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segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Viagem do “Dragão Feliz” Fukuryu Maru.


            O trabalho que se segue é uma exposição clara da falta de respeito e responsabilidade das autoridades envolvidas em testes com armamentos nucleares tanto no passado, quanto no presente. E nós como historiadores não podemos deixar eventos como o ocorrido com o navio pesqueiro Fukuryu Maru (Dragão Feliz) serem esquecidos. O perigo nuclear está presente hoje tão vivo quanto estava na década de 1950, do século passado, a diferença é a aparente estabilidade das grandes nações nucleares, mas elas mesmas são cientes de quão tênue é está paz, que negam-se a desfazerem-se de seus arsenais. Sendo os Estados Unidos o líder com 13 mil ogivas (ICBM’s - intercontinental ballistic missile) em mísseis, seguido da Rússia com 10 mil ogivas em mísseis (ICBM’s). Compete agora a cada leitor do Construindo História Hoje, tirar suas próprias conclusões a respeito do perigo nuclear.

“A comovente história de um pequeno barco de pesca japonês e seus 23 tripulantes, vítimas de uma catástrofe inesperada (...) com efeitos de significação para todo o mundo em toda parte.”


            Pouco antes do alvorecer do dia 1° de março de 1954, o barco japonês de pesca de arrasto Fukuryu Maru (Dragão Feliz) vagava com os motores parados pelas águas clamas do Pacífico Central. Tinha lançado suas linhas de pesca de atum pela última vez e não tardaria a rumar para seu porto de Yaizu, 200 quilômetros ao sul de 
Tóquio.

            De repente os céus se incendiaram a oeste e um grande clarão de luz amarelo-esbranquiçada se esparramou de encontro às nuvens. Foi como se a transição gradual da noite para a aurora tivesse sido afastada bruscamente para que se inundasse de luz o oceano. A cor mudou para um vermelho-amarelo e finalmente para uma bola de chama vermelho-alaranjada no horizonte. O vistoso espetáculo parecia um sol poente, sendo, porém várias vezes mais brilhante, embora não o fosse bastante para magoar a vista.

            Na ponte, o mestre-de-pesca Yoshio Misaki fitou sem acreditar o estranho espetáculo. A tripulação subiu para o tombadilho, falando excitadamente.

            __O Sol está nascendo no ocidente! __ exclamou um dos homens.

            Disse outro:

            __Não será um pika-don?



            O termo é novo na língua japonesa. Nascido no terror em Hiroshima compõe-se das palavras “trovão” e “clarão”.

            O comandante Hisakichi Tsutsui, que dormia no seu beliche, reagiu devagar. Quando se reuniu a Misaki, na ponte, a cor a oeste mal se distinguia. A escuridão voltara. Reinava completo silêncio.

            Alguns minutos depois o barco estremeceu como se tivesse sido sacudido por baixo e um grande ruído o envolveu, parecendo vir ao mesmo tempo de cima e de baixo. Aterrorizados, alguns homens se atiraram ao chão e cobriram a cabeça.

            Os oficiais tiveram uma rápida conferência. Em seguida Misaki deu a ordem:

            __Ligar os motores e recolher as linhas.

            Os homens trabalhavam depressa ansiosos por deixar aquelas águas.

            O radiotelegrafista Aikichi Kuboyama de 39 anos era um dos mais velhos dos 23 homens da tripulação. Tinha também fama de ser o mais inteligente. Provou isso calculando a velocidade do som. Haviam transcorrido quase sete minutos desde que viram o clarão até que ouviram o estrondo. A multiplicação desse tempo pela velocidade do som daria a distancia entre o navio e a explosão.


             O resultado aproximado foram 140 quilômetros ---- e os cálculos de Misaki com o sextante indicaram que o navio se encontrava a 137 quilômetros a lés-nordeste do Atol de Biquíni, nas Ilhas Marshall. Não podia haver: dúvida: o clarão brilhante viera de Biquíni.

            Umas duas horas depois o céu começou a mudar de aspecto, como se um grande nevoeiro estivesse se formando. Os homens que estavam trabalhando no tombadilho ficaram espantados a principio quando começaram a cair minúsculas partículas de uma cinza arenosa.

            __Parece o começo de uma tempestade de neve --- disse um deles.

            De repente vários tripulantes começaram a sentir dor nos olhos. O guincheiro Sanjiro passou a mão pelo cabelo e esfregou os olhos ardidos. Alguns dos homens provaram os flocos cinzentos-esbranquiçados. Uns disseram que era sal, outros que era areia. Todos concordaram em que era uma coisa muito desagradável.

            Pouco depois do meio-dia, todas as linhas tinham sido recolhidas. A estranha poeira branca havia, afinal, parado de cair, e Misaki ordenou ao timoneiro que rumasse para o norte. Os tripulantes que estavam limpando o convés principal verificaram que havia algo de esquisito naquelas areias brancas: não era fácil removê-las com água. A hora do almoço vários dos tripulantes manifestaram pouco apetite --- coisa rara, porque eles estavam sempre famintos depois de trabalhar tantas horas.


Queimaduras, efeitos da Bomba de Hidrogênio nos marinheiros.

            Após o almoço os tripulantes foram limpar o equipamento de pesca. Os quilômetros de corda molhada pareciam absorver especialmente bem a poeira branca. A corda foi guardada em caixas de madeira e estas empilhadas na popa, logo atrás da cozinha.

