segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os egípcios construíram a Esfinge?


 Esfinge, Planalto de Gizé.

A esfinge é uma estátua enorme que fica perto das pirâmides, no planalto de Gizé, Egito, África. Praticamente todo mundo já ouviu falar, viu fotos ou jogou jogos onde aparece uma criatura com corpo de leão e cabeça humana, que propõe um enigma. Quem não resolve o enigma é morto pela esfinge.

Pois então, essa estátua, chamada Grande Esfinge de Gizé, é a maior estátua esculpida num único bloco de pedra. Foi aproveitado um penhasco que havia no local, que depois foi coberto por blocos de pedra lisa.

A esfinge que sempre aparece nos jogos tem a cabeça de uma mulher, mas, a esfinge de Gizé parece que tem a cabeça de um homem. Alguns estudiosos dizem que ela foi construída pelo mesmo faraó que fez a segunda maior pirâmide, Quefren, e que a cabeça da esfinge é a cabeça desse faraó.

Então, a esfinge tem o corpo de um leão e a cabeça humana. Entre as patas de leão, existe uma laje de granito com uma inscrição que conta sobre um sonho que o faraó Thutmose IV, que reinou na XVIII dinastia, teve.

Essa laje é uma estela, chamada de Estela do Sonho e conta o seguinte: quando jovem, Thutmose foi caçar e muito cansado, dormiu sob a sombra da esfinge. Ele então sonhou com o deus sol Ra-Harakhte, que na forma da esfinge, lhe prometeu que se ele limpasse toda a areia que cobria o monumento se tornaria faraó do Egito. E foi exatamente isso que aconteceu.


 O deus Aker da mitologia egípcia era sempre representado por dois leões que guardam os portões do além-túmulo.

Assim, ficamos sabendo que, quando Thutmose IV reinou, a esfinge já estava bastante coberta pela areia. Em 1816 o capitão Caviglia terminou a retirada da areia que novamente cobria a esfinge e registrou que o corpo da estátua era revestido em pedra e que provavelmente a esfinge tinha sido um dia, pintada com tinta vermelha.

Então, onde está o mistério?

Em primeiro lugar, ainda não se sabe com certeza, como o nariz da esfinge foi arrancado. Há diversas teorias, mas como saber a verdade?

O professor Robert Schoch, da Universidade de Boston, afirma que a esfinge é muito mais velha do que diz a História oficial. Ele acha que a erosão que existe no corpo do monumento não foi feita pelo vento ou pela areia, foi feita sim pelas chuvas. Ora, então a esfinge seria pelo menos 2 mil e 500 anos mais velha do que se pensa, quando no Egito havia muita vegetação e muitas chuvas. Será?

Muitos pesquisadores já fizeram estudos e acreditam que existem túneis e câmaras ainda não escavados sob a esfinge. Será que algum deles esconde um grande mistério?

Segundo a professora de egiptologia da Universidade Americana do Cairo, Salima Ikram, já foram encontradas múmias, escondidas sob a axila esquerda e na parte de trás da esfinge. De quem seriam essas múmias? Por que estavam dentro do monumento? Onde estão agora?

Teria havido duas esfinges?


Nas representações artísticas que fizeram, entretanto, as esfinges geralmente aparecem aos pares. A estela que Tutmósis IV (c. 1401 a 1391 a.C.) mandou fixar na frente do monumento, e que vemos ao lado numa foto do Canadian Museum of Civilization Corporation (CMCC), é um bom exemplo disso. No relevo feito no granito, a esfinge está assentada sobre uma construção complexa. Os arqueólogos dizem que o palácio gravado na estela é representação do templo que existe até hoje diante da esfinge. Entretanto, a forma do edifício representado na estela é totalmente diferente do templo da esfinge. Além disso, as regras de perspectivas usadas pelos artistas egípcios fariam com que eles colocassem o templo diante da esfinge, como realmente ele está situado, e não abaixo dela. Tais regras eram por demais rígidas e nenhum artista oficial se permitiria divergir de realidade em tal medida.

