segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Waterloo: a última batalha de Napoleão.

Foi um tudo-ou-nada para o imperador da França. Dramática, ela terminou de uma vez por todas com a ambição de Bonaparte de restaurar seu império
por Fabiano Onça

Os últimos dias de março de 1815 foram azedos para os diplomatas reunidos em Viena. Ali, representantes de Rússia, Prússia, Áustria, Suécia, Inglaterra e várias nações e reinos menores tentavam, havia meses, redesenhar o mapa político da Europa, reinstaurando as monarquias e os territórios que existiam antes do furacão napoleônico. Porém a ilusão de que o general corso estava liquidado acabou quando souberam que ele não só havia retornado do exílio em Elba (uma ilhota no Mediterrâneo), como no dia 20 de março fora recebido em glória em Paris. Os aliados mal puderam acreditar. Napoleão, dez meses antes, em 11 de abril de 1814, fora derrotado por uma coalizão de mais de 500 mil soldados de várias nações européias, que se sublevaram contra o domínio francês após a desastrosa campanha napoleônica na Rússia, em 1812. Vitoriosos, os aliados colocaram Luís XVIII no trono da França e enviaram Bonaparte ao exílio. Agora, quando estavam prestes a dividir o bolo, teriam de brigar novamente com seu pior pesadelo. E em etapas longas, até a definição, na batalha conhecida como Waterloo.

A escalada de Napoleão começou rápida. Em 15 de julho, com 124 mil homens, invadiu a Bélgica. "Seu único trunfo era bater separadamente os exércitos inimigos antes que se reunissem", diz o professor Alexander Mikaberidze, especialista em história napoleônica da Universidade de Mississipi, nos EUA. "As tropas que estavam na área eram formadas por prussianos e outras compostas por ingleses, belgas, holandeses e alemães, instalados na Bélgica. Napoleão tentaria batê-los para forçar algum armistício com as outras nações, que estavam com seus exércitos mais distantes da França." O desafio não era fácil. O exército anglo-batavo-alemão contava com 93 mil homens, liderados pelo duque de Wellington. O prussiano tinha 117 mil homens, comandados por uma velha raposa, o general Blücher. Mesmo em inferioridade numérica, Napoleão teria de atacar. Dentro de um mês, um exército austríaco de 210 mil homens, outro russo, de 150 mil, e um terceiro grupo austro-italiano, de 75 mil, invadiriam a França pelo norte e pelo sul.

VITÓRIA APERTADA

Quando invadiu a Bélgica, as tropas anglo-batavo-alemãs ainda não haviam se juntado ao exército prussiano. Napoleão decidiu bater primeiramente os prussianos, que estavam a sua direita, em Ligny. E mandou o marechal Ney, com 24 mil homens, para Quatre-Bras a fim de barrar qualquer tentativa de os ingleses ajudarem os aliados. No dia 16 de junho de 1815, Bonaparte encarou o velho Blücher. Sabendo que eram os franceses que tinham de correr atrás do osso, o prussiano entrincheirou seus homens em fazendas próximas a Ligny e esperou. A batalha durou todo o dia. No fim da tarde, a Guarda Imperial francesa arrebentou o centro prussiano, decidindo a batalha. Blücher evitou uma desgraça maior, liderando o contra-ataque com a cavalaria. Os prussianos puderam recuar em ordem, na escuridão.

Ao término do embate, os prussianos amargavam 22 mil baixas, contra 11 mil dos franceses. "Blücher evitou a derrota. Napoleão, porém, conseguiu o que queria: afastar os prussianos para bater os ingleses em seguida", afirma o professor Mikaberidze. Para não deixar que os prussianos pudessem se juntar aos ingleses na batalha seguinte, Napoleão destacou uma tropa de 30 mil homens, entregou-a ao general Grouchy e ordenou que perseguisse os prussianos.

No dia seguinte, 17 de junho, Wellington se aproveitou da chuva forte que caiu sobre a região para levar o exército a uma posição mais segura, o monte Saint Jean. Os franceses chegaram lá ao fim do dia. O temporal continuava. Mas Napoleão não dispunha de tempo. Mesmo sob tempestade, ele foi pessoalmente verificar as condições do campo durante a noite. "Naquele momento, Bonaparte tinha a chance com que tanto sonhara. Os prussianos estavam em retirada, sendo acossados por Grouchy. A ele só restava ter um bom desempenho contra os ingleses no dia seguinte e demonstrar à Europa que a França ainda estava viva", comenta o professor Wayne Hanley, especialista em história moderna da Universidade de West Chester, na Pensilvânia, EUA.

Pela manhã, o tempo melhorara. Wellington contava com 23 mil ingleses e 44 mil soldados aliados, vindos da Bélgica, da Holanda e de pequenos estados alemães, num total de 67 mil homens, apoiados por 160 canhões. Os franceses contavam com 74 mil homens e 250 canhões. Wellington posicionou suas tropas ao longo da elevação de Saint Jean. Sua ala direita se concentrava em torno da fazenda de Hougomount. No centro, logo abaixo da colina, outra fazenda, La Haye Sainte, estava ocupada por unidades do exército dos Países Baixos. À esquerda, tropas aliadas se posicionavam em torno de uma terceira fazenda, a Papelotte. "Wellington assumiu uma postura extremamente defensiva. Em parte porque seu exército não era dos melhores e porque, para ele, quanto mais tempo demorasse a batalha, maiores eram as chances de o reforço prussiano chegar", relata Hanley.

CANHÕES NA FAZENDA

Napoleão queria começar o ataque cedo. Mas a chuva do dia anterior havia transformado o campo de batalha num lamaçal. Ele teve de esperar até as 11 horas da manhã, quando o solo ficou mais seco, para iniciar o ataque contra Wellington. A idéia era chamar a atenção para esse setor e fazer o inglês desperdiçar tropas ali e então atacar no centro. O ataque a Hougomount, com fogo de canhões, durou meia hora. O lugar era protegido por duas companhias inglesas, que não somavam mais de 3,5 mil homens. Elas receberam o peso de mais de 10 mil franceses, mas não cederam. Aos poucos, o que era para ser um blefe tragou durante todo o dia preciosos recursos franceses. Pior, Wellington não caíra na armadilha e mantinha as melhores tropas no centro, perto de La Haye Sainte. Napoleão então decidiu que era a hora de atacar o centro da linha inglesa. Por volta de 12h30, o marechal Ney, seu braço-direito, posicionou 74 canhões contra a estratégica fazenda de La Haye Sante. "Napoleão era militar da artilharia, e essa experiência ganhou uma grande importância no exército. Virou a arma mais temível", explica o professor Mikaberidze.

Napoleão agora faria o que sempre comandava com eficiência: explodir o centro adversário. Pressentindo o perigo, Wellington ordenou às as tropas posicionadas no alto do monte Saint Jean que se jogassem ao chão para diminuir os danos, mas nem todos tiveram a chance. As tropas belgo-holandesas do general Bilandt, que permaneceram na encosta desprotegida do monte, foram simplesmente massacradas. Mal os canhões se calaram, foi a vez de os tambores da infantaria francesa iniciarem seu rufar. Às 13 horas, marchando em colunas, os 17 mil homens do corpo comandado pelo general D·Erlon atacaram. O objetivo: conquistar a fazenda de La Haye Sainte, o ponto vital do centro inglês. Ao mesmo tempo, outro contingente se aproximava, pressionando a ala esquerda dos britânicos. Napoleão agora declarava as suas verdadeiras intenções e partia para o ataque frontal. Acossadas pela infantaria francesa, as tropas inglesas perderam Papellote e deixaram vulnerável a ala esquerda. Ao mesmo tempo, as tropas alemãs da Legião do Rei, as responsáveis pela guarda de La Haye Sainte, no centro, ameaçavam sucumbir.

Foi o momento de Wellington pensar rápido. Na ala esquerda, o comandante inglês ordenou que o príncipe alemão Bernhardt de Saxe-Weimar retomasse Papelotte, o que foi feito com sucesso. Para conter o ataque da infantaria napoleônica no centro, ele acionou a 5ª Brigada, veterana da guerra na Espanha. Fuziladas a curta distância, as tropas de Napoleão retrocederam, não sem antes deixar morto no campo, com uma bala na cabeça, o chefe da brigada inimiga, o general Picton. Ao ver os franceses recuando, Wellington viu a chance de liquidar a batalha. Acionou sua cavalaria para um contra-ataque no centro. As brigadas Household, Union e Vivian provocaram desordem entre os franceses. Mas por pouco tempo. Perto da linha de canhões inimiga, a cavalaria inglesa foi surpreendida por um contragolpe mortal. A cavalaria pesada francesa, com seus Courassiers (couraceiros), apoiados pelos Lanciers (cavalaria leve), atacou os ingleses. O general Ponsonby, chefe da brigada Union, morreu junto com sua unidade, aniquilada. Napoleão dava o troco e continha os ingleses.

Eram 15 horas e a batalha permanecia num impasse. Na ala direita de Wellington, a luta prosseguia sem um resultado decisivo em Hougomount. No centro e na esquerda, os ingleses e os aliados batavos e alemães haviam a muito custo mantido La Haye Sainte e Papilotte. Foi nessa hora, entretanto, que Bonaparte recebeu uma notícia que o alarmou. Cerca de 40 mil homens se aproximavam do lado direito do exército francês, nas imediações de Papilotte. De início, chegou a pensar que fosse o general Grouchy - que havia sido encarregado de afastar os prussianos - chegando. Logo suas esperanças se desfizeram. Grouchy falhara. Aquele corpo de exército era simplesmente a vanguarda do exército prussiano, que chegava para socorrer o aliado inglês. Napoleão teve que improvisar. Sua ala direita, comandada pelo general Lobau, se realinhou de modo defensivo para segurar a chegada dos prussianos e dar ao imperador algumas horas para agir.

FIM TRÁGICO

Enquanto isso, ele ordenou ao marechal Ney que, de uma vez por todas, tomas-se La Haye Sainte e rompesse o centro inglês, assegurando a vitória. Ney, com dois batalhões de infantaria, atacou a fazenda. Nesse momento, cometeu um erro fatal de julgamento. "Em meio à fumaça dos canhões e à loucura da batalha, Ney supôs que o exército inglês estava recuando. Ele então ordenou que sua cavalaria partisse para cima do inimigo. Napoleão achou o movimento precipitado, mas, uma vez que Ney era quem estava encabeçando o ataque, enviou mais cavaleiros para sustentar a carga", comenta o professor Hanley.

