quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Estado Totalitário e Estado Integral (1936)



Estado Integral e Estado Totalitário. Imagem: Adaptação CHH.

Hoje trarei aos amigos do Blogue Construindo História Hoje um interessantíssimo estudo histórico sobre as distinções entre um Estado Totalitário e um Estado Integral.  Espero que este texto possa auxiliar muitos de vocês em suas pesquisas e na incansável busca pelo conhecimento, sabedoria e discernimento.

Os integralistas querem o Estado Totalitário?

__ Não; os integralistas querem o Estado Integral.

__ O Estado Totalitário não é a mesma coisa que o Estado Integral?

__ Não. O Estado Totalitário tem uma finalidade em si próprio; absorve todas as expressões nacionais e sociais, econômicas, culturais e religiosas; subordina a “pessoa humana” e os grupos naturais ao seu império. O Estado Integral, ao contrário, não tem uma finalidade em si próprio; não absorve as expressões nacionais e sociais, econômicas, culturais e religiosas; não subordina a “pessoa humana” e os grupos naturais ao sue império; o que ele objetiva, é a harmonia entre todas essas expressões, a intangibilidade da “pessoa humana”.

__ Por que motivo os integralistas não querem o Estado Totalitário?

__ Os integralistas não querem o Estado Totalitário, porque os integralistas adotam uma filosofia TOTALISTA, isto é, têm do mundo uma concepção totalitária.

__ Não há uma contradição nisso?

Se os integralistas concebem o universo de um ponto de vista totalitário, como é que não concebem o Estado da mesma maneira?

__ Os integralistas são lógicos, tendo uma concepção totalitária do mundo e uma concepção não totalitária do Estado. É evidente que, sendo o Estado uma das expressões do mundo, se este é considerado em seu conjunto, o Estado tem de ser considerado como uma “parte” do conjunto. Se adotarmos o Estado Totalitário, então é que ficamos em contradição, fazendo uma “parte” absorver as outras partes.

__ Mas um jornalista escreveu, há dias que os integralistas ensinam uma doutrina confusa, porquanto o Estado Forte, o Estado Leviatã de Hobbes compreende a absorção de todos os elementos sociais pela autoridade estatal... Como respondem os integralistas?

__ O jornalista ouviu falar em Hobbes, sem ter a menor noção do assunto. Basta dizer que Hobbes é um materialista, um naturalista, ao passo que nós somos espiritualistas. A conclusão a que Hobbes chegava, era a de que o homem não presta, é inclinado aos vícios e à maldade e, por conseguinte, a sociedade tinha de ser governada com pulso de ferro, por um Estado absorvente de todas as liberdades, impondo a disciplina pela Força. Este é o Estado Leviatã hipertrofiado e gigantesco.  Ao contrário de Hobbes, um  outro filósofo chamado Locke, também materialista, também naturalista, pensava que o homem é bom, que as leis, o arbítrio do Estado é que o tornam mau.

Baseado no mesmo materialismo experimental de Hobbes, chegava Locke à conclusão de que cumpria dar a máxima liberdade aos indivíduos, competindo ao Estado assegurar essa máxima liberdade. Basta isso para que tudo corresse no melhor dos mundos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Discurso do Cacique Guaicaípuro Cuatemoc, aos Líderes da Comunidade Europeia.



Imagem ilustrativa de um Cacique. Fonte: Fotolog Escarniohc.

22 de fevereiro de 2008.

O Discurso do século

Um surpreendente discurso feito pelo embaixador Guaicaípuro Cuatemoc, de descendência indígena, advogando o pagamento da dívida externa do seu país, o México, deixou embasbacados os principais chefes de Estado da Comunidade Europeia. A conferência dos chefes de Estado da União Europeia, Mercosul e Caribe, em maio de 2002 em Madri, viveu um momento revelador e surpreendente: os chefes de Estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso irônico, cáustico e de exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc.

"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a descobriram só há 500 anos”.

 O irmão europeu da aduana me pediu um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento - ao meu país -, com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu também posso reclamar pagamento e juros.

Consta no Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais que, somente entre os anos 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.

Teria sido isso um saque?

Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!
Teria sido espoliação?

Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.

Teria sido genocídio?

Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a atual civilização europeia se devem à inundação de metais preciosos tirados das Américas.

Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos.

Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva. Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano 'MARSHALL MONTEZUMA', para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, e de outras conquistas da civilização.

Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar:
Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo desses fundos?

NÃO. No aspecto estratégico, dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias formas de extermínio mútuo. No aspecto financeiro, foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros quanto independerem das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.

Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos em cobrar.