Segundo Shammaa, esta ideia de duas esfinges está bem representada na iconografia egípcia e está bem de acordo com as crenças egípcias de como o universo foi criado, as quais, fundamentalmente, se baseiam na dualidade e têm origem no período pré-dinástico. O deus Atum criou Shu e Tefnut na forma de dois filhotes de leão, um macho e uma fêmea, colocando cada um deles num dos extremos do universo. Os antigos artesãos egípcios e os sacerdotes sempre os desenharam e os descreveram vigiando os dois montes primevos interligados (akhet), os quais com o Sol no meio formam a palavra hieroglífica para "horizonte". Quando o Sol se punha, afirmava-se, o leão do ocidente pegava o Sol em suas mandíbulas e o transportava pelo mundo subterrâneo, entregando-o, finalmente, ao leão do oriente. Assim, depois de um período de escuridão, começava a amanhecer. Estes dois leões simbolizavam o "ontem" e o "amanhã". O disco solar da divindade se eleva entre os animais, os quais eram responsáveis por vigiar os limites leste e oeste, apoiando a luta da luz contra a escuridão, da ordem contra o caos, de Hórus contra Seth. A avenida de esfinges com cabeças de carneiro defronte do primeiro pilone de Karnak e as esfinges com cabeças humanas diante do templo de Luxor enfatizam esta dualidade.

Embasado nesse conceito religioso, Shammaa prossegue seu raciocínio afirmando que quando nos colocamos diante da esfinge e vemos as três pirâmides atrás dela, percebemos que há duas colinas, ou seja, duas construções de forma piramidal semelhantes em altura e tamanho, conectadas por um vale de terra. Uma vista aérea do complexo piramidal de Kéfrem confirmará que a calçada que liga o templo mortuário ao templo do vale teve que desviar seu caminho para o sul para evitar a esfinge já existente. A calçada termina no templo do vale, desembocando no seu lado norte, não no meio, como de costume. Os operários estavam tentando evitar outra estátua sagrada intocável no lado sul: a esfinge desaparecida. Se consideramos o templo da esfinge e o templo de vale, podemos deduzir que ambos são semelhantes no projeto, na altura, no desgaste, na erosão e na destruição pelo tempo. O que parece é que havia um único templo dedicado à adoração do horizonte, o santuário do deus-Sol. Com as obras posteriores o templo foi dividido em duas partes iguais, cada uma dedicada a um dos leões. Deve-se ter em mente que o granito rosa que reveste algumas partes do templo do vale foi colocado décadas depois da construção do monumento. Este fato fica demonstrado, sem sombra de dúvida, quando se observa como o granito está embutido nas cavidades causadas pelo desgaste do tempo. Assim, raciocina Shammaa, se há dois montes, dois templos que significam as duas extremidades dos limites do mundo no leste e no oeste, e dois santuários do deus e um deles (templo da esfinge) está guardado por uma esfinge de leão junto a ele, por que então o segundo santuário do deus (templo do vale) não é protegido e vigiado da mesma forma com uma esfinge a seu lado?


 De leão ao ser antropomórfico.

O deus Aker é descrito frequentemente como dois leões sentados e voltados para lados opostos. Shammaa pensa que a esfinge tinha uma cabeça de leão antes de ser refeita com cabeça de um faraó. Isto explicaria por que a cabeça humana da esfinge é pequena em comparação ao corpo do leão. Os antigos egípcios jamais incorreriam num erro tão primário da relação entre as proporções. O leão duplo é uma manifestação de Shu e Tefnut. Os egípcios nunca protegeram apenas de um lado qualquer avenida, entrada, templo ou tumba, porque isso seria contra o bom senso da idéia de proteção, já que um lado do santuário de Atum ficaria exposto ao perigo. Além disso, os dois leões no Livro dos Mortos são simbolos de Osíris, de Rá e, às vezes, de Atum. A ausência de um deles provoca caos, crise e uma grande desordem.