A tremenda carga dos Courassiers terminou de forma trágica. A infantaria inglesa não estava recuando, como Ney imaginava. Eles se agruparam em quadrados e passaram a fuzilar os cavaleiros franceses, que não conseguiam romper as formações defensivas. Nas duas horas seguintes, Ney lideraria ao menos 12 cargas de cavalaria contra o centro inglês, com mais de 5 mil cavaleiros. Às 17 horas, La Haye Sainte finalmente caiu em mãos francesas, mas os ingleses ainda mantinham seu centro coeso no alto do monte Saint Jean. Às 17h30, a cavalaria francesa lançou o assalto final e foi novamente batida. Os ingleses não estavam em melhor estado e suas linhas estavam a ponto de romper. Ney, dessa vez corretamente, identificou a oportunidade de vencer e implorou a Napoleão por mais tropas. "De onde você espera que eu tire mais tropas? Quer que eu invente algumas agora?", respondeu Napoleão, irritado.

"Nesse momento, Bonaparte viu a vitória escapar. Mais um esforço e Wellington teria sido derrotado. A essa altura, os prussianos estavam esmigalhando a direita de seu exército e ele teve que priorizar esse setor para ganhar mais fôlego. Na verdade, talvez ele esperasse ver surgir, a qualquer momento, as tropas de Grouchy. Com 30 mil homens a mais, ele poderia ter vencido a batalha", pondera o professor Mikaberidze. A luta com os prussianos ia de mal a pior. Dez batalhões da Jovem Guarda, após um combate feroz contra o dobro de inimigos, haviam perdido 80% de seus homens e começavam a recuar.

Napoleão decidiu então utilizar sua última e preciosa reserva: a Velha Guarda, a elite de seus veteranos. Ele enviou dois batalhões contra os prussianos - e mais uma vez eles fizeram valer sua fama. "Quando a Velha Guarda entrava em campo, os inimigos tremiam. Até então, ela nunca havia sido derrotada em batalha", relembra o professor Hanley. "Os dois batalhões varreram, sozinhos, 14 batalhões prussianos, estabilizaram a ala direita e deram ao imperador a chance de lutar novamente contra Wellington no centro", comenta. Napoleão então jogou a última cartada. Às 19 horas, enviou contra o centro inglês os últimos quatro batalhões da Velha Guarda. "Wellington, nesse meio tempo, embora quase tenha dado o toque de retirada, foi beneficiado pela intensa pressão dos prussianos, que diminuíram seu front e lhes livraram algumas unidades", aponta Hanley. Em desespero, o general inglês reuniu tudo o que tinha e esperou o ataque final entrincheirado no alto do Saint Jean. Enquanto subia o monte, a Velha Guarda foi assaltada pelas unidades inglesas, alemãs e holandesas. Uma a uma, foram repelidas, enquanto os veteranos de Napoleão continuavam seu avanço.

"A 5ª Brigada inglesa, do general Hallket, tentou pará-los, mas logo seus homens fugiram assustados diante do avanço francês. Apesar de sofrer baixas horríveis e lutar na proporção de 1 para 3, simplesmente ninguém conseguia parar a Velha Guarda", afirma Hanley. Wellington, por ironia, foi salvo não por suas próprias tropas, mas por um general belga que durante anos lutou ao lado de Napoleão - quando a Bélgica era um domínio francês. O general Chassé, à testa de seis batalhões holandeses e belgas, se lançou numa carga feroz de baioneta contra os franceses. O ataque foi demais, até mesmo para a Velha Guarda. Sem apoio e em menor número, pela primeira vez os veteranos de Napoleão recuaram.

Logo, os gritos de "la Garde recule!" (a Guarda recua) ecoaram pelo campo. O centro inglês havia resistido a despeito de todos os esforços. Pelo lado direito, os 40 mil prussianos finalmente esmagavam os 20 mil franceses que lhes haviam obstruído durante horas. Em um último ato de coragem, três batalhões da Velha Guarda permaneceram lutando para dar ao imperador a chance de fugir. Lutariam até o fim. Cercados por prussianos, receberam ordem de rendição. O general Cambonne, o líder, teria então afirmado: "A Guarda morre, mas não se rende". Em outro ponto, o marechal Ney, apelidado por Napoleão como "o bravo dos bravos", ao ver tudo perdido, reuniu um grupo de soldados fiéis e liderou uma última carga de cavalaria, gritando: "Assim morre um marechal da França!" Capturado, foi fuzilado depois pelo governo monarquista francês por alta traição.

Napoleão, agarrado por auxiliares, foi retirado à força do campo de batalha. Seria posteriormente posto sob custódia inglesa e enviado à distante ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreria em 1821. A batalha custara a ingleses, belgas, holandeses e alemães 15 mil baixas. Os prussianos deixaram no campo 7 mil homens. Os franceses amargaram 25 mil mortos e feridos, além de 8 mil prisioneiros.

Foi só às 21 horas que Wellington finalmente se encontrou com Blücher para o aperto de mãos. A ameaça napoleônica fora vencida de vez. Blücher queria chamar a batalha de Belle Aliance - nome da fazenda que fora o quartel - general de Napoleão durante a batalha. Wellington, porém, teve outra idéia. É que ele tinha suas manias. Uma delas era batizar combates com o nome do lugar onde ele dormira na noite anterior. Uma vila a alguns quilômetros dali, conhecida por Waterloo, deu então o nome à histórica batalha.

Grouchy, o traidor de Napoleão?

Quase dois séculos depois, ainda permanece a dúvida sobre o marechal Grouchy Ter ou não passado Napoleão para trás. "Grouchy é visto como o culpado pela derrota de Bonaparte por não ter evitado que os prussianos se unissem aos ingleses e por não ter acorrido à Waterloo, com seus 30 mil homens, quando ouviu a canhonaria da batalha", aponta o professor William Flayhart, professor de história moderna da Delaware State University, nos EUA. "Os bonapartistas mais exaltados viram aí sinal de traição. Na época, especulava-se que Grouchy fora subornado. Ele virou bode expiatório." Emmanuel Grouchy passaria o resto da vida tentando provar a inocência. Seu passado ao lado da causa napoleônica era o maior argumento. Ele se juntara ao exército em 1781. As habilidades como comandante foram notadas nas batalhas de Eylau (1807), Friedland (1807) e Borondino, contra os russos - uma atuação muito elogiada. "Talvez tenha faltado a Grouchy presença de espírito. Mesmo quando seu subordinado, o general Gerárd, lhe implorou para que dirigisse as tropas a Waterloo, Grouchy preferiu seguir as ordens à risca, ou seja, dar caça aos prussianos", completa o professor Flayhart. Grouchy combateu os prussianos em Wavre, em 18 de junho, dia em que Napoleão foi derrotado em Waterloo. Blücher deixara sua retaguarda como isca - e o marechal francês interpretou que esse fosse o grosso do exército inimigo. Grouchy venceu o embate para no dia seguinte receber a notícia da chegada de mais soldados inimigos. Ele ainda recuou para Paris com seus homens. Escorraçado por seus pares e pela opinião pública, só foi reaver seu bastão de marechal em 1830. "As cargas desordenadas de Ney e o medíocre dispositivo de batalha de Napoleão pesaram muito mais na derrota do que a ausência de Grouchy, que ficou com a maior culpa", diz Alfred Fierro, ex-diretor da Biblioteca Histórica de Paris.

Os maiores erros

IMPRUDÊNCIA

"Napoleão deveria ter preservado seu exército, como escreveu seu general Kellerman: ·Não poderíamos vencer os britânicos naquele dia. Com calma, evitaríamos o pior·." Steven Englund, historiador americano.

ATAQUE INFRUTÍFERO A HOUGOMOUNT

"Napoleão foi pretensioso em seu ataque à ala direita de Wellington. Só desperdiçou recursos que seriam vitais em outras áreas. No fim, Bonaparte provou que seus homens estavam fatigados. As manobras foram inócuas diante de inimigos." Wayne Hanley, da Universidade de West Chester, nos EUA.

AUXILIARES FRACOS

"Seu melhor general, Davout, estava em Paris, para a segurança da capital. Outra opção infeliz foi Soult, inadequado para a função logística. Pior foi ter dado ao inexperiente Grouchy o comando da ala esquerda, o que se provou fatal." Alexander Mikaberidze, da Universidade de Mississipi (EUA).

ATAQUES DESESPERADOS

"Ney era provavelmente o mais corajoso e leal de todos os oficiais a serviço de Bonaparte. Foi o último francês a sair da Rússia, em 1812, e Napoleão o chamava de ·o bravo dos bravos·. Mas seu ataque em Waterloo, com a cavalaria, foi puro desespero, um verdadeiro suicídio. Napoleão deveria ter abortado essa ação impensada de seu general." Alfred Fierro, ex-diretor da Biblioteca Histórica de Paris.

A morte de Napoleão

Depois de dois meses de viagem, em 17 de outubro de 1815, o ex-imperador da França chegou à longínqua ilha de Santa Helena, uma possessão inglesa encravada no Atlântico Sul, distante 1,9 mil km da África e 2,9 mil km do Brasil. A seu lado, apenas alguns poucos servos e amigos. Mas o pior ainda estava por vir. Em 14 de abril de 1816, chegou o novo governador da ilha, sir Hudson Lowe. Esse não tinha nenhuma qualidade excepcional, exceto seu fanático amor ao dever. Durante os anos de seu mandato, ele submeteu Bonaparte a toda sorte de mesquinharias. Em 1819, Napoleão caiu doente, mas ainda escreveria, em 1820: "Eu ainda estou suficientemente forte. O desejo de viver me sufoca". Na prática, porém, não foi bem assim. Ele morreria às 17h51, em 5 de maio de 1821, depois de sofrer fortes dores no estômago por meses. Ironicamente, mesmo após sua morte ele ainda levantaria controvérsias. Para muitos, o ex-imperador dos franceses fora lentamente envenenado com arsênico pelos ingleses. Pesquisas recentes descartam a hipótese, conforme registra Steven Englund em seu livro Napoleão - Uma Biografia Política. Porém a última glória os ingleses não puderam lhe roubar. Em 1840, seu corpo foi retirado da ilha e levado de volta à França. Durante dias, Paris parou para saudar a volta de seu imperador, em um desfile fúnebre grandioso.

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Notícias » Mundo » Mundo Tese defende que Napoleão não morreu de câncer


O mistério que envolve a morte de Napoleão será alvo novamente de discussões. A divulgação de uma tese afirma que o imperador francês teria sido vítima do forte tratamento ao qual foi submetido para aliviar as dores estomacais e não de um câncer no estômago.

