sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Instrumentos de Tortura e Execução na Idade Média Européia.

Instrumentos de Execução

1 - Espada, Machado e Cepo


A decapitação com a espada, entretenimento público, desde o início da Idade Média, é, ainda hoje, utilizada em alguns países do terceiro Mundo. Era necessária uma longa aprendizagem para aprender a manejar a espada com precisão, de modo a decepar a cabeça com um golpe só, coisa que a multidão muito apreciava, como um sinal da habilidade do carrasco.
Os executores mantinham-se "em forma" treinando com animais nos matadouros ou com espantalhos de cabeça de cabaça.
A decapitação, pena suave quando executada com habilidade, estava reservada exclusivamente a condenados nobres e importantes. Os plebeus eram executados de outras formas, que garantiam agonias mais prolongadas, das quais a mais freqüente e mais rápido era o enforcamento comum, no qual a vítima era erguida e lentamente estrangulada - ao contrário do enforcamento à inglesa, que faz tombar a vítima de certa altura com a corda ao pescoço, provocando ruptura das vértebras cervicais e da medula espinhal.
Distinção importante: o cepo só era usado em conjunto com o machado; nas decapitações com a espada, o condenado deveria manter-se ereto, enquanto o executor efetuava um movimento horizontal com a lâmina, ceifando o pescoço.

2 - O Garrote


Consistia o garrote em um poste de madeira provido de um colar de ferro ou, menos comum e eficientemente, de couro duro, e que se apertava progressivamente por meio de um parafuso. Havia duas versões essenciais deste instrumento:
a) a versão tipicamente espanhola, na qual apertando se o parafuso, fazia-se apertar a argola de ferro, matando a vítima por asfixia;
b) a versão catalã, no qual havia, na nuca do condenado, um punção de ferro, que, ao apertar-se o colar, penetrava e quebrava as vértebras cervicais, ao mesmo tempo que empurrava o pescoço para a frente, provocando o esmagamento da traquéia contra a argola, matando tanto por asfixia como pela destruição da medula espinhal ou do bulbo cerebral. A presença deste aguilhão não garante uma morte rápida; antes, pelo contrário. A agonia podia ser mais ou menos prolongada, dependendo do humor do carrasco.
O primeiro tipo foi usado na Espanha até a morte de Franco, em 1975, altura em que o rei Juan Carlos aboliu a pena capital.
O segundo tipo, usado até princípio deste século na Catalunha e na América Central, ainda é utilizado, em alguns países do Terceiro Mundo, como instrumento de tortura e execução.

3 - Emparedamento

O emparedamento, utilizado já no tempo dos romanos, para punir as vestais que perdiam sua virtude, dispensa qualquer explicação. A vítima era sepultada viva, morrendo, dependendo do local de confinamento, de sede e fome, ou simplesmente asfixiada.

4 - As Gaiolas Suspensas


Desde a Alta Idade Média até finais do séc. XVIII, as paisagens urbanas e suburbanas da Europa abundavam de gaiolas de ferro e madeira, no exterior de edifícios municipais, palácios de justiça, catedrais e muralhas de cidades, assim como penduradas em postes situados nas encruzilhadas de diversos caminhos ; freqüentemente havia várias gaiolas em fila, umas ao lado das outras.
Em Florença, Itália, havia dois locais reservados às gaiolas: um na esquina do Bargello, na Via Aguillara com a praça San Firenze, e o outro num poste fixado na colina de San Gaggio, passada a Porta Romana, junto à estrada para Siena. Em Veneza, tida como um dos prováveis locais de origem da gaiola celular, estas erguiam-se na Ponte dos Suspiros e nos muros do Arsenal.
As vítimas, nuas ou quase nuas, eram fechadas nas gaiolas suspensas, que não eram muito maiores que seus corpos; morriam de fome e sede, de mau tempo e frio no Inverno, de queimaduras e insolação no Verão e eram muitas vezes torturadas e mutiladas para melhor servir de exemplo. Os cadáveres em putrefação eram, na maior parte das vezes, deixados in situ, até o desfazimento do esqueleto.