Ao dizer isto, esclarecemos que NÃO NOS REBAIXAREMOS A COBRAR DE NOSSOS IRMÃOS EUROPEUS, AS MESMAS VIS E SANGUINÁRIAS TAXAS 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Rei está nu!


A Roupa Nova do Rei. Imagem: Hans Christian Andersen.

Era uma vez, no palácio de um reino distante, um monarca muito vaidoso, mas muito amado pelo seu povo. Suas grandes virtudes: a generosidade e a persuasão. Pela generosidade, queria que todos os pobres ficassem ricos como ele. Pela persuasão, a todos convencia. E todos o ouviam, e todos acreditavam no que ele dizia. Era tido por sábio, principalmente quando dizia que não sabia.

O antigo desejo por “eterno poder”

Mas, desde que foi coroado, se angustiava com o pesadelo de um dia não ser mais rei. Afinal, à coroa tudo devia, pois com ela tudo podia. Adorava viajar. Tudo com o dinheiro arrecadado dos súditos que pagavam rigorosamente os impostos ao tesouro do rei, temerosos de que, caso os sonegassem, ele mandasse soltar os leões famintos que mantinha, para esse fim, numa jaula junto á estrebaria do palácio. Mas o de que ele mais gostava mesmo era de passear pelas terras do seu reino numa bela carruagem que de tão grande tinha até um compartimento escuro do lado oposto àquele do cocheiro. Lá – cochichavam as fofoqueiras do reino – se ele quisesse (?) até que poderia levar alguma cortesã, que no palácio elas eram abundantes. Era preciso eternizar o governo.

Bolsinhas de pano

A melhor ideia foi encomendar aos tecelões da aldeia milhares de bolsinhas de pano, que mandou distribuir aos mais pobres. Cheias de moedinhas, para que, segundo se dizia, não precisassem mais trabalhar, nem escolher outro rei. Com isso, aumentou o número de cavalos e de carretas pelas trilhas do reino – embora continuassem péssimas -, dando muito trabalho aos seleiros, carpinteiros e a todos os trabalhadores.

Panteão Maia



Panteão Maia. Imagem: Seu History.

O panteão maia, que fundamenta a crença mitológica da cultura maia, possui um conjunto de deuses adorados em uníssono. Os maias basearam suas crenças na observação de fenômenos naturais, o que foi traduzido em um caráter místico com expressões naturalistas, em que tanto o conhecimento cientifico quanto as crenças religiosas, constituem um todo indissolúvel, sobre o qual estão organizadas a sociedade, a politica e as mais diferentes atividades humanas. Hunab Ku, principal divindade no Universo Maia, centro da galáxia, mente e coração do Criador, reúne em si o aspecto masculino e feminino da natureza sendo a divindade criadora, por excelência.

YUMKAX

O senhor do milho jovem, é o deus maia da agricultura, da prosperidade, da abundância e da vida. É representado como um jovem com uma espiga de milho nas duas mãos. Durante o período clássico foi considerado uma invocação de Hunahpú (gêmeo divino de Popol Vuh), que ao morrer, ressuscita na forma de Yumkax e é comumente representado surgindo da terra, emergindo do casco de uma tartaruga, imagem que é narrada na “ressurreição do milho”. É o deus do milho, das montanhas, dos bosques, da selva e da juventude, atacado constantemente pelo deus da seca e defendido pelo deus das chuvas.

Entre os maias de Yucatán, era considerado filho de Itzamná e Ixchel e vigia da selva. É o governante, a inteligência diretriz da agricultura e da vida na natureza. Segundo os maias, a alma, antes de tomar o corpo humano, atravessa diferentes partes do reino da natureza, adquirindo consciência plena; por isto, todo ser humano possui em seu interior um instrutor elementar, feito com substâncias básicas da natureza, que conhecem a sabedoria de milhões de espécies. A doutrina maia de Yumkax revela os mistérios da evolução e da relação íntima entre a vida elementar e a humana; considera impossível separar nossa vida do grande oceano da vida universal, e, que o ser humano preparado pode desencadear uma tempestade de fazer tremer a terra, curar ou fazer prodígios.

CHAAC

Chaac, uma das manifestações de Itzmaná, é uma importante divindade associada à água e, sobretudo à chuva. Representado com um grande tronco inclinado até o alto, tinha grande importância e o povo o invocava para obter boas colheitas. Segundo relatos, esse deus vivia nas cavernas ou nos “cenotes” (depressões aquíferas muito comuns na península), que eram também consideradas a entrada para o inferno. Por vezes, é representado como quatro deuses, separado pelos quatro pontos cardiais, e como um homem velho com aparência semelhante a um anfíbio ou um réptil, com seu característico nariz grande e curvado, carregando um machado que representa o trono, o raio. Já o associaram com a rã ou sapo. Diante de seu poder está à seca, a chuva, o granizo, o gelo e o raio, motivo pelo qual, os feiticeiros antigos, temiam sua cólera. Seu nome provém de fontes escritas na época colonial, nas quais aparece também como herói cultural; o Dicionário de Motul diz que Chaac “... foi um homem de grande estatura que ensinou a agricultura, e que também foi conhecido como deus dos pães, da água, dos trovões e relâmpagos”. Efetivamente, Chaac é uma das divindades quádruplas, que são as que dominam os quatro rumos do cosmos. É importante no cultivo do milho e outros produtos, e, por sua vez, também é o símbolo da fertilidade. A esse deus também se relacionavam as águas internas do ser humano, ou seja, a energia criadora.


