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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A Vida de Edgar Allan Poe. PARTE III.



Nesta terceira e última parte dos relatos referentes a vida de Edgar Allan Poe, conheceremos a última etapa da vida de um homem que sua genialidade é inspiração ainda hoje e com toda certeza o será no futuro para milhares de escritores e fascínio para milhões de leitores. Mas não deixou de lembra aos amigos do Construindo História Hoje que para uma contemplação plena desse texto leia antes a primeira e segunda parte: “A vida de Edgar Allan Poe. PARTE I” e “A vida de Edgar Allan Poe. PARTE II”. Que realizem uma excelente construção de conhecimento por meio destas leituras.

Após o casamento com Vírgina, a alegria de Edgar Poe não perdurou, pois depressa a melancolia se reapossa dele, e não pode passar sem o álcool e a droga. Após violentas e frequentes crises nervosas, cai em terríveis fases de depressão e desinteressa-se totalmente da sua profissão. Então White despede-o definitivamente. Em julho de 1883 a família Poe vai instalar-se em Nova Iorque. O poeta publica o romance “As Aventuras de Arthur Gordon Pym”, mas não consegue encontrar um emprego fixo. É à Maria Clemm que incumbe agora a manutenção dos ‘seus filhos’. Saturado de Nova Iorque, onde se sente incompreendido e se julga mesmo perseguido, Poe vai instalar-se em Filadélfia, onde colabora não “Gentleman’s Magazine” de W. Buston, que lhe publica alguns dos seus mais célebres contos.

Em junho de 1840 a sua colaboração no “Gentleman’s Magazine” é interrompida. Começa então para o poeta um dos períodos mais sombrios da sua existência. Não tem trabalho, Virgínia cai doente, é a miséria negra. Após várias tentativas goradas para remar contra a maré, Poe instala-se de novo em Nova Iorque e colabora no “New York Sun” e no “Evening Mirror”, que publica, em 19 de janeiro de 1845, o seu poema “O Corvo”.


“O Corvo”, arauto do sucesso

É o triunfo. O público está literalmente galvanizado por tão insólita poesia. O sucesso literário faz-se acompanhar de um sucesso mundano. Após ter relegado para o campo, em Fordham, a pobre Virgínia, que precisa de ar puro, “Poe, o Corvo”, começa a levar uma vida caótica, percorrendo todos os Estados da União para declamar o seu grande sucesso nos salões elegantes. É o período dos deslumbramentos e das paixões literárias. A mais notória das suas ligações, com a poetisa Frances Osgood, termina de uma forma lamentável. Ela não tarda a preferir-lhe o Reverendo Griswold, rival literário e mundano de Poe e, ironia do destino, seu futuro executor testamentário. Em outubro de 1845, Poe alcança a orientação exclusiva do “Broadway Journal” de Nova Iorque, que o editor Briggs imprudentemente lhe confiou. Tendo investido na operação todo o  capital de que dispunha, Poe encontra-se dentro em breve impossibilitado de prosseguir a publicação do jornal. Durante dos longos meses vagueia como um obcecado em busca de fundos, mas, devido a não ter podido liquidar uma letra de 50 dólares, tem de acabar por desistir. É a derrocada final. Uma vez mais a mamãe Clemm acorre em seu auxilio e leva-o com ela para o campo.

Em Fordham a família habita uma casa modesta, vivendo, na mais completa indigência, da caridade dos vizinhos e dos donativos de algumas pessoas generosas. Para Poe, os períodos de trabalho alternam com fugas para os lugares mais estranhos, onde vai cortejar antigas e novas amásias ou emborrachar-se. A 30 de janeiro de 1847 Virgínia morre. Em sua memória, Poe escreve o dolorido “Ulalume”.

A asa negra da morte

Tendo abandonado Fordham, Poe entrega-se mais uma vez à vida caótica de declamador. Após ter declarado inutilmente o seu amor a uma amiga de Virgínia, a senhora Shew (depressa esquecerá a mulher), faz a corte simultaneamente à senhora Richmond e à senhora Whitman. Depois de breve indecisão, a sua escolha recai na última. A senhora Whitman, ao que parece, o aceita com entusiasmo. Muito menos entusiastas se mostram os seus parentes próximos, constrangidos a pôr pela porta  fora o peta bêbado. Poe desata então a escrever cartas inflamadas à senhora Richmond, e em 1 de julho de 1849 parte  a juntar-se-lhe em Lowell, no Massachusetts. Porém, em Filadélfia vai reencontrar antigos camaradas dos copos, embebeda-se sistematicamente, sofre uma crise de “delirium tremens”, tenta por duas vezes suicidar-se.

Em 7 de julho volta a Fordham, para junto de mamã Clemm. Mas imediatamente o recupera a agitação. Em julho mesmo já se encontra em Richmond, onde reencontra a sua antiga namorada, Elmira Royster, tornada viúva Shelton. Na sequência de uma corte rápida, mas impetuosa, a data do casamento é fixado para 17 de outubro. Edgar deixa de beber e de se intoxicar. Chega mesmo a inscrever-se na Liga dos Filhos da Temperança. É a calma aparente antes da tempestade final.

