulart indicou, a 8 de setembro, Tancredo Neves, que organizou um Gabinete de coalizão.  Durante seu governo o pais viveu um período instável, com três primeiros ministros em menos de um ano e meio. Em 6 de janeiro de 1963, foi realizado um plebiscito, em que os eleitores escolheram a volta do presidencialismo. Com poderes restaurados João Goulart, adotou medidas reformistas, como o monopólio estatal sobre importação de petróleo e derivados e o controle da remessa de lucros ao exterior, além da criação do 13° salário para todos os trabalhadores. Em 13 de março de 1964, o presidente Jango assinou decretos que nacionalizavam as refinarias de petróleo e desapropriavam, para fins de reforma agrária, propriedades com mais de 100 hectares numa faixa de 10 quilômetros ao longo de rodovias e ferrovias federais. Essas medidas faziam parte do projeto das reformas de base, que incluíam também reforma eleitoral com voto para analfabetos, universitária e bancária dentre outras.

O Presidente João Goulart começou e prosseguia inflexivelmente, em suas políticas de tendências socializantes por meio do dispositivo sindical. Os grupos conservadores, entre eles a hierarquia da Igreja Católica Romana, mostraram as classes médias de que Jango queria impor uma República sindicalista, confiscar propriedades, abolir a religião, etc. As dificuldades econômicas também ajudaram, pois em 1964 a inflação chegava a 92%. A 21 de março de 1964, o Marechal Castelo Branco no posto de chefe do Estado-Maior do Exército, publicou um memorial em que acusava o governo de João Goulart de pretender implantar no Brasil um regime esquerdista. Declarando-se temerosos de uma solução final de esquerda, os generais Olímpio Mourão Filho, Carlos Luis Guedes, Justino Alves e Amauri Kruel, e os governadores Magalhães Pinto, Ademar de Barros, Nei Braga e Carlos Lacerda, desencadearam em 27 de abril de 1964, um movimento militar que em breve obtinha a adesão de unidades de outros Estados da Federação.

            A 1° de abril, sem apoio militar e preferindo abandonar a Presidência para evitar derramamento de sangue, Jango viajou para o Rio Grande do Sul, onde Leonel Brizola, agora deputado federal, pretendia organizar a resistência. À noite o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, Declarou vaga a Presidência e deu posse ao presidente da Câmara, Ranieri Mazzili. Jango estava deposto. No dia 4, exilou-se no Uruguai, onde falecera em 1974. Agindo rapidamente o comando militar, desmontou o dispositivo sindical em que se apoiava a linha política do Governo deposto.

1.4 Definições de Ditadura Militar

            Ditadura militar é uma forma de governo cujos poderes políticos são controlados por militares. O significado de ditadura se refere a qualquer regime de governo em que todos os poderes estão sob autoridade de um indivíduo ou de um grupo. No caso de uma ditadura formada por militares, estes chegam ao poder quase sempre através de um golpe de Estado. Um golpe de Estado liderado por militares significa que um governo legítimo é derrubado com o apoio de forças de segurança. Algumas ditaduras militares que não conseguem apoio popular são marcadas pela crueldade e pela falta de respeito aos Direitos Humanos nas perseguições aos defensores da oposição.

            Ditadura pode ser vista como um tipo de governo, onde o ditador possui poder e autoridade absoluta. Na ditadura, todos os poderes do Estado ficam concentrados em somente uma pessoa. É um regime antidemocrático e não existe a participação da população. Nos regimes democráticos, o poder é dividido entre Legislativo, Executivo e o Judiciário, e já na ditadura, não há essa divisão, ficam todos os poderes apenas em uma instância. A ditadura possui também vários aspectos de regimes de governo totalitários, ou seja, quando o Estado fica na mão apenas de uma pessoa. Geralmente, para um país tornar-se uma ditadura, ocorre um golpe de estado.

2- Marechal Castelo Branco

O Mal. Castelo Branco nasceu em Fortaleza, Ceará, no dia 20 de Setembro de 1897. Filho do General Cândido Borges Castelo Branco e Antonieta Alencar Castelo Branco. Seu nome completo era Humberto de Alencar Castelo Branco. Por parte de mãe era descendente do romancista José de Alencar. Aos oito anos foi estudar no Recife. Aos 14 anos estudou no Colégio Militar de Porto Alegre. Estudou também na Escola Militar do Realengo, quando se alistou em 1918, na IV Companhia de Estabelecimento, escolhendo a arma de Infantaria, onde se destacou como um dos mais brilhantes membros da Sociedade Acadêmica da Escola Militar sendo declarado aspirante em 1921. Estudou na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Armada, em 1923, como primeiro tenente. Frequentou a Escola do Estado Maior, ainda como primeiro tenente, concluindo o curso em dezembro de 1931, em primeiro lugar, com menção honrosa.