AH PUCH


Ah Puch é o rei e Deus de Xibalbá, o inferno. Descrito como um esqueleto ou cadáver com um rosto de jaguar adornado com sinos, é o deus da morte. Tem como cabeça um crânio, e as costas nuas mostrando partes da coluna vertebral; se seu corpo está coberto de carne, ela aparece inchada e com círculos negros que sugerem a sua decomposição. Os acessórios imprescindíveis de sua vestimenta são ornamentados em forma de cascavéis. Ah Puch, antítese de Itzamná, tem, como ele, dois hieróglifos de seu nome, e é depois dele, a única divindade que se distingue desta maneira. O primeiro representa um cadáver com os olhos fechados pela morte, e o segundo, é a própria cabeça do deus com seu nariz longo, as mandíbulas descarnadas e como prefixas, uma faca de sílex (vidro vulcânico) para os sacrifícios. O deus da morte era a divindade padroeira do dia Cimí, que significa morte, em maia. No caso de Ah Puch, estamos diante de uma divindade de primeira classe, fato comprovado pela frequência em que é representado nos códigos. Como chefe dos demônios, reinava no mais baixo dos nove mundos subterrâneos dos maias.

sábado, 15 de dezembro de 2012

PANTEÃO ASTECA



Panteão Asteca. Imagem: Seu History.

A religião asteca, assim como as de outras civilizações, representava uma síntese de diversas culturas e tradições milenares dos diferentes povos que dela faziam parte. Sua cosmogonia foi tão profunda quanto complexa, buscando resolver os eternos dilemas com relação à existência, criação do cosmos e da raça humana, explicação de fenômenos naturais e sua ligação aos astros. Os deuses estavam em constante comunicação com os homens e, como estes, tinham características tanto positivas quanto negativas. Aliás, tudo e todos os que habitavam o mundo possuíam esta dualidade, que afinal, estabelecia um equilíbrio dinâmico entre o micro e o macrocosmo, relação que era mantida através de cultos e oferendas.

QUETZALCOATL

Quetzalcoatl, filho de Ometeotl, é a principal divindade do panteão pré-hispânico. Seu nome é composto por duas palavras: "coatl", que quer dizer serpente e "quetzal", significando ave de rica plumagem. De acordo com a filosofia asteca, esta divindade possui também diferentes conotações, "dupla rica", "ave dos tempos", "gema dos séculos", "umbigo ou centro sagrado", "serpente aquática fecundadora", "o das barbas da serpente", "o grande aconselhador", "divina dualidade", "feminino e masculino", "pecado e perfeição", "movimento e tranquilidade". Em função da dualidade de sua natureza ela tanto cria, quanto destrói o mundo. Sua parte destruidora tem o nome de Tezcatlipoca, "o Senhor do Espelho Fumegante". Quetzalcoaltl também representa a dualidade inerente à condição humana: a serpente representa o corpo, com suas limitações; as penas representam os princípios espirituais. Os ensinamentos de Quetzalcoatl ficaram registrados em certos documentos conhecidos como "Huehuetlahtolli", "palavras antigas", transmitidos verbalmente através dos tempos e depois registrados pelos primeiros cronistas espanhóis. Uma das representações desta divindade é um homem branco e barbado, razão pela qual, durante a conquista, os indígenas acreditaram que Hernan Cortez era Quetzalcoatl. Segundo a lenda, entre suas conquistas e feitos, Quetzalcoatl chegou à região maia e foi reconhecido como um grande chefe e guerreiro. Fundou a Liga de Mayapan e conquistou a cidade de Chichen Itza.

