terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Origem do Halloween

O nosso Halloween nasceu na Antiguidade Festa do Dia das Bruxas foi criada pelos celtas há mais de 2000 anos para homenagear os espíritos de seus antepassados

No próximo domingo, dia 31 de outubro, diversos países vão comemorar o Halloween. A festa, importada há algumas décadas dos Estados Unidos, ganha cada vez mais popularidade entre nós brasileiros e a cada ano que passa movimenta parcelas maiores do mercado. No entanto, se engana que pensa que a origem do “Dia das Bruxas” é americana: as raízes mais profundas da comemoração remontam à Antiguidade.

Sabe-se que os primeiros a realizar uma celebração semelhante à que conhecemos hoje foram os celtas. Esse povo, que viveu há cerca de 2000 anos onde atualmente estão a Irlanda, a Inglaterra e o norte de França, comemorava o seu ano novo no dia 1º de novembro, data que marcava o fim do verão, o término da colheita e o início de um rigoroso inverno. Por conta disso, a passagem do ano era associada com o início de um período sombrio, gélido, e na noite de 31 de outubro os celtas realizavam um festival chamado Samhain (se pronuncia “sow-in”). Nesse dia, acreditava-se que a fronteira entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos era desfeita, e as almas dos antepassados caminhavam sobre a Terra. Era justamente nesse dia que os druidas, espécies de “feiticeiros” celtas, aproveitavam a influência dessas presenças espirituais para realizar previsões sobre o próximo ano e a colheita vindoura.

Em meados da década de 40 da era cristã, os romanos já haviam conquistado a maior parte do território celta. Pelos 400 anos seguintes, essas regiões seriam dominadas pelo império dos césares, que promovia um festival muito semelhante à tradição do Samhain, chamado Feralia. Nesse dia, sempre no final de outubro, os romanos celebravam a passagem dos mortos para a outra vida. O convívio entre os dois povos fez com que os costumes se misturassem e incorporassem elementos em comum.

Durante a Idade Média, o catolicismo aumentou sua influência sobre as regiões do antigo Império Romano e reprimiu ou “cristianizou” antigas práticas pagãs. Com o Feralia – ou Samhain – não foi diferente: no século IX, o papa Bonifácio IV determinou que o dia 1º de novembro, antigo ano novo celta, seria o “Dia de Todos os Santos”. Ou seja, em vez de celebrar as almas dos antepassados em rituais e festividades nada ortodoxos, a população deveria venerar os mártires cristãos.

Também foi nesse período que surgiu o nome que a festa assumiu hoje: a data foi nomeada, em um tipo de inglês arcaico, de All-hallows ou All-hallowmas, um derivado de Alholowmesse, que significa all saints’ day (“Dia de Todos os Santos” em inglês). Assim, a noite anterior à festa, ou seja, dia 31 de outubro, passou a ser chamada de All-hallows Eve (referência a evening, que significa “noite” em inglês), o que se transformou, ao longo dos séculos, na forma moderna Halloween.

O resto da história já é um pouco mais conhecida: o festival desembarcou na América com os colonizadores ingleses e ganhou popularidade ao longo das décadas, assumindo um caráter de “confraternização entre vizinhos”. O “Dia das Bruxas” ganhou características modernas, como as fantasias ou a prática do “doce-ou-travessura”, mas, ainda assim, algumas de suas brincadeiras típicas mantêm relação com rituais de mais de 2000 anos.

O Apple bobbing, competição comum nos Estados Unidos que consiste em pegar maçãs de uma bacia cheia d’água usando somente a boca, provavelmente tem relação com a Feralia romana: o “Dia das Bruxas” do tempo dos césares coincida com as comemorações em homenagem à deusa Pomona, guardiã das árvores e das frutas, cujo símbolo é a maçã. Assim, vários ritos e jogos praticados por séculos envolveram a fruta, o que acabou derivando a brincadeira atual. Outra mostra de que os nossos “rituais” podem esconder muito mais história do que aparentam.

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Estar Professor

Autor: Leonardo Stuepp

No texto anterior trabalhei o Ser Professor, agora quero trabalhar o Estar Professor.

Qual a diferença?