 General em 1962, foi promovido a marechal e transferido para a reserva dias antes de assumir a presidência da República. Militar de alta formação, fez todos os cursos superiores do Exército, além dos que realizou nos E.U.A e na França. Participou na Itália da II Guerra Mundial, como encarregado da Seção de Planejamento e Operações da F.E.B. No Brasil, exerceu, entre outros, os cargos de comandante do IV Exército, da Região Militar da Amazônia e chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, do qual fora dispensado pelo Presidente João Goulart (Jango), após tê-lo advertido quanto aos riscos de medidas comunistas no programa da ação governamental.

3- O Golpe Cívil-Militar de 1964

Na desordem que se seguiu à derrocada de Jango, houve uma espécie de disputa surda entre lideranças e dispositivos alternativos. Rapidamente o poder efetivo condensou-se em torno de uma junta militar, reunindo chefes militares das três Armas e que se autodenominara Comando Supremo da Revolução. Após compreendermos os eventos que levaram o Brasil a Revolução de 1964, falaremos agora sobre o primeiro Presidente Militar brasileiro, 26° presidente da República e 20° presidente da República, eleito indiretamente pelo Congresso Nacional a 11 de abril de 1964 e empossado 4 dias depois para completar o quinquênio 1961-1965, face à deposição do Pres. João Goulart pela revolução que, a 9 de abril do mesmo ano, instaurou a VII República com a outorga do Ato Institucional. Teve, contudo, seu mandato prorrogado até 15 de março de 1967, por força de emenda constitucional aprovada em julho pelo Congresso Nacional. Não sendo político, o Marechal Castelo Branco era, entretanto, conhecido por sua atividade militar. A primeira grande dificuldade enfrentada pelos vitoriosos foi definir um programa construtivo, uma identidade política positiva.

3.1- Repressões à política de oposição

            Todos os movimentos de oposição foram considerados subversivos e colocados na ilegalidade e seus membros foram presos. A UNE, CGT, MUT e Ligas Camponesas foram eliminadas. Extinguem-se os partidos políticos e define-se uma recomposição (ARENA – Aliança Renovadora Nacional, aliada ao governo e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, aglutinava políticos que fariam a oposição permitida ao governo).  

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A segunda morte de Castello Branco: Documento secreto obtido por ISTOÉ coloca sob suspeita investigações sobre desastre aéreo que matou o presidente. Promotor defende reabertura do caso. Foi atentado?


Imagem: http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/morte_castello_acidente.htm


A colisão aérea que matou um presidente da República e mudou o rumo da história política do País vai sair das sombras dos arquivos para ser reaberta à luz do dia, quase 40 anos depois. ISTOÉ teve acesso com exclusividade ao relatório secreto feito pelos oficiais do regime militar (1964-1984) sobre a queda do avião em que viajava o marechal Humberto de Alencar Castello Branco. Produzido pelo Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, datado de 21 de novembro de 1967, o documento de dez páginas jamais viera a público. Suas apurações repletas de falhas e conclusões superficiais fizeram com que o procurador da República Alessander Wilson Cabral Sales, do Ceará, entrasse com uma ação civil contra a União para obter informações mais detalhadas sobre o caso. “O Ministério Público não acredita que um acidente que vitimou um presidente da República tenha sido analisado de forma tão superficial”, diz ele. As falhas na apuração do acidente permitem a interpretação de que o que houve foi, de fato, a tentativa de acobertar um atentado – e não o de elucidar um acidente.

“Os militares construíram uma mentira”, definiu à reportagem o comandante Emílio Celso Chagas. “Esse caso tem de ser esclarecido. Ainda é possível.” Ele tinha 20 anos de idade e era o co-piloto do bimotor Piper Aztec PA 23 com sete pessoas a bordo. Tratava-se do marechal Castello Branco, quatro acompanhantes, o próprio Chagas e seu pai, Celso Tinoco Chagas, que pilotava o avião. À exceção de Chagas, que sobreviveu milagrosamente, todos morreram. O avião caiu na manhã de céu azul de 18 de julho de 1967. Foi abalroado em pleno vôo por um caça militar. Nas vésperas de morrer, Castello Branco anunciara a realização de um pronunciamento à Nação. Aguardava-se, na fala que não chegou a acontecer, um posicionamento do chefe militar sobre o destino do País. A tensão era crescente. Havia tortura nos quartéis, protestos civis fora deles e uma luta interna entre os militares da chamada linha dura contra a corrente dos moderados. Castello Branco fora escolhido pelos generais para ocupar a Presidência da República a partir do golpe militar de abril de 1964. Considerado um moderado, favorável até mesmo à volta do poder político às mãos de um civil, retirou-se do Palácio do Planalto em 15 de março de 1967. No processo sucessório, foi pressionado a passar a faixa presidencial para o general da linha dura Arthur da Costa e Silva. Inimigo de seu sucessor, Castello Branco estava resolvido a contra-atacar. Uma palavra pública dele contra Costa e Silva poderia rachar a tênue unidade entre os militares, aquecer os ânimos da oposição civil e, assim, sacudir a história.  