 TEZCATLIPOCA


Filho de Ometeotl, Tezcatlipoca, "O Senhor do Espelho Fumegante", é o senhor do céu e terra. fonte de vida, amparo do homem, origem de todo o poder e da felicidade, dono das batalhas, onipresente, forte e invencível. Era representado como um jovem com arranjo na cabeça e no rosto e as pernas enfeitadas com listras. Trazia postas pulseiras de penas coloridas de quetzal e um escudo na mão, também feito de penas, além de uma bandeira de papel. Quetzalcoatl e Tezcatlipoca, sendo irmãos, representam a dualidade e a antagonia. Em uma das lendas, Tezcatlipoca e Quetzalcoatl criaram o mundo. No começo existiam apenas o oceano e a terra, onde vivia o monstro Cipactli. Tezcatlipoca ofereceu seu pé como isca e o monstro da terra apareceu e o devorou. Foi assim que ambos o dominaram e o estiraram para que fosse transformado em solo. Os espíritos dos mortos tinham que se apresentar diante de Tezcatlipoca para receber seu destino. Trazia no peito um espelho onde podia ver os atos e pensamentos da humanidade e de onde brotava uma fumaça que matava seus inimigos. Portava também uma faca, representando o vento negro e cortante, como as palavras que criam desarmonia. Era considerado o senhor do norte do Universo, região do descanso, destino dos mortos. Deus da noite e da tentação; provedor e juiz da riqueza. Protetor dos escravos. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

PANTEÃO INCA



Panteão Inca. Imagem: Seu History.

A cosmovisão andina se caracterizou pelo fato de ser totêmica e animista voltada para a adoração dos fenômenos naturais. Apesar de Inti ser considerado o deus principal, fonte de toda a existência e criador de todos os deuses, cabe destacar que na verdade o culto foi difundido por Sapa Inca Pachacútec, que o hierarquizou com religião oficial do Tahunatinsuyo (Império Inca). Entretanto, Viracocha foi o deus primordial para toda a região dos Andes e figura central do culto dos nobres de Cuzco que estabeleceram a base do povo inca. O mito tribal o descreve como criador do Céu e da Terra, após emergir das águas do sagrado lago Titicaca.

INTI

Inti era o deus sol, na mitologia inca. Pouco a pouco, foi evoluindo até transformar-se numa divindade mais complexa e universal. Terminou por absorver a divindade, sem nome, da criação e incorporou-se a Viracocha, que é a definição mais ampla de seu poder, já que este nome representa a enumeração de seus poderes (supremo ser da água, da terra e do fogo), sobre os elementos em que baseou a criação do Universo. Inti era acompanhado por sua esposa e irmã, a lua, que também era chamada, Mama Quilla. Apresentava-se como um elipsóide de ouro, de onde saíam raios, representando os atributos de seu poder. Inti, como criador, era adorado e reverenciado, mas também, recorria-se a ele, em busca de ajuda e favores, para resolver problemas e aliviar necessidades, já que, somente ele, podia fornecer colheitas, curar doenças e dar a tranquilidade e segurança que o ser humano necessita. Os incas adoravam Inti, pois acreditavam que o sol, através de sua energia, alimentava a terra. Era a origem e a definição do povo inca, em si. Inti e sua esposa eram considerados divindades benéficas. Segundo um antigo mito inca, Inti ensinou seu filho, Manco Capac e sua filha, Mama Ocollo, a arte da civilização, enviando-os a Terra para ensinar à humanidade o que haviam aprendido. Inti ordenou aos filhos que construíssem uma capital inca num lugar onde um selo de ouro, que transportavam, caísse no chão. Os incas acreditavam que isto aconteceu em Cuzco.

MAMA QUILLA

Mama Quilla é a irmã e esposa do Deus Inti. Esta deusa, representada pela lua, dividia com Inti o poder na corte celestial. Era simbolizada, durante os rituais, por um disco de prata, de onde saíam raios, como outro atributo de seu poder. Era a mãe do firmamento e, no Templo do Sol, mantinha-se uma estátua dela a qual uma ordem de sacerdotisas lhe prestava homenagem. Naturalmente, Mama Quilla era cultuada fervorosamente pelas mulheres, que formavam seu fiel núcleo de seguidoras, já que ela podia compreender como ninguém, seus temores e desejos concedendo o amparo buscado. Os incas acreditavam que ela reinava sobre todas as estrelas, que estavam todas a seu serviço. Depois do sol, para os incas, estava a lua. Este segundo lugar era devido ao fato de a lua não ter o mesmo brilho do sol e, portanto, governava apenas a noite. Enquanto o sol representava o ouro, a lua representava a prata. Isto correspondia ao brilho do sol e o branco resplandecente da lua. Mama Quilla e Pachamama estão muito ligadas, já que ambas são divindades femininas, uma do céu e outra da terra. Naturalmente também porque as fases da lua estão totalmente ligadas ao plantio e colheita. O calendário solar, apesar de sua precisão, não é tão determinante na hora de iniciar uma plantação.