A versão oficial da morte de Napoleão, baseada numa autópsia, é de que o imperador morreu no dia cinco de maio de 1821, aos 51 anos, devido a um câncer no estômago, exilado na Ilha da Santa Helena. Uma outra versão, conhecida como teoria da conspiração, diz que Napoleão teria sido envenenado pelos britânicos ou pelo seu confidente, o conde Charles de Montholon, que teria sido pago por franceses temerosos do retorno de Napoleão a Paris. A evidência científica da teoria da conspiração se baseia numa análise química feita em 2001 numa mecha de cabelos que teria sido recolhida após a morte de Napoleão. A análise registra traços de arsênio.

Em outubro de 2002, entretanto, a teoria da conspiração sofreu um grande revés. A publicação francesa Science et Vie divulgou que mechas de cabelo de Napoleão teriam registrado grandes níveis de arsênio em 1805, 1814 - antes de ele ir para o exílio - e 1821. A explicação mais plausível para isso é uso de um restaurador para cabelos, um produto que no começo do século 19 continha normalmente grande quantidade de arsênio.

Trata-se de um "infortúnio médico" de entusiastas de Napoleão, segundo o patologista forense Steven Karch, do Departamento de Examinadores Médicos de São Francisco. Segundo Karch, os médicos promoviam todos dias uma lavagem intestinal em Napoleão a fim de aliviar as dores estomacais. "Eles usavam coisas pesadas, injetadas por seringa", diz ele. Essas drogas, combinadas com doses regulares de um produto químico chamado tartarato antimônio potássio, que provoca vômitos, teriam deixado Napoleão com falta de potássio. A escassez de potássio, por sua vez, provoca uma situação letal, na qual o sangue que corre para o cérebro é interrompido por batimentos cardíacos irregulares.

A teoria de Karch é que qualquer arsênio encontrado no corpo de Napoleão, proveniente de fumo ou outras fontes, teria deixado apenas o imperador mais vulnerável.

A gota d'água teria sido uma injeção massiva de um purgante, cloreto de mercúrio, que teria baixado drasticamente os níveis de potássio. Napoleão morreria dois dias depois deste rigoroso tratamento.

No entanto, Phil Corso, um médico aposentado de Connecticut, sustenta que Napoleão morreu mesmo de câncer, apesar de submetido a rigoroso tratamento. A autópsia foi realizada pelo médico pessoal de Napoleão, Francesco Antommarchi, e observada por cinco clínicos britânicos.

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http://www.afp.com/afpcom/pt/

As Colunas do Progresso e as Sentinelas da Ordem – Linguagens Arquitetônicas Durante o Estado Novo (1937-1945)

Palácio Duque de Caxias no Rio de Janeiro.

por Marcelos de Carvalho Caldeira e Jacqueline de Cassia Pinheiro Lima


Este artigo é parte da Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas, intitulada Entre a Utopia e a Realidade: A Arquitetura Moderna e a Era Vargas (1930-1945). Professor Marcelo de Carvalho Caldeira é Mestrando em Letras e Ciências Humanas da UNIGRANRIO; Diretor e Professor de História do Colégio Pedro II – Unidade Escolar Descentralizada Niterói. Jacqueline de Cassia Pinheiro Lima é Doutora em Ciências Sociais: Sociologia pelo IUPERJ; Mestre em História Social da Cultura, pela PUC-Rio. Coordenadora e Professora do Programa de Pós Graduação em Letras e Ciências Humanas da UNIGRANRIO.

Nossa intenção neste artigo é discutir a relação entre arquitetura, monumentalidade e autoritarismo durante a Era Vargas (1930-1945), especialmente no período do Estado Novo (1937-1945).

Naqueles anos ocorreu uma intensa disputa entre as correntes do pensamento arquitetônico: de um lado a arquitetura moderna, representando o novo em ascensão; de outro, a arquitetura acadêmica e neocolonial, representando o conservadorismo. Tudo isso em meio a um mercado crescente de obras públicas decorrente de uma intervenção estatal cada maior na economia.

Além disso, mostraremos como a influência positivista no pensamento de Getúlio Vargas influenciou não só suas ações nas esferas econômica e social, mas também nas escolhas dos projetos para os novos prédios públicos erguidos durante o período. O Estado patrocinava as obras, mas definia de forma autoritária o estilo que seria utilizado: a arquitetura moderna apresentava-se mais adequada aos monumentos que representariam o PROGRESSO, enquanto os outros estilos, especialmente o Art-Déco, mostravam-se mais adequados à mensagem da ORDEM.

OS MONUMENTOS DO PROGRESSO

O Ministério da Educação e Saúde

Vitoriosa a revolução de 1930, Getúlio Vargas organizou o novo governo e tomou uma série de medidas que apontavam seus grandes objetivos a longo prazo: tornar o Brasil um país moderno e industrializado, constituindo um capitalismo com forte componente nacionalista.

No entanto, para tal finalidade, o governo entendeu que duas pré-condições eram fundamentais. Em primeiro lugar, na ausência de capital privado forte o suficiente para levar à frente esse projeto, o Estado assumiria o papel de principal indutor do desenvolvimento. Para isso, o Estado deveria ser reinventado de forma que rompesse com os vícios do passado e administração pública passasse a ser norteada pela qualidade e eficiência tanto na sua estrutura como nos seus quadros funcionais.

Em segundo lugar, essa busca pela modernização deveria incluir a classe trabalhadora como agente e beneficiária desse processo. O governo entendeu que operários saudáveis, tecnicamente preparados e, seguros quanto ao futuro, com o amparo da legislação trabalhista, iriam aderir com entusiasmo às mudanças pelas quais o país passaria. Não por acaso, ainda em novembro de 1930, logo no início do governo, foram criados dois emblemáticos ministérios: o do Trabalho e o da Educação e Saúde (MES).

O trabalho e a indústria se complementariam representando o presente, o ponto de partida para o Brasil moderno. Porém, para esse projeto ter continuidade, era necessário cuidar da educação e da saúde das gerações futuras. Portanto, a educação e a saúde projetariam o futuro, a garantia da caminhada do progresso do país. Não por acaso, em seu discurso de posse no MES Francisco Campos afirmava “sanear e educar – eis o primeiro dever da Revolução”.

Inicialmente dirigido por Francisco Campos (1930-1932), o MES sem dúvida viveu sua fase mais ativa durante a gestão de Gustavo Capanema (1934-1945). A vinculação da educação com o progresso e o futuro, bem como a preocupação com o novo homem brasileiro que o Estado pretendia moldar fica explícita quando, em carta ao Presidente Vargas, Capanema afirma que “o Ministério da Educação e Saúde se destina a preparar, a compor, a aperfeiçoar o homem do Brasil. Ele é verdadeiramente o Ministério do Homem”.

Desde o início da Era Vargas, tanto o governo como alguns representantes da elite intelectual do país preocupavam-se com uma suposta inexistência de um sentimento de nacionalidade entre os brasileiros. Especialmente durante o Estado Novo, o governo empenhou-se em forjá-lo, acreditando que essa ação era parte integrante do projeto de desenvolvimento em curso no país. Além disso, o desenvolvimento econômico deveria caminhar ao lado do desenvolvimento intelectual do povo brasileiro. Portanto, o MES naqueles anos adquiria uma atenção e importância estratégica para o governo, atuando como “civilizador” da sociedade.

Se a tarefa educativa visava, mais do que a transmissão de conhecimentos, a formação de mentalidades, era natural que as atividades do ministério se ramificassem por muitas outras esferas, além da simples reforma do sistema escolar. Era necessário desenvolver a alta cultura do país, sua arte, sua música, suas letras; era necessário ter uma ação sobre os jovens e sobre as mulheres que garantisse o compromisso dos primeiros com os valores da nação que se construía, e o lugar das segundas na preservação de suas instituições básicas; era preciso, finalmente, impedir que a nacionalidade, ainda em fase tão incipiente de construção, fosse ameaçada por agentes abertos ou ocultos de outras culturas, outras ideologias e nações .

Ao entender o MES como instrumento fundamental para a formação do homem e da nacionalidade, da renovação e da vanguarda, Gustavo Capanema durante a sua gestão apoiou uma série de ações pedagógicas através da música, da educação física, cinema, rádio e habitação. Para isso, convidou para colaborar com órgãos do ministério intelectuais importantes que se projetavam naquele período, muitos deles claramente identificados com o modernismo.

Porém, para atingir objetivos tão ambiciosos, o ministério necessitava de uma nova sede, ampla o suficiente para centralizar todos os órgãos que estavam sob sua direção. O ministério, dessa forma, reproduziria a concepção de administração pública implantada durante a Era Vargas, especialmente após a instituição do Estado Novo: a centralização como instrumento da racionalidade, da eficiência e da modernização.

Inicialmente, a escolha do projeto seria feita através de concurso, cujo edital foi publicado em 23 de abril de 1935 no Diário Oficial da União e nos principais jornais da capital.

O concurso foi realizado em duas etapas. A primeira levaria em conta a adequação dos projetos às posturas municipais. As limitações impostas por elas levaram à desclassificação de 33 projetos, restando apenas três para a segunda e última etapa.

Em 1º de outubro de 1935 foi realizada a reunião para a escolha dos premiados no concurso. Ao final, o projeto vitorioso foi o de Archimedes Memória, planejando uma “sede misturando estilo neoclássico e elementos decorativos alusivos a uma fictícia civilização marajoara que teria existido durante a Antiguidade, na região norte do Brasil”.

Archimedes Memória era diretor da ENBA e membro da Câmara dos Quarenta, órgão máximo da Ação Integralista Brasileira. Seu projeto “marajoara” guardava coerência com o nacionalismo radical que constava dos princípios fundamentais daquela agremiação política.

Para Capanema, que desejava um prédio que representasse uma ação voltada para o futuro e a formação do novo homem brasileiro, o projeto vitorioso representava exatamente o contrário.

Ainda durante o concurso, ele já demonstrava sua insatisfação com os rumos que as escolhas caminhavam. Prova disso foi que, na penúltima reunião do júri, quando seriam classificados para a última etapa os anteprojetos que recebessem votação igual ou superior a três votos, foi devido ao voto de Capanema que o projeto de Gérson Pinheiro, único dos concorrentes que possuía - ainda que tímidas -, feições modernas, conseguiu ser classificado. Ao final, esse projeto ficou em terceiro lugar.

Decepcionado com resultado final, em 11 de fevereiro de 1936 Capanema enviou carta ao Presidente Vargas expondo sua opinião acerca da inadequação do projeto vitorioso e propondo a contratação de Lúcio Costa para a realização de um novo projeto.