Se o Sol precisa de dois leões para levá-lo do oeste para leste, e como a esfinge existente está sentada exatamente na fronteira entre o deserto (nenhuma vida) e a vegetação (vida), então, como a jornada do renascimento eterno do Sol poderia ser completada se houvesse só um leão? Quem cuidaria desse transporte do oeste para seu destino? Alcançar o objetivo da ressurreição do Sol é impossível, a menos que haja dois leões. Os dois leões de perfil que ladeiam o horizonte são as duas esfinges: uma atrás do templo da esfinge, a qual simboliza o limite ocidental, e outra atrás do templo de vale, a qual simboliza o limite oriental onde o Sol renascerá, da mesma maneira que a terra se torna verde no vale devido à rica inundação do Nilo. Se olharmos de frente os dois animais da cena desenhada de perfil, veremos dois leões que ladeiam a calçada que divide um templo em dois. Veremos, ainda, ao fundo, duas pirâmides. A base de pirâmide de Kéfren (c. 2520 a 2494 a.C.) foi esculpida no leito da rocha para criar, então, a cena da monte primevo e o disco solar surge entre os dois monumentos para completar a cena do Livro dos Mortos.

A arte egípcia antiga sempre dependeu da harmonia entre a relação e a proporção da cena. As formas devem ser simétricas. O resultado final produzido deve ser harmonioso. Na escultura sempre um dogma de duplicidade dominou a construção religiosa. Exemplos: a avenida dupla de esfinges com cabeças de carneiro de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) em Karnak, ou a de esfinges com cabeças humanas de Nectanebo I (380 a 362 a.C.) no templo de Luxor. Duas estátuas sentadas ladeiam as entradas dos templos. Um lado sempre é igual ao outro. A conclusão que o autor tira de tais considerações é a de que a existência de uma segunda esfinge no outro lado da calçada está além de qualquer dúvida. Portanto, ele acredita que os restos da segunda esfinge ainda estão lá enterrados na areia, ainda que possam se encontrar muito delapidados. Com relação à estela de Tutmósis IV que aparece no topo desta página, Shammaa afirma que não se trata de uma cena repetida em um espelho. Evidentemente o faraó está fazendo oferendas para duas esfinges diferentes. Primeiro porque está usando coroas diferentes: a coroa azul de guerra numa cena e o nemes na outra cena. Portanto, trata-se de duas situações diferentes. Em segundo lugar, porque o faraó oferece dois tipos de libações diferentes para cada cena, ou seja, ele não trata as duas esfinges de maneira igual.


Seria esta a face original da Esfinge(s)?

           Outro dos defensores da ideia de que a esfinge de Gizé tenha tido uma companheira idêntica é Michael Poe, arqueólogo formado em Los Angeles pela Universidade da Califórnia (UCLA). Apesar da assim chamada Estela do Inventário informar que a esfinge já existia no tempo de Kéops e que o faraó encontrou a esfinge em ruínas e mandou restaurá-la, pode até ser que tal estela seja uma fraude piedosa daquela época, já que se trata de um artefato datado da XXVI dinastia (664 a 525 a.C.). 

Poe escreveu que não temos qualquer evidência arqueológica de que Kéfren tenha mandado reparar a esfinge. Ele explica que existem duas referências datadas do Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.), ou seja, de época muito posterior à construção do monumento. Uma, encontrada num papiro fragmentário, diz que Kéfren encontrou a esfinge, que seria mais antiga que ele, e modificou a face do colosso. Diz ainda que havia outra esfinge, do outro lado do rio, voltada para esta que conhecemos. Ambas estariam ali para representar a linha divisória entre o Egito Norte e o Egito Sul. Tal informação foi corroborada por gregos, romanos e muçulmanos. A segunda esfinge teria sido destruída entre os anos 1000 e 1200 da nossa era. A outra referência do Império Médio informa que Kéfren construiu a esfinge de Gizé.

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