VIRACOCHA

Viracocha é o deus criador e organizador do mundo, o mais reverenciado na cultura andina. Uma das lendas conta que, no começo, Viracocha criou o céu e a terra, povoando-a com plantas, animais e homens primitivos que viviam em total desordem e obscuridade. Um dia, emergiu do Lago Titicaca, juntamente com alguns ajudantes e castigou os primeiros homens por seus desvarios, transformando-os em pedras. Dividiu o cosmos em três partes: Hanan Pacha (“mundo de cima”), Kay Pacha (“mundo daqui”) e Uqu Pacha (“mundo interior”). Para povoar o Kay Pacha, criou uma nova geração de homens e mulheres, usando como molde, rochas e pedras que ganharam vida e povoaram os diferentes povoados e reinos. Satisfeito com a raça humana, este deus deu continuação a seu projeto, deixando em seu lugar seus filhos, o sol (Inti), a lua (Mama Quilla) e todas as estrelas do infinito, cobrindo todo o céu. Depois, Viracocha dirigiu-se para o norte e chamou todas as criaturas a quem havia dado vida própria. Depois de determinar as funções de povos, plantas, animais, rios e todos os seres do mundo, Viracocha e seus ajudantes dirigiram-se até o mar e partiram, caminhando sobre as espumas. Viracocha foi um nômade e tinha um companheiro alado, o pássaro Inti, uma espécie de pássaro-mago, conhecedor do presente e do futuro, que é simbolizado em histórias, como um beija-flor de asas de ouro. O Deus todo poderoso, tem o poder de reger a construção ou criação de tudo, visível ou invisível.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Os vikings não passavam de meros saqueadores?



Vindos de um mundo pagão, eles ganharam a fama de bestas violentas por não respeitarem igrejas e mosteiros. Imagem: Revista História Viva.

Esses “homens do norte” ou nordmanni, como eram chamados nos séculos IX e X, não eram meros selvagens que atacavam as pobres populações cristãs indefesas. Seus objetivos eram variados; poderiam ser comerciais, trabalhos como mercenários protegendo reinos europeus. O esquema empregado foi o mesmo que opôs os romanos a bárbaros. Uma imagem negativa, pois revela mais sobre as representações do “outro” por parte dos clérigos carolíngios que sobre a realidade histórica dos próprios vikings.
O termo viking designa os homens que surgiram no litoral da Europa ocidental no fim do século VIII. Oriundos da Escandinávia, eles organizavam expedições a bordo de seus navios, os knorr, pelas margens do Báltico e do Mar do Norte.

Seus objetivos eram variados. Praticavam atividades comerciais importantes, mas também pilhavam as populações costeiras, às vezes subindo rios como o Reno, o Sena e o Loire. A primeira grande incursão teve como alvo as ilhas britânicas na década de 790. Pouco depois, os vikings chegaram à costa do continente europeu.

Durante grande parte do século IX, o reino da Frância Ocidental foi particularmente visado, e Carlos, o Calvo, foi obrigado a lhes pagar tributo. Em certos casos, eles se instalavam em terras estrangeiras. Foi assim com a Normandia, concedida ao líder viking Rollo por Carlos, o Simples, em 911. Em troca, o chefe viking comprometeu-se a proteger o litoral franco contra futuros ataques.

No entanto, convém relativizar a oposição entre francos e vikings. Estes não eram os únicos que praticavam a pilhagem. No século VIII, os pipinidas, à frente do reino dos francos, promoveram expedições contra os saxões ou os turíngios que não se distinguiam dos ataques vikings.

O saque representava uma ação heroica para os reis carolíngios. O butim era frequentemente exibido como prova de valor guerreiro. Pode-se dizer que, durante muito tempo, o "viking" foi o franco. Afinal, as pilhagens do século IX nada tinham de novo. Incomum foi o fato de os francos passarem a ser as vítimas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dinastia Tudor: a era de ouro da monarquia inglesa

Personagens emblemáticos como Henrique VIII, Mary, a Sanguinária, e Elizabeth, a Virgem, deram à Inglaterra um brilho inédito, marca de um período áureo repleto de tensões religiosas, lutas pelo poder e problemas conjugais.


A família de Henrique VIII: uma alegoria da sucessão Tudor (detalhe), óleo  sobre  tela,  Lucas de  Heere,  c. 1570-1575. Imagem: National Museum Wales/ The Bridgeman Art Library/Glowimages.