5 - A Roda Para Despedaçar

A roda para despedaçar era, depois da forca, a forma mais comum de execução na Europa germânica, desde a Baixa Idade Média até princípios do séc. XVIII; na Europa latina e gálica, o despedaçamento era feito por meio de barras maciças de ferro e maças, em lugar da roda.
A vítima, nua, era esticada de barriga para cima na roda (ou no chão ou no patíbulo), com os membros estendidos ao máximo e atados a estacas ou anilhas de ferro. Por baixo dos pulsos, cotovelos, joelhos e quadris, colocavam-se atravessados suportes de madeira. O verdugo aplicava violentos golpes com a barra, destroçando todas as articulações e partindo os ossos, evitando dar golpes que pudessem ser mortais. Isso provocava, como é fácil imaginar-se, um verdadeiro paroxismo de dor, o que muito divertia a platéia1 .
Depois do despedaçamento, desatavam o condenado e entrelaçavam-lhe os membros com os raios da grande roda, deixando-o ali até que sobreviesse a morte, ao cabo de algumas horas, ou até dias.
Os corvos, outrossim, arrancavam pedaços de carne e vazavam os olhos até a chegada do último momento. Esta era a mais atroz e longa agonia prevista dentre todos os procedimentos de execução judicial.
Junto com a fogueira, o despedaçamento ou desmembramento era um dos espetáculos mais populares que tinham lugar nas praças da Europa. Multidões de plebeus e nobres deleitavam-se ao contemplar um bom despedaçamento, como comprovam várias gravuras da época.

6 - Submersão em Azeite

A submersão em azeite podia ser tanto uma forma de execução como de interrogatório, tanto judicial como extrajudicial. O prisioneiro, suspenso pelos braços no teto, era baixado, por meio de um sistema de corda e roldana, dentro de um caldeirão cheio de azeite em ebulição. Este suplício podia ser aplicado em conjunto com a estrapada (!) e quase que invariavelmente, provocava a morte da vítima; na melhor das hipóteses, deixava-a inválida para toda a vida.

7 - A Serra


A serra era outro meio de execução extremamente cruel, no qual a vítima, suspensa pelos pés, era serrada ao meio, de cima para baixo, a partir de entre as pernas. Esse tipo de execução podia ser levada a cabo com qualquer tipo de serra de lenhador utilizada a quatro mãos e de dentes grandes. A história conta que vários mártires - santos, religiosos, laicos - sofreram esse suplício, talvez pior que a cremação lenta ou a imersão em azeite fervente. Devido á posição invertida, que assegura a oxigenação do cérebro e impede a perda geral de sangue
o condenado não perde a consciência até que a serra alcançava o umbigo, ou, às vezes, até o peito.
A Bíblia conta-nos que o rei hebreu Davi exterminou os habitantes de Rabah e de todas as outras cidades amonitas , pelo método de por os homens, mulheres e crianças debaixo de serras, rastelos, machados de ferro e fornos de tijolos. Esta espécie de beneplácito, pouco menos que divino, contribuiu muito para a aceitação da serra, do machado, do rastelo como meio de execução por gente bem pensante da Igreja medieval.
A serra era aplicada freqüentemente a homossexuais de ambos os sexos, principalmente a homens. Na Espanha, a serra foi um meio de execução militar até meados do séc. XVIII, segundo várias referências, que não citam, todavia, um só caso concreto. Na Catalunha, durante a guerra da Independência (1808-1814), contra os exércitos de Napoleão, os guerrilheiros espanhóis submeteram dezenas de oficiais franceses e ingleses à serra, sem se preocupar muito com as alianças do momento. Na Alemanha, a serra estava reservada aos cabeças de movimentos rebeldes e na França, às bruxas "engravidadas por Satanás".

8 - Empalamento

Esta era uma forma particularmente cruel de execução, visto que a vítima agonizava por vários dias antes de morrer, demorando muito a ficar inconsciente. Era, ao que se tem notícia, usada desde a antigüidade; no séc. XVI, foi amplamente empregada pelos exércitos turcos que invadiam o leste da Europa.
O método era simples: deitava-se a vítima de bruços e enfiava-se-lhe no ânus, no umbigo - ou, talvez, tratando-se de uma mulher, na vagina - uma estaca suficientemente longa para transfixar o corpo no sentido longitudinal. Para que a estaca ficasse firme, era introduzida no corpo do condenado a golpes de marreta. Em seguida, simplesmente plantava-se a estaca no chão; a força da gravidade fazia o resto. O corpo simplesmente era puxado em direção ao solo, enquanto a estaca rasgava lentamente as entranhas, num processo que podia durar - dependendo da espessura da estaca e da capacidade de resistência da vítima - várias horas ou até dias.
Ainda mais terrível era o "empalamento ao contrário", tal coo era feito pelas tropas turcas de janízaros que invadiam o leste da Europa no século XV. Segundo este método, a vítima era suspensa pelos pés, o que impedia a hemorragia e facilitava a oxigenação do cérebro; assim sendo, o condenado demorava a perder os sentidos, permanecendo consciente durante a maior parte da operação.

9 - Cremação

A cremação ou vivicombustão é conhecida como a forma de execução utilizada em casos de bruxaria ou feitiçaria; na verdade, os romanos já a utilizavam para os parricidas e os traidores.
Na sua forma medieval, utilizada pela Inquisição, o condenado só era queimado vivo se se recusasse a abjurar, ou seja, renunciar aos erros que o haviam arrastado àquela situação; nesse caso, era estrangulado.
Para garantir que a vítima morresse verdadeiramente nas chamas, e não asfixiada com a fumaça, vestiam-na com uma camisola encharcada com enxofre.

10 - Mesa de Evisceramento

Este terrível suplício era levado a cabo em um aparelho especial, constante de uma mesa ou tábua sobre a qual havia uma roldana e um sistema de cordas e pequenos ganchos. O verdugo abria o ventre da vítima amarrada sobre a tábua, de maneira a não poder debater-se; em seguida, introduzia-lhe os ganchos na abertura, prendendo-os firmemente às entranhas do condenado. Ao manipular a roldana, as entranhas eram puxadas para fora, com a vítima ainda viva; esta era então abandonada e deixada para morrer neste estado. A morte demorava por horas ou até dias. Quanto mais tardasse - isto é, quanto mais o condenado sofresse, maior era considerada a habilidade do carrasco.

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Compêndio de Instrumentos de Tortura e Execução na Idade Média Européia por Cristine Vieira Vilarino.

Exposição traça paralelos entre Oriente e Ocidente.

Há séculos que o Oriente fascina viajantes, pesquisadores e artistas ocidentais. Uma exposição em Karlsruhe, na Alemanha, mostra como os países orientais viam o Ocidente e como também admiravam a cultura ocidental.
Expostas no Museu Estadual de Baden, em Karlsruhe, estão várias figuras conhecidas na Alemanha e associadas ao Oriente: cigarros da marca "Sultan" (sultão), chocolates que remetem às Mil e Uma Noites e figuras que lembram o universo de países orientais. O cartaz de uma cervejaria bávara estampa beduínos em cima de um camelo, transportando garrafas de cerveja.

Brincando com estereótipos

O universo de tais clichês povoa há muito a imagem que os ocidentais têm do Oriente. No mesmo espaço, contudo, encontra-se um relógio cuco – um produto tipicamente alemão, pensa o visitante admirado, antes de perceber que há, no lugar do pássaro que anuncia as horas, uma pequena caixa de som, da qual ecoa, a cada meia-hora (da mesma forma que o cuco do relógio original), o chamado do muezim para a oração.

Bildunterschrift: Viajante ocidental em trajes beduínos

Essa obra de arte-relógio, de autoria da artista Via Lewandowsky, embora seja uma persiflage, remete a um fenômeno cultural, observa Schoole Mostafawy, a curadora da mostra. "Os relógios europeus chegaram ao Oriente já no século 17. Os relógios cuco são hoje populares nos países orientais, podem ser comprados nos bazares de Teerã, Istambul ou Damasco ou encontrados nas salas de visitas nesses países", diz Mostafawy. O que um belo tapete usado pelos nômades do deserto ou uma peça artesanal de cerâmica significa no Ocidente, um relógio cuco da Floresta Negra é no Oriente: um sinal de cosmopolitismo.

Adoção da outra cultura

A exposição em Karlsruhe brinca com estereótipos e mostra como existiu, durante séculos e mais séculos, um intercâmbio cultural rico, diversificado e hoje praticamente esquecido entre Oriente e Ocidente: tratava-se de um dar e receber, de uma troca, numa relação ainda não marcada pela ganância ocidental por matérias-primas ou pelo estabelecimento de rotas comerciais e pela falta de apreço pela população muçulmana. "Queremos mostrar aqui que o Oriente não é apenas um receptor passivo da cultura ocidental, mas também assimila essa cultura estranha a ele", observa o curador Jako Möller.