            Na manhã seguinte a tripulação acordou estranhamente indolente. O guincheiro Masuda verificou, consternado, que não podia abrir os olhos, pois tinha as pálpebras grudadas por um grosso corrimento amarelo. O chefe de máquinas Todashi Yamamoto teve dificuldade em enxergar, quando quis verificar os manômetros na casa de máquinas. Vários homens tinham enjoado durante a noite, mas apenas um, cujo beliche ficava na cabina de ré, passara tão mal que não aguentara o quarto de serviço da meia-noite. Os homens que tinham pegado nas cordas se queixavam de coceira e ardor na palma das mãos.

            Um dos marinheiros deu um pouco daquela cinza branca, embrulhada num papel, a Kuboyama. O radiotelegrafista, tencionando examiná-la depois, colocou a cinza debaixo do travesseiro em sua cabina. Ali ficou ela durante os 14 dias que o Dragão Feliz levou para chegar ao porto. Outros tripulantes também recolheram um pouco da estranha cinza; um deles pensou que poderia ser um símbolo de sorte.

            No dia 1° de março foi divulgada a seguinte comunicação, em Washington: “Lewis L. Strauss, Presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos comunicou hoje que a Sétima Força Mista Especial detonou um dispositivo atômico no Campo de Provas da C.E.A. , nas Ilhas Marshall. Esta detonação foi a primeira de uma série de experiências”.


Perda de cabelo e queimaduras, resultantes da exposição a radiação.

            Não fora noticiado antes que a C.E.A. levaria a efeito uma experiência nuclear na data em questão. A Junta Japonesa de Segurança Marítima havia recebido uma comunicação no dia 10 de outubro de 1953, aumentando a área interditada em torno do Atol de Eniwetok, que fora isolada para a experiência da primeira bomba de hidrogênio no dia 1° de novembro de 1952. Essa área acrescida incluía o Atol de Biquíni, mas nem o Comandante Tsutsui nem o mestre-de-pesca Misaki sabiam que Biquíni ia ser o local dessas novas experiências. Na realidade, o Dragão Feliz, no ponto em que mais se aproximara da zona perigosa, ainda ficara mais de 30 quilômetros para além de seu limite oriental. Ao que tudo indica, ventos de grande altitude arrastaram a nuvem da bomba na direção oposta à que esperavam os técnicos das provas.

            Aconteceram coisas curiosas durante a viagem de volta daquele pequeno barco de pesca ao seu porto. A tripulação da casa de máquinas subia constantemente ao tombadilho, queixando-se de estar passando mal. Todos os homens ficaram com um aspecto terroso, como se estivessem seriamente queimados de sol. O guincheiro Masuda disse aos companheiros de cabina que seu sentia febril. Quando o contramestre Masayoshi Kawashima coçava a cabeça, seu cabelo caía. Espantado, puxou o cabelo e um punhado dele ficou-lhe na mão.


Marinheiro Sangiro Masuda, do Fukuryu Maru.

            Isso fez soar uma campainha na mente de Kuboyama. Sua tia estava em Hiroshima quando a bomba atômica foi lançada, e ele se lembrava de que a queda de cabelo era um efeito ulterior da “doença da bomba atômica”. Kuboyama e Misaki conversaram sobre a possiblidade de uma relação entre a doença da tripulação e a estranha cinza que tombara do céu.

            Logo que o “Dragão Feliz” atracou em Yaizu, no dia 14 de março, seu proprietário notou que a tripulação estava escura. E, quando o mestre-de-pesca lhe falou na doença dos homens, concordou que deviam ir imediatamente para o Hospital.

            O Dr. T. Ooi, médico do hospital não conseguiu explicar o aspecto dos homens. Masuda, o mais gravemente afetado, apresentava queimaduras no rosto e nas mãos, mas todos estavam com boa disposição. Um dos pescadores opinou que haviam sido atingidos pelo que lhes pareceu uma explosão de uma bomba atômica. Mas como a luz não fora ofuscante, o médico concluiu que deviam estar a uma distância segura; se assim não fosse, alguns dos homens já teriam morrido. Alarmado, e com razão, concordou, não obstante, em mandar dois dos tripulantes para Tóquio a fim de serem examinados por um especialista em doenças provocadas por emanações radioativas. Foram escolhidos Masuda, por causa de suas graves queimaduras, e o maquinista Yamamoto, que apresentava a contagem de glóbulos brancos mais baixa.


             Na manhã de 16 de março, terça-feira, o Yomiuri Shimbun, um dos maiores jornais do Japão, dava este furo, em manchete, de um lado a outro de sua primeira página:

TESTE DE BOMBA ATÔMICA EM BIQUÍNI ATINGE PESCADORES JAPONÊSES.
23 Homens Sofrendo de Doença Atômica
BOMBA DE HIDROGÊNIO?

            Alertada pela notícia do jornal (cujo ponto de partida fora a indicação de um estudante de 17 anos que tinha parentes em Yaizu), a Divisão Sanitária da Prefeitura de Yaizu pediu ao Dr. Takanobu Hiokawa que fosse ao hospital e ao cais da cidade e verificasse se havia radioatividade. No hospital, o Dr. Shiokawa colocou o contador Geiger perto da cabeça de um dos tripulantes. O homem estava radioativo! Como não devia estar então o barco de pesca?

