quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Redescobrindo o Antigo Egito.



Bonaparte Diante da Esfinge. Imagem: Jean-Léon Gérôme, Óleo sobre tela (1868).

Quem já não imaginou como viviam os antigos egípcios? Como construíram seu império milenar? Acredito de todos pelo menos uma vez na vida, refletiram sobre esses temas, mas antes de podermos responder a essas questões temos que compreender que a civilização egípcia ficou perdida por centenas de anos. E devido a isso primeiro pensando nisso elaborei uma pequena introdução sobre a redescoberta do Egito faraônico. Ela inicia-se com duas datas precisas: 1789 e 1824. Antes disso não se sabia absolutamente nada a respeito desse período.

A primeira das duas datas (1798) corresponde à extraordinária expedição do general Napoleão Bonaparte no Egito. Com surpreendente visão de longo alcance, além de um corajoso exército, levou consigo um excelente grupo de técnico e de homens entendidos no assunto, munidos de livros, duzentas caixas de instrumentos científicos e duas tipografias completas, visto que em todo o Egito não existia nada disso. Ao todo cento e sessenta e sete “cientistas civis”, compreendendo naturalistas, botânicos, cartógrafos, engenheiros, astrônomos, geólogos, historiadores e, pelo que constam, desenhistas e arqueólogos. Esse douto esquadrão recebeu o apelido de “Asnos” [1].

Champollion e os hieróglifos

Entre os objetos recolhidos durante a expedição napoleônica havia uma estela fendida, com aparência totalmente insignificante, Deu-a casualmente a um oficial do Gênio, um tal Bouchard, que a passou a um dos “Asnos”.

Na estela três inscrições, a primeira em hieróglifo; a segunda em demótico; a terceira em grego – que indicava tratar-se de uma oferta sacerdotal feita por Ptolomeu V Epifane – constituía a chave para decifrar as duas primeiras.

Constatou-se logo que o documento era de excepcional interesse e por ordem pessoal de Napoleão a estela foi imediatamente reproduzida e litografada, sendo que depois de várias cópias foram enviadas a vários especialistas de línguas mortas.

Gastaram-se quinze anos para a interpretação de pelo menos a parte em demótico. O mérito disso cabe ao sueco J. D.Akerblad (1814). Mas os hieróglifos resistiam, inflexíveis. Como para a história, existiam apenas duas fontes de referência: a primeira eram os Hieroglyfhica, obra de Orapolo Nilótico que parece ter vivido no século IV d. C. Parecia antigo, dizia ser egípcio e portanto não havia motivo de se contestar quanto à autoria de sua obra que, no entanto, infelizmente se tornou inaceitável, embora tivesse algumas intuições certas [1].

Surgiu, posteriormente, a segunda fonte com a obra de P. Athanasius Kircher, este de indiscutível e vasta cultura; mas a sua Lingua Aegyptiaca restituta, publicada em Roma (1643), era de tal modo estranha que levou seus alunos a proclamar, e sem hesitação, que num obelisco em Roma está inciso um hino à Santíssima Trindade.


'Le Sphinx Armachis, Caire' . Imagem: Henri Béchard (1880).

Infelizmente, as dispersões destes dois ilustres estudiosos desencadearam todos aqueles que as tinham como boas. Somente a dois não atribuíram nenhum valor, desde o início. O primeiro foi oinglês Thomas Young, o qual seguiu pelo caminho certo, mas que, não encontrando, afinal, uma confirmação para o seu trabalho apenas por motivo de um erro banal de transcrição, deu-se por derrotado [1].

O outro foi o grande Jean-François Champollion (1790 – 1832). Champollion foi um verdadeiro gênio da linguagem, iniciou o estudo das línguas orientais com onze anos, já conhecendo paralelamente todas as europeias, e aos dezenove anos se tornara professor de história em Grenoble.

Está claro que a estela encontrada, a qual se chamou “Estela deRosetta”, se tornasse a sua obsessão. E entregou-se a ela de corpo e alma, intensamente em concorrências com os mais ilustres peritos e jamais abandou a terrível empresa que aos poucos tinha desencorajado os outros. Procedeu por etapas: na sua Lettre à M. Dacier, lida na Academia Real ao 27 de setembro de 1822, anunciava a primeira  descoberta sobre o uso do alfabeto fonético do qual os egípcios se serviam para escrever os nomes dos reis gregos e dos imperadores romanos [2].

Dito nestes termos, não parece muito : mas derrubava o conceito difundido por Orapollo, de que a escrita hieroglífica seria apenas ideográfica. E finalmente, em 1824 (esta foi a data mais importante para a redescoberta do Egito) vinha a lume o seu Précis du système hièroglyphique des anciens Egyptiens [2].

Embora ainda rudimentar, a chave era finalmente encontrada. Todavia, continuava ainda sem solução o problema mais importante; seria necessário entender aquilo que agora se podia ler, isto é, renascer uma língua morta a pelo menos dezoito séculos.

Também isso se dedicou Champollion até a morte, que lhe ocorreu por enfarte quando contava apenas quarenta e dois anos. A sua Gramática egípcia e o seu Dicionário, publicados postumamente (1834-1845 lançaram as bases para este cansativo renascimento que durará mais ou menos por um século).

28/02/ 2013

Leandro Claudir é Acadêmico de História pela Universidade Luterana do Brasil, Técnico em Informática pela QI Escolas e Faculdades. Habilitado em Liderança de Círculos de Controle de Qualidade Empresarial pelo Sesi. Criador e Administrador do Projeto Construindo História Hoje - IBSN- 7837-12-38-10.

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Você quer saber mais? 

[1] ARBORIO, Federico Mella A. O Egito dos Faraós (L’Egitto Dei Faraoni). São Paulo: Editora Hemus, 1981.

[2] Museu Britânico online: http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_image.aspx?image=an16456b.jpg&retpage=26981. Página acessada em 23 de fevereiro de 2011.































  

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