Para conquistar o aval político, Capanema buscou argumentações técnicas para rejeitar o projeto vencedor, solicitando pareceres ao embaixador Maurício Nabuco, ao engenheiro Saturnino de Brito e ao inspetor de engenharia sanitária do MES, Domingos da Silva Cunha. Todos condenaram o projeto. Este último, em seu despacho, foi categórico:

Penso que o edifício projetado não deverá ser concluído se o governo quer, realmente, além de satisfazer perfeitamente às suas necessidades de administração, possuir uma notável obra de arquitetura, digna de nossa cultura artística.

Tanto Capanema como Domingos Cunha justificam suas opiniões com argumentando as necessidades administrativas, mas também a preocupação com a monumentalidade - “bela obra arquitetônica”; “notável obra de arquitetura”.

Todos os argumentos acabaram por convencer o presidente. Em 25 de março de 1936, Capanema convidou oficialmente Lúcio Costa para elaborar o novo projeto. Em seguida, este procede à formação de uma equipe composta por alguns dos representantes mais importantes da arquitetura moderna naquele tempo: Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e Oscar Niemeyer.

Ao receber a notícia de que seu projeto não seria executado, Archimedes Memória reagiu de forma veemente através de uma carta enviada diretamente ao Presidente Getúlio Vargas. Destituído de qualquer embasamento técnico, Memória ataca a equipe convidada apelando com argumentos repletos de preconceitos:

O que acabamos de narrar tem, no presente momento, gravidade não pequena, em se sabendo que esse arquiteto é sócio do arquiteto Gregori Warchavchik, judeu russo de atitudes suspeitas ... Não ignora o Sr. ministro da Educação as atividades do arquiteto Lucio Costa, pois pessoalmente já mencionamos a S. Excia. vários nomes dos filiados ostensivos à corrente modernista que tem como centro o Club de Arte Moderna, célula comunista cujos principais objetivos são a agitação no meio artístico e a anulação de valores reais que não comungam no seu credo. Esses elementos deletérios se desenvolvem justamente à sombra do Ministério da Educação, onde têm como patrono e intransigente defensor o Sr. Carlos Drummond de Andrade, chefe de gabinete do ministro. Expondo aos olhos de V. Excia. esses fatos, esperamos que V. Excia., defendendo o Tesouro Nacional e a honorabilidade de vosso governo do país, alente a arte nacional que ora atravessa uma crise dolorosíssima, próxima do desfalecimento.

Em maio de 1936, Lucio Costa apresentou o primeiro resultado do trabalho ao ministro e sugere o convite ao arquiteto franco-suíço Le Corbusier para prestar consultoria ao grupo. Provavelmente acreditava que sua participação no projeto daria maior legitimidade trabalho. Capanema, então, convidou Lucio Costa para uma audiência com o Presidente da República para encaminharem a sugestão. Ao final da reunião, Vargas concordou com os argumentos e autorizou a contratação de Le Corbusier.

Após ser contactado e examinar o projeto, Corbusier aceitou com entusiasmo o convite, não só pela admiração que o trabalho lhe causou, mas também por encontrar nele uma oportunidade que era cada vez mais limitada na França durante o período entre - guerras, onde o campo da arquitetura era dominado pela tradicional Escola de Belas Artes, refratária à arquitetura moderna.

A consultoria de Le Corbusier, aliada à sólida formação técnica e intelectual do grupo, propiciou aos modernos a vitória em um longo embate iniciado em 1935, ano da realização do concurso de projetos para a nova sede do MES, e concluído em 1945, data da inauguração no prédio. A sede do MES havia se transformado em uma das principais arenas da disputa entre neocoloniais e modernos. Afinal, “tratava-se obra monumental, da sede do ministério encarregado de traçar as diretrizes ‘culturais’ da nação; o aval estético governamental é, portanto, disputado palmo a palmo”.

O debate girava em torno de três elementos: passado, vínculo com o Brasil e futuro. Cada corrente reivindicava para si a primazia sobre eles. Ao contrário dos modernos, os neocoloniais cultuavam a tradição colonial, de onde brotaria o futuro, que para eles é basicamente restaurador (e não inovador), como defendia José Marianno Filho:

A única estrada que nos conduzirá à verdade é a estrada do passado... A volta ao espírito tradicional da arte brasileira não significa uma homenagem fetichista ao passado esquecido, mas a volta ao bom senso... Qualquer monumento colonial representa um esforço muito maior do que as arapucas do cimento armado, diante das quais nos extasiamos.

Os modernos, pelo contrário, alegavam que a leitura neocolonial do passado era superficial, enquanto a arquitetura moderna estabelecia fortes ligações com os princípios estruturais da arquitetura colonial. Uma arquitetura que projetava o futuro, conciliando a tradição com a modernidade.

Apontavam semelhanças estruturais entre as casas “tradicionais” sobre estacas e o pilotis, a estrutura em madeira das casas coloniais era comparada ao esqueleto de concreto armado e relacionavam-se as grandes extensões caiadas da arquitetura “tradicional” à pureza do novo modo de construir. Dessa forma a arquitetura moderna brasileira, embora característica de condições técnicas e sociais novas, se proporia a reinterpretar, através de uma leitura estrutural e de técnicas de seu tempo, a tradição construtiva brasileira.

Os modernos venceram a disputa do MES, etapa fundamental para sua supremacia no campo arquitetônico, apresentando o argumento de que suas construções eram ao mesmo tempo inovadoras, nacionais e estruturalmente ligadas ao passado.

Após a vitória no campo das idéias, restava aos modernos provarem a funcionalidade do projeto, bem como a adequação de sua monumentalidade à imagem que o ministério deveria transmitir à população.

Em artigo publicado em 1935 na Revista da Diretoria de Engenharia, editada pelo Ministério da Educação e Saúde, Affonso Eduardo Reidy demonstra como as novas técnicas proporcionariam ao mesmo tempo funcionalidade e versatilidade:

Uma das maiores conquistas da técnica construtiva moderna é a estrutura livre, isto é, independente das paredes do edifício. A estrutura livre permite a standartização dos elementos estruturais e flexibilidade quanto à utilização dos espaços, de forma a que em qualquer época possam ser modificadas as divisões internas do edifício sem prejuízo para as boas condições de estabilidade e aspecto da edificação.

Testemunho importante dessa preocupação com a funcionalidade foi o de Carlos Drummond de Andrade, chefe de gabinete do Ministro, ao registrar seu primeiro dia de trabalho (22/07/1944) no gabinete da sede recém construída.

Dias de adaptação à luz intensa, natural, que substitui as lâmpadas acesas durante o dia; às divisões baixas de madeira, em lugar de paredes; aos móveis padronizados (antes obedeciam às fantasias dos diretores ou ao acaso dos fornecimentos). Novos hábitos são ensaiados...

Portanto, a luz natural, intensa em uma cidade tropical como o Rio de Janeiro, propiciaria a economia de energia. O mobiliário padronizado, sem luxos (fantasias) despersonalizaria a administração pública.

A monumentalidade foi preocupação dominante no projeto da sede do MES. A produção da obra monumental começa na própria ocupação do prédio, criando enorme praça com amplo espaço de circulação no centro do Rio de Janeiro, de forma a abrir espaço para a contemplação da obra. Tal efeito é obtido com a verticalização do prédio em 14 pavimentos e a utilização de amplo pilotis. O bloco do auditório, portaria e sala atravessa por baixo da estrutura vertical, fazendo com que o espaço entre as colunas, embaixo desse grande bloco, funcione como parte aberta do jardim público, utilizando espécimes da flora nacional, criado pelo paisagista Burle Marx. Os dois blocos transmitem uma representação de leveza, idealizados para parecerem desprovidos de peso ao sustentarem-se sobre o pilotis.

Mais uma vez podemos constatar a influência de Corbusier sobre a equipe brasileira, quando observamos a plena aplicação dos Cinco pontos da Nova Arquitetura, propostos pelo arquiteto franco-suíço no início de sua carreira em 1926.

1.Pilotis, liberando o edifício do solo e tornando público o uso deste espaço antes ocupado, permitindo inclusive a circulação de automóveis;

2.Terraço jardim, transformando as coberturas em terraços habitáveis, em contraposição aos telhados inclinados das construções tradicionais;

3.Planta livre, resultado direto da independência entre estruturas e vedações, possibilitando maior diversidade dos espaços internos, bem como mais flexibilidade na sua articulação;

4.Fachada livre, também permitida pela separação entre estrutura e vedação, possibilitando a máxima abertura das paredes externas em vidro, em contraposição às maciças alvenarias que outrora recebiam todos os esforços estruturais dos edifícios;

5.A janela em fita, ou fenêtre en longueur, também conseqüência da independência entre estrutura e vedações, se trata de aberturas longilíneas que cortam toda a extensão do edifício, permitindo iluminação mais uniforme e vistas panorâmicas do exterior.

Os objetivos da equipe dos arquitetos que projetaram o MES, vislumbrando um futuro otimista de progresso aliado à justiça social ficam evidentes na carta enviada por Lucio Costa a Gustavo Capanema, em outubro de 1945, ao ver a obra concluída. Segundo ele, foi efetivamente naquele edifício, onde:

... pela primeira vez, se conseguiu dar corpo, em obra de tamanho vulto, levada a cabo com esmero de acabamento e pureza integral de concepção, às idéias mestras porque, já faz um quarto de século, o gênio criador de Le Corbusier se vem batendo com a paixão, o destemor e a fé de um verdadeiro cruzado (...) Neste oásis circundado de pesados casarões de aspecto uniforme e enfadonho, viceja agora, irreal na sua limpidez cristalina, tão linda e pura flor - flor do espírito, prenúncio certo de que o mundo para o qual caminhamos inelutavelmente, poderá vir a ser, apesar das previsões agourentas do saudosismo reacionário, não somente mais humano e socialmente mais justo, senão, também, mais belo.

A Avenida Presidente Vargas

Quando iniciativas municipais relacionam-se a necessidades denunciadas pela população e a propostas discutidas, há muitas influências, muitos motivos, inclusive motivos acidentais. Mas quando a câmara municipal não representa a vontade popular (como em Paris, entre 1831 e 1871), como não pôr em primeiro plano as idéias de estética, de higiene, de estratégia urbana, de prática social de um indivíduo ou de poucos indivíduos no poder? Desse ponto de vista, a configuração atual de uma grande cidade será como a superposição da obra de certos partidos, de certas personalidades, de certos soberanos; assim, planos diversos se sobrepuseram, se misturaram, se ignoraram...

O projeto de abertura de uma grande avenida ligando a Ponte dos Marinheiros[22] ao Cais dos Mineiros já existia há muito tempo. Segundo LIMA (1992), a primeira idéia foi de Grandjean de Montigny, ainda no século XIX. Porém, apenas com a decretação do Estado Novo em 1937 e a nomeação de Henrique Dodsworth para o cargo de interventor na capital, o projeto finalmente foi executado.