A 27 de setembro, desse mesmo ano, parte para Nova Iorque. Vai convidar Mamã Clemm a assistir ao casamento. Em Baltimore, embriaga-se. Volta a partir, mas num comboio desmaia e um fiscal reenvia-o a Baltimore. Jamais se virá saber o que foram os últimos dias de sua vida. A 3 de outubro descobrem-no numa valeta, perto de Hight Street, sujo, andrajoso, inconsciente. Transportado para o Hospital Washington, morre em 7 de outubro de 1849, às 5 horas da manhã.

“Eu não fui desde a infância jamais
Semelhante aos outros. Nunca vi as coisas
Como os outros as viam. Nunca logrei
Apaziguar minhas paixões na fonte comum
Nem tão-pouco extrair dela os meus sofrimentos.
Nunca pude em conjunto com os outros
Despertar o meu peito para as doces alegrias,
E quando eu amei fi-lo sempre sozinho.
Por isso na aurora da minha vida borrascosa
Evoquei com fonte de todo o bem e todo o mal
O mistério que envolve, ainda e sempre,
Por todos os lados, o meu cruel destino (...)”
Edgar Allan Poe


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A Vida de Edgar Allan Poe. PARTE II.



Como foi trabalhado na postagem anterior, agora darei seguimento as exposições referentes à vida deste gigante da literatura mundial. Mas para que você possa aproveitar de forma satisfatória os conhecimentos depositados nestas postagens aconselho a leitura do primeiro trabalho “A vida de Edgar Allan Poe. PARTE I”, e então de seguimento aos estudos nas próximas postagens.

Após abandonar a casa de seus pais adotivos, Edgar parte para Boston, e com o dinheiro da sua mãe adotiva apressa-se a fazer editar uma compilação de poesias compostas na Universidade: “Tamerlão e outros poemas, escritos por um Bostoniano”. Em torno do livro gera-se o mais absoluto silêncio. Decepcionado, o poeta desaparece durante algum tempo. Quando reaparece, conta a quem quer ouvi-lo que esteve na Grécia a lutar pela liberdade, como o fizera o seu ídolo, o poeta inglês Byron. Em seguida ter-se-ia dirigido a S. Petersgurgo e sucessivamente à Itália, à França e à Alemanha. Em boa verdade, nunca saíra da América. Alistara-se como simples soldado, sob o nome de Edgar A. Perry, “empregado de escritório em Boston, olhos cinzentos, cabelos escuros, pele clara, 1,70 m de altura”. Assim o identifica, sem equívoco possível, o registro militar em 26 de maio de 1827. Após um período de instrução, “Edgar Perry” é transferido para a guarnição da Ilha Sullivan, na Carolina do Sul, paisagem desolada onde alguns anos mais tarde Poe situará a ação de um dos seus primeiros contos, “O Escaravelho de Ouro”.

O serviço não é estafante, e Edgar dispõe de muito tempo livre para compor o seu poema “Al Aaraaf”. Graças à sua bela caligrafia e à sua boa conduta, o soldado “Perry” ganha os galões de primeiro-sargento. Volvidos, porém, alguns meses, já está saturado desta vida e requer o seu licenciamento. Deseja entrar na Academia Militar de West Point para se tornar oficial. Para se libertar, contudo, das obrigações que contraíra, tem que pagar a um substituto que terminará o tempo de seu serviço em seu lugar. Recorre obviamente a John Allan, que recusa de entrada enviar-lhe a soma solicitada. Decidirá, no entanto aceder ao pedido do rebelde contrito após a morte da sua mulher, Frances, ocorrida em 28 de fevereiro de 1829. Na verdade, o luto marca uma aproximação momentânea dos dois “inimigos”. A 15 de abril de 1829, Edgar parte finalmente para Washington, com algumas cartas de apresentação e empenho de seu pai adotivo.

O irmão de Edgar que foi adotado por outra família, Henry Wadsworth Longfellow.

No Ministério, porém, as formalidades arrastam-se, e o jovem decide dar um salto a Baltimore, a fim de aí travar conhecimento com seu irmão Henry, oficial da Marinha. Instala-se em casa de Maria Clemm, irmã de seu pai, e passa o tempo a escrever, a discutir literatura com Henry e a jogar com a sua priminha Virgínia. É este um dos raros períodos felizes da sua vida. A sorte sorri-lhe também no campo literário. Na sequência de uma apreciação favorável do crítico John Neal e da sua publicação na “Yankee and Boston Literary Gazette”, o seu poema “Al Aaraaf”, é editado com Tamerlão e Outros Poemas. Não é evidentemente ainda a glória, mas pelo menos Edgar já não é um desconhecido no mundo das letras.

 John Kennedy Pendleton, amigo, benfeitor e protetor de Edgar.

Pouco depois o poeta precoce entra em West Point. Nos primeiros meses declara-se “extremamente satisfeito com tudo e todos”. Mas não tarda que a falta de dinheiro e a vida dispendiosa que ele sustenta para afinar pelo diapasão dos seus camaradas mais ricos o obriguem a contrair dívidas que, como de costume, John Allan se recusa a pagar. O negociante voltara, aliás, a casar recentemente e estava finalmente à espera de um herdeiro legítimo. Não podendo mais contar com a fortuna de Allan, Edgar resolve abandonar a Academia. Começa a faltar às aulas, deserta do posto da guarda. A 28 de janeiro de 1831, o Tribunal Militar expulsa-o ignominiosamente de West Point. Edgar dirige-se sem perda de tempo a Nova Iorque, para aí fazer editar um novo livro, “Poemas”, utilizando para esse efeito dinheiro extorquido aos seus camaradas da Academia. Não logrando obter um emprego em Nova Iorque, Edgar vê-se forçado a partir para Baltimore e a instalar-se de novo em casa de sua tia Clemm. Os juízos dos biógrafos de Poe acerca desta mulher são contraditórios. Baudelaire vê nela “o anjo bom do poeta” e Slater o “vampiro do amor” que o domina. Como quer que seja, Maria Clemm ajuda-lo-á a vencer muitas crises.