Ela é sutil, mas determina uma enorme distância entre os dois estados em que alguém se posiciona na profissão professor.
Ser professor é gostar do seu trabalho, é se preocupar em buscar mais conhecimentos, em preparar uma boa aula, já estar professor é o estado de alguém, que por não encontrar outra alternativa de trabalho, acaba exercendo o cargo como bico, não se prepara, não se preocupa em buscar novos conhecimentos.

Quem é professor por vocação, não fica só se preocupando com o seu salário, pois sabe que o mesmo será o resultado de um bom trabalho e saberá buscar a valorização do mesmo, tem a consciência de que exercendo a profissão com dedicação e carinho, será reconhecido e novas oportunidades surgirão para ele no mercado. O bom profissional é disputado no mercado, seja lá em que segmento for. Ele não fica defendendo a isonomia, entende e valoriza a meritocracia.

Quem está professor, vive nos cantos reclamando de seu salário, tudo está errado onde trabalha, mas, não tem sugestão alguma para melhorar, vive a dizer que não lhe dão oportunidades e quando vê um colega galgar postos ou receber uma oferta melhor de salário, fala aos quatro ventos que é um sortudo, que é um puxa-saco, ou coisas que são impublicáveis neste espaço. Para ele o mercado sem dúvidas fecha a porta, pois ele luta pela isonomia e detesta a meritocracia.

Você que exerce esta nobre profissão de professor, se coloca no: Ser Professor, ou fazendo uma análise sincera de sua atuação, se vê um: Estar Professor?

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http://leostuepp.wordpress.com

Ser Professor.

Autor: Leonardo Stuepp

Lembro vagamente e tento entender, como, em uma pequena sala, encostados com suas pequenas carteiras à parede, quatro turmas, o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto ano do hoje ensino fundamental, tinham aulas ao mesmo tempo com o mesmo professor.

Lá ficávamos recebendo as informações; lá éramos cobrados por um professor enérgico, que não titubeava em dar suas palmadas (e nenhum pai tirava satisfações com ele); lá aprendemos a conhecer as letras, a transformar um conjunto destas letras em palavras e um conjunto de palavras em pensamentos e um conjunto de pensamentos nos levava a ler livros; lá aprendemos a geografia de nosso país e do mundo; lá aprendemos a história de nossa pátria e a história geral; lá aprendemos os algarismos e com eles a noção de número usando os próprios algarismos ou juntando os mesmos, com isto podíamos determinar quantidades, aprendemos a usar sinais e estes sinais nos levavam a entender o que era somar, diminuir, multiplicar e dividir, não como uma operação matemática mecânica, mas como um resultado de algo que podíamos ver, algo que surgia naturalmente, intuído, explicado e entendido.

Ah! Hoje que saudade deste tempo que ainda tento entender. Hoje, com tantas teorias que estão levando a cada dia o ato de ensinar a ser meramente um cumprimento de horários, onde dificilmente se consegue chegar ao verdadeiro sentido do ensinar e muito menos do aprender.

Hoje, o professor é refém de calendários, de um material didático nem sempre condizente com as reais necessidades do aprendizado, muitas vezes com teor ideológico, quando não com erros dos mais banais aos mais crassos, de uma carga horária desproporcional à sua possibilidade de preparação e análise dos conteúdos repassados, pois para atender às suas necessidades pessoais e familiares de sustento, lazer e sociais, tem de ter uma enorme carga horária, com muitas aulas para que seu salário possa dar conta destas necessidades básicas e, ainda de um grupo de alunos que entendem que tem muitos direitos e sabem cobrar os mesmos, mas esquecem de que também tem deveres, mas isto pouco importa, pois ele, o professor é pago para ensinar, mas por gentileza, não cobrar.

Sim, ser professor, o que significa isto hoje? Para mim é um verdadeiro apostolado, requer fibra, boa vontade e muita perseverança. É sem dúvida uma nobre profissão, que ao final de tudo traz alegrias, pois até estes alunos que em muitas oportunidades só sabiam de seus direitos, com o tempo, o passar dos anos e o surgimento de suas necessidades, de suas responsabilidades, acabam reconhecendo o valor daqueles, que em muitas oportunidades não respeitaram ou não deram o devido valor.

Ser professor é ser altruísta, é acreditar que em sua atividade está a semente da transformação.

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Força Aérea do Brasil adquire Helicópteros Russos MIL MI-35, batizados no Brasil como A-H2 Sabre.