Observando o contexto político e econômico podemos identificar dois fatores que contribuíram para a execução da obra.

Em primeiro lugar, a economia brasileira já se encontrava em plena expansão após se recuperar da crise decorrente da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. Para superá-la, na década de 1930 o Estado realizou uma intervenção crescente na economia, promovendo o desenvolvimento da indústria nacional. Dessa forma, sendo o Estado o grande agente investidor naquele modelo econômico, tornava-se necessária a criação e a expansão de diversos órgãos e repartições públicas, especialmente na capital. Por isso o centro da cidade do necessitavam se adequar à nova conjuntura vivida no país. Paralelamente, também se abriam novas oportunidades de negócios ao capital privado, especialmente no setor de serviços.

Em segundo lugar, com a decretação do Estado Novo, o governo não apenas aprofundaria a intervenção na economia, mas também teria plenos poderes para controlar a sociedade, especialmente os movimentos sociais e os meios de comunicação. Portanto, qualquer manifestação contra os atos do governo poderia ser abafada pela repressão, pela censura e pela propaganda oficial.

Iniciativas desse tipo, articulando desenvolvimento econômico e controle social, já tinham sido implementadas em outros países capitalistas desenvolvidos, e de certa forma, serviram de referências para outras intervenções no espaço urbano em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil.

É o que podemos constatar a partir da análise de Richard Sennettsobre a revolução urbana passada nas metrópoles de Londres e Paris na segunda metade do século XIX.

Segundo ele, a profunda reforma implantada nas duas cidades foi um dos reflexos do triunfo do capitalismo em sua fase monopolista, quando a Inglaterra e a França comandavam a corrida imperialista, impondo seu domínio sobre uma grande parte da África e da Ásia.

As intervenções na estrutura e na organização nas duas cidades fizeram com que o espaço urbano fosse recortado em grandes corredores, onde o deslocamento das pessoas da residência para o trabalho e vice-versa seria feito com rapidez crescente, atendendo não só as necessidades das atividades capitalistas em expansão – rendimento e produtividade -, mas também ao interesse do Estado em desarticular grupos sociais “ameaçadores à ordem”, mantendo-os sob controle e vigilância, lembrando que no mesmo período, o movimento operário mostrava-se melhor articulado para lutar por suas reivindicações, além de estar influenciado por ideologias que defendiam abertamente o fim do capitalismo, como o socialismo marxista e o anarquismo.

Uma das consequências da revolução urbana foi a desconexão entre as pessoas e o espaço. Assim, os indivíduos, cada vez mais dispersos e isolados, atentos apenas à rapidez do ir e vir teriam cada vez menos contato entre si, o que dificultaria a ação de grupos organizados ou a sua formação.

No Brasil, pensamento semelhante influenciou a elaboração do projeto de abertura da Avenida Central na gestão do prefeito Pereira Passos e mais ainda da Avenida Presidente Vargas, um dos objetos de nosso estudo.

Em 1938, o projeto foi apresentado com a denominação Avenida Dez de Novembro - aludindo à data do golpe que instituiu o Estado Novo – prevendo a eliminação de quadras inteiras para a sua realização.

A expectativa quanto às oportunidades de negócios pode ser observada quando foi decidido que o gabarito liberado para a construção de prédios era de 22 andares até a Rua da Quitanda. Dali até o mar o gabarito seria de 12 andares, prevendo nesse trecho uma grande praça em torno da Igreja Nossa Senhora da Candelária, o que aponta o interesse do governo em não encontrar oposição por parte da Igreja Católica.

A monumentalidade da obra e seu papel didático junto à população podem ser observados através do discurso enaltecedor a Getúlio Vargas realizado pelo prefeito Henrique Dodsworth durante a cerimônia de inauguração do primeiro trecho da avenida, não por acaso no dia 10 de novembro de 1941:

“Exmo. Sr. Presidente da República: É de tradição que os presidentes atravessem os eixos das avenidas rasgadas em benefício do progresso da cidade. Esta tradição esteve interrompida por mais de duas décadas e hoje V. Exa, retoma-a, percorrendo trecho inicial da avenida que menos um decreto do que a aclamação dos seus compatriotas denominou Av. Presidente Vargas.

Permita que V. Exa, que eu guarde desta cerimônia apenas lembranças de nela ter tido a honra de ser o intérprete do governo de V. Exa nos agradecimentos e louvores devidos aos operários de todas as categorias e ofícios dessa obra, que enaltece o valor da engenharia brasileira e do trabalhador nacional.

Exceção feita da maquinaria, tudo que aqui nos rodeia é brasileiro. Os projetos da nova urbanização da cidade são da autoria dessa maravilhosa floração de engenheiros que trabalham na Prefeitura e que alvorecem para as responsabilidades dos largos públicos, técnicos, escritórios, capital e mão-de-obra brasileiros.

Depois de quatro anos ininterruptos de atividades de restauração administrativa e financeira, a Prefeitura do Distrito Federal deu início a esse empreendimento. Não se trata de um espetáculo de aformosamento da cidade, mas de realização de um programa que procura resolver problemas econômicos de tráfego e do saneamento da cidade.

Convidando V. Exa Sr. Presidente, a percorrer o trecho inicial da avenida, solicito que V. Exa incorpore estas obras que, resolvendo os problemas apontados irão por igual transformar a Cidade Maravilhosa na Cidade das Maravilhas.”

Nota-se no discurso a preocupação do prefeito em destacar o nacionalismo, um dos principais traços da política econômica getulista, e em enaltecer os trabalhadores que participaram da obra, em sintonia com a ideologia trabalhista.

Ao mesmo tempo ele equipara em importância a obra com as reformas executadas durante a administração de Pereira Passos, afirmando que estava retomando uma tradição progressista interrompida por mais de duas décadas.

A construção da avenida representava, portanto, o progresso e o desenvolvimento, propiciando maior eficiência e dinamismo nas atividades econômicas praticadas no Centro da cidade, maior rapidez nos meios de transporte e na circulação das mercadorias.

Ao observarmos os prédios construídos ao longo da avenida, fica evidente a influência da arquitetura moderna. Edificações funcionais, sem grandes preocupações estéticas, onde os extensos pilotis se projetavam sobre as largas calçadas, facilitando o rápido deslocamento dos trabalhadores e dificultando as aglomerações, que na visão das autoridades, era um estímulo à “desordem”. Portanto, a avenida propiciava ao mesmo tempo melhor aproveitamento da força de trabalho, que perderia menos tempo para começar seu ofício, como também criava obstáculos para manifestações.

Cumpre ainda destacar que a avenida também traduzia outro aspecto importante do modelo político-econômico vigente. Da mesma forma que o Estado não tinha limites institucionais para intervir na economia e controlar a sociedade, também não haveria nenhum obstáculo ao progresso que não pudesse ser transposto por ele. Assim, diversos marcos importantes do contexto urbano-arquitetônico carioca foram sumariamente eliminados – o Paço Municipal e as Igrejas de São Pedro dos Clérigos, do Bom Jesus do Calvário, de São Domingos e de N. Sra. da Conceição - ou drasticamente alterados – Campo de Santana e Praça Onze.

Como assinala Evelyn Furquim Werneck Lima:

É típico dos governos autoritários o processo de demolição dos centros históricos, as inchações dos bairros periféricos, geralmente com o prejuízo das camadas sociais de menor poder aquisitivo, que perdem sua moradia e seu habitat natural. Isto ocorreu na Paris de Napoleão III, na Itália, na Alemanha, na Rússia na década de 1930 e acabou também ocorrendo no Rio de Janeiro durante o regime de exceção do Estado Novo.

A intervenção na Praça Onze é especialmente simbólica. Área de intenso comércio e grande diversidade social e cultural[28], com a ocorrência das famosas rodas de samba, especialmente as da casa da tia Ciata. Com o fortalecimento das instituições carnavalescas, a cultura da cidade cresceu também em vibração e prestígio popular.

A grande intervenção urbanística projetada na gestão de Henrique Dodsworth promoveu a demolição de quarteirões inteiros da Praça Onze, alterando substancialmente a paisagem local e empurrando seus moradores para outras localidades, como os morros próximos ao Centro ou os bairros do subúrbio, que cresciam às margens da Estrada de Ferro Central do Brasil. Era o símbolo do progresso (a larga avenida) e do trabalho se sobrepondo ao símbolo da cultura popular espontânea, associada pelas autoridades à desordem ou à malandragem.

O governo federal dessa forma realizava uma das mais profundas intervenções na capital, constituindo uma nova linguagem urbanística - de inspiração modernista –, racional, sem preocupações estéticas especiais, cuja monumentalidade buscava transmitir a imagem de um país que avançava em direção ao progresso.

OS MONUMENTOS DA ORDEM

A Avenida Presidente Vargas, como já assinalamos, foi projetada como um monumento ao progresso, associada ao desenvolvimento econômico e industrial que o Brasil passava naquele período da Era Vargas, especialmente o Estado Novo.

Idealizada como uma grande artéria, atravessaria uma região importante do centro do Rio de Janeiro, estabelecendo um entroncamento com outra grande artéria - a Avenida Rio Branco -, abrindo novas oportunidades de negócios e investimentos.

Quem percorre a avenida até os dias de hoje (local de bancos e escritórios públicos e particulares no trecho entre o Campo de Santana e a Candelária) observa o ritmo apressado das pessoas atravessando rapidamente a avenida. A arquitetura não transmite ou estabelece um diálogo com os transeuntes, que, circulando sob os largos pilotis, não têm como observar sequer a fachada dos prédios. A única preocupação é transpassá-la para chegar rapidamente ao trabalho.

Observamos que não existe nesse trecho nenhum ponto que facilite a aglomeração, vista pelas classes dominantes como um instrumento da desordem.

Porém, se nas edificações erguidas ao longo da avenida fica evidente a preocupação em garantir às pessoas o abrigo para um deslocamento rápido ao trabalho, por outro lado, foram criados na avenida alguns importantes símbolos arquiteturais do poder.

São esses símbolos, situados exatamente em um dos poucos pontos possíveis de aglomeração que foram erguidas edificações que, pela sua monumentalidade, transmitiam a quem passasse a mensagem da ordem, da disciplina e da hierarquia. Foi o caso do Palácio Duque de Caxias e o novo prédio da Central do Brasil.

Ao contrário do que ocorreu no edifício do MES, o estilo escolhido para a construção dessas duas obras foi o Art Déco.