A tia de Edgar, Maria Plemm.

Poe passa todo o inverno em casa da tia Clemm. Sustenta com uma jovem vizinha, Mary Devereaux, uma intriga sentimental muito séria, que, aliás, termina bruscamente quando o noivo perfeito se apresenta em casa da jovem perdido de bêbado e é posto porta fora. Enfim, em 1833 obtém o primeiro sucesso concreto. Edgar ganha o prêmio de 50 dólares num concurso organizado pelo “Saturday Visiter”, de Baltimore com o seu conto “Manuscrito encontrado numa garrafa”. O crítico Kennedy, membro eminente do júri, simpatiza fortemente com o jovem autor e recomenda-o ao diretor do “Southern Literary Messenger” de Richmond, Thomas White, que o contrata imediatamente como redator para todo o serviço. 

Thomas Willis White, diretor do jornal "Southern Literary Messeger", que contrata Edgar como redator.

É assim que Edgar volta para Richmond, onde, entretanto (27 de março de 1834) o seu pai adotivo morrera sem sequer o mencionar no seu testamento. Decidido a conquistar a glória, Poe atira-se ao trabalho com toda a gana e toda a paixão de que é capaz. “Agora sou feliz, tenho na minha frente uma excelente expectativa de triunfo” escreve ele a Kennedy. Porém, alguns meses volvidos os seus sentimentos já mudaram. “Nesta altura encontro-me num estado verdadeiramente lastimoso. Sofro de uma depressão mental como jamais experimentei. Tenho lutado em vão contra a melancolia. Encontro-me, pois, num estado miserando, e ignoro porquê.” Começa a beber e perde o gosto pela profissão. Thomas White despede-o. Mas readmite-o em 1835, sempre a pedidos reiterados de Kennedy.  Desta vez Edgar chega a Richmond acompanhado de Maria Clemm e de Virgínia, melhor, Virgínia Poe. Com efeito, a 22 de setembro a priminha tornara-se secretamente sua mulher. Tem apenas 13 anos! Edgar entrega-se a um trabalho tenaz e duro, a tiragem do jornal aumenta vertiginosamente, e White nomeia-o redator-chefe, como o ordenado mensal de 800 dólares.

A esposa de Edgar Virgínia Clemm.

sábado, 12 de setembro de 2015

Clive Staples Lewis, uma biografia.


Clive Staples Lewis, comumente mais referido como C. S. Lewis (Belfast, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, atual Irlanda do Norte, 29 de novembro de 1898 — Oxford, Inglaterra, Reino Unido, 22 de novembro de 1963), foi um professor universitário, escritor, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e apologista cristão britânico. Durante sua carreira acadêmica, foi professor e membro do Magdalen College, tanto da Universidade de Oxford como da Universidade de Cambridge. Ele é mais conhecido por seus trabalhos envolvendo a apologia cristã, incluindo as obras O Problema do Sofrimento (1940), Milagres (1947) e Cristianismo Puro e Simples (1952), e a ficção e a fantasia, sendo as obras As Crônicas de Nárnia (1950-56), Cartas de um diabo ao seu aprendiz (1942) e Trilogia Espacial (1938-45), exemplos de sua produção literária voltadas para esses temas. Foi também um respeitado estudioso da literatura medieval e renascentista, tendo produzido alguns dos mais renomados trabalhos acadêmicos envolvendo esses temas no século XX.

Em vida, foi grande amigo do também professor universitário e escritor britânico J. R. R. Tolkien (1892-73). Juntos, os dois serviram como membros do corpo docente da Faculdade de Língua Inglesa da Universidade de Oxford e lideraram o grupo informal de discussão e colaboração literária The Inklings. Apesar de ter sido criado ao longo da infância dentro das tradições da Igreja da Irlanda, se tornou um ateu convicto na altura de sua adolescência, seguindo essa linha de convicção pessoal até o início de sua idade adulta, quando, por intermédio de Tolkien, voltou a professar a fé cristã, se tornando um árduo defensor do cristianismo até o fim de sua vida e carreira.

Nascido na cidade de Belfast, Irlanda (atual Irlanda do Norte), em 29 de novembro de 1898, Clive Staples Lewis cresceu no meio dos livros da seleta biblioteca particular de sua família, criando nesta atmosfera cultural um mundo todo próprio, dominado por sua fértil imaginação e criatividade. Filho caçula de Albert James Lewis (1863-1929) e de sua esposa, Florence Augusta Lewis (1862-1908), Clive foi descrito como uma "criança sonhadora". Quando tinha três anos, decidiu adotar o nome de "Jack", pelo qual ficaria conhecido na família e no círculo de amigos próximos durante toda a vida.