Como foi o acidente. Clique na imagem para ampliar. Imagem: http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/morte_castello_acidente.htm

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Balduíno IV, de Jerusalém, o Rei Leproso.


Balduíno IV na batalha de Montgisard, Charles Philippe Larivière (1798-1876). Imagem:  Arquivo CHH.

Esse jovem monarca, quase desconhecido na História, foi entretanto dos mais heróicos cruzados e protótipo de soberano virtuoso, comparável a São Luís IX.

Balduíno, filho de Amaury I de Jerusalém e de Inês de Courtenay, nasceu no ano de 1160 na Cidade Santa, Jerusalém. Apesar de o casamento de Amaury ter sido anulado por questão de parentesco, os filhos dele nascidos, isto é, Amauri e Sibila, foram considerados legítimos herdeiros da Coroa.

Um dia em que Balduíno brincava de guerra com outros meninos de sua idade, seu preceptor notou que, enquanto os demais gritavam quando eram atingidos, ele parecia nada sentir.

Perguntando-lhe a razão disso, o menino respondeu que os outros não o feriam, e por isso não manifestava dor e não gritava. Mas, reparando o preceptor em suas mãos e braços, percebeu que estavam adormecidos.

O rei foi informado e mandou vir os melhores médicos, que ministraram emplastros, ungüentos e outras medicinas à criança, sem alcançar entretanto resultado algum. Era o começo de uma doença que iria progredir à medida que Balduíno fosse crescendo.

Em suma, esse menino tão belo, tão ajuizado e já tão sábio fora atingido por um mal terrível, que se revelou logo: a lepra, que lhe valerá o trágico cognome de o Leproso.

Dificuldades: doença, divisão interna e Islã

Com a morte prematura de Amaury, Balduíno foi aclamado rei aos 13 anos. Nessa época ele era um adolescente encantador, o mais cultivado dos príncipes de sua família, “dotado de uma grande vivacidade de espírito, se bem que gaguejando ligeiramente como seu pai, e de uma excelente memória”, escreve seu historiador e preceptor, Guilherme de Tiro(1).

“O reino desse infeliz jovem, de 1174 a 1185, não foi senão uma longa agonia. Mas uma agonia a cavalo, face ao inimigo, toda enrijecida no sentimento da dignidade real, do dever cristão e das responsabilidades da coroa nessas horas trágicas em que o drama do rei correspondia ao drama do reino”(2).

Com efeito, o clima deste era de insubordinação, muitos procurando seguir apenas seus interesses pessoais. Foi essa funesta divisão entre os cristãos que levou, pouco depois, à perda de todos os reinos que haviam sido conquistados pelos cruzados na Palestina.

Já aos 15 anos e leproso, derrota islamitas

De 26 de junho a 29 de julho do ano de 1176, o sultão Saladino assediou a cidade de Alepo. Balduíno IV, que na ocasião contava apenas 15 anos e a lepra não havia ainda minado suas energias, partiu em socorro daquele bastião cristão, coadjuvado pelo Conde de Trípoli, Raimundo III.

Juntos, conquistaram grande vitória sobre os muçulmanos.

“Assim, mesmo sob o reino do pobre adolescente leproso, mesmo em presença da unidade muçulmana quase inteiramente reconstituída, a dinastia franca da Síria manteve os inimigos em cheque. Apesar de sua enfermidade — logo ele não viajará mais senão em liteira —, Balduíno IV, precocemente amadurecido pela dor, demonstrou uma força de alma diante da qual a História deve se inclinar com respeito”(3).

Progredindo a lepra, Balduíno viu a necessidade de assegurar sua sucessão. Para isso só havia suas duas irmãs, Sibila e Isabel. Esta última era filha do segundo casamento de seu pai.

Sobre Sibila, a mais velha, repousava em particular o futuro da dinastia, pois, segundo o costume do país, seu esposo seria rei de Jerusalém.
A escolha do esposo recaiu sobre o príncipe piemontês Guilherme Longa-Espada, um dos mais nobres da Cristandade, primo do Imperador Frederico Barbarroxa e do Rei da França, Luís VII.