Os edifícios projetados pela arquitetura Art Déco utilizavam o concreto armado e possuíam fachadas com rigor geométrico e ritmo linear, com fortes elementos decorativos em granito e mármore. No interior, as esculturas, jóias e móveis também são geometrizados, com ornamentos em bronze, mármore, prata marfim e outros materiais nobres.

Inúmeros projetos neste estilo foram aplicados a partir da década de 1930 no Brasil, como repartições públicas, cinemas, teatros e sedes de emissoras de rádio. Muitos desses edifícios existem até os dias de hoje e fazem parte da paisagem urbana de várias cidades brasileiras.

O Palácio Duque de Caxias

A construção do Palácio Duque de Caxias foi realizada entre 07/09/1937 e 28/08/1941, e sua ocupação definitiva foi concluída em 1944. Portanto, a obra coincidia tanto com o período do Estado Novo como com as obras de abertura da Avenida Presidente Vargas.

O projeto foi de Cristiano Stockler das Neves, arquiteto com escritório em São Paulo e com larga experiência com a construção de prédios em concreto armado, sendo autor do projeto do primeiro arranha-céu da capital paulista, o Edifício Sampaio Moreira, inaugurado em 1924. Designou-se uma comissão composta pelos engenheiros militares Major Raul de Albuquerque e Capitão Rubens Rousado Teixeira para executar a obra. Toda a estrutura de concreto foi calculada pela comissão. Portanto, a construção do edifício ficou todo o tempo supervisionada pelo Exército, que poderia providenciar as modificações ou adaptações que fossem consideradas necessárias.

A construção do edifício foi feita na área afastada vinte metros do antigo quartel, este demolido após a conclusão das obras da nova sede, como podemos observar na figura 26. As alas, respectivamente voltadas para a Praça Cristiano Otonni e para o Palácio Itamaraty, foram, no entanto, conservadas sem alteração.

Em termos de área construída, foi o maior edifício público administrativo de seu tempo, com 86 mil metros quadrados de área e 23 andares, destacando a monumentalidade do projeto. Seu imponente embasamento e pórtico de entrada foram executados em granito vermelho-escuro e preto. Com mármore oriundo do Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais, foram executados os pisos da ala principal.

A obra transmite robustez e estabilidade, impondo a quem passa uma sensação de submissão e obediência diante do monumento. Ela atemoriza quem se aproxima, se apresentando como um espaço hermético, inacessível a quem não faz parte da instituição.

O pavimento térreo, tal como um gigantesco rodapé, revestido em granito vermelho-escuro, aparenta uma barra de proteção, como se fosse uma área de transição entre os pavimentos superiores e os pedestres que circulam abaixo: o poder e o povo. Ao que tudo indica, o projeto também teve a preocupação de transmitir a disciplina do poder militar. A simetria entre o corpo central, destacando as alas laterais, parece associar à imagem de um general comandando suas divisões.

O Novo Prédio da Estrada de Ferro Central do Brasil

O desenvolvimento econômico acelerado na década de 1930 foi acompanhado por uma série de investimentos estatais na infraestrutura do Brasil, incluindo os serviços de transportes.

As ferrovias ainda se constituíam no principal meio de transporte de carga e passageiros do Brasil, embora o transporte rodoviário estivesse se multiplicando. A antiga estação da Estrada de Ferro Central do Brasil mostrava-se insuficiente para atender as necessidades de transporte, além de obsoleta diante de um serviço cuja eletrificação exigia altíssimos investimentos.

O projeto original foi elaborado em 1936 por Roberto Magno de Carvalho, arquiteto formado pela Escola Nacional de Belas Artes em 1921 e funcionário de carreira da Estrada de Ferro Central do Brasil. Porém, no início das obras, verificou-se que ele precisava ser revisto e ampliado. Em primeiro lugar, porque se constatou que ele não se adequava ao terreno proposto. Em segundo lugar, o governo decidiu que o novo prédio deveria abrigar todos os setores da administração da ferrovia, que se achavam dispersos em imóveis alugados em várias partes da cidade. Novamente, aplicava-se a um órgão estatal o modelo centralizador que norteava a administração pública em geral naquele período, visto como instrumento para promover maior racionalidade e eficiência da burocracia.

As modificações no projeto foram feitas pelos arquitetos húngaros Adalberto Szillard e Geza Heller, contratados para substituir Roberto Magno de Carvalho que faleceu em 1937, pouco antes do início efetivo dos trabalhos.

A ditadura do Estado Novo ainda não tinha sido instaurada quando foi lançada a pedra fundamental do prédio, em 28 de março de 1936. Porém, as modificações no projeto original, executado já no período autoritário, demonstram não apenas a preocupação com a funcionalidade, mas também a maior atenção à monumentalidade, adequando-a aos interesses do governo.

A alteração que ganhou mais destaque foi a ampliação da torre, alcançando 135 metros, e do relógio. Historicamente, “a torre, desde as épocas mais remotas sempre representou um signo de poder mítico, em que a verticalidade faz crer que a matéria atinge espíritos superiores, toca o firmamento”.

Inaugurada em 29 de março de 1943, a estação é um dos raros pontos de concentração popular ao longo da Avenida Presidente Vargas. Como as elites tradicionalmente associavam as aglomerações à desordem, era necessário para elas criar mecanismos de controle e disciplina sobre a clase trabalhadora.

Nessa linha, o prédio da Estrada de Ferro Central do Brasil e o Palácio Duque de Caxias, situado à sua frente, formaram um conjunto representando um poder concreto e disciplinador sobre os trabalhadores, que, ao desembarcarem na estação, encontram duas “sentinelas da ordem”, impondo a eles a disciplina e a obediência ao horário de trabalho (relógio) e à subordinação à autoridade (poder militar).

As Colunas do Progresso e as Sentinelas da Ordem – Linguagens Arquitetônicas Durante o Estado Novo (1937-1945)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso artigo mostrou até aqui que Getúlio Vargas, ao chegar ao poder, em 1930, buscou progressivamente implantar um novo modelo de desenvolvimento econômico ao Brasil. Fazia parte dessas mudanças uma ampla reforma na administração pública, capacitando a burocracia para o novo papel que o Estado desempenharia como principal agente indutor do desenvolvimento.

A centralização política e administrativa chegou ao ápice com a decretação do Estado Novo em 1937. Essa articulação entre centralização político-administrativa e intervenção estatal na economia como instrumento que alavancaria o desenvolvimento econômico era uma crença que Getúlio Vargas alimentava desde a juventude, quando sua formação intelectual foi decisivamente influenciada pelo positivismo.

O crescimento do aparelho estatal com a criação ou ampliação de ministérios e órgãos públicos gerou a necessidade de construir edifícios que abrigassem uma burocracia que não parava de crescer. Essas mudanças permitiram que fosse aberto uma espécie de mercado de obras públicas, oferecendo oportunidades aos profissionais da arquitetura, carreira que testemunhou um crescimento notável na década de 1930.

Ao mesmo tempo, toda essa produção arquitetônica teve que obedecer aos interesses do governo que pretendia que os novos prédios fossem, ao mesmo tempo, funcionais e monumentais, transmitindo mensagens de confiança e otimismo, mas também de obediência ao Estado.

Esse programa de obras públicas proporcionou uma disputa entre as principais “escolas” de arquitetura daquele tempo: de um lado, os acadêmicos e os neocoloniais; de outro, os modernos.

Observamos como os modernos aproveitaram melhor as oportunidades, iniciando uma trajetória onde progressivamente foram conquistando a hegemonia no campo da arquitetura. Entre as razões dessa conquista estão a sua melhor fundamentação técnica e intelectual, o apoio que tiveram do Ministro Gustavo Capanema e o controle do SPHAN.

Por outro lado, mesmo com a influência crescente dos modernos, constatamos que a postura do governo Vargas com relação às escolas arquitetônicas, não teve uma orientação monolítica, variando principalmente entre a arquitetura moderna e o Art-Déco, sem excluir outros estilos que, embora em menor grau, também estivessem presentes, como o neoclássico, utilizados nos Ministérios do Trabalho e da Fazenda.


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domingo, 16 de janeiro de 2011

O que significa “segundo a ordem de Melquisedeque”?

Davi profetizou, mil anos antes do nascimento de Jesus, que o Messias seria “sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque” (Salmo 110.4). O autor de Hebreus cita esta profecia várias vezes, e explica o seu significado em relação à superioridade total de Jesus.

A “ordem de Melquisedeque” não se refere a algum tipo de sociedade secreta ou mística como a Rosa Cruz, os Maçons ou os Templários. Não é alguma organização preservada desde a antigüidade, nem uma classe de sacerdotes na igreja do Senhor. A expressão “segundo a ordem de Melquisedeque” significa que o sacerdócio de Jesus é do mesmo tipo, ou parecido com, o sacerdócio de Melquisedeque.

Melquisedeque aparece na história bíblica, e some logo em seguida. Ele era rei de Salém e sacerdote de Deus (Gênesis 14.18). Abençoou Abraão e recebeu o dízimo dele depois da vitória do patriarca contra Quedorlaomer.

As Escrituras não relatam nada sobre antepassados nem descendentes de Melquisedeque (o ponto de Hebreus 7.3). Ele servia como sacerdote antes do nascimento de Isaque, então não era descendente da tribo de Levi (um dos netos de Isaque). Era sacerdote aprovado por Deus, independente de linhagem.

Deus fez algumas coisas no Velho Testamento pensando na vinda de Jesus, e assim ajudando o povo a entender a missão de Cristo. Os comentários em Gênesis e Salmos sobre Melquisedeque mostraram a possibilidade de ter um sacerdote que não era sujeito à Lei dada aos israelitas no Monte Sinai. É exatamente isso que o autor de Hebreus nos mostra, usando Melquisedeque como tipo de Cristo.

Jesus não podia ser sacerdote no sistema dado no Monte Sinai (Hebreus 8.4). O fato de Deus ter declarado Jesus sacerdote eterno serve de prova de mudança de lei: “Pois, quando se muda o sacerdócio, necessaria-mente há também mudança de lei” (Hebreus 7.14). “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas” (Hebreus 8.6).

Salmo 110, como o autor de Hebreus bem explica, aponta para o perfeito Rei e eterno Sacerdote, Jesus Cristo. Qualquer ensinamento que procura preservar algum sacerdócio humano segundo a ordem de Melquisedeque, age por autoridade humana, e não divina (cf. Gálatas 1.10; 2 João 9), e diminui a importância de Jesus Cristo como o eterno e suficiente Sumo Sacerdote.

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sábado, 15 de janeiro de 2011

Campos alemães nazistas nas terras polonesas ocupadas durante a 2° Guerra Mundial.

