terça-feira, 20 de novembro de 2012

Registros da Crucificação de Jesus fora do Novo Testamento.


Cristo crucificado. Imagem: pintura de Velasquez (1632).
Além dos Evangelhos e das Epístolas paulinas, outros testemunhos importantes a respeito da crucificação de Jesus são citadas pelo historiador judeu Flávio Josefo, pelo historiador romanoTacitus e pelo Talmude. Abaixo os detalhes de cada uma das fontes:

1-Flávio Josefo nasceu em Jerusalém, em 37 ou 38 d.C., e pertencia à aristocracia sacerdotal judaica. Na guerra judaica (66 – 70 d.C.), foi o responsável pela proteção de Jerusalém contra o exército romano. Diante do poderio das tropas imperiais Jerusalém foi totalmente destruída e Josefo foi feito prisioneiro. Após obter o perdão imperial (supostamente profetizou que Vespaziano seria imperador), recebeu cidadania romana (daí o nome latino Flavius Josephus), uma residência, terras e uma pensão imperial. As obras mais famosas de Josefo são: Antiguidades Judaicas,Guerras Judaicas, A Vida de Josefo (uma polêmica autobiografia) eContra Apion (uma apologia). O trecho em que Josefo cita Jesus parece ter sofrido interpolações cristãs (o trecho ficou conhecido como Testimonium Flavianum, Ant. 18,63s)[1], por isso citarei o texto colocando entre colchetes aquilo que, de acordo com Dominic Crossan[2], provavelmente representa acréscimo cristão:

“Por volta dessa época viveu Jesus, um homem sábio [se é que se deve chamá-lo de homem]. Pois ele era capaz de proezas surpreendentes e ensinava as pessoas a aceitar a verdade com alegria. Ele conseguiu converter muito judeus e muitos gregos. [Ele era o messias]. Quando Pilatos, ao saber que ele havia sido acusado pelos homens mais influentes entre nós, condenou-o a crucificação, aqueles que o amavam em primeiro lugar não desistiram por sua afeição por ele. [No terceiro dia ele apareceu-lhes recuperado para a vida, pois os profetas de Deus haviam previsto esta e inúmeras outras coisas maravilhosas sobre ele.] E a tribo dos cristãos, assim chamados por causa dele, não desapareceu até hoje.”
(Antiguidades Judaicas, 18,63).

2. P. Cornelius Tacitus era membro da aristocracia senatorial romana. Nascido por volta de 55, foi contemporâneo mais jovem de Flávio Josefo. São de sua autoria duas famosas obras: as Histórias (c. 105/110) e os Anais (c. 116/117). Tacitus tinha repulsa tanto pelos judeus como pelos cristãos.    Duas frases escritas por ele mostram isso: “com relação a qualquer outro povo [os judeus] sentem apenas ódio e inimizade” (Histórias 5.5.1); “[os cristãos são] uma classe de homens detestados por seus maus hábitos” (Anais 15.44). No intuito de explicar a origem do movimento cristão, ele fala da crucificação de Jesus:
“Este nome (christiani) vem de Cristo, que foi executado sob Tibério pelo procurador Pôncio Pilatus”.
(Anais, 15,44,3).

Rituais Mágicos Judaicos.


Ilustração da vida difícil que leva uma pessoal possuída por um Dybbuk. O espirito decadente acompanha seu hospedeiro aonde ele for. Segundo a tradição judaica  absorvendo sua energia vital e fazendo o vivo passar pelas mesmas aflições que o Dybbuk, passou quando estava vivo e encarnado. Imagem: Maskofreason. 

Cabala - Rituais mágicos

Invocar anjos e demônios, transformar metal em ouro, criar vida usando barro: para os praticantes da chamada cabala prática, corrente que ganhou força na Idade Média, nada parecia impossível. Conheça os rituais mágicos usados por esses cabalistas para entrar em contato com o sobrenatural.
Texto Michelle Veronese