Quando eram adolescentes, Lewis e seu irmão Warren Lewis (1895–1973), três anos mais velho que ele, passavam quase todo o seu tempo dentro de casa dedicando-se à leitura de livros clássicos, e distantes da realidade materialista e tecnológica do século XX. Aos 10 anos, em 1908, a morte prematura de sua mãe fez com que ele ainda mais se isolasse da vida comum dos garotos de sua idade, buscando refúgio no campo de suas histórias e fantasias infantis.

Na sua adolescência encontrou a obra do compositor Richard Wagner e começou a se interessar pelas mitologias nórdica e grega, e por línguas, como o latim e o hebraico.

Sua educação foi iniciada por um tutor particular, ainda na Irlanda, sendo enviado a Malvern College, em Worcestershire, Inglaterra, aos 12 anos de idade. Em 1916, aos 18 anos, foi admitido no University College, em Oxford, Inglaterra. O serviço militar exigido pela Primeira Guerra Mundial (1914–18) interrompeu seus estudos. Em 1918, aos 20 anos, retornou à Oxford.

Durante a Primeira Guerra Mundial conheceu outro soldado irlandês, Paddy Moore, com quem travou amizade. Os dois fizeram uma promessa: se um deles falecesse durante o conflito, o outro tomaria conta da família respectiva. Moore faleceu em 1918 e Lewis cumpriu seu compromisso. Após o final da guerra, procurou a mãe de Paddy Moore, a senhora Janie Moore, com quem estabeleceu uma profunda amizade até a morte desta em 1951. Lewis viveu em várias casas arrendadas com Moore e a sua filha Maureen, facto que desagradou o seu pai. Por esta altura Clive já abandonara o cristianismo no qual fora educado.


Formando-se com louvor em letras e literatura aos 22, em 1920, em Oxford. Também se formou em teologia e linguística. De 1925 a 1954, lecionou no Magdalen College, também em Oxford, fazendo parte do corpo docente e servindo de consultor literário e teólogo da Universidade até sua morte, em 1963. Foi professor de Literatura Medieval e Renascentista na Universidade de Cambridge, em Cambrigde. Tornou-se altamente respeitado neste campo de estudo em toda a Europa, tanto como professor quanto como escritor. Seu livro A Alegoria do Amor: um Estudo da Tradição Medieval, publicado em 1936, é considerado por muitos seu mais importante trabalho, pelo qual ganhou o prêmio Gollansz Memorial de literatura. Em Oxford conheceu vários escritores famosos, como J. R. R. Tolkien (autor de O Senhor dos Anéis, de quem viria a se tornar grande amigo, discutindo com quem, numa noite em 1931, converteu-se ao cristianismo), T. S. Eliot, G. K. Chesterton e Owen Barfield.

Lewis voltou à fé cristã no início da década de 1930. Dedicou-se a defendê-la e permaneceu na Igreja Anglicana (o conhecido teólogo evangélico J. I. Packer foi clérigo na igreja que Lewis frequentava). Tornou-se popular durante a II Guerra Mundial, por suas palestras transmitidas pela rádio e por seus escritos, sendo chamado de "apóstolo dos céticos", especialmente nos Estados Unidos.


Lewis notabilizou-se por uma inteligência privilegiada, e por um estilo espirituoso e imaginativo. "O Regresso do Peregrino", publicado em 1933, "O Problema do Sofrimento" (1940), "Milagres" (1947), e "Cartas de um diabo ao seu aprendiz" (1942), são provavelmente suas obras mais conhecidas. Escreveu também uma trilogia de ficção científico-religiosa, conhecida como a "Trilogia Espacial": "Além do Planeta Silencioso" (1938), "Perelandra" (1943), e "Aquela Força Medonha" (1945). Para crianças, escreveu uma série de fábulas, começando com "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" em 1950. Sua autobiografia, "Surpreendido pela Alegria", foi publicada em 1955.

É bastante conhecida sua influência sobre personalidades ilustres da nossa época, dentre elas Margaret Thatcher, ex primeira ministra do Reino Unido. Seus livros foram lidos pelos seis últimos presidentes americanos, e muitos de seus pensamentos foram citados em seus discursos. Venderam-se mais de 200 milhões de cópias dos 38 livros escritos por Lewis, os quais foram traduzidos para mais de 30 línguas, incluindo a série completa de Nárnia para o polonês, ainda durante a Guerra fria, e o russo. Entre 1996 e 1998, quando foi celebrado o seu centenário, foram escritos cerca de 50 novos livros sobre sua vida e seus trabalhos, completando mais de 150 livros desde o primeiro, escrito em 1949 por Chad Walsh: "C. S. Lewis: O Apóstolo dos Céticos". Deu-se seu nome a um asteróide, o 7644 Cslewis, descoberto em 4 de novembro de 1988 por Antonín Mrkos.


Lewis e Tolkien foram grandes amigos durante décadas, até a morte de Lewis (em 1963, aos 64 anos, quase dez anos antes da morte do próprio Tolkien), e essa amizade foi explorada no livro O Dom da Amizade: Tolkien e C. S. Lewis. De fato, Lewis contribuiu para a existência de O Senhor dos Anéis, sendo um dos primeiros a ler O Hobbit; Tolkien jamais deixou de admirar a grande inteligência e criatividade de Lewis, e vice-versa.

Frases Famosas de C.S. Lewis

“O perdão vai além da justiça humana; é perdoar aquelas coisas que absolutamente não podem ser perdoadas.”

(C. S. Lewis)

“Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.”