            O Dr. Shiokawa correu para o cais. Estava ainda a 30 metros do Dragão Feliz e já o contador Geiger começara a tiquetaquear aceleradamente. Nunca o Dr. Shiokawa encontrara radioatividade tão forte. O navio se encontrava superlotado de jornalistas, e, quando o Dr. Shiokaw abriu caminho através do tumulto, ficou evidenciado que a principal fonte de radioatividade estava localizada em algum ponto acima do compartimento de ré da tripulação. Era ali que os rolos de corda se achavam empilhados. Estavam intensamente radioativos. Durante toda a longa viagem de volta os homens da cabina de ré tinham dormido debaixo de uma poderosa fonte de irradiação.


Atum contaminado com radiação.

            Yaizu não foi à única cidade japonêsa a ser presa de nervosismo por causa da radioatividade. Em Osaka, o Dr. Yasushi Nishiwaki, professor de Biofísica na universidade local, foi chamado ao mercado central para ver se tinham sido mandados peixes de Yaizu para lá. Encontrou um atum que fez seu contador Geiger chocalhar com uma contagem alta. Os presentes murmuraram, com espanto: “Os peixes estão chorando!” --- e dali por diante o peixe radioativo passou a ser chamado “peixe chorão”. As autoridades descobriram que umas cem pessoas haviam comido  peixes contaminados. O medo invadiu a cidade e todos deixaram imediatamente de comprar peixe. Ao saber-se que o peixe fora eliminado do regime alimentar do Imperador, a história espalhou-se por todo o Japão. Alguns industriais do pescado foram levados à falência.

            Entrementes, os médicos que cuidavam dos marinheiros lutavam contra o tempo para descobrir o conteúdo da cinza. Podiam recorrer a dados médicos oriundo do estudo de milhares de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaqui. Mas o que tornava então confusa a situação era a presença de radioatividade residual. O cabelo do guincheiro Masuda, por exemplo, estava ainda tão radioativo que um pouco dele colocado sobre um filme fotográfico reproduzia no filme revelado uma imagem perfeita, como se tivesse sido fotografado com luz comum. Mesmo depois de se terem lavado e esfregado bem, os pescadores conservavam certa radioatividade na pele. Isso era algo sem precedentes na Ciência Médica.


Médico verifica o nível de contaminação em marinheiro do Fukuryu Maru.

            Por esse tempo foram divulgadas informações semi-oficiais sobre a tremenda explosão. O Deputado James Van Zandt, do Comitê Misto Sobre Energia Atômica do Congresso dos Estados Unidos, declarou que a bomba de hidrogênio que explodira em Biquíni possuía um incrível poder de destruição. A explosão equivalera ao rebentar de 12 a 14 milhões de toneladas de TNT --- era mil vezes mais forte do que a bomba atômica de Hiroshima.

            Aquela altura, todos os pescadores tinham sido transferidos para dois hospitais de Tóquio. Verificou-se que estavam sofrendo de uma redução do nível de glóbulos brancos e vermelhos do sangue e, para combater a anemia, fizeram-se repetidas transfusões. Ministraram-lhes antibióticos para aumentar sua resistência. Como as células sexuais são muito sensíveis à radiação, durante os meses de abril e maio os pescadores ficaram completamente estéreis.

            Ao chegar à primavera, os doentes se sentiram mais animados com cicatrização das lesões da pele e o renascimento dos pelos do corpo. Isso foi um bom sinal, porque com doses quase letais de radiação pode ocorrer perturbação permanente do crescimento do pelo. Parecia que os homens estavam sarando. O Japão inteiro respirou mais aliviado, também, quando os Estados Unidos comunicaram, em meados de maio, que as experiências de 1954 com as bombas, em Biquíni, haviam terminado.

            Mas o enigma persistia: que eram as “cinzas da morte”, as shi no hai que tinham caído sobre o Dragão Feliz? Duas vezes foi feita esta pergunta por cientistas japoneses a representantes norte-americanos, e duas vezes, por motivos de “segurança nacional”, ela deixou de ter resposta. Na terceira vez, Merril Eisenbud, Diretor do Laboratório de Saúde e Segurança e perito em poeira atômica, deu esta enigmática resposta.

            __Perguntem ao Dr. Kimura.

            O Dr. Kenjiro Kimura, brilhante radioquímico da Universidade de Tóquio, havia trabalhado em 1939 com o físico japonês Yoshio Nishina na desintegração do átomo de urânio e na produção de um tipo até então desconhecido, que denominaram urânio-237. O Dr. Kimura e uma equipe de 16 membros, juntamente com outros grupos de cientistas japoneses, passaram a trabalhar dia e noite na análise da cinza de Biquíni. Não tinham dúvida quanto ao fato de que o grosso da radioatividade da cinza era causada por átomos de urânio desintegrados. Era inevitável que o Dr. Kimura e os outros cientistas descobrissem a verdade sobre a bomba. Não se poderia esperar que o homem que descobriria o urânio-237 deixasse de nota-lo quando fosse posto diante dos seus olhos.

            Pela primavera de 1954 os cientistas japoneses tinham decifrado o enigma: a bomba de Biquíni era uma superarma numa embalagem de três em um. Primeiro estágio consistia numa espoleta comum de bomba atômica, que por sua vez fazia detonar um segundo estágio e provocava a fusão de átomos de hidrogênio. Essa reação da bomba de hidrogênio liberava então um dilúvio de nêutrons de alta energia que provocava o rompimento de uma camisa de urânio. No processo, produzia-se o urânio-237 como denunciador subproduto.