Um Tanque nos Céus do Brasil

Em recente visita do presidente da Federação da Rússia Dmitri Medvedev ao Brasil, foi revelado que o governo brasileiro tinha assinado um contrato de aquisição de 12 unidades do helicóptero de assalto Mil Mi-35M Hind, uma versão avançada de exportação do famoso helicóptero de combate Mil Mi-24 Hind. Era a confIrmação de uma suspeita que já circulava entre os interessados em defesa a algum tempo. Desde esse anuncio, tenho recebido inúmeros pedidos de leitores de que escrevesse um artigo sobre esse verdadeiro tanque de guerra voador. Sendo assim, atendendo a pedidos, vou descrever o protagonista dessa interessante novidade para nossa força aérea, o Mil Mi-35M.

Acima: O Mil Mi-35M2 usado pela Venezuela é similar ao modelo adquirido pelo Brasil, porém, a FAB solicitou que alguns dos avionicos fossem substituídos por similares de origem israelense.

O helicóptero Mi-35M é fabricado pela famosa fabricante russa de helicópteros Mil e deriva de um de seus produtos mais famosos o Mi-24 Hind. Na verdade o Mi-35M é a versão de exportação do modelo Mi-24V Hind E, um dos mais modernos Mi-24. O grande diferencial que faz do Mi-35 e toda a família Hind ser única é a capacidade de transportar 8 soldados totalmente equipados, além do forte armamento de ataque, que caracteriza helicópteros de ataque. Por isso o Mi-35 não pode ser considerado um helicóptero de ataque especializado uma vez que sua missão é mais ampla, cabendo assim, a classificação de helicóptero de assalto. O seu tamanho descomunal e seu desenho agressivo o fazem um dos helicópteros mais impressionantes já construídos, sendo chamado com frequência de “tanque voador”.

Acima: Deste ângulo pode-se ver o novo rotor de cauda em formato de "X" similar ao usado no helicóptero de ataque Mi-28 Havoc.

Propulsão

O Mi-35M é propulsado por duas turbinas Klimov TV3-117VMA que desenvolvem 2200 Hp de potencia cada, que permitem ao Hind atingir a velocidade máxima de 324 km/h, desempenho este, simplesmente formidável se considerarmos que o Hind é um helicóptero consideravelmente mais pesado que outros helicópteros de ataque. Na verdade o Hind já teve o Record mundial de velocidade máxima para helicópteros durante algum tempo até ser superado pelo Westland Linx.

Existe um sistema dissipador de calor usado na saída dos motores do Hind visando melhorar sua imunidade a mísseis guiados por calor, além de lançadores de flares e chaffs (iscas de calor e de radar) que visam confundir mísseis que usam estes sistemas de guiagem.

Acima: Um dos grande desafios dessa aquisição pela Força Aérea Brasileira será manter uma boa disponibilidade desses helicópteros visto que a Rússia tem má fama de prestação de serviços pós venda.

Sensores

Um Tanque nos céus do Brasil

O Mi-35M pode ser equipado com uma torreta multi sensor para designação de alvos e navegação GOES-342 TV/FLIR, ao lado esquerdo da cabine do atirador, composto por um FLIR (Forward looking infrared) ou visor de imagens infravermelhas, um telêmetro a laser e um sistema de imagem por TV. O Mi-35M é compatível com o uso de óculos de visão noturna completando suas capacidades de operação a noite. Outros sistemas similares, como o fornecido pela Thales, podem ser usados no lugar do sistema russos dando uma boa solução para clientes que não estão acostumados com produtos de defesa russo. A África do Sul através de sua competente empresa Denel, também tem pacotes de modernização para o Hind, com capacidades similares ao encontrado sistema original russo, porém qualificando o Hind para uso de armamento especifico sul africano como, por exemplo, o míssil Mokopa, antitanque.

Acima e abaixo: Aqui podemos ver as cabines da frente e de trás do Mi-35. Embora não seja tão avançada quanto os modelos ocidentais atuais, ainda sim é uma evolução importante da engenharia russa frente aos modelos anteriores.