(C. S. Lewis)

“[Eu] Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso ir faz o caminho.”

(C. S. Lewis)

“Eu acredito no cristianismo como eu acredito no sol, não por aquilo que ele é,mas que através dele eu posso ver tudo ao meu redor.”

(C. S. Lewis)

“Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.”

(C. S. Lewis)

“O carinho é responsável por nove-décimos de qualquer felicidade sólida e durável existente em nossas vidas. “

(C. S. Lewis)

“Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes.”

(C. S. Lewis)

“Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo.”

(C. S. Lewis)

“Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.”

(C. S. Lewis)

“Os conservadores são pessimistas quanto ao futuro e otimistas quanto ao passado.”

(C. S. Lewis)

“O cristianismo, se for falso, não tem valor; se for verdadeiro, tem valor infinito. A única coisa que lhe é impossível é ser mais ou menos importante.”

(C. S. Lewis)

“Comecei uma dieta, cortei a bebida e comidas pesadas e, em catorze dias, perdi duas semanas.”

(C. S. Lewis)

“A questão é saber se você pode obrigar as palavras a querer dizer coisas diferentes. A questão é mostrar a elas quem manda...”

(C. S. Lewis)

“Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento.”

(C. S. Lewis)

“Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.”
(C. S. Lewis)

“Eu... eu... nem eu mesmo sei, nesse momento... eu... enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então.”

(C. S. Lewis)

“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.”

(C. S. Lewis)

“Mas os poços da fantasia acabam sempre por secar e o contador de histórias, cansado tentou escapar como podia: o resto amanhã... Já é amanhã.”

(C. S. Lewis)

“Eu acredito no Cristianismo como acredito no brilho do sol, não simplesmente porque eu o veja, mas porque, através dele, posso ver todas as outras coisas.”

(C. S. Lewis)

" O problema real da vida crista aparece onde as pessoas normalmente nao o procuram. Ele aparece no instante em que você acorda cada manha. Todos os desejos e esperanças para o dia correm para você como animais selvagens. E a primeira tarefa de cada manha consiste simplesmente em empurra-los todos para trás; em dar ouvidos a outra voz, tomando aquele outro ponto de vista, deixando aquela outra vida mais ampla, mais forte e mais calma entrar como uma brisa. E assim por diante, todos os dias. Mantendo distancia de todoas as inquietações e de todos os aborrecimentos naturais, protegendo-se do vento. No começo, nos somos capazes de faze-lo somente por alguns momentos. Mas então o novo tipo de vida estará se propagando por todo o nosso ser, porque então estamos deixando Cristo trabalhar em nos no lugar certo. Trata-se da diferença entre a tinta, que esta simplesmente deitada sobre a superfície, e uma mancha que penetra na. Quando Cristo disse "sede perfeitos", quis dizer isso mesmo. Ele quis dizer que temos que entrar no tratamento completo. Pode ser duro para um ovo se transforma e em um pássaro; seria uma visão deveras divertida, e muito mais difícil, tentar voar enquanto ainda se um ovo. Hoje nos somos como ovos. Mas você não pode se contentar em ser um ovo comum, ainda que decente. Ou sua casca se rompe ou você apodrecera."

(C.S Lewis) - Cristianismo Puro e Simples

“Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto , você não deve entregá-lo á ninguém , nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro , sem movimento , sem ar - ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável , irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e pertubações do amor é o inferno.”

(C.S. Lewis) - Os quatro amores

 “O bem, quando amadurece, se mostra cada vez mais diferente, não só do mal, mas de qualquer outro bem. - O mal pode ser desfeito, mas não pode "transformar-se" em bem.”
(C.S. Lewis)

“Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.”
(C. S. Lewis)


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Construindo História Hoje: Download de livros gratuitos.



O Construindo História Hoje esta abrindo uma iniciativa de incentivo e popularização da leitura. O projeto visa popularizar a distribuição de grandes clássicos da literatura brasileira e mundial, disponibilizando versões digitais para download gratuito. No decorrer do projeto, serão incorporados novos títulos distribuídos gratuitamente.

*Todos os livros encontrados para baixar no site Construindo História Hoje não violam direitos autorais. Disponibilizarei diversos livros que já estão com direitos autorais liberados, segundo as leis brasileiras.


# Para maiores informações acesse (Página de download):



Construtor CHH

Criador e administrador do
Projeto Construindo História Hoje.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A busca pela identidade de William Shakespeare


Intrigas, paixões, discórdias e polarizações. O que parece descrição de uma peça de William Shakespeare é, ironicamente, parte dos tons shakespearianos do debate sobre a identidade do autor de sua obra. Duvidar que o filho de um fabricante de luvas de Stratford-Upon-Avon é o mesmo gênio por trás de clássicos como Hamlet e Romeu e Julieta não é novidade. Mas os últimos anos trouxeram uma intensificação de argumentos. Em 2011, Hollywood embarcou de vez na onda cética com Anônimo. Pelo argumento do filme, Shakespeare era apenas o testa de ferro do verdadeiro escritor talentoso, Edward de Vere, o 17o Barão de Oxford. Em abril deste ano, o contra-ataque veio na forma de Shakespeare Sem Sombra de Dúvida, uma coleção de ensaios reunindo alguns dos mais renomados estudiosos da obra do bardo na forma de um detalhado desmanche dos argumentos dos que duvidam da versão oficial dos fatos.