            Uma vez conhecida a natureza da cinza radioativa, puderam os cientistas japoneses avaliar a quantidade de radiação a que os pescadores tinham estado expostos. Calcularam que os tripulantes que estavam trabalhando no convés durante a manhã do dia 1º de março podiam ter, até ao meio-dia, recebido até 100 roentgens (medida de radiação ionizante) de radiação. (Uma dose letal vai de 300 a 700 roentgens.) Dali por diante a exposição devia ter diminuído de dia para dia.

            O Dragão Feliz não foi o único navio pulverizado com chuva atômica. Dez navios de guerra norte-americanos encontravam-se nas imediações, a 50 quilômetros de Biquíni, para observar a detonação, numa área que se considerava segura. Cerca de uma hora após se ter espalhado a enorme nuvem em forma de cogumelo, os oficiais notaram que o vento estava arrastando para o lado deles resto de nuvem. Os contadores Geiger do tombadilho começaram a funcionar. Na mesma hora os navios foram “abotoados”, isto é, todos os marinheiros desceram, depois de prenderem as escotilhas e vigias e cobrirem os respiradouros de bordo. Grandes quantidades de água foram espalhadas sobre os navios por meio de mangueiras e esguichos especiais para lavar a contaminação radioativa. Durante metade de um dia as tripulações suaram lá embaixo. Afinal, decidiu-se que já se podia “desabotoar” os navios sem perigo, e homens com roupas de borracha, capuzes e máscaras foram limpar a poeira caída que a cortina protetora de água não tinha lavado. Assim a C.E.A. e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos ficaram conhecendo, poucas horas depois da experiência, as dimensões e a intensidade da chuva atômica. Mas nenhum aviso foi irradiado para os navios que se achavam nas imediações, provavelmente porque os lábios das pessoas participaram da experiência estavam selados por motivos de segurança.


 Aikichi Kuboyama, a vítima fatal da atrocidade com o Fukuryu Maru.

            Em setembro, os tripulantes japoneses sofreram um choque terrível; morreu o seu querido companheiro, o radiotelegrafista Kuboyama. Com tantas transfusões de sangue tinham aumentado as probabilidades de hepatite infecciosa. Embora os outros não tardassem a sarar dos ataques de icterícia, a de Kuboyama persistira. Na noite de 20 de setembro ele parecia estar sofrendo muito; foi chamada a sua família. Em dado momento gritou:

“Sinto como se meu corpo estivesse sendo queimado com eletricidade.”
            Kuboyama morreu no dia 23.

            Ao saberem de sua morte, as tripulações de inúmeros barcos de pesca e navios, no mar, enviaram mensagens de pêsames para o hospital. No dia seguinte o Embaixador dos Estados Unidos enviou uma nota ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, com um cheque de um milhão de ienes em favor da Sr.ª Kuboyama, “como prova de solidariedade do povo e do governo norte-americano”. (mais tarde foi-lhe acrescentado um milhão e meio).


Familiares de Aikichi Kuboyama. 

            No dia 20 de maio de 1955, os 22 tripulantes tiveram altas dos dois hospitais de Tóquio onde haviam passado mais de um ano. Tinham pela frente um futuro incerto: já não aguentariam o pesado trabalho de um barco de pesca.  Dedicaram-se, então, a ocupações como agricultura e comércio; apenas dois voltaram ao mar, e assim mesmo em navios de treinamento. Pouco depois, os Estados Unidos ofereceram ao Governo Japonês dois milhões de dólares --- ex gratia, isto é, sem que o oferecimento importasse no reconhecimento de qualquer culpa --- dos quais cada membro da tripulação recebeu cerca de 5.000; o restante se destinou ao pagamento de suas despesas de hospitalização e tratamento e dos prejuízos causados à indústria do atum pela chuva atômica.

            O que aconteceu aos 23 pescadores a bordo do Dragão Feliz, naquela fatídica manhã de março, foi um pequeno exemplo do perigo radioativo que seria desencadeado por uma guerra nuclear. Quando homens que se encontram a uma distância de 160 quilômetros da explosão podem ser mortos pelo silencioso toque de uma bomba, revela-se o terrível poder de destruição do átomo desintegrado. A bomba que explodiu em Biquíni foi uma arma nova e revolucionária. Mas se não fosse o acidente do Dragão Feliz, o mundo poderia encontrar-se ainda na ignorância quanto à natureza dessa arma e à sua significação para todos os homens.

sábado, 10 de agosto de 2013

O Colapso do “socialismo real” e seus desdobramentos.


O colapso do socialismo. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Nesses dias em que grandes mudanças estarão ocorrendo no Projeto Construindo História Hoje, e dentre elas uma reestruturação de layout e afirmação de seus princípios com os estudos históricos, nacionalistas e ampliando nossa visão dos eventos que movimentam a história de nossa civilização Hoje. Lembrando que já são mais de 3 anos de caminhada do Construindo História Hoje desde sua origem. Para darmos inicio a esse novo começo, estarei analisando junto com os leitores o Colapso do socialismo e seus desdobramentos. Boa leitura a todos!
Ah lembrando, não esqueçam de acompanhar o Projeto está semana, pois uma grande novidade está por vir. Aguardo a visita de todos os amigos e simpatizantes.