Armamento

O Mi-35M está, normalmente armado com um canhão de dois canos GSh-23L em calibre 23 mm com uma cadência de tiro máxima de 3600 tiros por minuto. O tambor de munição comporta 450 tiros. É interessante notar que este canhão é fixo, uma característica ímpar nesse tipo de aeronave, onde é comum ver canhões totalmente moveis. Em opção ao canhão de 23 mm pode ser instalado uma torreta com uma metralhadora Yakushev Borzov YAK-B 12,7 mm com 4 canos rotativo capaz de impor uma cadência de 5000 tiros por minuto. Com essa opção, o tambor de munição transporta 1470 cartuchos. Caso o cliente queira, pode-se ainda, instalar um canhão duplo Gryazev-Shipunov GSh-30-2 de 30 mm com 750 tiros disponiveis e uma cadência de 3000 tiros por minuto. As grandes semi-asas montadas na fuselagem do Hind, marca registrada desse helicóptero de grandes dimensões, podem transportar até 2400 kg de armamento variado. Normalmente são instalados casulos de foguetes de diversos calibres, sendo os mais comuns os do tipo UB-32 com 32 foguetes não guiados de 55 mm S-5, ou o lançador de 20 foguetes de 80 mm S-8.

Para combate antitanque, o Mi-35 pode ser armado com até 16 mísseis antitanque que pode ser o AT-6 Spiral (9K114 Shturm) com alcance de 6 km e guiado por radio, ou o míssil AT-9 Spiral 2 (9M120 Ataka V) com 6 km de alcance e guiado por radio. A vantagem do AT-9 é ser mais preciso e destrutivo contra blindados.

Acima: O armamento transportado pelos helicópteros da família Hind é extremamente pesado. Nesta foto podemos ver um arranjo com 8 mísseis AT-6 Spiral mais um casulo com 20 de foguetes de 80 mm S-8.

O Mi-35M representa uma das mais recentes versões de um clássico helicóptero de combate que já entrou para a história da guerra aérea. Para a Força Aérea Brasileira é um marco, a sua aquisição, pois será a primeira vez que uma força armada brasileira irá operar um helicóptero de ataque e também, será a primeira vez que um sistema de armas complexo, de origem russa, como um helicóptero, será operado pela FAB. A concorrência em que o Mi-35M venceu para equipar a FAB, tinha competidores de classes diferentes, sendo que o Mi-35M era o único que preenchia os requisitos de flexibilidade, já que os outros concorrentes eram helicópteros especializados demais no combate a blindados, coisa que o Mi-35 não é, embora tenha uma forte capacidade de destruir tanques.

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http://www.aviacaonoticias.com/2010/04/sabres-na-amazonia.html

Revista Integralista ilustrada Brasil Feminino (1932-1937).

Revista Brasil Feminino, n.38./setembro de 1937.

Autor: Jorge Figueira*


A revista ilustrada “Brasil Feminino”, dirigida pela blusa-verde Iveta Ribeiro, circulou em todo o território nacional no período de 1932 a 1937. Ao periódico caberia a disseminação da doutrina do Sigma através da Secretaria Nacional Arregimentação Feminina e Plíniana - S.N.A.F.P, um importante órgão administrativo da Acção Integralista Brasileira (1932-1937) que usaria a revista como seu principal difusor para público feminino.

Em suas diversas páginas, a revista publicou diretrizes, estatutos e protocolos direcionados as blusas-verdes. Além dos artigos as fotografias chamam à atenção na revista, se destacando as imagens das participações de blusas-verdes em atividades Integralistas como, professoras, assistentes sociais e enfermeiras. A publicação destas fotos tinha como principal objetivo incentivar a participação de novas mulheres nas fileiras da AIB, que anteriormente eram marginalizadas da política nacional.

Outra importante função da revista “Brasil Feminino” era a divulgação de conferencias, cursos, simpósios e congressos da Acção Integralista Brasileira. As publicidades destes eventos eram feitas de forma inusitada e tiveram grandes resultados, tornando a militante presença importante nas manifestações Integralistas.

Infelizmente hoje encontrar um exemplar deste periódico não e uma tarefa fácil, a maioria se encontra em arquivos privados de colecionadores sobre o Integralismo. Aos que desejarem pesquisar alguns exemplares poderão se dirigir a Biblioteca Nacional, localizada na cidade do Rio de Janeiro.

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http://www.integralismorio.org

Os segredos de Tutancâmon na rede.

Site da Universidade de Oxford disponibiliza imagens e documentos produzidos durante as escavações da tumba do faraó egípcio.