Auschwitz

Adolf Hitler, em um discurso dirigidos a oficiais de Wehrmacht em 22 de agosto de 1939, apresentou os objetivos a serem realizados pelo exército alemão na Polônia:

“A nossa força é nossa velocidade e nossa brutalidade.(...) Não me importa o que dirá de mim a débil civilização euro-ocidental. Pronunciarei uma ordem e vou fuzilar qualquer um que tentar criticar, embora seja com uma palavra o objetivo da guerra que não é alcançar linhas determinadas, mas sim , eliminar fisicamente o inimigo. Com este fim tenho preparado as minhas unidades Totenkopf, por enquanto só no Leste, ordenando-lhes matar sem lástima e sem piedade homens, mulheres e crianças de origem polonesa e de fala polonesa. Somente deste jeito conquistaremos o espaço vital que necessitamos. Quem ainda está falando da exterminação dos armênios?”

Hans Frank, sobre os princípios da política alemã com a nação polonesa e o uso do terror.

“Em principio temos que afirmar que teremos que afrontar uma crescente resistência por parte dos intelectuais, da igreja e de ex-oficiais. Já existem três organizações atuando contra nossa soberania neste país. Não devemos nos preocupar por este motivo, mas sim, podemos aguardar tranquilamente o desenvolver dos acontecimentos. Apenas os poloneses, empreendam a mínima ação contra nós, puni-los-emos terrivelmente. Eu não hesitaria, então em recorrer ao mais cruel terror sem temer às conseqüências.”

Extrato da “Instrução para combater atos de violação no Governo Geral”, publicada por Hans Frank, em 31 de outubro de 1939.

1. Quem recorrer a atos de violação contra o Reich Alemão ou as autoridades alemãs no Governo Geral, será condenado à morte.

2. Quem intencionalmente estragar instalações pertencentes às autoridades alemãs, objetos necessários no trabalho efetuado pelas autoridades ou objetos de utilidade pública, será condenado à morte.

3. Quem incitar a não obediência às disposições ou ordens das autoridades alemãs, será condenado à morte.

4. Quem agredir um alemão, por motivo de sua nacionalidade, será condenado à morte.(...)

5. Os instigadores e ajudantes serão punidos como os autores dos crimes e os intentos, serão castigados igualmente como os atos cometidos.(...)

6. Quem, havendo tomado conhecimento de intenção de cometer delito determinado nos parágrafos 1-5, desistir de informar imediatamente à autoridade ou à pessoa ameaçada, de modo que, se possa prevenir o crime a tempo, será condenado à morte.

Você quer saber mais?

Szuchta, Robert.Das Cartas de História da Polônia, Ministério dos Negócios Extrangeiros da Polônia, 2010.

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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Discurso sobre o método de René Descartes.

Robson Stigar

Introdução

Percebe-se no livro Discurso sobre o método de René Descartes que o mesmo é um filosofo cuja característica é o seu temperamento matemático, sua preocupação era com a ordem, a clareza e a distinção. Percebe-se que Descartes preocupava-se também em manter a sua filosofia positiva e concreta, contudo de modo simples e claro. Descartes propôs fazer uma ciência essencialmente pratica e não especulativa, queria disciplinar a ciência e isso seria possível com um bom método. Esse método seria universal, inspirado no rigor matemático e racionalista.

Suas obras principais são tidas como clássicas são elas: Regras para a orientação do espírito – 1628 (primeiros conceitos do método cartesiano), Geometria – 1637 - (estudos e reflexões sobre a matemática, a física e a geometria), Discurso do Método – 1637 (instruções de como conduzir a razão, como buscar a verdade na ciência), Meditações – 1641 (expande as reflexões do discurso do método cartesiano).

Pensamento

Descartes propôs que sempre devemos duvidar de tudo em todos os momentos. Afirmava que era necessário distinguir o verdadeiro do falso. O método cartesiano põe em dúvida tanto o mundo das coisas sensíveis quanto o das inteligíveis, ou seja, duvidar de tudo, As coisas só podem ser apreendidas por meio das sensações ou do conhecimento intelectual. A evidência da própria existência – o "penso, logo existo" – traz uma primeira certeza. A razão seria a única coisa verdadeira da qual se deve partir para alcançar o conhecimento. Diz Descartes "Eu sou uma coisa que pensa, e só do meu pensamento posso ter certeza ou intuição imediata".

Para reconhecer algo como verdadeiro, ele considera necessário usar a razão, o raciocínio como filtro e decompor esse algo em partes isoladas, em idéias claras e distintas, ou seja, propõe fragmentar, dividir o objeto de estudo a fim de melhor entender, compreender, estudar, questionar, analisar, criticar, o todo, o sistema. Enfim experimentar na esfera da ciência e da razão, isto é estudar empiricamente, cientificamente, historicamente e racionalmente.

Para garantir que a razão não se deixe enganar pela realidade, tomando como evidência o que de fato pode não passar de um erro de pensamento ou ilusão dos sentidos, Descartes formula sua segunda certeza: a existência de Deus. Entre outras provas, usa a idéia de Deus como o ser perfeito. A noção de perfeição não poderia nascer de um ser imperfeito como o homem, mas de outro ser perfeito, argumenta. Logo, se um ser é perfeito, deve ter a perfeição da existência. Caso contrário lhe faltaria algo para ser perfeito.

Portanto, Deus existe. Essas conclusões são possíveis a partir da sua metafísica. A metafísica de Descartes é buscar a identidade da matéria e espaço, o mundo tem uma extensão infinita, o mundo é constituído pela mesma matéria em qualquer parte, o vácuo é algo impossível.

"O poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, o que é propriamente o que se denomina o bom senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens; e que assim a diversidade das opiniões não convém de serem uns mais razoáveis do que os outros, mas somente de que conduzimos nossos pensamentos por caminhos diversos e não consideramos as mesmas coisas"" (DESCARTES, 1637)

O método seria um instrumento, que bem manejado levara o homem a verdade, esse método consiste em aceitar apenas aquilo que é certo e irrefutável e conseqüentemente eliminar todo o conhecimento inseguro ou sujeito a controvérsias. O objetivo de Descartes era de abranger numa perspectiva de conjunto unitário e claro, todos os problemas propostos a investigação cientifica.

O fundamento principal da filosofia cartesiana consiste na pesquisa da verdade, com relação a existência dos "objetos", dentro de um universo de coisas reais. O método cartesiano esta fundamentado no principio de jamais acreditar em nada que não tivesse fundamento para provar a verdade. Com essa regra nunca aceitara o falso por verdadeiro e chegará ao verdadeiro conhecimento de tudo.

Descartes parte do cogito (pensamento) que faz parte do seu interior, colocando em duvida a sua própria existência para chegar a uma certeza sobre a concepção de homem, o qual faz um novo pensar sobre a problemática (homem) considerando duas principais substancias existentes, que são o corpo e a alma que se unem em uma união fundamental porem distintas entre si.

Sobre a questão do método Descartes afirma:

O primeiro era não receber jamais como verdadeira qualquer coisa sem antes a conhecer evidentemente como tal; isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e não incluir nos meus julgamentos nada que se não apresentasse tão clara e distintamente ao meu espírito que não tivesse nenhuma ocasião de o por em dúvida. O segundo, dividir cada uma das dificuldades que tivesse que examinar no maior número possível de parcelas que se tornassem necessárias para melhor as resolver. O terceiro, em boa ordem os meus pensamentos, começando pelos objetivos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como por degraus, até ao conhecimento dos mais complexos, e admitindo mesmo certa ordem entre aqueles que não precedem naturalmente uns aos outros. E no último, fazer a propósito de tudo recenseamentos tão completos e revisões tão gerais que me sentisse certificado de nada omitir." (DESCARTES.1637)

O objetivo de Descartes é a pesquisa de um método adaptado a conquista do saber, descobre esse método que tem como objetivo a clareza e a distinção, ou seja, com isso quer ser mais objetivo possível, imparcial, quer fundamentar o seu pensamento em verdades claras e distintas. Para isso, de acordo com o seu método, devem ser eliminadas quaisquer influencias de idéias que muitas vezes não são verdadeiras, mas que são tidas como mitológicas e por fim muitas vezes acabamos aceitando tais mitos sem que nunca tenhamos comprovado de fato. Só devemos nos basear em enunciados claros e evidentes.

Essa metafísica cartesiana ou método cartesiano nos diz de que é feito e como é feito o mundo. O método cartesiano revoluciona todos os campos do pensamento de sua época, possibilitando o desenvolvimento da ciência moderna e abrindo caminho para o ser humano dominar a natureza. A realidade das idéias claras e distintas, que Descartes apresentou a partir do método da dúvida e da evidência, transformou o mundo em algo que pode ser quantificado. Com isso, a ciência, que até então se baseava em qualidades obscuras e duvidosas, a partir do início do século XVII torna-se matemática, capaz de reduzir o universo a coisas e mecanismos mensuráveis, que a geometria pode explicar. Descarte propõe uma espécie de ceticismo para as coisas, tudo tem que ser duvidado, experimentado.

Descartes dividiu a realidade em res conngitas (consciência e mente) e res extensa (corpo e matéria). Acreditava que Deus criou o universo como um perfeito mecanismo. Em relação à ciência, Descartes desenvolveu uma filosofia que influenciou muitos, até ser passada pela metodologia de Newton. Ele propunha, por exemplo, que o universo era pleno e não poderia haver vácuo, o vácuo é algo impossível. Descartes acreditava que a matéria não possuía qualidades inerentes, mas era simplesmente o material bruto que ocupava o espaço. Descartes propunha a criação de um método para chegar a verdade cientifica, pois a duvida não pode jamais existir, tem que haver certeza, lógica e razão na ciência.

Para Descartes, nem os sentidos, que podem enganar-nos, nem as idéias, que são confusas, podem nos dar certezas e, portanto, nos conduzir ao entendimento da realidade. Por isso, com a finalidade de estabelecer um método de pensamento que permita chegar à verdade, desenvolve um sistema de raciocínio que se baseia na dúvida metódica e não pressupõe certezas e verdades. Com base nisso reconstrói o universo da metafísica clássica com a idéia de que a essência do ser humano esta no pensamento.

Conclusão

A ciência cartesiana busca de maneira analítica estudar as partes de um todo, ou seja, estudar apenas a parte de um objeto, deixando de lado o todo, isto é dividir, fragmentar. Porem essa ciência cartesiana, não foi a ciência que Descartes procurou desenvolver, Descartes propôs sim a fragmentação, a divisão, a particularidade, mas sempre pensando no todo, num ser completo.