CHH

Após a morte de Stalin em 1953, os dirigentes da URSS iniciaram o processo de desestalinização do regime. Ou seja a liberação do regime por meio de medidas importantes, como a denúncia dos crimes de guerra cometidos por Stalin, a revisão dos processos da época estalinista, a anistia e libertação de presos políticos e uma busca da coexistência pacífica com os Estados Unidos.

Paralelo a esse processo de reforma iniciado no Partido Comunista, verificou-se que intelectuais, estudantes e operários começaram a questionar o regime e procuraram pressionar no sentido de se ampliarem as reformas. No entanto o Partido não estava disposto a conceder mais do que já fora estabelecido. Desta forma, em alguns países da Europa Oriental, a situação tornou-se crítica, caminhando para uma contestação severa ao regime e provocando violenta repressão por parte da URSS.

Os principais movimentos de contestação ao modelo soviético forma os ocorridos na Polônia e na Hungria, em 1956 e na antiga Tchecoslováquia em 1968, este último conhecido como “A Primavera de Praga”.


Mapa da ex- União Soviética (Clique na Imagem para ampliar). Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Na década de 1980, o nome de Mikhail Gorbachev tornou-se extremamente conhecido em todo o mundo. Era o novo dirigente da URSS, empossado em 1985 e que trazia um discurso diferente daquele dos líderes anteriores. As palavras Perestroika e Glasnost ficaram associadas ao novo líder.

Perestroika: é a reestruturação da economia.

Glasnost: é a designação para abertura política.


Mikhail Gorbachev: Secretário-geral do PCUS e último presidente da ex- URSS.  Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

            Os motivos para estas mudanças econômicas e políticas estavam, sem dúvida, na estagnação econômica observada na URSS. O desenvolvimento, ao longo desse século, de uma estrutura econômica dominada pela burocracia atingia níveis insuportáveis para a sociedade. Uma ala do Partido Comunista, percebendo que a continuidade do regime estava ameaçada pela insatisfação social, elaborou então o projeto de mudanças que Gorbachev procurou implementar.

            No entanto, a resistências as reformas foram muito grandes, pois muitos setores da burocracia não queriam perder seus privilégios. Os setores militares também demonstraram sua insatisfação, uma vez que Gorbachev havia proposto o desarmamento e a diminuição das tropas na Europa.


 Bandeira da ex- União Soviética. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

            Os resultados mais concretos dessa luta entre os reformadores e os conservadores pôde ser visto em agosto de 1991, com a tentativa de golpe para tirar Gorbachev do poder. O fracasso do golpe não impediu que várias repúblicas iniciassem um processo separatista. Várias tiveram sua independência reconhecida. O governo tentou desesperadamente, impedir a fragmentação da URSS.

As reformas ressoam no Leste europeu

            As reformas implantadas por Gorbachev tiveram ressonância no Leste europeu. Ali, provavelmente as mudanças já foram maiores do que na própria URSS. O fato marcante é, sem dúvida, a unificação da Alemanha. A parte oriental, que fazia parte do bloco soviético desde 1945. Na Hungria e na Polônia, as reformas trazem o pluripartidarismo e as empresas estrangeiras começam se instalar. Na Romênia e na antiga Tchecoslováquia elege-se novos governos.

Da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas à Comunidade dos Estados Independentes

            Conforme observamos a ascensão de Gorbatchev, em 1985, deflagrou um profundo e rápido processo de mudanças na União Soviética, tanto no plano econômico como no plano político (Perestroika e Glasnost). Estas intensas transformações alteraram inclusive, as relações externas da União Soviética verificando-se uma aproximação com os países ocidentais e, principalmente o fim da Guerra Fria.


Boris Yeltsin, primeiro presidente da Rússia pós URSS. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

            Todas essas questões provocaram, em linhas gerais, as seguintes consequências

1) Reações dos setores conservadores internos tais como os burocratas do Partido Comunista que tinham o controle do aparelho de Estado e que formavam a chamada Nomenklatura; a linha dura das Forças Armadas, inconformada com a nova política de aproximação com o Ocidente e temerosa dos anseios nacionalistas das várias repúblicas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Bravos e loucos contra o Terceiro Reich



Mapa da ocupação nazista na Europa. Imagem: Arquivo pessoal CHH.

Um resgate impossível, o maior duelo homem a homem, um cozinheiro que derrubou aviões, um espião que fez Hitler de bobo, cidadãos que se armaram contra o jugo nazista...
O mundo estava sob grave ameaça. Adolf Hitler e os seguidores do Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, o Partido Nazista) moviam sua máquina de guerra para estender os domínios do 3º Reich pela Europa - e além dela. Ao mesmo tempo conduziam o infame expurgo das "raças inferiores" matando em massa, nos campos de concentração e nas câmaras de gás, judeus, poloneses, homossexuais, comunistas, deficientes... Itália, Japão e algumas nações menores uniram-se ao Führer no chamado Eixo. Cerca de 50 países, capitaneados por Reino Unido, União Soviética e Estados Unidos, aliaram-se contra eles. Este capítulo é dedicado aos líderes militares, aos guerreiros solitários, aos ousados espiões e aos cidadãos comuns que foram às armas e deram sua contribuição - por vezes a própria vida - em nome do bem maior: a liberdade.

O mais condecorado da história dos EUA 

QUEM?
AUDIE MURPHY

NASCIMENTO :
TEXAS (EUA)

ONDE ATUOU?
EUROPA OCUPADA

POR QUE É HERÓI?
GANHOU 32 MEDALHAS POR BRAVURA, UM RECORDE.