Henrique Tudor não herdou a coroa da Inglaterra, ele a conquistou. Derrotou Ricardo III na Batalha de Bosworth Field, o último episódio da guerra travada durante 30 anos entre a casa real de Lancaster e a de York. A chamada Guerra das Rosas causou estragos nas famílias nobres do reino, de modo que Henrique Tudor acabou sendo o herdeiro da casa de Lancaster. Pelo lado da mãe, Lady Margaret Beaufort, Henrique pertencia aos Lancaster. Mas pelo lado do pai, o galês Edmund Tudor, ele não tinha nenhum sangue Plantageneta. Buscando antepassados gloriosos, Henrique diria ser descendente de Cadwaladr, filho de Cadwallon, poderoso rei galês do século VII, e reivindicaria o legado do lendário rei Artur, ancorando assim as raízes Tudor no mais antigo solo inglês.

O verdadeiro fundador da casa de Tudor foi Owen, um jovem senhor galês, bonito, corajoso e inteligente, que se tornara famoso por seu romance com Catarina de Valois, viúva de Henrique V, e pelo importante papel que desempenhou na Guerra das Rosas. Owen e Catarina tiveram cinco filhos, entre os quais Edmund, pai de Henrique VII. Mas, apanhado pelo turbilhão sangrento da guerra fratricida, Edmund Tudor morreu antes do nascimento do filho. Henrique foi educado, instruído e treinado na arte da guerra por seu tio Jasper, conde de Pembroke, que fora o arquiteto da conquista da Inglaterra e do País de Gales pelos Lancaster.

O Parlamento o recebeu como um novo Josué, enviado por Deus para libertar o povo da tirania. Henrique Tudor, no entanto, estava consciente da fragilidade das suas pretensões à coroa. Sua linhagem era boa, porém havia quem estivesse mais perto do trono do que ele. Por precaução, ele mandou levar para a Torre de Londres Eduardo, conde de Warwick, um menino simplório de 10 anos de idade, fi lho de George de York, duque de Clarence. Prudente, escolheu como conselheiros homens de valor selecionados entre os York e entre os Lancaster, e, para consolidar a legitimidade da sua descendência, casou-se com Elizabeth de York, a fi lha mais velha de Eduardo IV. Teriam sete filhos, dos quais quatro sobreviveriam: Arthur (1486-1502), Margareth (1489-1541), Henrique (1491-1547) e Mary (1496-1533). A descendência da dinastia estava garantida.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Saiba tudo sobre os fenícios e sua importância para o comércio



Globalização antiga. Imagem: Revista Aventuras da História.

A partir do Líbano, os fenícios dominaram o comércio do Mediterrâneo por séculos. Em Cartago, descobriram a guerra. Fundaram um império, mas acabaram erradicados da História.

Por mais de mil anos, os fenícios foram o shopping center ambulante da Antiguidade. Se algo pudesse ser vendido, eles vendiam: vinho, azeite, móveis, joias, ferramentas, armas, tecidos, peles, escravos e, por uma taxa especial, seus serviços como os melhores marinheiros do mundo. Entre 1200 a 730 a.C., sua rede conectava povos da Inglaterra até a Grécia e com ela também viajou sua grande invenção: o alfabeto, que deu origem ao grego, latim, hebraico e árabe.

Os fenícios originais não eram muito de guerra – preferiam fundar colônias com a permissão dos habitantes locais, sem avançar para o interior. Mas uma colônia fenícia mudou tudo: Cartago se tornou um verdadeiro império, e por pouco não pôs abaixo o futuro Império Romano. Como a criatura superou o criador e como ambos foram varridos da História é o que veremos a seguir.

Fenício? Que fenício?


Originários do que é atualmente o Líbano, a própria geografia empurrou os fenícios para o mar. A cadeia de montanhas que forma o monte Líbano limita a habitação humana à costa. Ao sul e ao norte, impérios bloqueavam o caminho. Partindo das cidadesestado de Tiro, Sidon e Biblos, as primeiras colônias foram em ilhas próximas, como Chipre e Malta. 

Aliás, não existia isso de “fenício” para os próprios fenícios. “A Fenícia não existiu como entidade política unificada até os romanos fazerem uma província com esse nome, milhares de anos depois”, afirma o historiador Richard Miles, da Universidade de Sidney, na Austrália. O nome vem do grego e era um apelido: a palavra phoinix quer dizer algo como “os roxos”, por causa de um dos seus principais produtos, os tecidos tingidos de roxo. “Eles provavelmente chamavam a si próprios de cananeus. Foram os gregos que os agruparam como fenícios”, diz Miles.

Canaã designava mais que apenas as terras dos ditos fenícios, era toda a região entre o sul da Síria e a Palestina, habitada também por outros povos, como os hebreus e os filisteus – cuja história, de fato, se confunde com a deles. “Até 1200 a.C., não havia diferença entre a história das cidades do litoral e do interior. Ou seja, nós temos uma civilização sírio-palestina, não fenícia. É só com a independência das cidades-estado (que já existiam) que começa a história fenícia propriamente dita”, afirmou o historiador italiano Sabatino Moscati (1922-1997) em The Phoenicians (sem tradução).