Assim como Montéquios e Capuletos, a questão da autoria também se divide em clãs tão passionais como os dos amantes da tragédia. Stratfordianos são os que defendem o status quo. Os oxfordianos advogam a causa de De Vere. O cenário se complica porque existem subdivisões entre os céticos, desde os que acenam com candidatos mais polêmicos a autor das peças e sonetos, como o poeta Francis Bacon, a acadêmicos que apenas levantam dúvidas sobre a história oficial - como é o caso de Bill Leahy, coordenador de um programa de pós-graduação em estudos autorais de Shakespeare da Universidade de Brunel, em Londres. "Existem razões suficientes para questionarmos se William Shakespeare de Stratford-Upon-Avon foi capaz de produzir esse imenso volume de peças e sonetos. Isso por si só é uma razão para estimularmos o debate e o estudo, cumprir nosso dever como acadêmicos", afirma o expert em literatura do Período Elizabetano (o reinado de Elizabeth I, entre 1558 e 1603).

O problema é que colegas de Leahy não costumam receber com seriedade argumentos questionando a linha oficial. Stanley Wells, presidente do Shakespeare Birthplace Trust, a ONG que cuida do legado do poeta em Stratford-Upon-Avon, classifica o ceticismo como mera teoria conspiratória. Wells guardou mágoa especialmente do grupo de acadêmicos, atores e intelectuais que assinaram um manifesto online com apoio às teorias anti-stratfordianas. "Esse questionamento absurdo deixou de ser obra de amadores para se infiltrar em círculos mais sérios e isso é preocupante", afirma Wells, autor de vários livros sobre a obra de Shakespeare.

Mas há razão para dúvidas? O problema é a falta de documentos sobre William Shakespeare. O pouco que se sabe sobre o homem que nasceu em Stratford é que viveu entre 1564 e 1616 e ganhou dinheiro trabalhando como ator, sócio do Globe Theatre em Londres e até como comerciante de grãos. Nenhum de seus manuscritos sobreviveu. O mais importante documento ligado a ele é o Primeiro Folio, uma antologia impressa de 36 peças publicadas em 1623 com a assinatura de Shakespeare e o mais antigo retrato do homem de Stratford.

Poucos registros

Para alguém tão prolífico com a pena, a ausência de uma profusão de documentos ajuda a alimentar o ceticismo. Ainda mais porque um dos poucos registros deixados por William Shakespeare são seis assinaturas em que seu sobrenome, por sinal, é soletrado de maneiras diferentes, o que faz com que muitos anti-strat-fordianos usem as discrepâncias como evidência de que o filho do fabricante de luvas não teria cacife para produzir tamanho material. "Há estudos mostrando que o autor das peças e sonetos teria um vocabulário composto de 17 mil a 29 mil palavras. Me parece um pouco improvável que alguém com origens mais humildes no Período Elizabetano tivesse capacidade intelectual de produzir tamanha obra", afirma o jornalista Mark Anderson, autor de Shakespeare by Another Name ("Shakespeare com outro nome", em tradução livre), livro de 2006 que defende a causa de De Vere.

Oxfordianos têm boas suas razões para defender o barão. O argumento principal é que só alguém como De Vere, com enorme trânsito na corte, poderia exibir o conhecimento sobre bastidores da nobreza que tanto permeia as peças de Shakespeare envolvendo reis e aristocratas. Mais interessante é o fato de que o barão viveu na mesma Itália que é palco de alguns dos mais populares textos shakespearianos, como a Verona de Romeu e Julieta e a cidade de O Mercador de Veneza, funcionando como uma espécie de embaixador de Elizabeth I.

"Parece-me um nível de conhecimento fora de comum para alguém que, de acordo com o que há de registros oficiais, jamais saiu da Inglaterra, enquanto existe extensa evidência da passagem de De Vere pela Itália. Ele esteve nas dez cidades que Shakespeare cita em sua obra", diz Anderson. O barão também foi um notório mecenas das artes, dono de duas companhias teatrais, além de escrever poemas. Mas De Vere morreu em 1604 e as peças continuaram aparecendo. Uma delas foi A Tempestade, que de acordo com estudiosos se baseou em um famoso naufrágio de 1609, envolvendo uma missão de povoamento enviada aos territórios hoje conhecidos como Estados Unidos.

Céticos também apontam para a mediocridade do testamento de Shakespeare. Escrito em linguagem nada poética, o documento sequer menciona livros, poemas ou as 18 peças que ainda não tinham sido publicadas na época de sua morte. Seu funeral tampouco foi registrado com grandes demonstrações públicas de emoção, e a primeira homenagem escrita só veio justamente na capa do Primeiro Folio.

"É essa falta de conexões do homem com a obra que tem de ser abordada. Todos os autores importantes contemporâneos de Shakespeare deixaram o que se pode chamar de trilha de papel. Cristopher Marlowe é um exemplo, embora sua produção tenha sido bem menor que a do bardo. Também incomoda que um homem tão letrado como Shakespeare não tenha escrito um grande volume de cartas, ainda mais quando foi morar em Londres e deixou a família em Stratford", diz Bill Leahy. No entanto, o próprio Leahy concorda com uma questão crucial. Diferentemente dos tempos modernos, o papel no século 16 não era um produto barato, apesar de a invenção da imprensa por Gutemberg ter derrubado em mais de 300 vezes os custos de produção de um livro. Documentos e afins eram "reciclados", o que também ajuda a explicar, por exemplo, a ausência de materiais como o histórico escolar de Shakespeare.