Tal casamento, que se realizou em 1177, foi efêmero, pois Guilherme faleceu três meses depois, deixando sua jovem esposa à espera de um herdeiro, o futuro Balduíno V. Esse nascimento póstumo, trazendo como conseqüência para o reino uma nova regência, só poderia enfraquecê-lo ainda mais.

Enquanto isso, Balduíno IV apressou-se em renovar a aliança com o Imperador bizantino Manuel Comeno para, juntos, invadirem o Egito.

As circunstâncias pareciam favoráveis, em virtude das hostilidades que Saladino estava sofrendo na Síria naquela ocasião. Entretanto, como a lepra impedia Balduíno de comandar a expedição, ele ofereceu o comando ao Conde Felipe de Alsácia, que se encontrava em Jerusalém com seus homens.

Mas este, para surpresa geral, não aceitou o convite. Julga-se que Felipe queria suceder ao rei leproso, sendo seu primo. Sua recusa fez fracassar a aliança e comprometer ainda mais os interesses cristãos na Terra Santa.

Fé e heroísmo: causas de vitória inimaginável

Em 1177 Balduíno, cedendo às instâncias do Conde de Flandres, emprestou-lhe grande parte de suas tropas para que este tentasse uma expedição contra Hamas. Sabendo que Jerusalém estava assim desguarnecida, Saladino reuniu todas suas tropas para invadir o reino cristão.

A situação neste era trágica. Balduíno não dispunha senão de 500 cavaleiros. Por outro lado, o Condestável Onfroi de Toron, que o podia ajudar na direção da defesa, caiu gravemente doente.

Nessas circunstâncias quase desesperadas, o jovem rei leproso foi heróico. À aproximação do inimigo, reunindo tudo que podia encontrar de combatentes, saiu com a relíquia da Santa Cruz e chegou a Ascalon.

Mandou uma ordem a Jerusalém e a todo o reino, convocando todos os homens capazes de portar armas a reunirem-se a ele. Mas, quando o reforço se aproximava da Cidade Santa, foi capturado por Saladino.
Julgando-se já dono da situação, o sultão ismaelita permitiu que suas tropas se dispersassem, pilhando, matando, fazendo prisioneiros por toda parte.

Ébrio pelo sucesso, Saladino mostrou-se de uma crueldade inaudita. Mandou reunir os prisioneiros e lhes esmagou a cabeça.

Certo de que os francos estavam reduzidos à impotência, o sultão protegeu-se atrás das muralhas de Ascalon, quando viu aparecer subitamente o rei leproso e seu pequeno exército. Foi no dia 25 de novembro de 1177.

Tinham eles anteriormente perseguido os muçulmanos esparsos, derrotando-os.

Após a batalha, ação de graças no Santo Sepulcro

Os cruzados caíram como um raio sobre o exército de Saladino.

“Ágeis como lobos, ladrando como cães, atacaram em massa, ardentes como a chama” (4), com a relíquia da Santa Cruz à frente, portada pelo bispo de Belém.

Os cristãos tiveram a impressão de que a Cruz crescia até tocar o céu. O cronista siríaco Miguel, Patriarca da Igreja jacobita, contemporâneo dos acontecimentos, assim descreveu a milagrosa batalha de Montgisard:

“O Senhor teve piedade dos cristãos. Todo mundo tinha perdido a esperança, porque o mal da lepra começava a aparecer no jovem rei Balduíno, que enfraquecia, e desde então cada um tremia.”

“Mas o Deus que fazia aparecer sua força nos fracos inspirou o rei doente. O resto de suas tropas reuniu-se em torno dele.”

 “Ele desceu de sua montaria, prosternou-se com a face contra a terra diante da Cruz e rezou com lágrimas. À vista disto, o coração de todos os soldados se enterneceu.”

“Eles estenderam todos a mão sobre a verdadeira Cruz e juraram jamais fugir; e, em caso de derrota, olhar como traidor e apóstata quem fugisse em vez de morrer.

“Montaram de novo nos cavalos e avançaram contra os turcos, que se regozijavam, pensando já os ter derrotado.”

“Vendo os turcos, de quem a força parecia um mar, os francos deram-se mutuamente a paz e pediram uns aos outros um mútuo perdão.” Em seguida engajaram a batalha.

“No mesmo instante o Senhor fez cair violenta tempestade, que levantava a poeira do lado dos francos e a lançava no rosto dos turcos.”

“Então os francos, compreendendo que o Senhor havia aceito seu arrependimento, tomaram coragem, enquanto os turcos deram meia-volta e fugiram. Os francos os perseguiram, matando e massacrando durante o dia todo”(5).

Somente a fidelidade dos mamelucos salvou Saladino de morte certa.