O que fez surgir o comércio fenício foi o chamado colapso da Idade do Bronze, que ocorreu por volta de 1200 a 1100 a.C.. Por motivos não muito claros, grandes civilizações como egípcios, gregos micênicos e hititas entraram em rápida decadência. O vácuo de impérios permitiu às cidadesestado uma independência inédita, que propiciou o surgimento de sua rede comercial. No começo, os fenícios ofereciam os produtos de sua própria região para os vizinhos: madeira de cedro-do-líbano, o mesmo material do qual seus barcos eram feitos, e tecidos pintados com extrato dos caramujos do gênero Murex, de um púrpura belo e intenso.

Conforme novos povos entravam em sua rede comercial, os fenícios os apresentavam a produtos de outros povos que conheciam. Assim eles passaram a vender vinho grego aos egípcios, e papiro egípcio aos gregos – a palavra “byblos” passou a significar “papiro” em grego por que eram os comerciantes de Biblos que os supriam com o material. Com o tempo, “biblos” passou a querer dizer também o conteúdo do papiro, isto é, o livro – daí as palavras biblioteca e Bíblia.

Dependendo de remos quando o vento não ajudava, os navios fenícios não tinham muita autonomia e faziam rotas próximas à costa, com paradas constantes. Assim, eles estabeleceram mais de 300 colônias, normalmente meras vilas costeiras de menos de mil habitantes. Essas vilas não eram possessões coloniais no sentido moderno – eram estabelecidas com o consentimento dos moradores da região e não tinham zona rural, dependendo dos locais para suprir-lhes alimentos. Era mais um free shop que colônia, num modelo que os portugueses repetiram 2 mil anos depois com suas feitorias asiáticas.
A grande exceção ao modelo fenício era Cartago, que tinha territórios no interior, e passou a ser o entreposto principal. Localizada na atual Tunísia, ficava no meio do caminho para as rotas que vinham da Espanha, e próxima da Sardenha e Sicília.

O preço da paz

A independência e prosperidade vinham a um custo – em espécie. O método fenício de sobrevivência era basicamente pagar pela paz. Sem um grande exército e sem qualquer aliança durável entre as cidades-estado, eles sobreviviam por causa de sua conveniência para os impérios vizinhos. Com a imensa fortuna de sua rede de comércio, aplacavam a ira dos conquistadores com tributos. Assim eles sobreviveram ao novo reino do Egito (1550-1069 a.C.) e o reino de Israel (1030-930 a.C.), que os tornaram vassalos – “protegidos” mediante pagamento.


domingo, 9 de dezembro de 2012

Sangue para o El Niño


A religiosidade politeísta dos incas era marcada pela adoração de vários elementos da natureza, como o sol, a lua, o raio e a terra. No sistema de valores da religião inca, todos os benefícios alcançados deveriam ser retribuídos com algum tipo de sacrifício que expressava a gratidão dos homens. Por esse fato, observamos que os incas organizavam vários rituais onde os sacrifícios, inclusive de humanos, eram comuns. Imagem: Teia dos Fatos.
Dois túmulos com dezenas de ossadas humanas encontrados em uma pirâmide no Peru abalam a arqueologia latino-americana. Eles revelam que a refinada civilização mochica fazia sacrifícios humanos para manter o poder e controlar o clima.
Os esqueletos estavam por toda parte. Brotavam do chão como sinistras flores brancas, reluzindo ao sol do deserto peruano. Onde quer que se pisasse ou cavasse, havia crânios macerados, vértebras cortadas, fêmures partidos. “Escavar foi um pesadelo”, lembra-se o arqueólogo canadense Steve Bourget. Em julho de 1996, depois de dois meses limpando e catalogando osso a osso, mais de setenta corpos, Bourget descobriu estar diante da maior evidência de sacrifícios humanos na América do Sul. Uma vala comum onde os mochicas, que dominaram a costa norte do Peru entre os séculos I e VIII, despejavam as vítimas de seus rituais – jovens guerreiros capturados em combate e imolados em grandes cerimônias públicas. Essa violência exemplar, que intimidava a população e sustentava o poder dos líderes mochicas, também tinha propósito religioso.

Aquela civilização acreditava que o sangue humano era a única forma de conter aquilo que agora conhecemos como El Niño, o fenômeno meteorológico que, de tempos em tempos, enlouquece o clima do planeta. É justamente ali, no árido litoral peruano, que as águas do Oceano Pacífico esquentam acima do normal, provocando o El Niño. Nas épocas em que o fenômeno era muito violento, as cidades mochicas sofriam com chuvas torrenciais e enchentes. “O sacrifício humano era uma forma de tentar devolver a ordem ao mundo”, disse Bourget.