O arqueólogo Howard Carter descobriu a tumba de Tutancâmon, no Egito, em 1922

Em 1922, Howard Carter realizou uma das principais descobertas da arqueologia moderna: encontrou a tumba do faraó Tutancâmon, no Egito. Um achado dessa envergadura foi o resultado de anos de pesquisas, documentadas em diversas anotações, fotos e arquivos. Esse material, riquíssimo, permaneceu inédito durante décadas. Agora pode ser acessado na internet.

O acervo está disponível no site do Griffith Institute, de Oxford, sob o nome de “Tutankamon: anatomia de uma escavação”. Entre os documentos estão notas, fotografias, diários, mapas e esquemas realizados por Carter e sua equipe, além do inventário dos tesouros encontrados na tumba do faraó.

A iniciativa de colocar todo o material de Carter à disposição de pesquisadores partiu do egiptólogo Jaromir Málek, do Griffith Institute. Em 1993, ele se deu conta de que apenas um terço do material produzido por Carter havia sido publicado. A ideia de Malek é divulgar o trabalho do colega já falecido para que o público compreenda a dimensão da descoberta, além de incentivar outros especialistas e concluir o inventário realizado pelo arqueólogo.

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http://www.griffith.ox.ac.uk/gri/4tut.html

O homem de Neandertal pensava como nós? Parte VI.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas.


Por João Zilhão

[continuação]


JOÃO ZILHÃO há muito argumenta que os neandertais inventaram as práticas simbólicas independentemente do homem de anatomia moderna. Aqui ele peneira os sedimentos em sítio localizado na mesma região dos sítios que permitiram as descobertas neandertais.

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http://www2.uol.com.br/sciam/

O homem de Neandertal pensava como nós? Parte V.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas.

Por João Zilhão

[continuação]


SA: Então, o comportamento moderno – conforme representado pela decoração do corpo, peças de arte e assim por diante – é o produto da necessidade de se comunicar ou de se identificar com os membros de uma população crescente?

JZ: Sim, em um mundo em que os encontros com estranhos ocorresse em uma frequência que tornasse necessário criar maneiras de distinguir um amigo de um inimigo, alguém a quem seus parentes devessem favores ou alguém que os devesse a você.

SA: Mas acredita que algo teve de mudar no hardware, no cérebro, em algum momento na linhagem humana antes do aparecimento do comportamento
moderno?


JZ: Sim, acredito que isso aconteceu de 1,5 milhão a 2 milhões de anos atrás – ou cerca de 500 mil a 1 milhão de anos atrás, no máximo –, quando o tamanho médio do cérebro atingiu a dimensão atual. Se pudéssemos clonar um ser humano que viveu há 500 mil anos, colocá-lo num útero substituto e, então, após o nascimento, nutri-lo como um ser humano atual, ele conseguiria pilotar um avião? Talvez alguns de meus colegas possam dizer que não, mas a minha resposta seria afi rmativa.

SA: Se o homem de Neandertal da Espanha fabricava ornamentos 10 mil anos antes de o primo moderno ter chegado à Europa, você acredita que, em vez de os neandertais copiarem o homem moderno, pode ter ocorrido o inverso?

JZ: Antes de entrar na Europa, o homem moderno não perfurava nem entalhava os dentes de mamíferos como os encontrados em Châtelperronian, tampouco perfurava conchas bivalves como as encontradas na Espanha. Mas, assim que chegou à Europa, isso passou a acontecer. De onde o homem moderno obteve esses ornamentos? Se estivéssemos falando dos povos da Idade do Cobre, concluiríamos que os imigrantes os obtiveram dos habitantes locais. Por que deveríamos ter uma lógica diferente para os objetos neandertais?

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O homem de Neandertal pensava como nós? Parte IV.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas

Sepultamento realizado por Neandetais.

Por João Zilhão

[continuação]


SA: Suas análises não fornecem evidência de que os orifícios nas conchas de mariscos e vieiras desses sítios foram feitos por homens, e vocês tampouco foram capazes de encontrar vestígios do uso nas bordas dos orifícios propriamente ditos, então como sabe que foram usadas para fins decorativos?