Isso porque para alguns acadêmicos também há um conflito de classes na discussão. Paul Edmondson, um dos diretores do Birthplace Trust e que coeditou Shakespeare Sem Sombra de Dúvida, critica o que vê como preconceito na causa oxfordiana. "O que mais me incomoda em tudo isso é termos que combater o argumento de que alguém da classe trabalhadora não poderia ter produzido literatura de alto nível. Isso não é apenas historicamente incorreto, mas preconceituso", diz Edmondson.

Coautoria

Uma das experts recrutadas para o livro foi Carol Chillington, pesquisadora da Universidade de Warwick especializada na história do sistema educacional do Reino Unido. É dela que vem uma preciosa análise do currículo das escolas secundárias do Período Elizabetano. De acordo com seus estudos, alunos desses estabelecimentos não só tinham uma grade de disciplinas que incluía o latim, mas também uma lista de leitura de obras clássicas que hoje equivaleria a de uma ementa universitária.

Outro trunfo dos stratfordianos é uma análise feita pelo linguista David Kathman, especialista em dialetos arcaicos do inglês. Seu veredito é que os textos estão repletos de regionalismos relacionados a Warwickshire, onde fica Stratford-Upon-Avon. "Também temos análises de padrão métrico dos versos escritos por De Vere e por Shakespeare que revelam a impossibilidade de uma mesma pessoa ter escrito ambos", afirma Edmondson.

A polêmica ajudou a revelar detalhes interessantes não apenas sobre William Shakespeare, mas também sobre seus métodos de trabalho. Há um ano, duas acadêmicas da Universidade de Oxford, Laurie Maguire e Emma Smith, publicaram um estudo em que provaram que Shakespeare não escreveu sozinho a peça Tudo Está Bem Quando Termina Bem - a dupla até nomeou o escritor e dramaturgo Thomas Middleton como coautor. Smith garante que não foi um "a-rá" para os céticos, mas uma mostra de como entender a questão da autoria.

"O estudo ajuda a mostrar um quadro em que autores escreviam de modo muito mais colaborativo no Período Elizabetano do que se pode imaginar hoje. Trabalhavam de uma forma bem diferente do que imaginamos e romantizamos", afirma Smith. Mais do que celebridades, escritores do século 16 tinham um perfil mais operário, em que a quantidade ditava o ritmo. Companhias teatrais recorriam a diversos autores para chegar ao texto final de peças. E eles não tinham pudor em pegar emprestado trabalhos alheios. "A noção atual de plágio não se aplica a eras passadas. A apropriação era muito mais tolerada."

Os dois clãs concordam em um ponto: o debate não tem data para acabar. "A não ser que alguém encontre algum documento perdido, não se poderá dizer ao certo, mas nem por isso podemos deixar de questionar pontos duvidosos da versão oficial dos fatos, mesmo que firam interesses financeiros", afirma Bill Leahy. Graças a Shakespeare, Stratford-Upon-Avon recebe 5 milhões de visitantes por ano. Emma Smith, que não participou do projeto stratfordiano comandado por Edmondson, acredita que o questionamento tende muito mais à excentricidade do que a ameaça vista pelo Shakespeare Trust. "A reação exacerbada só serviu de munição para quem fomenta teorias conspiratórias. O meio acadêmico deveria aceitar que uma figura tão poderosa quanto William Shakespeare não teria como deixar de ser alvo de ideias de fantasia."

Quem são os candidatos ao posto de maior poeta e dramaturgo inglês

Cristopher Marlowe

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

William Shakespeare, Parte V: A tragédia do Rei Ricardo III.



Dramaturgo e poeta britânico. Considerado poeta nacional inglês e maior dramaturgo da literatura universal. Suas obras foram amplamente publicadas e traduzidas para todas as principais línguas do mundo.
 
“Meu reino por um cavalo!”
(Ricardo, Ato V, Cena IV)

Esta frase célebre, fora de seu contexto, não revela o brilho e a força do gênio criativo de Shakespeare. Pois nessa única frase está sintetizado o mais poderoso estudo sobre a ambição humana que já tive a oportunidade de conhecer.

Altíssimo brilho, catarse sublime! A tragédia é um estilo fora de moda em nossos tempos, substituída que foi pelos terrores diários dos jornais televisivos. Mas as chacinas, corrupções e catástrofes com que somos bombardeados pela mídia são um pobre substituto para as obras inspiradas por Melpômene, a musa da Tragédia. Pois não há aprendizado e nem crescimento em testemunhar um sofrimento sem sentido.

“Ricardo III” é a segunda melhor tragédia de Shakespeare. Só perde para “Macbeth”, em minha opinião. As duas têm muito em comum, e principalmente uma característica que considero a mais alta expressão literária. Eu já havia detectado essa característica em algumas poucas e muito queridas obras, de cabeça agora lembro de “Sobre Meninos e Lobos” do Dennis Lehane. Mas foi só agora, ao ler pela segunda vez “Ricardo III”, que pude definir melhor que característica é essa.