Que a prática fosse corriqueira os arqueólogos já desconfiavam. Cenas de animais fantásticos como pumas esfaqueando prisioneiros são comuns nas pinturas que adornam os potes de cerâmica daquele povo. Só que nunca ninguém havia encontrado os corpos dos sacrificados. “Muita gente pensava que as narrativas dos martírios fossem pura mitologia”, conta o canadense, que está escrevendo um livro sobre a descoberta.

Não fosse Bourget um especialista em arte mochica, o segredo dos supliciados poderia ter ficado escondido sob o barro. Desde 1986 ele observava pinturas que mostravam prisioneiros sendo atirados do alto de uma montanha. “Minha hipótese era de que o morro fosse uma espécie de altar”, diz. Em 1995, ele foi apresentado à Huaca de la Luna (Pirâmide da Lua, em português), situada a 6 quilômetros ao sul da atual cidade de Trujillo, onde deparou com uma plataforma rochosa bem parecida com aquelas das pinturas nos vasos. Não deu outra. Era mesmo o altar.

Codecs Tudela. Imagem: Teia dos Fatos.

A iconografia mochica também serviu de pista para outro arqueólogo, o peruano Santiago Uceda, da Universidade Nacional de Trujillo. No ano passado ele encontrou um segundo fosso sacrificial, que começará a ser escavado em maio próximo. O que haverá dentro dele? As descobertas tornam a Huaca de la Luna a mais importante pista de que os estudiosos dispõem para decifrar o mistério dos assassinatos rituais entre as antigas culturas americanas.

Execuções para ordenar o mundo

Se os mochicas tivessem escrita, seus best-sellers falariam das propriedades milagrosas do sangue humano para resolver qualquer tipo de problema. Havia sacrifícios para comemorar boas colheitas, para lamentar desastres naturais, para controlar secas e chuvas e, acima de tudo, para manter o poder sobre a sociedade.

Eles não escreviam, mas pintavam. Seu tema favorito eram as batalhas rituais, que tinham o objetivo de capturar prisioneiros para a imolação. “Os mochicas fizeram do sacrifício humano um elemento religioso central”, diz Steve Bourget. Os murais coloridos da Huaca de la Luna mostram uma figura assustadora, com dentes de felino, que traz um machado em uma mão e uma cabeça na outra. Seu nome é Ai-Apaec, também chamado El Degollador em espanhol. O deus-sacrificador é uma figura comum entre as culturas andinas. Supõe-se que o seu culto tenha começado há mais de 3 000 anos. “Os mochicas elevaram o degolador ao posto de divindade máxima”, diz Santiago Uceda. Daí o nome. Ai-Apaec significa todo-poderoso na língua deles.

Faraós latinos

A subida de Ai-Apaec ao poder no mundo espiritual aconteceu por volta do ano 50 da nossa era. Foi quando uma classe de sacerdotes-guerreiros tomou o poder nos vales da costa norte peruana. Esses homens, conhecidos como lordes mochicas, criaram uma confederação de cidades-estado que dominou um território de 400 quilômetros de extensão. Transformaram enormes faixas de deserto em terras cultiváveis, construindo aquedutos tão eficientes quanto os da Roma antiga e que até hoje são usados pelos camponeses peruanos. Os mochicas também ergueram algumas das maiores construções da América pré-colombiana, como as huacas de El Brujo e Del Sol. Esta última tinha mais de 40 metros de altura e ocupava uma área superior à da famosa Pirâmide de Quéops, a maior do Egito. Sua principal cidade, no vale do Rio Moche, chegou a ter 15 000 habitantes. Lá, artesãos e ourives produziram as obras de arte mais espetaculares de toda a América pré-hispânica.

Escavações no sítio arqueológico no Peru. Imagem: Super Interessante.

“Os lordes criaram uma estrutura social incrivelmente complexa, baseada no controle da autoridade religiosa, política e militar”, disse o arqueólogo Walter Alva, diretor do Museu Brüning de Arte Pré-Colombiana em Lambayeque, Peru. Assim como os faraós egípcios, eles reivindicavam para si mesmos o status de divindade. Os cultos sangrentos eram demonstrações públicas intimidadoras. O Estado mochica usava o terror religioso – com requinte – como instrumento de poder político.

Culto à fertilidade

Também como os egípcios, os mochicas habitavam um deserto onde a água era o bem mais precioso. Como viviam da agricultura, dependiam inteiramente dos rios que descem da Cordilheira dos Andes. O calendário religioso acompanhava o ciclo das chuvas nas montanhas. Seus momentos mais importantes eram os cultos de fertilidade, duas vezes por ano, na chegada do verão e do inverno.