Audie Murphy. Imagem: National Archives.

Primeiro ele tentou ser fuzileiro naval. Mas, com apenas 1,65 m de altura e magro, acharam-no pequeno demais. De fato, quem olhava para Audie Leon Murphy dificilmente adivinharia que ali estava o futuro soldado mais condecorado da história dos Estados Unidos. Seriam 32 medalhas por bravura em combate (e outras homenagens) nos 3 anos em que esteve no front.

Nascido em 1924 em uma numerosa e pobre família do Texas, Murphy trabalhava na colheita de algodão ao lado dos nove irmãos. Ao chegar aos 17 anos, mentiu que já era maior de idade para ser aceito no Exército - queria se alistar de qualquer jeito depois do ataque japonês a Pearl Harbor. Não convenceu e teve de esperar os 18. No treinamento, no qual o chamavam de "bebê", era vítima constante das brincadeiras dos colegas. Até que chegou seu grande dia. Primeiro foi destacado para a África do Norte. Em 1943, chegou à Sicília (Itália) com a 3ª Divisão de Infantaria. E logo mostrou aos "grandões" do que era capaz. 
O feito mais notável do pequeno soldado - agora segundo-tenente - se deu na gélida batalha de Holtzwihr (França), em janeiro de 1945. Seu pelotão fora quase todo dizimado. De 128 homens, restavam apenas 19. Murphy mandou seus companheiros para trás. E começou a atirar. Quando acabou a munição, subiu em um tanque em chamas e acionou a metralhadora na direção da infantaria alemã. Foi ferido na perna, mas continuou sua luta solitária por mais 1 hora até o recuo do inimigo. Estima-se que, nos combates dos quais participou na Itália, na França e na Alemanha, tenha matado 240 nazistas. Voltou para casa sofrendo de estresse pós-traumático, com crises de depressão e insônia. 

Seus atos de heroísmo ficaram conhecidos do público. O astro James Cagney, famoso por interpretar gângsteres violentos no cinema, viu a foto dele na capa da revista Life e o convidou para ser ator em Hollywood. Murphy aceitou e novamente se deu bem: fez 44 filmes em 25 anos, além de uma série de TV. Também escreveu poemas e canções. Morreu quando o pequeno avião em que viajava a trabalho bateu em uma montanha na Virgínia, em 1971.
  
O kamikaze americano

QUEM?
HENRY MUCCI

NASCIMENTO:
CONNECTICUT (EUA)

ONDE ATUOU?
FILIPINAS

POR QUE É HERÓI?
LIBERTOU 500 ALIADOS PRESOS POR 8 MIL JAPONESES. 


Henry Mucci. 
 Imagem: National Archives.

As tropas do general de divisão Edward King tinham se rendido ao general japonês Masaharu Homma em 9 de abril de 1942. Os prisioneiros ficaram detidos em um lugar infernal chamado Cabanatuan, nas Filipinas, onde sofriam torturas e mutilações. Um soldado foi decapitado por sair da fila para beber água em um riacho. Todos, inclusive os japoneses, passavam fome. O número de mortes chegou a 700 por mês - provocadas por desnutrição, doenças tropicais e maus-tratos. 

Só três anos depois os 121 fuzileiros comandados pelo tenente-coronel Henry Mucci foram enviados para libertar os 500 prisioneiros sobreviventes, ajudados por guerrilheiros filipinos. Os americanos imaginaram que, naquele canto do Pacífico, enfrentariam um pequeno número de inimigos, tão cansados de lutar quanto eles. Encontraram 8 mil japoneses pela frente. Os primeiros "olheiros" viram tantos tanques e soldados que compararam a estradinha do acampamento a uma avenida central de Tóquio. Era tudo ou nada. Os guerrilheiros tomaram uma ponte de acesso, e os fuzileiros abriram fogo intenso. Um sentinela japonês levou tantos tiros que parte de seu corpo desapareceu. Até os prisioneiros demoraram para entender o que acontecia. Quase 300 resgatados foram levados de navio aos EUA e ainda enfrentaram submarinos japoneses no caminho. Em Cabanatuan, um muro de mármore lista o nome dos 2656 americanos que lá morreram.
  
Inimigos: os japoneses e o racismo 

QUEM?
DORIS MILLER

NASCIMENTO:
TEXAS (EUA)

ONDE ATUOU?
PEARL HARBOR, HAVAÍ (EUA)

POR QUE É HERÓI?
COZINHEIRO, PEGOU UMA METRALHADORA E DERRUBOU 5 AVIÕES JAPONESES.




Doris Miller.  Imagem: National Archives.

Para um negro americano, a vida na Marinha não era muito diferente daquela que conhecia nas ruas de seu país: a segregação racial dava o tom das relações sociais e profissionais. Doris Miller, aos 22 anos, não havia conseguido nada além de um posto de cozinheiro no navio USS Pyro. Em janeiro de 1940, foi transferido para o navio USS West Virginia, onde se tornou "campeão" de boxe. Encarregado de preparar a comida e de pequenos serviços, recolhia a roupa suja para a lavanderia na base de Pearl Harbor, no Havaí, quando o alarme soou na manhã de 7 de dezembro de 1941. Era o início do ataque japonês. Miller não recebeu treinamento militar formal e não sabia atirar. Mesmo assim, correu para o tombadilho. Por seu tamanho, foi designado para ajudar no resgate de vários feridos. Na confusão, assumiu uma das metralhadoras antiaéreas Browning calibre 50 e começou a disparar contra os nipônicos. Teria derrubado cinco aviões japoneses até ficar sem munição. Durante o ataque, aviões japoneses lançaram duas bombas blindadas que perfuraram o convés do navio. Miller só abandonou o West Virginia quando ele começou a afundar. Dos 1541 homens a bordo, 130 foram mortos e 52 ficaram feridos. Tempos depois Miller declararia que não teve problemas em derrubar os aviões. "Não foi difícil. Eu puxei o gatilho, e a metralhadora funcionou muito bem. Eu tinha visto outros soldados usando essas armas. Atirei por cerca de 15 minutos. Peguei alguns desses aviões japoneses. Eles mergulhavam muito perto de nós."