No entender de Hermann Broch (autor de “Os Inocentes”), toda obra de arte deve expressar uma totalidade. Isso é admiravelmente alcançado em um romance (ou peça teatral) quando o autor consegue ligar efetivamente cada ato a sua consequência, cada ação ao seu resultado. Uma história esteticamente perfeita, percebo agora, é a que retrata bem o misterioso e inescapável conceito de “karma” (palavra em sânscrito que significa “ação”).

“Ricardo III” é um poderoso exemplo dessa totalidade. Que obra!!!


O lado Negro

A peça é repleta de passagens de grande lirismo, com a alta poesia sendo utilizada para retratar o lado mais sombrio do homem.

O cinismo de Ricardo, por exemplo, é expresso lindamente nessa fala que ele dirige a seu irmão mais velho:

“Tenho-te tal amor que dentro em pouco
mandarei para o céu tua alma cândida,
se aceitar destas mãos o céu a oferta.”
(Ricardo, Ato I, Cena I)

Ou então nessa passagem em que ele arquiteta casar-se com a mulher do homem que acabou de matar:

“Logo tomo
por mulher a mais nova filha de Warwick.
Que importa que ao seu pai e a seu marido
tivesse eu dado a morte? O melhor meio
de dar satisfações a essa donzela
é ficar sendo dela pai e esposo,
o que farei, não por amor, decerto,
mas por um fim profundamente oculto
que preciso alcançar com o casamento.”
(Ricardo, Ato I, Cena I)

A cena em que Ricardo faz a corte a Ana é sem dúvida uma das mais marcantes da história da literatura. Ele a conquista durante o funeral do Rei Henrique VI, assassinado por ele:

“Já houve, acaso, mulher, em todo o mundo,
que fosse cortejada desse modo?”
(Ricardo, Ato I, Cena II)


A força das palavras

“Ricardo III” é também um testemunho sobre a força das palavras. É impressionante como o Bardo conseguiu tecer uma trama tão intrincada, onde o destino de cada personagem é antecipado por toda sorte de profecias e maldições. Exemplar é o caso do Duque de Buckingham, que foi ele mesmo o autor das palavras que o condenaram:

“O Deus do alto,
que tudo vê, com quem eu gracejara,
fez contra mim voltar a falsa prece,
dando-me de verdade o que eu pedira
somente por gracejo.”
(Buckingham, Ato V, Cena I)

O próprio Ricardo demonstra em suas palavras a progressão e amargo fim de toda ambição. Ele começa cheio de gás e disposto a fazer todo tipo de maldade:

“Sol admirável,
brilha até que eu adquira um bom espelho
para eu ver com que monstro eu me assemelho.”
(Ricardo, Ato I, Cena II)

Logo, porém, ele percebe que se torna um escravo de suas próprias ações infames:

“Mas tão metido em sangue ora me encontro,
que um crime provoca outro.”
(Ricardo, Ato IV, Cena II)

A lei do Karma

Nenhuma ação humana, boa ou má, permanece sem consequência. Essa é, em essência, a lei do Karma. “O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória”, já diz o sábio ditado.

E as pérfidas ações de Ricardo maturam tetricamente e não tardam a produzir horrendos frutos. Cena poderosíssima é a aparição dos fantasmas dos assassinados pela ambição de Ricardo, na madrugada que antecede a batalha. Cada um deles, por sua vez, lança a pesada maldição:

“Amanhã pesarei sobre tua alma!
(...) Enche-te, pois, de desespero, e morre!”
(vários espectros, Ato V, Cena III)

Ricardo desperta assustado, e pela primeira vez tem um encontro com a voz da consciência:

“Ó consciência covarde, tu me assustas!”
(Ricardo, Ato V, Cena III)

E chega por fim à triste conclusão:

“Desespero; criatura alguma me ama.
Se eu morrer, nenhuma alma há de chorar-me.
Aliás, por que o fariam, se eu não tenho
piedade de mim próprio?”
(Ricardo, Ato V, Cena III)


Outras passagens marcantes:

“Perdida fora a mágoa
despendida por quem já está perdido.”
(Duquesa de York, Ato II, Cena II)

“É meu filho, de fato, e o meu opróbrio;
mas não bebeu, decerto, a hipocrisia
no leite destes peitos.”
(Duquesa de York, Ato II, Cena II)

“Não cedais facilmente aos nossos rogos;
neste ponto fazei como as donzelas
que dizem sempre não, mas vão cedendo.”
(Buckingham, Ato II, Cena VII)

“Ricardo apenas vive, o negro agente
do inferno, a quem foi dado o triste encargo
de comprar almas para o reino escuro.”
(Rainha Margarida, Ato IV, Cena IV)

“Veloz como a andorinha é a fé, eu o sei:
de reis faz deuses, de um campônio, um rei.”
(Richmond, Ato V, Cena II)

Last but not least

Foi uma sorte que justamente essa peça, que eu já havia lido no original, tenha sido a última das oito que li em sequência, na dedicada tradução de Carlos Alberto Nunes.

Pois não tem jeito mesmo: traduzir é trair. Que misteriosa é a linguagem humana, capaz de expressar uma cor única em cada idioma! Nunca fica a mesma cor depois de traduzida. Não é culpa da tradução, e sim uma condição inerente à linguagem!

Ao ler no original em inglês, duas passagens ficaram marcadas a ferro e fogo na memória, tamanha a sua força poética. E ao ler as duas em português, a decepção foi gigantesca!

A primeira é a frase que abre a peça: