terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Tratado de Madrid foi assinado entre Portugal e Espanha para renovar o já ineficiente Tratado de Tordesilhas, em 1750.

Portugal e Espanha foram os dois primeiros países do continente europeu a se lançarem nas grandes navegações. Cada país escolheu sua rota no intuito de atingir as Índias Orientais, o primeiro, ao longo de um processo muito mais duradouro, realizou uma navegação contornando o continente africano, já o segundo imaginou chegar no Oriente indo pelo Ocidente, apostando na esfericidade terrestre. Na viagem espanhola promovida por Cristovam Colombo, depararam-se com o continente americano e acreditaram estar no Oriente. Mas logo avaliou-se que haviam desembarcado em terras desconhecidas a Oeste da Europa.

Espanha e Portugal se tornaram assim as grandes potências marítimas do mundo no século XVI, conquistando vários territórios fora do continente europeu. Por este motivo, chegou-se a um acordo que determinaria a posição hegemônica de ambos os países. Ficou estabelecido o Tratado de Tordesilhas, garantindo as terras descobertas no mundo de propriedade de Espanha e Portugal com base em uma linha imaginária que passaria a 300 léguas da ilha de Cabo Verde. Desta forma, as terras novas a Oeste seriam de propriedade da Espanha e as terras a Leste seriam de propriedade de Portugal. Foi este acordo que selou a propriedade de parte das terras do que viria a ser o Brasil para Portugal.

Com o avançar da colonização portuguesa e espanhola nas terras americanas, a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas passou a ser desrespeitada. A atividade dos bandeirantes e a criação de gado no Brasil começaram a se expandir para o Oeste, superando a linha de divisão de terras. Em conseqüência, teve início uma série de conflitos políticos entre Portugal e Espanha.

Para resolver os problemas baseados na transgressão de um acordo assinado em 1494, portugueses e espanhóis negociaram para modernizar as obrigações das partes. As negociações basearam-se no chamado Mapa das Cortes que levava em consideração a utilização dos rios e montanhas para determinar os novos limites. Em 1750, quando houve o novo acordo, as atividades e as realidades das colônias já tinham evoluído e não comportavam mais no antigo tratado. No dia 13 de janeiro de 1750, Dom João V, rei de Portugal, e Dom Fernando VI, rei da Espanha, se reuniram na cidade espanhola de Madrid para acertar os novos limites entre as respectivas colônias na América. O novo compromisso ficou então estabelecido com o nome de Tratado de Madrid.

A assinatura do Tratado de Madrid encerrou os conflitos entre os dois países e trouxe ainda outras conseqüências. No caso brasileiro, ficou estabelecida aproximadamente a fronteira que existe atualmente. Além disso, provocou o aumento do poderio militar português no Sul, a posse da Amazônia passou a Portugal e gerou a transferência da capital do Vice-Reino português no Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro.

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13 fatos sobre o Brasil revelados pelo WikiLeaks

O fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, está preso desde o dia 7 de dezembro por acusações de agressão sexual. Seus defensores dizem que o verdadeiro motivo está relacionado ao site e até o presidente Lula manifestou apoio a ele. Dentre os documentos revelados, muitos tratam da relação entre os EUA e o Brasil. Listamos 13 informações vazadas que revelam um pouco da visão que os americanos têm de nós.

(*Dá para acompanhar os documentos relacionados ao Brasil aqui: http://213.251.145.96/tag/BR_0.html)

1- Jeitinho brasileiro pode atrapalhar realização das Olimpíadas no Rio

Em um relatório com o título “Olimpíadas do Rio – O Futuro é Hoje“, a Ministra Conselheira da Embaixada americana Lisa Kubiske reclama das muitas promessas e pouco planejamento e ação do governo brasileiro. “Articular os objetivos mais amplos e deixar os detalhes para o último minuto pode ser o jeito tipicamente brasileiro, mas pode gerar problemas”, diz ela. “Os atrasos que esperamos do governo brasileiro em planejar e executar os trabalhos de preparação para uma Copa do Mundo e Olimpíadas bem-sucedidas com certeza vão gerar um ônus maior para o governo americano poder garantir que os padrões necessários serão alcançados”. Os EUA estão coordenando a ampliação de pessoal, estrutura e recursos para ajudar.

2- Brasil quer (neuroticamente) ser igual aos EUA
Um telegrama datado de novembro de 2009 que discutia o rumo das Relações Exteriores no Brasil diz: “O Brasil considera entrar em uma competição com os Estados Unidos na América do Sul e desconfia das intenções americanas (…) O Brasil tem uma necessidade quase neurótica de ser igual aos Estados Unidos e de ser percebido como tal”.

3- Brasileiros querem ser “independentes” ( entre aspas mesmo!)
Em telegrama enviado em janeiro de 2009 a Washington, o ex-embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel (que deixou o cargo no começo do ano), deu algumas alfinetadas no Plano Nacional de Defesa anunciado por Lula no fim de 2008. Ele explica que a estratégia foi montada a partir da intenção do Brasil de ser “independente” (é, ele usou o termo entre aspas três vezes no documento). Em relação à compra dos caças franceses, diz que “não faz sentido economicamente” devido ao número relativamente pequeno. “Mas [o então Ministro do Planejamento Roberto Mangabeira] Unger “dá mais importância à ‘independência’ do que à capacidade militar ou ao uso eficiente de recursos”.

4- Brasileiros são paranoicos em relação à defesa de territórios
A diplomacia norteamericana também criticou a “tradicional paranoia brasileira” na defesa da fronteira amazônica “contra atividades de organizações não-governamentais e outras atividades estrangeiras vistas popularmente como ameaças potenciais à soberania nacional”. A área das reservas do Pré-Sal seria outro alvo dessa paranoia. “Não há nenhuma ameaça às reservas de petróleo brasileiras, mas os líderes brasileiros e a mídia têm citado as descobertas de petróleo no mar como razão urgente para melhorar a segurança marítima”, diz o telegrama escrito pelo embaixador norte-americano de janeiro de 2009.

5- Apagão de 2009 deixou EUA preocupados
O apagão que aconteceu em novembro de 2009 e deixou 18 estados brasileiros no escuro virou tema de relatórios da embaixada americana e de preocupações com a segurança da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, ambas no Brasil. “A preocupação, recentemente ampliada, com a infraestrutura brasileira depois do blackout (..) apresenta uma oportunidade para os EUA se envolverem no desenvolvimento da infraestrutura e segurança cibernética”, escreveu a conselheira para assuntos administrativos da embaixada, Cherie Jackson, num telegrama a Washington. Segundo ela, autoridades brasileiras “admitem a possibilidade de um ataque durante esses eventos” e estariam identificando as instalações que precisam ser protegidas.

6- Brasileiros rejeitaram prisioneiros de Guantánamo
Telegramas confidenciais enviados a Washington em de outubro de 2005 pelo então embaixador americano em Brasília, John Danilovitch, revelou que o Brasil foi procurado pelos EUA para receber refugiados prisioneiros uigures (minoria muçulmana de língua turca do noroeste da China) de Guantánamo, mas recusou a oferta. Os refugiados não podiam voltar à China por receio de que viessem a ser mortos ou torturados. Segundo o documento, o Ministério de Relações Exteriores “disse que o governo brasileiro não pode aceitar imigrantes de Guantánamo porque é ilegal designar como refugiado alguém que não está em solo brasileiro”. Outros dois telegramas mostram que o Brasil manteve o mesmo discurso quando procurado para receber cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro, em 2005.

7-Presidente Lula, o esquerdista pragmático

Num telegrama de fevereiro de 2009, o então embaixador americano Clifford Sobel descreve o presidente Lula como um “esquerdista pragmático” e diz que ele “não é o principal arquiteto da política externa de sua administração”. O documento diz que, embora o presidente tenha chegado ao poder sem nenhuma experiência e “com a idéia esquerdista de que os países mais desenvolvidos estão contra os menos desenvolvidos”, ele se saiu muito bem na política externa pela sua “propensão a assumir uma abordagem pragmática em vez de ideológica”. Mas há um problema: “ainda existe uma tensão notável entre as ações e a retórica do presidente, que muitas vezes assume um discurso de ‘norte contra sul’ ou ‘nós contra eles’”, diz o embaixador.

8- Lula é encantador (para Michelle Bachelet, pelo menos)

Para a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, nenhum dos candidatos à presidência do Brasil possuía as qualidades de Lula. “Ela descreveu José Serra como arrogante e (…) Dilma Rousseff como distante e formal”, diz um relatório americano de janeiro deste ano. O documento revelou também que, para ela, o Brasil não representava um papel assim tão importante na maioria dos assuntos da América Latina. “Por outro lado, o Brasil tem sido sempre um bom aliado para o Chile, ela afirmou, descrevendo o presidente Lula como inteligente e encantador”.

9- Brasil prende terroristas árabes em segredo
Documentos confidenciais revelaram operações antiterroristas no Brasil com o apoio americano. Um relatório de dezembro de 2009 da embaixada americana cita a prisão, em maio daquele ano, de um integrante da Al Qaeda em São Paulo, feita pela Polícia Federal. E esse não foi um fato isolado. “A polícia frequentemente prende indivíduos ligados ao terrorismo, mas os acusa de uma variedade de crimes não relacionados a isso para não chamar a atenção da imprensa e dos altos escalões do governo“, disse o então embaixador Clifford Sobel em outro relatório, de janeiro de 2008. O governo sempre negou a existência de atividades terroristas no Brasil e isso se daria “em parte pelo medo da estigmatização da grande comunidade islâmica no Brasil. Também é uma postura pública que visa evitar associação à guerra ao terror dos EUA, vista como agressiva demais”, diz ele.

10- Será preciso suar para conquistar a confiança dos brasileiros
Um documento da embaixada americana revela a preocupação com o ceticismo brasileiro a respeito da sinceridade do interesse dos EUA em seu relacionamento com o Brasil e a região como um todo. “Existe uma falta de visibilidade em relação ao lado positivo da América, o que a América tem feito, inclusive nossa preocupação histórica para com o bem comum e nossa tradição de responsabilidade corporativa e serviços à comunidade. Devemos encontrar formas de alterar estas percepções, enfocando projetos e parcerias que demonstrem o nosso compromisso e preocupação genuína com o povo do Brasil”, diz o texto.

11- Nordeste pode ser caminho para EUA ganhar simpatia dos brasileiros
Já que o Brasil mantém essa desconfiança em relação às intenções americanas, os EUA vêem como opção atuar em áreas menos ideológicas. Relatório do governo sugere, por exemplo, maior engajamento junto ao nordeste brasileiro, “uma região com mais de 50 milhões de pessoas, com enormes disparidades na distribuição de renda e um padrão de vida
inferior ao da Bolívia”. Mais do que isso, “essa região poderia ser o segundo maior país em tamanho e população da América do Sul”. Outra opção é ajudar no combate ao crime. “O crime também é uma preocupação constante nesse violento país e é um campo em que nós poderíamos ter um impacto significativo”, continua o texto.

12- Governo americano não botava fé na Dilma como empreendedora por ser ex-guerrilheira

Apesar da desconfiança, a embaixada americana revelou o alto grau de interesse do governo brasileiro em ampliar as relações comerciais e criar novas parcerias público-privadas com os EUA. A surpresa vem da adesão de Dilma à ideia: “Este sentimento pode até mesmo ser ouvido de Dilma Rousseff, cujo passado ideológico como militante de esquerda dificilmente sugere tal espírito empreendedor”.

13- França e Brasil: o início de uma relação de amor

A relação entre o Brasil e a França foi tema de um relatório com o título acima, feito em novembro de 2009 pela embaixada americana em Paris. Segundo o documento, deverá ocorrer um maior engajamento político, militar, econômico e diplomático nos próximos anos entre os dois países e isso deve beneficiar a reeleição do presidente francês Sarkozy. “Empenhado em expandir o papel da França como intercessor global”, ele irá ampliar sua presença na América Latina e poderá usar o “triunfo da política externa com o Brasil como uma indicação de suas proezas” para a reeleição em 2012.
Desde 2006, ano em que foi criado, o site WikiLeaks já publicou mais de 1 milhão de documentos confidenciais enviados por fontes anônimas. Mas foi em 2010 que ganhou fama mundial, com o vazamento de um vídeo mostrando um ataque norte-americano contra funcionários da Reuters e outros civis em Bagdá. Neste ano, o site ainda revelou dezenas de milhares de arquivos da inteligência norte-americana sobre as ações no Afeganistão e Iraque. E agora, com a divulgação de cerca de 250 mil telegramas diplomáticos secretos do Departamento de Estado dos EUA, a coisa pegou fogo mesmo.

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Símbolos religiosos pagãos, mitos e representações.