Miller recebeu a Cruz da Marinha em 1942 - foi o primeiro negro da frota do Pacífico a ganhar a honraria. Na ocasião, ele também foi elogiado pelo secretário da Marinha Frank Knox e pelo comandante Chester Nimitz.

Na máquina de criar ídolos que movia a propaganda de guerra, o mais comum seria poupá-lo de novos combates. Mas a Marinha insistiu em mandá-lo de volta ao front. Estava novamente servindo mesas, agora a bordo do Liscome Bay, quando o navio foi atingido por um torpedo japonês na Batalha de Tarawa, em 24 de novembro de 1943. Apenas 272 marinheiros sobreviveram ao naufrágio; 646 morreram - Miller era um deles. Seu corpo nunca foi encontrado. Não recebeu a Medalha de Honra, a mais alta condecoração militar americana, nem mesmo quando ela foi concedida postumamente a 15 homens - todos brancos - que lutaram na defesa de Pearl Harbor. Nenhum negro recebeu a honraria durante todo o conflito. 

Após a guerra, a história de Doris Miller se tornou um símbolo contra a segregação. Ele foi retratado (como coadjuvante) nos filmes Tora! Tora! Tora! (1970) e Pearl Harbor (2001).
   
25 missões por amor

QUEM?
ROBERT K. MORGAN

NASCIMENTO:
CAROLINA DO NORTE (EUA)

ONDE ATUOU?
EUROPA E JAPÃO

POR QUE É HERÓI?
DIRIGIU 50 ATAQUES AÉREOS.
 


Robert K. Morgan. 
Imagem: National Archives.

O Memphis Belle era um bombardeiro B-17 sem nome quando Robert K. Morgan batizou-o com o apelido da namorada (Margaret Polk). Nos primeiros três meses na base inglesa de Bassingbourn, as perdas de bombardeiros chegaram a 80%. O moral estava baixo. Como incentivo, a Força Aérea Americana estabeleceu que, após 25 missões, os sobreviventes poderiam voltar para casa. Em uma das missões, Morgan pousou só com metade da cauda, destruída pelo fogo alemão. Foram 128 horas de voo despejando 60 toneladas de bombas. Em maio de 1943, a tripulação se tornou a primeira a completar, sem baixas, as 25 missões. No ano seguinte, Morgan estava de volta à guerra para bater a mesma meta, agora no Japão. Ele e Belle não se casaram.
  
Manila John: mito ou verdade? 

QUEM?
JOHN BASILONE

NASCIMENTO:
NOVA YORK (EUA)

ONDE ATUOU?
GUADALCANAL (ILHAS SALOMÃO)

POR QUE É HERÓI?
MONTOU UMA METRALHADORA E, COM MAIS DOIS SOLDADOS, ENFRENTOU MILHARES DE JAPONESES. 


John Basilone. 
Imagem: National Archives.

Três mil enfurecidos japoneses contra um só americano? Foi assim, segundo a versão mais romântica do episódio, que o sargento John Basilone venceu a primeira grande batalha em terra contra o Japão na ilha de Guadalcanal (Ilhas Salomão), em 1942. Chamado de Manila John pelos colegas por ter servido em uma base nas Filipinas, ele já era conhecido por sua habilidade com metralhadoras. Mas ninguém tinha ideia de que seu talento em mecânica faria tanta diferença como na noite de 24 de outubro. À frente de 16 homens, o sargento topou com um regimento japonês inteiro. Todo o pelotão foi ferido ou morto até sobrarem Basilone e mais dois soldados. Pior: suas metralhadoras, superaquecidas, pararam de funcionar. Basilone, juntando peças, conseguiu montar uma nova arma. E começou a atirar até derrubar 38, centenas ou 3 mil japoneses - os historiadores divergem quanto ao número de vítimas. O que é consenso é a bravura do sargento. De volta aos EUA, em 1943, ele foi o primeiro americano a receber a Medalha de Honra do presidente Franklin Roosevelt, além de dezenas de homenagens. Logo cansou da vida de celebridade e pediu para voltar ao front. A Marinha, temerosa quanto ao efeito no moral do país caso ele viesse a ser ferido ou morto, tentou convencê-lo a aceitar um posto longe dos combates. Recusou. Estava entre os fuzileiros que desembarcaram na ilha de Iwo Jima em fevereiro de 1945 para enfrentar 22 mil japoneses entrincheirados. Atingido por um morteiro, morreu diante do pelotão. John Basilone virou nome de porta-aviões, prédios e monumentos nos EUA. Mas ficou mais conhecido graças à série The Pacific, da HBO.