O rabino Moisés de Viena gostava de contar aos amigos sobre o dia em que estivera na cidade de Rosenburg, na Áustria. Mal havia chegado e um mensageiro bateu à sua porta, dizendo: "Um homem está morrendo e quer um pouco de seu vinho". Ele achou o pedido um tanto estranho, mas atendeu sem fazer perguntas. Mais tarde, descobriu do que se tratava. Corria a lenda, na Idade Média, de que os judeus dominavam as artes ocultas, sendo capazes de invocar anjos e demônios. Também se acreditava que o vinho usado em cerimônias judaicas tinha poderes mágicos e era capaz de curar doenças. O moribundo, como deduziu o rabino, pedira a bebida na esperança de escapar da morte. 
Superstições como essas eram comuns no período medieval. Naquela época, o imaginário coletivo estava povoado por bruxas, magos e demônios. E, se alguma crença destoasse da religião dominante, o cristianismo, logo surgiam especulações, boatos e crendices. Era o caso da cabala ma’asit ou cabala prática, que muita gente via com medo e desconfiança. Segundo os estudiosos do misticismo judaico, essa corrente teria se desenvolvido paralelamente à cabala tradicional. Mas, em vez de estudar ou meditar sobre as forças divinas, seus adeptos propunham maneiras práticas de experimentá-las. "A mística judaica sempre incluiu rituais de magia", diz Michel Schlesinger, rabino da Congregação Israelista Paulista. "Encantamentos, exorcismos e outras práticas eram realizados por essas pessoas. Hoje, esses rituais são vistos pela comunidade judaica apenas como objeto de estudo e curiosidade."

Apesar do caráter mágico, os praticantes da ma’asit rejeitavam a alcunha de magos. Eles eram chamados de ba’alem shem, do hebraico "mestres do Nome". Para entrar em contato com o mundo sobrenatural, esses cabalistas do truque usavam uma série de métodos secretos. O mais importante consistia na recitação dos chamados nomes divinos. Retiradas das escrituras sagradas, eram palavras utilizadas tradicionalmente para se referir a Deus e a seus atributos. Os cabalistas acreditavam que, se essas palavras fossem declamadas no momento certo e seguindo determinados rituais, podiam interferir no curso dos acontecimentos.
A rotina dos adeptos da ma’asit incluía rituais que teriam o poder de alterar a matéria. Esses rituais eram transmitidos de mestre para aluno, geração após geração: estudiosos acreditam que sua origem está na Antiguidade, em regiões como o Egito e a Pérsia.
"O que se tornou conhecido como cabala prática era, na verdade, um conjunto de todas as práticas mágicas encontradas no judaísmo desde o período talmúdico até a Idade Média", diz o historiador Gershom Scholem, no livro A Cabala e Seu Simbolismo.
A maioria desses procedimentos se perdeu com o tempo: somente alguns deles foram registrados em livros e tratados de magia. Entre os poucos exemplares conhecidos do gênero está o Sefer ha-Razim ("Livro dos Segredos" ou "Livro dos Amuletos"), do século 4, que ensina como invocar anjos. O Harba de Moshe ("A Espada de Moisés"), organizado entre os séculos 1 e 4, apresenta uma lista de nomes de anjos que teria sido transmitida diretamente a Moisés, o patriarca bíblico. Seu autor ensina a utilizá-los em todo tipo de encantamento, desde poções para atrair o amor e curar doenças até fórmulas secretas para conseguir andar sobre a água. 
Os encantamentos, por sinal, eram muito populares entre os cabalistas mágicos. Acreditava-se que, fazendo uso de determinados comandos verbais, lidos em voz alta, seria possível conjurar entidades sobrenaturais. Essas práticas se baseavam na crença em uma dimensão invisível - chamada de mundo intermediário ou mundo do meio - habitada por milhares de anjos e demônios. Mas, para invocar tais entidades, era necessário usar os elementos certos e recitar as palavras adequadas no número de vezes indicado. Do contrário, o feitiço poderia dar errado e despertar forças incontroláveis.


Forças sobrenaturais
A crença em anjos e demônios tinha como base alguns trechos específicos do Zohar. Segundo o livro sagrado da cabala, haveria 3 classes de demônios: um grupo parecido com os seres humanos, outro que lembraria anjos e um terceiro em forma de animais. A mais temida, no lado das trevas, era Lilith, a rainha dos demônios, que teria sido a primeira mulher de Adão. Lilith, dizia-se, era casada com Asmodeu e gerenciava suas hordas de uma caverna no fundo do mar. Para identificar a presença de um deles, os praticantes sugeriam afastar as camas e, sobre o chão empoeirado, procurar pegadas semelhantes às de pássaros. A tradição contava que alguns desses seres tinham pés de aves e, mesmo quando disfarçados de humanos, esse aspecto permanecia inalterado.