Pelo senso comum, quando alguém deseja indicar que certas afirmações ou crenças são inverídicas, é corriqueiro usar expressões como "isso não passa de um mito". Podemos adiantar, porém, que mitos e mitologias não são sinônimos de ilusão ou mentiras. Joseph Campbell nos diz que "o mito é a expressão da resposta total do homem a seu encontro com a realidade e o esforço subseqüente para assegurar a própria existência significativamente em face dessa realidade"*. Esse "encontro com a realidade", mencionado por Campbell é também o encontro com a tragédia humana de perceber-se mortal e, além disso, nos primórdios das comunidades humanas, deparar-se com a necessidade de matar para poder se alimentar e sobreviver. As figuras arquetipais decorrentes desse processo envolvem ritos de passagem, hierarquizações, sacralizações, entre outros modos de lidar com o mundo ao redor, garantir a sobrevivência, estabelecer divisões de tarefas em sociedade e construir um sentido de ordem perante um aparente caos na existência. Assim é que, através de inúmeros processos práticos tanto quanto imaginários, aliados às transformações históricas e a (re)construções culturais, as sociedades conferem poder a determinados grupos, estigmatizam outros, constróem cidades, delimitam seu espaço, conferem significado, destróem-se mutuamente ou elevam-se em grandes obras e avanços a partir de utopias. Muitas das bases de todas essas questões são míticas.

O mito está presente nas mais diversas religiões, sejam elas as que se afirmam "históricas", decorrentes da historicidade da tradição hebraica, sejam as "arcaicas" (entendendo este termo como "herdeiras de tradições a-históricas", e não como "ultrapassadas"). Ele está presente, com a mesma potência, nas visões laicas, seculares, das ideologias políticas, com os líderes carismáticos de grandes movimentos político-ideológicos. Idem, quanto aos candidatos em regimes democráticos, cujas propagandas eleitorais figuram como "salvadores", "escolhidos", "heróis", "vítimas", seres ungidos ou elevados a tal categoria num discurso que mescla rito, mito e alusões à liberdade oriundas de visões humanistas. Mesmo aqueles que a princípio não procuram associar sua imagem à religião recebem do coletivo a "aura" de seres "olimpianos", nas palavras de Edgar Morin, acima dos comuns mortais. "Olimpianos" são as celebridades, com seus estilos de vida exóticos, inatingíveis econômica ou até intelectualmente pelas massas. São aqueles cujas mansões assemelham-se a parques de diversões, que viajam pelo mundo a qualquer momento por lazer, que têm inúmeros casos amorosos, todos eles públicos, criticados, mas invejados por uma coletividade que endossa culturalmente essa discrepância. Nas propagandas comerciais, não-raro o uso de celebridades que nada entendem de um dado assunto é o suficiente para conquistar consumidores e credibilidade. Ainda nas propagandas, recordando Roland Barthes, a "brancura total" de sabões em pó, a limpeza, seu caráter imaculado, puro, luminoso, dificilmente não é associado à mesma pureza dos santos ou à perfeição dos deuses. O agente de limpeza é o "herói" que mata ou dissipa o "mal", na forma da sujeira, das impurezas. A Luz do heróico produto químico contra as trevas dos fluidos corporais e do ambiente.

Como dito inicialmente, o mito está longe de ser exclusivamente um entretenimento para as horas vagas, o que ainda assim já seria muita coisa. O mito é algo que nos permeia a cada momento, seja em nossa vida cotidiana, seja em situações de vulto político.

Aqui em História, imagem e narrativas já publicamos vários artigos cujos assuntos, se não giravam diretamente em torno de mitos, recebiam deles bases importantes. Vale a pena conferir nossas edições anteriores. A edição número 11 apresenta dois artigos que discutem historicamente elementos relevantes das mitologias e culturas nórdicas: suas representações visuais, na forma de adornos, esculturas, desenhos etc., e expressões guerreiras como as dos Berserkir, que certamente inspiraram produções literárias contemporâneas na forma de heróis poderosos ou na forma de assassinos incontroláveis.

Além de nosso tradicional olhar sobre formas visuais-narrativas (quadrinhos, cinema etc.) e sobre aspectos historiográficos, este número traz também um estudo sobre a pintura mural de Diego Rivera e outro sobre algumas das obras de Henri Matisse. Em ambos tem-se um convite ao deleite nos trabalhos de grandes mestres da pintura.

Carlos Hollanda - editor
Doutorando - PPGAV - Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (EBA-UFRJ)
Mestre em História Comparada (PPGHC-UFRJ)


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