O maior duelo

QUEM?
VASILI GRIGORIEVITCH ZAÏTSEV

NASCIMENTO:
ELINISK (RÚSSIA)

ONDE ATUOU?
STALINGRADO (URSS)

POR QUE É HERÓI?
FOI O MAIOR FRANCO-ATIRADOR DA GUERRA.


Vasili Grigorievitch Zaïtsev. Imagem: National Archives.

O cenário eram os escombros de Stalingrado. De um lado, o major Heintz Thorvald, tido como o melhor atirador alemão e enviado ao front especialmente para matar "o exterminador de nazistas". Do outro lado, o tal exterminador, o russo Vasili "Zaitsev" Grigorievitch, que só na Batalha de Stalingrado tinha aniquilado, com seu rifle e sua pontaria extraordinária, 242 alemães. Thorvald, também conhecido como Erwin Konig, tinha uma vantagem: estudou todos os passos e métodos do adversário. 

sábado, 13 de outubro de 2012

Saiba mais sobre a Cruz Vermelha e as Convenções de Genebra e de Haia



Soldado britânico durante a Primeira Guerra Mundial, munido de máscara de gás e uma baioneta na ponta do rifle. Imagem: Aventuras na História.

A partir de 1864, as Convenções de Genebra e de Haia tentaram impor um pouco de humanidade ao inferno da guerra. Os resultados apareceram, mas bem abaixo do desejado.

"As Armas passam sobre os mortos e feridos, estendidos sobre o solo. Cérebros vazam sob as rodas, membros são quebrados e arrancados, corpos mutilados ao ponto de se tornarem irreconhecíveis - o solo está pantanoso com o sangue." 
Henri Dunant, fundador da Cruz Vermelha

Se o texto acima parece chocante, é porque ainda cumpre seu propósito. Lançado em 1862, o breve livro Un Souvenir de Solferino (Lembrança de Solferino), do empresário suíço Henri Dunant, foi uma dessas obras que mudaram o mundo. Logo no começo, há outra passagem, com soldados invadindo uma capela para matar a pedradas um oficial inimigo sendo socorrido, seguida por enfermeiras sendo alvejadas em campo enquanto tentavam levar cantis a soldados agonizantes. O livro é um relato da Batalha de Solferino (1859), na qual aliados franceses e italianos enfrentaram austríacos, no total de 267 mil combatentes. A derrota austríaca garantiu a unificação da Itália sob o rei Vítor Emanuel II. A batalha em si ocupa só 1/4 das 39 páginas do livro. O que importa é o que vem depois, descrito em detalhes igualmente explícitos: o sofrimento imenso dos feridos e as condições precárias de seu socorro.

Dunant estava numa viagem de negócios na Itália quando acabou em Solferino, no dia 24 de junho de 1859. Ele chegou ao fim do dia, quando os austríacos se retiravam, deixando 40 mil mortos e feridos agonizantes no campo. Os franceses organizaram um esforço médico para tratar feridos de ambos os lados, e Dunant, mesmo não sendo médico, coordenou um intenso esforço civil para salvar os soldados. Daí vem a principal ideia do livro: organizar uma entidade internacional de médicos voluntários, que atendesse feridos independente do lado, e estabelecer regras internacionais para o tratamento de feridos e combatentes.

Dunant retornou à Genebra e lançou a primeira edição pagando do próprio bolso em 1862. As 1,6 mil cópias foram enviadas a figuras políticas e militares da Europa. E o empresário passou a viajar pelo continente para pregar suas ideias. Em 9 de fevereiro de 1863, com 4 outras figuras importantes de Genebra, Dunand fundou o Comitê Internacional de Socorro aos Militares Feridos, que mudaria seu nome para o atual - Comitê Internacional da Cruz Vermelha - em 1876. Com o apoio do governo da Suíça, o comitê organizou encontros diplomáticos, que resultaram na 1ª Convenção de Genebra, documento assinado em 22 de agosto de 1864.
 
"Os artigos estabeleciam o respeito e a proteção das equipes e instalações sanitárias, assim como reconheciam o princípio essencial de que os militares feridos ou enfermos devem ser protegidos e receber cuidados seja qual for sua nacionalidade", diz Gabriel Valladares, da delegação regional da Cruz Vermelha para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. A 1ª Convenção de Genebra previu também a criação de sociedades nacionais filiadas ao Comitê Internacional e adoção da cruz vermelha como símbolo.

A trajetória das Convenções de Genebra 

1859 Henri Dunant presencia a Batalha de solferino
1862 Dunant lança seu livro e inicia a militância.
1864 Primeira Convenção de Genebra, com a criação da Cruz Vermelha.

1899 Primeira Convenção de Haia proíbe armas químicas, ataques aéreos de balão e balas dum-dum.

1906 Segunda Convenção de Genebra define regras para hospitais navais.
 
1907 Segunda Convenção de Haia, sobre regras de combate e bombardeio naval.
 
1925 Protocolo de Genebra, proibindo armas químicas.

1929 Terceira Convenção de Genebra, com detalhes sobre o tratamento de prisioneiros de Guerra. Não é assinada por união soviética e Japão.

1949 Quarta Convenção de Genebra, sobre os direitos dos civis nas guerra. É a que vale hoje em dia.

1977 Protocolos I e II, detalhando o que constitui violações dos direitos dos civis em conflitos internacionais e nacionais. Não são ratificados por Estados Unidos, Israel, Irã, Paquistão e Turquia.

2005 protocolo III, adotando o "cristal vermelho" como símbolo alternativo.