JZ: Essas espécies são encontradas em águas profundas, então na época que foram levadas à praia não continham mais nenhum molusco, indicando não terem sido coletadas para servir de alimento; além disso, tinham pigmentos associados a elas. Qual é a alternativa? Se abrir qualquer livro de ornamentos etnográfi cos de conchas da África ou Oceania, verá exemplos de conchas dessas espécies ou de espécies relacionadas, com perfurações naturais, usadas como ornamentos.

SA: Quais as implicações dessas descobertas para o entendimento da origem da modernidade comportamental em humanos?


JZ: A coisa mais importante que essas descobertas deixam claro é que o homem de Neandertal tinha comportamento moderno. Do ponto de vista anatômico, ele não era igual ao homem moderno primitivo, mas do ponto de vista cognitivo era tão avançado quanto ou até mais. Há várias conclusões possíveis a tirar desta observação: ou a cognição e o comportamento modernos emergiram independentemente em duas linhagens diferentes, ou eles existiam em um ancestral comum do homem de Neandertal e do homem com anatomia moderna. Ou, então, os grupos que denominamos homem de Neandertal e homem moderno não são espécies diferentes e, portanto, não deveríamos nos surpreender que, apesar das diferenças anatômicas, não existam diferenças cognitivas – a conclusão que favoreço.

Sob o meu ponto de vista, o surgimento do comportamento humano moderno é o acúmulo vagaroso, talvez intermitente, de conhecimento que, conforme as densidades populacionais aumentam, dá origem a sistemas de identifi cação social que aparecem no registro arqueológico na forma de ornamentos pessoais, pintura corporal etc. Devemos esperar que esses exemplos remotos de modernidade comportamental sejam raros. O início de um processo exponencial deve ser semelhante a isso.

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O homem de Neandertal pensava como nós? Parte III.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas

Por João Zilhão

[continuação]

O PINGENTE DE CONCHA DE VIEIRA foi pintado com pigmento laranja, talvez para que o exterior da concha (metade à direita) se equiparasse ao interior, naturalmente colorido (metade à esquerda). O pigmento encontrado na ponta de um osso naturalmente afi lado da pata de cavalo (acima da concha) sugere que o homem de Neandertal usou o osso para misturar ou aplicar a pintura.

SA: O que foi desenterrado no segundo sítio?

JZ: Por volta da mesma época em que inspecionei a coleção Aviones, também analisava as descobertas de setembro de 2008, da estação de campo em um grande abrigo na rocha que fi cava mais para o interior, a uns 60 km de Aviones, chamado Cueva Antón, onde eu vinha escavando depósitos neandertais desde 2006. Um dos objetos foi uma concha perfurada de vieira que um de meus alunos coletara no segundo dia de escavações. Originalmente, pensei se tratar de uma concha fóssil, que não estivesse relacionada com as atividades humanas. Porém, quando comecei a limpá-la, descobri que era bastante conservada e colorida. Uma inspeção mais detalhada mostrou que a parte exterior, mais esbranquiçada, parecia ter sido pintada com um pigmento laranja, que era uma mistura de hematita e de outro mineral, chamado goetita.

SA:O que vocês acreditam que o homem de Neandertal fazia com esses objetos?

JZ: O fato interessante em relação à natrojarosita é que ela tem apenas um uso conhecido, o cosmético. Assim, inferimos que foi esse o seu uso também em Aviones. O osso de cavalo com a ponta avermelhada pode ter sido usado para misturar ou aplicar pigmento ou para perfurar couro cru colorido com esse pigmento. A concha de ostra mediterrânea não perfurada que continha vestígios de uma mistura brilhante vermelha deve ter sido um recipiente para pintura. A explicação mais simples para a natrojarosita e o pigmento vermelho brilhante e o contexto no qual eles foram encontrados é algum tipo de pintura corporal, especifi camente pintura facial. Mas não temos certeza se o homem de Neandertal os aplicava diariamente, após terem acordado, ou se era algo que faziam por motivos rituais, em ocasiões especiais – nas celebrações ou talvez por luto. Além disso, uma das conchas de marisco perfuradas de Aviones tinha porções de ocre vermelho aderidos do lado interno, perto do orifício. Neste caso, a explicação mais plausível é que a concha fora pintada, já que não é possível usar uma concha com orifícios como um recipiente. Portanto, além de pintar seu corpo, o homem de Neandertal dos dois sítios coloria conchas perfuradas, provavelmente usadas como pingentes.

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