Proibição de imagens e arte visual

No século 19, quando a fotografia se tornou popular no Ocidente, pesquisadores e viajantes viajavam rumo ao Oriente e documentavam suas impressões em imagens. Quando o "Orientalismo" virou moda, o mundo islâmico assumiu ele próprio a nova mídia, passando por cima, de forma soberana, da proibição da reprodução em imagens ditada pelos líderes religiosos.

Mais ainda: os líderes religiosos acabaram encontrando até mesmo uma explicação para o motivo da súbita permissão da reprodução em imagens, explica Möller. "Eles argumentavam que a fotografia não era uma arte visual, mas meramente um procedimento científico, através do qual a luz é refletida sobre um papel fotográfico – o que, de fato, corresponde a uma descrição exata da fotografia."

O ato de fotografar se transformou num símbolo da modernidade e nas imagens cotidianas foi sendo refletida uma nova autoconsciência. Líderes orientais passaram a encomendar fotografias com prazer, nas quais a própria cultura misturava-se com a alheia. Assim vemos mulheres de haréns, deitadas num divã, vestidas com um casaco e uma saia curta, como era comum na virada do século 20 nos países ocidentais.

Imagem do profeta?

Um suposto retrato do profeta é também um achado surpreendente. Ele mostra, de fato, Maomé? O retrato é até hoje objeto de veneração no Irã.

Bildunterschrift: A suposta imagem de Maomé, à esquerda, e a fotografia original, à direita

No entanto, a imagem era originalmente uma fotografia. Ela mostra um jovem tunesiano, fotografado pelos alemães Rudolf Franz Lehnert e Ernst Heinrich Landrock no início do século 20. Mostafawy, a coordenadora do projeto da exposição em Karlsruhe, explica: "Esse era antigamente o contraponto às fotos das mulheres bérberes, com pouca roupa. Para os fotógrafos e seus clientes era sinônimo dos países orientais, ao lado de outros tópicos".

Transferência de bens culturais

Objetos de arte e cotidianos mostram que a cultura islâmica também adaptou fenômenos do Ocidente. A recepção da arte europeia se deu a partir do século 18. Retratos de líderes, imagens de santos e papéis de parede combinam motivos religiosos do Islã com detalhes ocidentais, também cristãos, integrando, por exemplo, uma cadeira moderna ou um homem de terno com representações tradicionais do paraíso.

Imagens de deuses da Índia e do Irã lembram muito a carga simbólica da imagem de Maria conhecida no Ocidente. "Artistas dos países islâmicos deixaram-se influenciar pelos motivos do Ocidente, cujo estilo e temas são usados como de um catálogo."

Cotidiano, nostalgia e traumas

Aqueles que viajavam e tomavam contato com a cultura do outro carregavam consigo sonhos distintos. Enquanto os europeus admiravam profundamente o clima e as palmeiras da região mediterrânea, os artistas muçulmanos pintavam seus sonhos em forma de montanhas, florestas frias e pequenos riachos.

Uma capítulo surpreendente da exposição é dedicado à cultura cotidiana. Quem, de longe, vê os tapetes afegãos, já pode admirar belos ornamentos orientais. De perto, contudo, tudo muda de figura, pois ali se vê kalashnikovs, tanques de guerra, armas de fogo. "Esses tapetes foram feitos na época da guerra civil. Provavelmente sob encomenda para oficiais russos, mas mostram o cotidiano dos costureiros de tapetes e seus traumas", explica Jakob Möller.

Bildunterschrift: Tapete: 'Juízo Final'

O contraponto fica em frente: um tapete da Pomerânia, na costa alemã do Mar Báltico, com peixes e anzóis, tudo em estilo e ornamentos orientais. Naquela região, até os anos 1960, os tapetes eram uma ocupação alternativa para pescadores desempregados, uma arte popular. Os tapetes pomeranos são comumente conhecidos até hoje como "os persas do Báltico", embora a produção já tenha cessado.

Autora: Cornelia Rabitz (sv)

Revisão: Alexandre Schossler


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