A ciência e os racionalistas de maneira geral perderam essa idéia de totalidade, sempre em buscas de avanços tecnológicos e científicos foram cada vez mais se especializando em algo e esquecendo a totalidade.

Bibliografia

ABAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Ed. Martins Fontes. São Paulo. 1998.

VALÉRY, Paul. O pensamento vivo de Descartes. Coleção O Pensamento Vivo. Martins Fontes, SP. 1967

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Satélite Planck revela novos aglomerados de galáxias

Precisão do satélite Planck permite a observação de galáxias escondidas

Astrofísicos europeus anunciam a descoberta de conjuntos de galáxias distantes bilhões de anos-luz da Terra. Dados coletados pelo satélite europeu Planck ajudam a entender a evolução do Universo.

O satélite Planck, lançado em 2009 pela Agência Espacial Europeia (ESA) com a finalidade de pesquisar radiação cósmica de fundo em microondas, tem rendido novas descobertas astronômicas, afirmaram astrônomos europeus esta semana.

Distante 1,5 milhão de quilômetros da Terra, a sonda espacial tem apresentado evidências da existência de um aglomerado de galáxias escondido a bilhões de anos-luz e que produz estrelas numa velocidade muito maior do que o conhecido.

"O que acontece é que, em galáxias empoeiradas, temos a formação de estrelas, [e estas passam] a maior parte do tempo cobertas pela poeira, dentro da galáxia que você está observando", explica David Clements, professor de física no Imperial College London.

Com o satélite Planck, os cientistas são capazes de fazer uso dessa poeira, que "reprocessa" a energia da estrela e a devolve como energia infravermelha, acrescenta Clements.

Outros telescópios, como o Hubble, observam a formação de estrelas fazendo uso apenas da luz visível (luz branca). Isso quer dizer que, com os telescópios tradicionais, cientistas podem ver apenas a metade do total de energia produzido pelos fenômenos estelares do universo.

"É uma forma direta de relatar a evolução das galáxias nessa metade perdida", diz o professor. "Você pode completar a história oculta do universo, porque existe essa quantidade de energia surgindo da poeira, há esse monte de estrelas se formando, as quais você não pode ver com a luz visível", explica.

O satélite Planck pode detectar "poeira fria", ou partículas de poeira com uma temperatura de aproximadamente 20 graus Kelvin, ou -243 graus Celsius, e que representam os primeiros estágios do desenvolvimento estelar. O Planck descobriu mais de 900 agrupamentos de poeira fria na Via Láctea.

Entre outros resultados, o satélite também coletou dados sobre aglomerados de galáxias (conjuntos que reúnem inúmeras galáxias), incluindo 20 novos aglomerados antes desconhecidos. Essas informações ajudam os astrofísicos a determinar o formato, a natureza, o volume e a evolução do universo.

A próxima data para a divulgação de dados enviados pelo Planck está programada para 2013. Ela deverá descrever numa riqueza de detalhes até então desconhecida a radiação cósmica de fundo. Com isso, os cientistas esperam lançar luz sobre os estágios iniciais do Universo.

"Estes novos resultados são partes essenciais de um quebra-cabeça que pode nos dar uma visão completa da evolução tanto do nosso 'quintal' cósmico, ou seja, a Via Láctea em que vivemos, como também da origem do Universo", disse David Parker, diretor de ciência espacial e exploração da agência espacial do Reino Unido.

Autor: Cyrus Farivar (df)
Revisão: Alexandre Schossler

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Admirável Mundo Novo: Carteira de Identidade Única .

Autor: Klauber Pires

Prepare seus dados particulares: lá vem o Registro de Identificação do Cidadão (RIC) (Lei nº 9.454/97). Por ele, por meio de um único cartão magnético, segundo a Agência Senado, promete-se um fim à necessidade de se portar vários documentos.. Você cai nessa?

Os fatos estão aí: o presente governo, e não foi só uma vez, já foi o protagonista direto do vazamento de dados fiscais e civis (refiro-me aos dados privados dos estudantes que o Ministério da Educação recentemente divulgou em seu site). Bom, estamos falando do que é notícia: no mais, os dados fiscais de qualquer cidadão podem ser comprados em qualquer praça, de qualquer camelô.

Para quem não dá muita importância ao assunto, remeto ao caso do jornalista lulista e chapa-branca Ricardo Kotscho, que o jornalista Reinaldo Azevedo tem denunciado como aquele que quer identificar quem são os 5% de cidadãos que consideram o governo “ruim ou péssimo” em todas as pesquisas de opinião, “remando contra a maré”. Nos países onde a revolução socialista está a alguns passos adiante, como na Venezuela, esta parcela do eleitorado já foi fichada e perdeu empregos, propriedades e até direitos básicos, como o de ir e vir. Como muito bem evocado pelo brilhante jornalista, não devemos nos esquecer dos judeus da Alemanha nazista, obrigados a portarem estrelas de Davi bordadas nas roupas, ou mesmo números de identificação marcados a ferro quente no corpo.

Em um momento grave como o que estamos passando, deveríamos estar refletindo sobre a real necessidade de expormos de forma tão vulnerável as nossas vidas. Nossos dados pessoais foram obtidos praticamente à força sob a garantia sagrada (sagrada?) pelos agentes do estado de que não seriam divulgados. Pois foram e tem sido arreganhados e pior do que isto, usados para os propósitos mais vis.

Antes que o discurso diversionista peça a palavra para, por exemplo, citar a constitucionalidade da necessidade de “identificação do patrimônio, dos rendimentos e da atividade econômica do contribuinte” (CF/88, art. 145, § 1º) pelo fato previsto pela redação do mesmo artigo de os impostos serem (e devendo ser), tanto quanto possível, pessoais, invoco os tempos do Império, em que as liberdades dos cidadãos, apesar disto, eram muito mais respeitadas, para citar o Código Comercial (Lei nº 556, de 25 de junho de 1850), que determinava, em seu artigo 17º: “Nenhuma autoridade, juízo ou tribunal, debaixo de pretexto algum, por mais especioso que seja, pode praticar ou ordenar alguma diligência para examinar se o comerciante arruma ou não devidamente seus livros de escrituração mercantil, ou neles tem cometido algum vício.

O fato é que os tributos cobrados no tempo do Império eram primordialmente caracterizados por terem seus respectivos fatos geradores, como eu diria, “da porta pra fora” das respectivas casas de comércio. Assim, eles podiam ser fiscalizados nos cartórios, em entrepostos alfandegários e em barreiras ocasionalmente montadas nas estradas. Se tudo funcionava tão bem naquele tempo em que a tecnologia era tão primitiva, porque muito mais não poderia ser aplicada com sucesso hoje em dia?

Os tributos atuais, pelo contrário, ligam-se ao faturamento, ao lucro e até mesmo às pessoas físicas, daí exigindo a necessidade da bisbilhotice estatal mais enxerida, inclusive com grave risco para a espionagem industrial e comercial, bem como para a manipulação desde cima do poder, de cujo exemplo podemos citar a denúncia do dono dos refrigerantes Dolly, amplamente veiculada nos meios de comunicação à época em que ocorreram, segundo o qual o fisco supostamente teria baixado uma portaria a exigir das fábricas de embalagens que divulgassem seus clientes, para estratégico conhecimento por parte da Coca-cola, que pretendia sufocar os fabricantes das chamadas “tubaínas”.

Com relação ao vazamento dos dados dos estudantes, se eu for até o âmago da questão, já começaria por indagar qual a necessidade de um “ministério da educação”. No Brasil, nos seus quase oitenta anos de existência, só o que fez foi formar a maior massa de analfabetos funcionais da nossa história, aqui e em todos os países onde foi implantado, até mesmo nos Estados Unidos. Um desastre total. Todavia, só e somente só para responder ao problema dos dados particulares das pessoas, afirmo peremptoriamente que jamais o estado teria a necessidade de coletar tais informações para cumprir a sua auto-atribuída missão.

Com a entrada em vigor do tal “Registro de Identificação do Cidadão”, (note a demagogia presente no nome), um só documento passará a agregar os números da Carteira de Identidade (RG), do Cadastro de Pessoa Física (CPF), do Título de Eleitor e do PIS/Pasep, entre outros – olhe lá: “entre outros” -, e com ele, a partir de um único clique, todas as informações civis, criminais, eleitorais, fiscais, bancárias, financeiras, previdenciárias e sei lá mais também o quê.

Em Portugal, a própria constituição proíbe a instituição de um número de identificação único nacional, naquele país que é menor do que Santa Catarina. Aqui vamos de marcha ré: agradeçamos por mais esta vitória do Big Brother ( leia o livro "O Grande Irmão de George Orwell") sobre os indivíduos ao seu autor, o senador Pedro Simon (PMDB-RS).

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http://www.imil.org.br/

http://construindohistoriahoje.blogspot.com/2010/10/etiquetando-humanos-parte-i-historia.html

http://construindohistoriahoje.blogspot.com/2010/10/etiquetando-humanos-parte-ii-mondex.html

http://construindohistoriahoje.blogspot.com/2010/10/etiquetando-humanos-parte-iii-biometria.html

Troca do RG pela nova identidade com chip começa na próxima segunda.

Brasília - A troca da cédula de identidade (RG) pelo novo cartão do Registro de Identidade Civil (RIC) vai começar no próximo dia 17. As pessoas selecionadas serão convocadas por carta a partir desta semana.

De acordo com o Ministério da Justiça, os habitantes de Brasília, Rio de Janeiro e Salvador serão os primeiros a receber as cartas. As cidades de Hidrolândia (GO), Ilha de Itamaracá (PE), Nísia Floresta (RN) e Rio Sono (TO) também fazem parte do projeto piloto, e o início da convocação terá início ainda no primeiro semestre.

A nova identidade foi lançada em dezembro, mas o período de transição de governo atrapalhou o início do processo de troca. Segundo o Ministério da Justiça, os cartões das pessoas selecionadas já estão prontos, pois foram feitos com base nos cadastros repassados pelos estados.

O ministério também informou que os cidadãos escolhidos para a troca do documento foram escolhidos aleatoriamente pelos estados. A estimativa é que este ano 2 milhões de brasileiros façam a substituição.

O RIC é um cartão magnético, com impressão digital e chip eletrônico, que incluirá informações como nome, sexo, data de nascimento, foto, filiação, naturalidade e assinatura, entre outros dados. O Ministério da Justiça estima que a substituição da carteira de identidade será feita, gradualmente, ao longo de dez anos.

A emissão do RIC em 2011 será custeada pelo Ministério da Justiça, por isso, a pessoa não precisará pagar pela troca. Segundo o ministério, o investimento no primeiro ano será de cerca de R$ 90 milhões.

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